Algum tempo havia se passado desde que os irmãos gêmeos deixaram a vila. Eles caminhavam durante o dia e descansavam à noite. Durante esse período, Dalan aprendeu a caçar animais de pequeno e médio porte, enquanto Sylvia se encarregava de preparar a comida para os dois. Com o passar dos dias, eles passaram a caminhar menos e a buscar lugares remotos próximos a rios para descansar.
"Certo, Dalan, acho que finalmente entendi como funciona essa tal de energia mágica."
Sylvia comentou após concluir sua leitura matinal, hábito que ela havia adotado. Ela fechou o manual e viu seu irmão interromper mais uma sessão de treinamento com a nova espada ao ouvir suas palavras.
"De verdade? O livro do ferreiro não parecia explicar muito bem quando eu dei uma olhada."
Dalan demonstrou interesse em saber mais sobre a nova descoberta.
"É verdade, não explica tanto assim, mas enquanto eu estudava, percebi que ele sempre parte de três conceitos: Pensar, sentir e controlar."
Sylvia explicou enquanto cruzava os braços, tentando formular uma conclusão.
"Pensar, sentir e controlar? Então você está dizendo que essa energia mágica não é tangível, mas que nós a liberamos de alguma forma?"
Dalan questionou, encostando-se em uma árvore próxima para descansar.
"Acho que sim. Mesmo que eu não tenha entendido completamente o conto que ele escreveu, esses três pontos se destacavam. A história era sobre um pai que costumava pescar com seu filho. Esse garoto acabou adoecendo gravemente e morreu antes de conseguir pescar o peixe que tanto desejava. O pai, tomado pela tristeza, passou a pescar diariamente, incansavelmente. Ele acreditava que o peixe existia e que ele poderia pescá-lo, mas não sabia como. Isso o levou a explorar cada canto do mar, tentando entender por que nunca conseguia encontrar o peixe. Sua alma estava turbulenta, assim como o mar, quando ele lutava sem parar pela pesca. Quando ele não conseguia mais pescar nenhum peixe, percebeu que isso era fruto do desespero que havia se instalado em seu coração. Seu reflexo na água estava agitado, sem harmonia, o que afastava os peixes e comprometia a pesca. No fim, ele aceitou a perda do filho e tentou pescar novamente. Naquela noite, finalmente conseguiu."
Sylvia refletiu, parecendo entender melhor o conto ao falar em voz alta.
"Faz sentido com o que você mencionou. Então, para liberar essa energia mágica, precisamos pensar nela, encontrar uma maneira de senti-la e, depois, aprender a controlá-la e liberá-la? Parece ser bastante trabalho..."
Dalan ponderou sobre o conto, suspirando ao fim.
"Pois é. O livro não é muito claro e a explicação mais útil até agora foi essa história. Parece que o tio queria que a gente aprendesse por conta própria... Além disso, eu descobri mais coisas sobre a espada e os braceletes. De acordo com o que está escrito, eles foram criados para atuar como condutores dessa energia, embora o manual esteja repleto de detalhes sobre tamanho, peso e material."
Sylvia desviou o assunto, abrindo o manual novamente e mostrando algumas páginas.
"Ele definitivamente gostava de escrever... Parece que não temos outra opção. Vamos treinar para aprender a controlar essa energia mágica."
Dalan deu uma olhada nas páginas que Sylvia mostrava, parando quando leu um nome.
"Agdornius...?"
Ele pensou em voz alta após ler o nome, lançando um breve olhar para sua espada.
"Será que esse era para ser o nome da espada?"
Continuou pensando, mas foi interrompido quando Sylvia fechou o livro.
"Então, vamos começar."
Sylvia disse, colocando o livro sob uma árvore próxima e à vista. Assim, mais um dia se passou, agora com ambos focados na nova descoberta. Continuaram a se mover pela floresta quando necessário, mas passaram a priorizar mais tempo nos lugares onde paravam para treinar. Em poucas semanas, ambos já haviam estabelecido algum contato com a energia mágica. Durante o treinamento, Sylvia conseguiu liberar momentaneamente a energia ao redor dos pulsos enquanto meditava. Já Dalan tentou controlá-la através de sua espada, realizando sequências de cortes com foco na liberação.
"Ah!"
Sylvia, em uma de suas meditações, se assustou ao sentir a energia mágica percorrendo os braceletes, que de repente aumentaram de tamanho, deixando de ser meros acessórios.
"O que é isso...?"
Ela tentou entender o que havia acontecido, notando que lâminas surgiram após o aumento das argolas. Os braceletes haviam se transformado em dois chakrams.
"Incrível... Como você fez isso?"
Dalan ficou surpreso, aproximando-se para analisar de perto as novas armas de Sylvia.
"Eu não sei. Apenas senti a energia e, quando tentei controlá-la, os braceletes a absorveram e se transformaram nisso."
Sylvia respondeu, ainda surpresa, movendo os antebraços em círculos, fazendo as argolas girarem.
"Ei, que tal treinar comigo? Agora você pode me acompanhar nas lutas."
Dalan sugeriu, sorrindo.
"Sério? Eu adoraria! Vou dar o meu melhor!"
Sylvia respondeu animada, e eles começaram a treinar à tarde. Isso ajudou Sylvia a aprender o básico sobre como manejar os chakrams em combate, e depois do jantar, ela decidiu ir dormir.
"Caramba... Que dia foi esse..."
Dalan refletiu enquanto observava sua irmã dormir, sentado ao lado dela, olhando para as chamas da fogueira.
"Já faz um bom tempo desde que saímos da vila... Apesar de ter passado dois anos em uma floresta próxima, aquele era um lugar seguro..."
Ele olhou para a floresta ao redor, vendo apenas algumas árvores e a escuridão total. A única fonte de luz era a fogueira, cujas chamas diminuíam à medida que o combustível se esgotava.
"Preciso pensar..."
Ele sussurrou ao fechar os olhos, tentando conectar sua mente ao ambiente. Conseguiu meditar e se sentiu em harmonia com a natureza, aprofundando-se em si mesmo. Naquele instante, uma fina aura envolveu seu corpo, liberando energia mágica por toda a sua extensão. No entanto, seu sucesso foi interrompido ao sentir algo além de si. Quando acessou esse ponto com a mente, a visão do monstro de sangue apareceu imediatamente. Os olhos vazios da criatura encararam Dalan, e a mão da entidade tentou agarrar seu pescoço. Assustado, Dalan abriu os olhos.
"Que droga... Por que toda vez me lembro dele...?"
Ele pensou, ainda abalado, percebendo que sua mão estava no pescoço. Ele a soltou rapidamente e olhou em volta, mas não notou nada de anormal na floresta.
"Ele não está por aqui...? Será que é só alucinação...?"
Dalan estava ofegante, segurando firmemente a bainha da espada entre ele e Sylvia.
"Preciso descansar... Amanhã será um dia longo."
Dalan se convenceu de que era apenas imaginação. Ele colocou a espada novamente ao lado e deitou-se. Demorou alguns minutos para adormecer, e enquanto isso, pensou um pouco mais ao olhar para Sylvia, até que finalmente caiu no sono.