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Chapter 4 - O Preço das Escolhas.

Na manhã seguinte, um amanhecer atípico trouxe um clima tumultuado à vila, algo raro naquele local. Sylvia despertou entre arbustos e árvores próximas às casas.

"Onde... estou...?"

Ao abrir os olhos, percebeu que estava parcialmente coberta por algo. Ao olhar para baixo, viu que era a camisa de seu irmão gêmeo. Curiosa sobre a ausência dele, levantou-se e voltou para a casa do ferreiro. Enquanto caminhava, notou a movimentação incomum na vila, com pessoas correndo em uma mesma direção e outras trocando cochichos.

"O que está acontecendo...?"

A dúvida lhe ocorreu, mas continuou seu caminho até a casa do ferreiro. Ao chegar, abriu a porta e viu seu tio conversando com o primeiro e o segundo ajudante.

"Ora, se não é a irmã gêmea de Dalan. Chegou em um momento péssimo, garotinha."

O primeiro ajudante saiu, passando por Sylvia ao deixar a casa.

"O que..."

Sylvia olhou para o segundo ajudante, que ainda estava em frente a Ferneck. Percebendo a presença da garota, ele deu espaço para que ela pudesse ver o que estava acontecendo e entender as palavras do primeiro.

"Tio Ferneck... Não! Por que fizeram isso com ele?"

Ela gritou ao ver o ferreiro ajoelhado, com a mão cobrindo o rosto enquanto o sangue escorria entre seus dedos e pingava no chão. Rapidamente, Sylvia correu até ele e o abraçou.

"Sylvia... É você? Que bom que está bem..."

Ferneck sussurrou ao reconhecer a voz dela, e instintivamente a envolveu em um abraço.

"Oh... Não sabe o que aconteceu? Seu querido irmão invadiu a casa do terceiro ajudante na noite passada e o matou com uma espada forjada por este velho ferreiro. O chefe ficou muito irritado, sabia? Ele mandou prender Dalan na caverna e nos ordenou lidar com Ferneck. Para começar, decidi tirar sua visão."

O segundo ajudante explicou com um sorriso arrogante, enquanto se aproximava dos dois e puxava Sylvia pelos cabelos para afastá-los.

"E você, será que devo fazer algo com você antes de terminar meu serviço com o ferreiro? Pelo que o terceiro ajudante mencionou, você é bem valente, não?"

Ele continuou com o mesmo tom, observando as marcas que o terceiro ajudante havia deixado nela.

"Tio! Tio! Socorro...!"

Sylvia entrou em pânico, tentando se soltar do puxão. Mesmo cego, o ferreiro habilmente alcançou o pulso do segundo ajudante, segurando-o com firmeza.

"Solte ela se não quiser perder sua mão como o terceiro."

A voz rouca ecoou pela sala, sua presença se impondo no ambiente. Sentindo a força do ferreiro, o segundo ajudante soltou rapidamente a garota e, em seguida, foi solto também.

"Que força assustadora... Mais alguns segundos e meu pulso teria quebrado."

O segundo ajudante pensou, fechando seu sorriso ao se sentir intimidado pela imponência do ferreiro.

"Se veio me punir por causa daquele garoto imprudente, faça-o. Eu forjei a espada e o treinei para se defender, algo que nenhuma das outras crianças da vila poderia aprender. Isso é uma questão entre mim e ele, então não envolva Sylvia nisso."

Ferneck disse com firmeza, levantando-se do chão.

"Perdeu o juízo, velho? Você se condenou por duas crianças amaldiçoadas. A ilusão de ter uma família te levou a corromper o futuro puro que o chefe planejava criar?"

O segundo ajudante ficou confuso com as palavras do ferreiro.

"O futuro desta vila nunca foi puro, segundo ajudante. Até quando vão continuar escondendo isso? E talvez eu tenha me apegado demais a essas crianças. Prometi aos pais delas que as criaria como meus filhos, mesmo que nunca tenha abandonado meu nome. Aceito a culpa e recebo a punição como responsável, mas façamos isso como homens, sem envolver as crianças."

Ferneck sinalizou para Sylvia, que correu até ele e se posicionou atrás dele.

"Que belas palavras. Muito bem, darei a você um fim digno por sua contribuição. Me acompanhe."

O segundo ajudante usou de sarcasmo, virando-se para sair da casa enquanto Ferneck e Sylvia o seguiam. Sylvia permaneceu em silêncio, triste com a situação. Quis intervir, mas não tinha força para fazê-lo e apenas aceitou o resultado. Ao saírem da casa, Sylvia abaixou a cabeça, perdida em pensamentos. Sentia-se impotente. A angústia dela pareceu afetar Ferneck, que, apesar de não ter palavras de consolo, continuou caminhando, guiado pelo som da presença do segundo ajudante à sua frente. Em determinado momento, o segundo ajudante parou, e o tumulto do povo cessou abruptamente.

"A praça central está bem movimentada hoje, não? Como todos devem saber, o terceiro ajudante está morto. Um dos gêmeos o matou usando uma espada forjada pelo nosso querido ferreiro, que tanto contribuiu para a vila. Apesar da gratidão do chefe por sua ajuda ao longo dos anos, tal ato é imperdoável. Por isso, haverá uma execução pública."

O segundo ajudante sorriu novamente, atravessando rapidamente a multidão para subir no palco no centro da praça. Ouvir aquilo intensificou a angústia no peito de Sylvia, que agarrou a camisa de Ferneck, tentando impedi-lo de seguir em frente.

"Por favor... Não faça isso..."

Ela começou a tremer, mas manteve a força ao segurar o ferreiro, com a cabeça baixa.

"Sylvia... Não chore mais."

Ferneck disse, colocando a mão sobre a cabeça da garota. Ao fazer isso, sentiu o corpo dela parar de tremer, e sorriu uma última vez.

"Você é mais forte do que aparenta. A hora deste corpo velho já chegou, não há como evitar. Desde que seu irmão me pediu para treiná-lo, sabia das consequências da minha decisão. Algum dia acabaria assim. Mas, na próxima vez que o ver, peço que ponha algum juízo na cabeça dele."

Suas palavras aliviaram o peso no coração de Sylvia. Gradualmente, ela soltou o ferreiro, que não se despediu, apenas caminhou entre a multidão, guiado por alguns até o palco. Ao chegar, ajoelhou-se de frente para o povo.

"Seu sentimentalismo o tornou desprezível, ferreiro Ferneck..."

O segundo ajudante expressou seu descontentamento em um sussurro.

"Como hoje se trata de traição, faremos algo diferente. Todos, peguem uma pedra e arremessem nele. Depois disso, concluiremos a execução."

Ele proclamou para todos ouvirem. No início, o povo pareceu relutante com a mudança na execução, mas pegaram as pedras e as arremessaram em Ferneck. Diversas feridas se abriram em seu corpo, sujando o chão com seu sangue. As cicatrizes antigas foram sobrepostas por novos hematomas, e ele começou a enfraquecer pela perda contínua de sangue e dor.

"Maldição... Por que esse velho não soltou um único som? Você deveria ter implorado para viver."

O segundo ajudante ficou irritado, esperando alguma reação do ferreiro, mas não houve nenhuma.

"Tio..."

Sylvia assistiu a cena paralisada, sem desviar o olhar. A falta de expressão do ferreiro parecia reforçar as palavras que ele havia dito antes.

"Dalan... Esse garoto..."

Ferneck pensou antes de sua cabeça ser posicionada em uma mesa. Em seguida, o segundo ajudante sacou a espada e o decapitou em público. Longe dali, alguém entrou na caverna localizada na extremidade norte da vila.