Algumas horas antes, no final da tarde, Anastasia estava junto com seus pais na entrada da pequena cidade onde viviam. Poucos dias antes, um grupo de mercenários havia chegado ao local para realizar negócios, mas logo começaram a causar problemas aos moradores, impulsionados pela ganância, e acabaram fazendo o mesmo com os pais de Anastasia.
"Mãe... Pai... Por que estamos aqui?"
Anastasia perguntou, notando a expressão preocupada em seus rostos.
"Então, essa é a garota que vocês nos venderam? De fato, é um ótimo produto."
Um homem desceu de uma carruagem próxima e se aproximou deles, fazendo com que Anastasia ficasse paralisada ao tentar processar suas palavras.
"Decidimos vendê-la para que parem de importunar nossa cidade. Ela tem quatorze anos, mas será útil para vocês."
O pai dela respondeu sem demonstrar remorso.
"E-espera... Por que estão fazendo isso...? Vocês são meus pais!"
Anastasia exclamou após ouvir seu pai.
"Achamos que essa é a melhor decisão para a cidade e também... Poderemos viver melhor sem ter que continuar cuidando de uma filha."
A mãe, que até então estava em silêncio, se pronunciou para interromper a filha.
"O quê..."
Anastasia ficou sem reação, incapaz de responder ao que seus pais estavam fazendo, ainda mais por ser algo que nunca esperaria deles.
"Podem ficar tranquilos, farei bom uso da Anastasia como mercadoria, senhores. Desde que ela se comporte bem, é claro."
O homem soltou uma breve risada, e então fez um sinal para um jovem que estava atrás dele, que se aproximou dos mais velhos. Ciente do que precisava fazer, ele chegou até Anastasia e colocou uma coleira em seu pescoço. Ela não resistiu, ainda em choque pela situação repentina. Embora quisesse lutar, sentia-se sem forças.
"Leve-a para a traseira da carruagem. Ela ficará no compartimento de mercadorias."
O homem ordenou ao jovem, que obedeceu e puxou Anastasia pela coleira. Sem resistência, a garota foi levada até a carruagem, onde amarraram a corrente da coleira à parede do compartimento.
"Essa é a garota que o líder comprou? Certamente ela renderá bastante dinheiro."
Um dos mercenários entrou no compartimento enquanto o jovem prendia a corrente.
"Sim, mas sugiro que não toque nela. Pelo visto, o líder já tem interesse nela."
O jovem respondeu, observando Anastasia abaixar a cabeça enquanto se sentava no chão.
"Droga, o líder quer uma criança? Mesmo que ela tenha um corpo desenvolvido, ainda é muito nova."
O mercenário resmungou, descontente com a fala do jovem. Aproximando-se da garota, ele puxou uma adaga e levantou o queixo de Anastasia com a ponta da lâmina.
"O que foi? O gato comeu sua língua? Fale alguma coisa."
Ele a observou sem que ela resistisse, com alguns fios do cabelo azul cobrindo seus olhos. Tentando provocar alguma reação, ele cortou parte de suas roupas, revelando mais do seu corpo.
"O que está fazendo? O líder vai puni-lo se continuar assim!"
O jovem o empurrou, afastando-o da garota.
"Tsc... Certo, eu não a queria mesmo. Mas pare de ser tão obediente ao líder, isso é irritante."
O mercenário respondeu irritado, guardando a adaga e saindo do compartimento. O jovem também saiu, mas antes disso, lançou um olhar para Anastasia.
"..."
Anastasia permaneceu em silêncio, sentada no chão de madeira, ainda tentando processar o que estava acontecendo. Ela não queria ser tratada como um objeto, mas não sabia como reagir. O medo tomou conta, e lágrimas começaram a escorrer. Quando sentiu a carruagem começar a se mover, soube que estavam deixando a cidade.
"Então, é assim que vou viver a partir de agora...?"
Anastasia parecia começar a aceitar seu destino. Horas se passaram, até que ouviu batidas na carruagem e gritos do lado de fora do compartimento.
"Estamos sendo atacados por uma besta mágica!"
Gritaram. Após alguns minutos, o jovem retornou ao compartimento, sujo de sangue, e correu até Anastasia.
"O que está acontecendo...?"
Anastasia perguntou, confusa com a agitação repentina.
"A carruagem está sob ataque de uma besta mágica, e alguns dos mercenários foram mortos. O líder ordenou que a tirássemos daqui."
O jovem explicou nervoso, desamarrando a coleira da parede rapidamente.
"Uma besta mágica...?"
Anastasia estava confusa, nunca tinha visto algo assim antes. Quando foi solta, logo sentiu o ambiente pesar, seguido de um corte de ar que dividiu a carruagem ao meio. Ela conseguiu evitar o golpe, mas o jovem perdeu o antebraço. Gritando de dor, ele se apoiou na parede.
"O que foi isso...?"
Ela ficou ainda mais nervosa, mas começou a procurar algo no compartimento para ajudar o jovem a conter o sangramento.
"Tem uma sacola com ervas mágicas! Pegue-a!"
O jovem gritou, observando a luta contra a besta mágica pela janela da carruagem. Era possível ver a sombra da criatura se movendo ao redor.
"Encontrei!"
Anastasia pegou a sacola e correu até ele. Quando estava prestes a usar as ervas, o jovem a interrompeu.
"Não as use em mim, apenas fuja. Guarde para si, caso se machuque."
Ele orientou a garota, tremendo de medo. Sua inexperiência em combate era evidente, mas ele queria ajudá-la.
"Certo..."
Anastasia fechou a sacola, mas um novo corte de ar partiu a outra metade da carruagem, dividindo-a em quatro partes. A garota perdeu o equilíbrio e caiu entre os destroços.
"Rápido! Levante-se e fuja!"
O jovem gritou, puxando-a para fora da carruagem. Anastasia se levantou e correu, percebendo que estava anoitecendo. Ela segurou a sacola e se escondeu atrás de uma árvore.
"Por que ele fez isso por mim...?"
Ela pensou, desesperada com a situação. Tentando se acalmar, espiou a carruagem. Nesse momento, todo o grupo havia desaparecido, e um silêncio momentâneo se instalou.
"Preciso fugir daqui agora."
Anastasia ficou escondida por alguns minutos e, ao ver uma oportunidade, fugiu. Com o tempo, a noite caiu sobre a floresta. Contudo, ao perceber que estava andando em círculos, ela acabou voltando para a carruagem, onde encontrou Dalan e Sylvia.
"Que situação complicada... Então estamos lidando com uma besta mágica?"
Dalan suspirou ao ouvir a explicação de Anastasia, sentindo certo receio.
"Sinto muito pelo que você passou, Anastasia... Aliás, meu nome é Sylvia e ele é Dalan."
A gêmea se apresentou, apontando para o irmão.
"Obrigada por me ouvirem..."
Anastasia pareceu aliviada por poder contar sua história a alguém. No entanto, percebeu que os irmãos estavam olhando para algo atrás dela.
"Ele nos achou, abaixe-se!"
Dalan avançou, puxando Anastasia para o chão. Sylvia fez o mesmo, deitando-se ao lado deles. Uma lâmina de ar passou por cima, cortando as árvores à frente. Rapidamente, Dalan se levantou, empunhando sua espada após dar alguns passos para trás.
"Essa foi por pouco..."
Sylvia suspirou, puxando Anastasia para o lado, evitando que os troncos caíssem sobre elas.
"Ele está aqui. Tomem cuidado."
Dalan alertou, observando uma sombra se aproximando lentamente na floresta.