Dias se passaram desde o início do treinamento dos irmãos gêmeos. Durante os treinos, Sylvia usava os chakrams como lâminas em combates de curta distância.
"Sinto que está ficando mais fácil usar a energia mágica... Mas Sylvia ainda é mais habilidosa com essa energia, então subestimá-la seria perigoso."
Dalan reconheceu que ela estava evoluindo rapidamente, buscando uma oportunidade para encerrar a luta. Embora os chakrams tivessem limitações em ataques curtos, Sylvia compensava com sua flexibilidade e agilidade.
"!"
De repente, ele a viu se afastar e arremessar um chakram em sua direção. Instintivamente, Dalan ergueu a espada para desviar a lâmina, fazendo-a ricochetear para o lado. Antes que se cravasse em uma árvore próxima, algo inesperado chamou sua atenção.
"Espera... Correntes?"
Dalan percebeu que uma corrente longa conectava os dois chakrams. Ele não havia notado as correntes menores dos braceletes, pois sua visão foi bloqueada pelo ataque frontal. Nesse momento, Sylvia conseguiu ligar as partes e controlar a lâmina com uma mão, enquanto segurava o outro chakram com a outra, permitindo que a lâmina retornasse contra Dalan, agora pelas suas costas.
"Droga...!"
Tentando escapar, Dalan não foi rápido o suficiente e acabou sendo cortado profundamente na perna. Agonizando, ele segurou a área ferida, observando a expressão séria de Sylvia, que levava o treinamento a sério.
"Vou perder se me mover... Não terei velocidade para desviar novamente."
Dalan analisou a situação, buscando uma maneira de vencer. Nesse instante, sentiu algo diferente em si mesmo. O corte na perna estancou rapidamente, mas uma dor aguda o atingiu na cabeça.
"Se estou prestes a perder... Só preciso cortá-la até que não possa mais contra-atacar."
Um pensamento novo invadiu sua mente, fazendo-o balançar a cabeça em estranhamento.
"Por que estou pensando assim de repente? Eu nunca faria algo assim... Não farei."
Dalan tentou controlar a dor e o impulso, conseguindo afastar aquela vontade.
"Ei, você está bem?"
Sylvia perguntou, curiosa. Guardando os chakrams, ela os transformou novamente em braceletes com correntes curtas, usando energia mágica.
"Estou sim, só senti uma dor repentina na cabeça. Talvez seja cansaço por causa dos treinos intensos."
Dalan respondeu, recompondo-se enquanto olhava para sua espada, pensativo.
"Podemos fazer uma pausa. Precisamos caçar algum animal, já faz quase dois dias que não comemos direito."
Sylvia sugeriu, mostrando-se preocupada. Após dois anos vivendo na floresta desde que saíram da vila, ela aprendeu a avaliar as condições necessárias para sobreviver e, principalmente, estudar o funcionamento da floresta.
"É estranho, porque os animais sempre são ativos durante o dia, então encontrá-los não deveria ser difícil. Mas nos últimos dois dias, só vimos alguns animais pequenos."
Ela refletiu, tentando entender a mudança de comportamento.
"Realmente é estranho. Talvez algo tenha acontecido para que eles estejam assim, algo como..."
Dalan sugeriu, pausando sua fala por alguns segundos.
"Você acha que há outras pessoas por aqui? Se for isso, por que os animais fugiriam?"
Sylvia questionou sua linha de raciocínio.
"Pode ser que eles não estejam fugindo, mas sendo caçados, como fazemos. Mesmo que estivessem fugindo, deveríamos encontrar animais de médio porte. Mas só encontramos alguns pequenos."
Dalan explicou seu pensamento.
"Você tem um ponto. Deveríamos investigar para descobrir o que está acontecendo?"
Sylvia suspirou e pegou o livro que sempre carregava.
"Sim, se houver outras pessoas, podemos tentar conseguir suprimentos ou até equipamentos novos."
Dalan respondeu, confiante, enquanto guardava sua espada.
"Tem razão. Então, vamos."
Sylvia tomou a dianteira na caminhada, passando por Dalan.
"Desde quando ela age primeiro?"
Dalan pensou, confuso, mas seguiu logo atrás. A ideia de haver outras pessoas além dos mortos na vila o intrigava, pois não sabia como seriam recebidos. À medida que as horas passavam, a noite começou a cair.
"Não apareceu nenhum animal para caçar... Tem algo muito estranho nisso."
Dalan observou o ambiente antes de escurecer completamente. Embora pudessem enxergar algo através das brechas nas folhas das árvores, a visão era limitada. Após dar mais alguns passos, sentiu uma estranheza no ar.
"O ar está ficando pesado..."
Dalan afirmou, sentindo que algo não-humano estava por perto.
"Olha isso, Dalan. Tem uma carruagem quebrada aqui e... Sangue."
Sylvia comentou após tocar em uma poça no chão, observando seus dedos manchados de vermelho.
"Isso parece ter ocorrido recentemente. O sangue ainda está morno."
Ela deduziu, voltando sua atenção para o irmão, que estava próximo à carruagem.
"Que estranho... A madeira da carruagem foi quebrada com cortes? E tão limpos... Como isso é possível?"
Dalan examinou os destroços, percebendo que algo estava faltando.
"Corpos. Não há corpos aqui. Nem mesmo pegadas de fuga dos cavalos ou seus corpos."
Ele começou a se convencer de que havia algo não-humano nas proximidades. Por precaução, ele desembainhou sua espada e voltou para perto de Sylvia.
"Precisamos ficar atentos. Nesse ambiente, estamos em total desvantagem."
Sylvia alertou, apreensiva com a ideia de prosseguir naquela parte da floresta. Depois de investigar mais ao redor, encontraram apenas mais poças de sangue e, entre árvores estreitas, um rastro com pegadas.
"Parece que arrastaram um corpo, e essas pegadas... São de um animal grande, provavelmente um felino."
Dalan analisou as pistas, mas sentia que algo ainda não fazia sentido.
"Então foi um animal que causou tudo isso?"
Sylvia tentou conectar as informações, também sentindo que algo estava errado. Enquanto conversavam, ouviram movimentos entre as árvores.
"Me ajudem!"
Uma voz ecoou e, logo depois, uma garota apareceu diante deles, com roupas rasgadas. Instintivamente, Dalan apontou a espada para ela.
"Pare aí. Quem é você?"
Ele perguntou, com uma expressão indiferente.
"Espera! Eu não vou atacar vocês... Só quero ajuda."
A garota respondeu, nervosa, e parou conforme ordenado.
"Dalan, abaixe a espada... Vamos ouvir o que ela tem a dizer. Primeiro, diga-nos seu nome."
Sylvia colocou a mão no antebraço do irmão, fazendo-o abaixar a lâmina.
"Meu... Meu nome é Anastasia. Por favor, me ajudem."
Anastasia começou a explicar o que havia acontecido e como ela chegou até ali.