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A Queda dos Tronos

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Synopsis
Em uma vila isolada e regida por tradições rígidas, Dalan e Sylvia, os primeiros gêmeos a nascerem nesse lugar, são marcados como amaldiçoados. Após o sacrifício de seus pais, executados em nome de uma purificação imposta pelo líder da vila, os gêmeos crescem sob o peso da desconfiança e crueldade dos habitantes. Dalan, agindo como protetor para sua irmã, enfrenta um ambiente hostil desde jovem, lutando contra o estigma que lhe foi atribuído. No entanto, a cada passo, ele se depara com os segredos sombrios da vila e de sua própria existência, conectados por algo muito maior do que ele poderia imaginar.
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Chapter 1 - O Sacrifício de Sangue.

Vida... Um conjunto de atributos e capacidades que define a existência de um ser e o motivo para sua preservação. Em uma floresta isolada, distante do reino, um grupo de pessoas se estabeleceu, formando uma pequena vila onde poderiam viver sem grandes preocupações. Os habitantes começaram a formar casais para repovoar o local, gerando novos filhos a cada ano. Nesse período, adotaram a tradição de renunciar aos próprios nomes durante a apresentação de seus filhos ao líder da vila, com o objetivo de assegurar um futuro puro às crianças, livre de qualquer possível influência negativa dos pais. Em um desses anos, nasceram gêmeos, batizados como Dalan e Sylvia. Foi a primeira vez que tal evento ocorreu na vila, o que gerou uma divisão entre os habitantes sobre permitir que as crianças crescessem ou eliminá-las. A decisão final foi do chefe da vila, que propôs uma solução para manter as crianças: seus pais seriam executados, purificando os gêmeos através do sangue derramado. Isso trouxe consenso entre os dois lados, e quando os pais, por amor aos filhos, aceitaram a proposta, foram sacrificados. Alguns anos se passaram desde esse acontecimento, mas os gêmeos ainda enfrentavam a desconfiança dos moradores, crescendo isolados dos demais.

"Dalan! Onde você está?"

Sylvia chamou, enquanto caminhava pela floresta, intrigada pelo súbito desaparecimento do irmão. A garota era de estatura mediana, com cabelos ondulados de um tom roxo prateado, e carregava uma pequena bolsa de couro presa à cintura. Ela estava à procura de Dalan há alguns minutos. Quando o avistou, percebeu que ele estava de costas, encarando três crianças da vila.

"Eu disse que ele é amaldiçoado!"

Uma das crianças gritou para os outros dois, estando caído no chão. O segundo ajudou o primeiro a se levantar, enquanto o terceiro permanecia de frente para Dalan.

"Só porque derrubou um, não pense que vai ganhar de mim, monstro amaldiçoado."

Ele declarou, cheio de arrogância, levantando os braços em uma postura de combate.

"Quanta tagarelice..."

Dalan assumiu a mesma postura, pronto para a luta.

"Parem com isso agora ou vou contar ao chefe da vila o que vocês estão fazendo!"

Sylvia se revelou, intervindo na briga. Ao perceberem sua presença, o garoto à frente de Dalan baixou a guarda.

"Lá vem essa pirralha de novo... Mas dessa vez você escapou. Vamos embora."

Ele disse, decepcionado, recuando alguns passos e tocando o ombro do colega que ajudava o outro a se levantar. Assim, os três passaram pelos gêmeos e retornaram para a vila.

"Dalan... Por que você continua se metendo em brigas com as outras crianças da vila?"

Sylvia aproximou-se dele. Notou o semblante cansado de Dalan, seus olhos preto-acinzentados lutando para se manterem abertos. Apesar de não ser comum, seus cabelos ondulados de fios negros prateados, que geralmente estavam soltos, agora cobriam parte do rosto.

"Eles estavam falando mal de você e dos nossos pais, Sylvia. O que nos faz tão diferentes das outras crianças? E aqueles ajudantes do chefe, quem são eles para zombar do sacrifício que nossos pais fizeram por nós?"

Dalan questionou, enquanto Sylvia tocava seu rosto, demonstrando preocupação.

"Lutar com eles não vai nos ajudar, Dalan. Agora deixa eu ver seu corpo. Você está machucado?"

Ela começou a examinar Dalan mais de perto.

"Não, estou bem..."

Ele hesitou, agindo por impulso ao segurar a mão de Sylvia.

"Vamos voltar, o ferreiro deve estar preocupado com você vindo para a floresta."

Dalan disse calmamente, soltando a mão dela. Virou-se e começou a caminhar de volta.

"Dalan..."

Sylvia ficou sem reação, mas acabou seguindo-o em silêncio. Durante o caminho, o silêncio se manteve entre eles. A distância não era apenas física, mesmo que devessem ser mais próximos do que quaisquer outros irmãos da vila. Ao se aproximarem da vila, as árvores deram lugar às casas feitas de madeira e feno espalhadas por todo lado. Poucas pessoas transitavam por ali, já que o local não era muito movimentado. Além disso, a desconexão entre os habitantes era evidente, com olhares frios e indiferentes. Os gêmeos seguiram em direção a uma das casas, de onde sons de marteladas podiam ser ouvidos antes mesmo de entrarem. Dalan, ao se aproximar da porta, a abriu para que Sylvia entrasse primeiro.

