Dalan afundava gradualmente, sentindo seu corpo imerso, como se estivesse flutuando no vazio do espaço, até que, de repente, o canto de pássaros o trouxe de volta.
"Hum...?"
A desorientação retardou a abertura dos olhos, que ainda assim causava incômodo ao tentar. Sentado no chão, Dalan percebeu o gramado sob suas mãos.
"Onde estou...?"
Confuso, ele tentou entender onde se encontrava. Ao observar ao redor, notou que estava em um campo aberto com algumas flores.
"Como cheguei aqui?"
Dalan se levantou, percebendo que estava sem sua espada. Nem Sylvia nem Anastasia estavam por perto. Decidiu então começar a caminhar, até se deparar com um rio próximo.
"A floresta está incrivelmente tranquila... Quando foi a última vez que experimentei isso?"
Aquela dúvida o fez refletir por alguns segundos, até que ouviu passos vindo de trás. Virando-se abruptamente, avistou uma sombra movendo-se entre as árvores.
"Quem está aí?"
Ele perguntou com calma, mas não obteve resposta. Embora pudesse ser apenas um animal passando pelos arbustos, sentiu-se compelido a investigar. Caminhando na direção da sombra, ele notou como o céu estava claro e os galhos das árvores não bloqueavam a vista, permitindo que os raios solares guiassem seu caminho. Ao olhar novamente para frente, avistou uma mulher agachada no campo aberto, colhendo uma flor.
"Você está perdida, moça?"
Dalan se aproximou dela, curioso por ser a única outra pessoa ali.
"Perdida...? Não, estou apenas passeando pela floresta. Pelo que vejo, você quem está perdido, Dalan."
Ela estava ciente da presença do gêmeo, mas esperou uma palavra dele para responder.
"Ahn... Eu conheço você?"
Dalan ficou intrigado com o fato de a mulher saber seu nome, considerando que nunca a havia encontrado antes. A única familiaridade nela era o cabelo preto com fios prateados, que chegava até a cintura.
"Pessoalmente? Não, você não me conhece, mas eu conheço você. Além disso, você não me reconheceria pelo nome, pois o abandonei."
A mulher respondeu serenamente. Ao se levantar, virou-se para ele, prendendo a flor em seu cabelo.
"Não sei se estou apresentável agora... Você acha que estou bonita assim?"
Sua pergunta e aparência despertaram uma sensação estranha em Dalan. Algo nela era muito familiar, além de causar uma sensação acolhedora e estranha. De repente, lágrimas escorreram de seus olhos.
"Ora... Será que estou feia, então?"
Ela perguntou ao ver a confusão no rosto do gêmeo. Notando as lágrimas, Dalan rapidamente as enxugou.
"Não, você está bonita... Mas não entendo... Como me conhece?"
Ele buscou respostas rápidas para suas crescentes dúvidas.
"Nem tudo precisa ser compreendido agora. Você está preocupado em fazer perguntas, mas ainda não teria compreensão para as respostas."
A mulher afirmou enquanto se aproximava. Sua mão subiu até o rosto dele, deslizando o polegar sobre sua testa e, em seguida, pela ponta da orelha.
"Essas foram suas primeiras cicatrizes de cortes? O ferreiro realmente não pegou leve no seu treinamento."
Ela comentou com uma pitada de preocupação. Enquanto acariciava o rosto dele, Dalan abaixou a cabeça, inclinando-se levemente em direção à mão dela.
"Não doeu tanto assim, foi melhor do que ser cicatrizado de queimadura pelos ajudantes da vila..."
Dalan respondeu sem pensar, sentindo o calor da mão dela em seu rosto. Aquela sensação parecia ajudá-lo a reconhecer quem ela era.
"Entendo... Infelizmente não pude evitar isso."
A mulher respondeu tristemente. Queria continuar a conversa, mas foi interrompida por uma mudança no céu.
"O que está acontecendo?"
Dalan sentiu a mudança e, ao olhar para cima, percebeu uma distorção no espaço que se formava, descendo até o outro lado da floresta.
"Bem, isso é você. Ou ao menos, uma parte de você. Me acompanhe."
A mulher disse sem maiores explicações, se virando em direção à distorção.
"Eu...?"
Dalan ficou paralisado, incapaz de formular perguntas ou expressar surpresa. Silenciosamente, ele a seguiu.
"Seu cabelo... Parece com o meu. E você mencionou abandonar seu nome..."
