Observando o pôr do sol na cidade, Dalan notou que o movimento nas ruas havia diminuído drasticamente. As últimas pessoas se encaminhavam para suas casas, enquanto os viajantes se acomodavam na taverna de onde ele acabara de sair. Agora, com uma visão mais clara da cidade, ele caminhou pelas ruas, observando as lojas dos dois lados. Procurando um lugar tranquilo, Dalan chegou a um campo na periferia da cidade. Ao entrar, deixou para trás o chão frio da rua e começou a andar sobre o gramado. A lua iluminava o campo, e à sua frente se estendia a floresta. Pensativo, ele sentiu o vento frio passar por seu corpo. Em silêncio, Dalan desembainhou sua espada, apontando a lâmina à frente.
"Quanto tempo faz desde minha última tentativa?"
Ele se perguntou, fechando os olhos. Tentou se conectar ao ambiente ao seu redor, e o som suave das folhas balançando no vento parecia refletir a tranquilidade da noite. No entanto, o ar ao redor de Dalan começou a se agitar com sua presença, e ele percebeu que o vento era dividido pela lâmina da espada.
"Huff..."
Ele respirou fundo e sentiu sua energia mágica começar a fluir, envolvido por uma leve corrente de ar. Movendo o braço, Dalan tentou reproduzir o golpe de ar que havia usado contra a besta mágica. Ele teve algum sucesso, mas a força não foi a mesma de antes. A lâmina de ar que ele criou foi fraca, apenas arranhando a casca das árvores à frente.
"Como eu imaginei... Não tenho domínio sobre o ar. Eu só estava imitando a besta mágica."
Decepcionado, Dalan refletiu sobre sua verdadeira afinidade mágica. Ele olhou para sua espada, imerso em pensamentos.
"Essa espada é quem foi chamada Agdornius, certo? Desde que a empunhei, tudo ficou confuso... Será que o controle do ar veio dela?"
Dalan ficou perdido em suas reflexões, mas logo percebeu uma presença se aproximando por trás. Ao se virar, ele viu Hannabel entrando no campo aberto.
"Hannabel? O que você está fazendo aqui?"
Dalan perguntou, confuso com sua presença inesperada.
"Uma taverneira não precisa estar no trabalho o tempo todo. Decidi lhe fazer uma visita, já que não tinha mais nada para fazer."
Hannabel explicou, se aproximando lentamente.
"Mas como você me encontrou?"
Dalan ainda estava desconfiado.
"Não foi difícil. Eu o observei o suficiente para saber que procuraria um lugar isolado e, eventualmente, encontraria este campo para se refugiar."
Hannabel parou de andar quando percebeu a desconfiança de Dalan.
"O que você quer dizer com isso? Não somos próximos o suficiente para que você aja como se me conhecesse ou tivesse interesse em me visitar."
Dalan abaixou a lâmina da espada, encarando-a intensamente.
"Bem, como taverneira, meu trabalho é entender e atender às necessidades dos clientes. E, para isso, também uso energia mágica. Isso faz parte das minhas habilidades e me ajuda a identificar quem é uma ameaça ou não. Acabou virando um hábito, então consigo ler as pessoas com facilidade. Percebi que você usou energia mágica na queda de braço, mas não imaginei que pudesse se fortalecer tanto... Isso me surpreendeu."
Hannabel explicou, e Dalan desviou o olhar, relaxando um pouco.
"Você está ferido, não é? Percebi isso no final da disputa... Foi uma vitória injusta para mim. Além disso, seus olhos mudaram desde aquele momento até quando você saiu da taverna."
Ela continuou, fazendo Dalan refletir por alguns instantes.
"Por que você está me dizendo tudo isso, Hannabel?"
Dalan perguntou, recuado, voltando a encará-la.
"Seus olhos... Eles não parecem os de uma criança. Isso despertou minha curiosidade. Crianças geralmente mantêm a inocência no olhar, mesmo aquelas que carregam cicatrizes. Isso é perceptível em Sylvia, mas em você... não consigo ver."
Hannabel disse com calma, mantendo-se compassiva.
"Eu... Isso não tem nada a ver com você. É um assunto pessoal meu."
Dalan respondeu relutante, apertando o cabo da espada. Ele sentiu uma onda de ansiedade crescer em seu peito.
"Não quero me intrometer tanto na sua vida, mas me pergunto... Você já matou alguém, não é?"
Hannabel o leu como um livro aberto, usando sua experiência de taverneira para conectar as peças.
"Ele mereceu morrer... Ele mereceu! O jeito repugnante como agia e falava, o que tentou fazer com Sylvia... Eu fiz o que precisava ser feito! Eu o matei com minha espada, mas por isso... O tio Ferneck morreu."
Dalan liberou sua raiva e tristeza, cobrindo o rosto com a mão, tremendo ao se lembrar daqueles eventos dolorosos.
"E você tem carregado esse peso sozinho?"
A voz de Hannabel parecia entrar diretamente na mente dele, como se fosse sua consciência.
"Porque foi culpa minha... Quando o cortei, percebi que seu sangue era vermelho como o meu. Antes que percebesse, eu o cortei de novo e vi que ele também sentia desespero, mesmo que fosse através de insultos. Não consegui proteger a Sylvia dele... e, por minha causa, perdemos o tio Ferneck também... E aquela besta de sangue..."
Dalan demonstrava mais vulnerabilidade, seu desespero crescendo a cada palavra.
"Isso é algo que está além do controle humano, Dalan. Mesmo com as melhores intenções, existem chances das consequências serem negativas. É uma lei destinada aos humanos. Você experimentou o peso da justiça ainda como criança, então é compreensível se sentir assim. Mas atente-se para não se distanciar das pessoas ao seu redor. Não permita que sua justiça se torne um fardo de corrupção."
Hannabel o aconselhou com um olhar preocupado.
"Além disso, sou muito grata por terem salvado Anastasia. Graças a isso, pude vê-la sorrir novamente depois de quase um ano."
Ela agradeceu, abrindo um sorriso.
"Depois que seu irmão mais novo morreu de uma febre muito forte, ela se isolou. Só trabalhava na taverna. Voltar para casa e não ver Karyen no quarto a fazia sofrer ainda mais. Quando ela manifestou seus primeiros sinais com magia de água, começou a visitar a casa da líder Aanuvi, dia após dia, pedindo para ser treinada. Ela queria se tornar forte como Aanuvi, a líder capaz de dominar a magia do clima. Aanuvi aceitou treiná-la após muita insistência."
Hannabel contou, olhando para o céu noturno.
"Espera... Então Anastasia é aprendiz de Aanuvi? Isso deveria ser motivo de orgulho para os pais dela, não...? Por que a venderam para os mercenários?"
Dalan, confuso com o agradecimento, ficou ainda mais pensativo com a história que ouvira.