"Parece que o ferreiro ainda está no porão... Será que o chefe da vila está planejando algo?"

Sylvia comentou, caminhando em direção ao porão. Ouvindo sua dúvida, Dalan mostrou descontentamento, desviando o olhar, mas continuou seguindo-a. Descendo por uma escadaria de pedra lisa num canto da casa, sentiram o calor aumentar até chegarem ao local onde o ferreiro estava trabalhando. Nesse momento, as batidas de metal cessaram.

"Chegamos em casa, tio. Consegui encontrar o Dalan e trouxe ele comigo."

Sylvia expressou alívio em sua voz. O ferreiro, de costas para eles, largou o martelo sobre a pedra de forja. Embora fosse um homem de aparência envelhecida, com várias cicatrizes no torso, seus músculos ainda estavam em plena forma, e sua presença era sutil, mas afiada como as lâminas que forjava. Quando ele se virou, parecia não acreditar no que Sylvia tinha dito, fixando seu olhar no gêmeo ao lado dela. Um de seus olhos era completamente branco, sem visão alguma, enquanto o outro enxergava perfeitamente.

"Dalan... Que bom ver você de volta e em segurança."

O ferreiro disse com uma voz rouca.

"Eu estava procurando por ele na vila desde ontem, mas hoje de manhã me disseram que o viram ir para a floresta com algumas crianças... Para evitar que os ajudantes do chefe o perturbassem ainda mais, tive que intervir."

Sylvia balançou a cabeça, orgulhosa de sua ação, enquanto cruzava os braços.

"Entendo... Sylvia, vá buscar mais lenha para que eu possa continuar a trabalhar."

O ferreiro pediu, ainda encarando Dalan.

"Ah... Verdade! Esqueci de trazer para você."

Sylvia disse, rindo um pouco envergonhada, e logo saiu do porão. Agora, apenas Dalan e o ferreiro permaneciam ali, e o silêncio reinou entre eles por alguns instantes.

"Sylvia já saiu. Conte-me o que aconteceu."

O ferreiro elevou o tom de voz para Dalan.

"Peço desculpas por ter demorado a voltar, Ferneck... Tentei descobrir os planos do chefe e o motivo de ele estar mais isolado, mas os ajudantes me descobriram e fui punido..."

Dalan sentiu um calafrio ao ouvir a voz do ferreiro. Em silêncio, começou a abrir os botões da camisa de pano e, ao removê-la, revelou áreas roxas com vergões e algumas marcas de queimadura em seu peito, abdômen e costas. Ao ver o estado do corpo do garoto, Ferneck abaixou o olhar, surpreso.

"Céus, como puderam fazer isso com uma criança... O que há de tão importante naquela casa...?"

O ferreiro pareceu perder o fôlego por alguns segundos, mas logo se recompôs.

"Vista-se, e não deixe a Sylvia ver você assim. Está liberado."

Ele concluiu a conversa.

"Tio Ferneck, tenho um pedido a fazer..."

Dalan interrompeu, tentando prolongar o diálogo.

"Por favor... Me ensine a manejar uma espada e a me defender."

O garoto ajoelhou-se no chão enquanto fazia o pedido, abaixando a cabeça.

"Hmm...? Você tem noção do que está pedindo, garoto? Acha que uma espada é um brinquedo?"

Ferneck levantou a voz novamente, repreendendo-o.

"Sei que espadas servem para derramar sangue, tio Ferneck. Também sei que ainda sou uma criança, tendo acabado de completar nove anos, mas quero ser capaz de me defender e proteger minha irmã."

Dalan sentiu o medo subir pelo corpo, mas estava confiante em seu desejo.

"Você é só um pirralho com algumas palavras bonitas. Se realmente entendesse o que está pedindo, não faria esse pedido. Além de não ter força para manejar uma espada, você se cortaria facilmente."

Ferneck relutou em aceitar o pedido.

"Peço apenas uma chance de aprender. Me ensine a lutar com espadas, e logo mostrarei resultados."

Por um momento, Dalan deixou de sentir medo, e sua voz mostrou uma leve hesitação.

"Você tem tanta confiança assim? Se estiver pensando em usar a espada contra alguém da vila, sugiro que desista de minha ajuda. Além disso, nenhuma criança da sua idade tem capacidade de aprender a lutar com armas brancas."

O ferreiro continuou confrontando.

"Nesse caso, me ensine para que eu seja a primeira criança a desenvolver essa habilidade. Evitarei usar minha lâmina contra os moradores da vila e só a usarei em casos de extrema necessidade."

Dalan curvou-se ainda mais diante de Ferneck. Após isso, o silêncio voltou a se instaurar entre os dois. Alguns segundos se passaram até que uma risada rouca surgiu do mais velho.

"Que pirralho persistente... Muito bem, forjarei uma espada para te ensinar a se defender."

Ferneck disse, voltando a ficar de frente para a pedra de forja.

"Agradeço a oportunidade, tio Ferneck."

Dalan levantou-se do chão e pegou sua camisa, voltando a cobrir as feridas antes expostas.

"Agora, está liberado. Quando eu forjar a espada, começaremos o treinamento."

Ferneck mostrou autoridade ao falar. Concordando com a cabeça, Dalan saiu do porão.