Ele tentou iniciar uma conversa, mas apenas conseguiu abordar superficialmente o que realmente queria dizer.
"Ah, você notou? Parece que temos mais em comum do que pensa."
A mulher sorriu, claramente satisfeita com o comentário dele. O silêncio se instalou novamente enquanto caminhavam. Alguns minutos depois, chegaram à área distorcida.
"Nunca vi nada assim antes..."
Dalan não conseguiu conter a curiosidade ao ver a distorção. O espaço parecia estar sendo sugado para um único ponto, e quando ele estendeu a mão, seus dedos tocaram o fenômeno. Nesse instante, a distorção parou, e em poucos segundos, uma cristalização começou a se formar, crescendo até cobrir o céu. Apesar de refletir a luz do sol, era possível ver o outro lado.
"Esse é o desconhecido. Uma parte adormecida dentro de você."
A mulher explicou. Do outro lado da parede cristalizada, havia uma floresta com árvores secas, sem folhas nos galhos. Era um mundo cinza, cheio de distorções na paisagem, com espirais e estacas de energia espalhadas por todos os lados.
"O que quer dizer com isso?"
Dalan perguntou, mas novamente recebeu apenas silêncio como resposta.
"Foi bom conhecê-lo aqui. No entanto, talvez esta seja a última vez que conversamos..."
Ela disse com um sorriso desanimado. Aproximando-se dele, gotas de sangue escorreram de seu pulso. Com um dedo manchado, ela tocou a testa de Dalan e o empurrou para o outro lado.
"E-espera!"
Dalan tentou impedi-la antes de ser empurrado, mas acabou entrando no mundo sem cor. Assim que seu corpo tocou o solo cinzento, sentiu-se dividido, como se sua alma estivesse se separando do corpo, embora ainda estivessem conectados. Ao olhar para o lado onde a mulher estava, viu-a desaparecer lentamente, e tudo ao seu redor ficou cinza.
"Ela se foi..."
Mesmo sem reconhecê-la, parecia que não era a primeira vez que ele a perdia. Sentindo que alguém o observava, ele rapidamente se virou, mas só viu as árvores secas.
"Dalan... Dalan... Dalan..."
Ouviu sussurros chamarem seu nome. Nesse momento, uma angústia tomou conta de seu coração, distorcendo sua essência assim como as espirais no céu. Caiu de joelhos, tentando parar a dor crescente dentro de si ao arranhar o peito com as unhas. Ao continuar, o tecido de sua camisa rasgou, revelando a marca deixada pela besta de sangue, onde a dor parecia se concentrar. Enquanto isso, a angústia lentamente se transformou em medo de algo que se aproximava rapidamente.
"Você está com medo... Dalan...?"
Uma voz disse enquanto tocava sua cabeça. Ao olhar para cima, Dalan viu uma pessoa idêntica a ele, mas com olhos vazios.
"Quem é você? Por que está com a minha aparência?"
Dalan afastou a mão da pessoa e se levantou, recuando, claramente assustado.
"Você não vê? Eu sou você."
A pessoa disse, com um sorriso de desdém.
"Brigamos com outras crianças na vila, matamos o terceiro ajudante, sentimos desejo de machucar a Sylvia e, por último, enfrentamos a besta mágica... Como não me conhece? Eu sou a adrenalina nas suas veias durante um combate, eu sou seu impulso. Atuando como observador, mas nunca tomei o controle..."
Ele continuou até soltar uma risada. Em sua mão apareceu a primeira espada que Dalan havia recebido do ferreiro.
"Você... Então você estava dentro de mim desde quando fui marcado..."
Dalan imediatamente transformou o medo em raiva e tentou atacar a pessoa. Mas antes que pudesse reagir, percebeu a espada atravessando seu peito, entre os pulmões.
"Sabe, eu gostaria de conversar mais, mas nosso encontro aqui é limitado. Até mais."
A pessoa disse com uma voz distorcida. Com um movimento rápido, ergueu a espada, e Dalan, ao perceber que seria partido ao meio, se assustou. Num instante, sua visão escureceu e, ao abrir os olhos novamente, estava sentado no chão, com a mão sobre o peito.
"Eu morri?"
Ele se perguntou, mas ao olhar ao redor, percebeu que estava de volta ao lado de Sylvia e Anastasia, percebendo que tudo desde o início havia sido apenas um sonho.