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Chapter 20 - Teia de Quatro Pontas.

O vento voltou a ser suave, sinal de que não era mais influenciado pela presença de Dalan. Uma leve brisa passou entre ele e Hannabel, deixando ambos em silêncio após sua última pergunta. Hannabel suspirou e olhou diretamente para ele.

"Os pais de Anastasia nunca a consideraram como filha de verdade. Eles sempre quiseram um menino, mas nasceu uma garota. Assim, quando Karyen nasceu, ele se tornou o centro das atenções. Contudo, depois que ele morreu por causa da febre, culparam Anastasia, como se ela tivesse tirado tudo deles. E quando ela começou a desenvolver suas habilidades mágicas como aprendiz de Aanuvi, o ressentimento deles só aumentou, pois desejavam que fosse Karyen a ter essas conquistas."

Apesar do tom calmo de Hannabel, havia uma certa tristeza subentendida em suas palavras.

"..."

Dalan, sem saber como responder, apenas abaixou a cabeça, guardando a espada de volta na bainha.

"Anastasia sempre soube que não era amada pelos pais, mas, mesmo assim, tentava de todas as formas ganhar o orgulho deles. Mas cada novo sucesso só alimentava mais a inveja deles... Quando nossa cidade começou a ser pressionada por Halak, Aanuvi interrompeu o treinamento de Anastasia, para protegê-la dos conflitos políticos. Querendo ou não, aprendizes de líderes também se tornam alvos. Desde então, ela deixou de usar sua magia de água, aguardando o retorno de Aanuvi."

Hannabel parecia cada vez mais tensa à medida que continuava sua explicação.

"E foi isso que levou à chegada dos mercenários à cidade, certo?"

Dalan perguntou, sentando-se sobre a grama e soltando um suspiro profundo.

"Sim... Mercenários muitas vezes passam por cidades como a nossa em busca de oportunidades de lucro fazendo negociações. Mas, sem a presença do representante ou da líder, mercenários mais agressivos se sentem livres para ameaçar moradores e comerciantes. Apesar de ter músculos, minha magia não é muito útil em combate, então não pude fazer muito para evitar problemas. Quando soube que Anastasia tinha sido vendida, ela já havia partido, e um dos soldados veio me informar na taverna."

Hannabel desabafou um pouco, compartilhando a história.

"Deve ter sido o mesmo soldado que me parou na entrada hoje... Mas os mercenários eram tão poderosos assim?"

Dalan parecia refletir profundamente sobre a situação.

"Eram fortes, sim, mas sempre atuavam em grupo, o que os tornava mais difíceis de derrotar sem causar danos aos arredores. Caso estivessem sozinhos, eu ganharia."

Hannabel respondeu, surpresa com o interesse dele nesse ponto.

"Hannabel... Quantas bestas mágicas seriam necessárias para derrotá-los?"

Dalan fixou seu olhar nos olhos dela, claramente ainda ponderando algo.

"Depende do nível da besta mágica. Se fosse de grau básico, cerca de dez seriam suficientes. Se fosse de grau intermediário, cinco. Não eram tão fortes assim."

Hannabel fez uma estimativa com base na força dos mercenários.

"Esse não é o problema... Uma única criatura foi capaz de acabar com eles e... Quase me matar também."

Dalan revelou a origem de suas inquietações.

"Uma só? Tem certeza disso? Para ser uma única criatura, ela teria que estar no grau experiente. Bestas mágicas desse nível geralmente só aparecem onde há concentrações elevadas de energia mágica. Por isso usamos estruturas retangulares nos quatro cantos da cidade, para isolar a magia. Não deveria haver bestas de grau experiente nesta região."

Agora, a preocupação de Hannabel era evidente.

"Ela não parecia do tipo que andaria em grupo... Quanta coisa acontecendo."

Dalan disse exausto, deitando-se na grama e fechando os olhos. Um silêncio momentâneo se instalou entre os dois, até que Dalan começou a roncar baixinho.

"Como assim...? Que facilidade é essa pra dormir?"

Hannabel ficou incrédula, com um nervo pulsando em sua testa. Dalan havia simplesmente adormecido no meio da conversa, deixando-a falando sozinha.

"Pfft... Esse garoto realmente é incomum... Me pergunto o que o destino reserva para ele."

Hannabel riu baixinho, compreendendo o cansaço do jovem. Ela se aproximou, o pegou pelos ombros e o levou embora do campo aberto. Enquanto isso, na taverna da cidade, Sylvia saia do banheiro e se jogava em uma das camas do quarto.

"Finalmente um banho relaxante depois de tanto tempo... E essa cama é bem mais confortável do que as da vila."

Ela comentou satisfeita.

"Eu também estava com saudades disso... Achei que nunca mais teria um momento de paz depois que deixei a cidade."

Anastasia sorriu ao ver a animação de Sylvia, enquanto se sentava em outra cama. O quarto, apesar de simples, era bem organizado e afastava o barulho da taverna no andar de baixo.

"Mas agora você está livre. Não será mais tratada como mercadoria e, além disso, está completamente livre dos seus pais."

Sylvia comentou, encarando a luminária no teto. Anastasia permaneceu em silêncio por um tempo.

"Ainda está pensando na resposta que disse sobre odiar seus pais?"

Sylvia perguntou diretamente, lembrando-se das palavras de Anastasia na loja de roupas.

"Sim... Sempre soube que eles não me amavam, mas nunca imaginei que chegariam a me vender. Eu também sofri com a morte de Karyen... Ele queria tanto ser aprendiz de Aanuvi e um dia se tornar o líder da cidade. Seu sonho era transformar este lugar em uma cidade maior... Vê-lo naquela cama, tão doente, parecia uma faca rasgando meu peito. Quando ele morreu, pensei que, ao seguir o sonho dele, conseguiria trazer orgulho aos meus pais. Mas eles nunca me enxergaram de forma positiva... Eu os odeio... Odeio tanto..."

Anastasia baixou a cabeça, suas mãos tremendo de raiva e tristeza. Respirando fundo, ela se levantou abruptamente.

"Eu vou fazê-los pagar por isso..."

Ela disse com uma mistura de raiva e incerteza, correndo em direção à porta e saindo.

"O quê? Anastasia, espera! Onde você está indo?"

Sylvia gritou, surpresa com a ação repentina, levantando-se para correr atrás dela. Quando desceu as escadas, viu a taverna ainda cheia de pessoas festejando, dificultando sua busca.

"Droga, onde você foi...?"

Sylvia pensou desesperada, tentando localizá-la enquanto a seguia. Vendo-a sair da taverna, passou entre a multidão para fazer o mesmo.