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Chapter 7 - Juramento Silencioso.

Após uma longa noite, a chuva finalmente cessou, deixando os irmãos encharcados. O cabelo de Sylvia ainda pingava sobre o rosto de Dalan, que descansava após os eventos. Ela passou o polegar suavemente sobre a bochecha arranhada dele e, em seguida, observou os ferimentos em seu peitoral e abdômen.

"Como você conseguiu continuar em pé desse jeito...?"

A jovem começou a refletir sobre o fato de que seu irmão era sempre quem mais se machucava, resultado de sua própria incapacidade de se defender. Lentamente, começou a se sentir um peso para ele.

"Hum...?"

Antes de poder aprofundar seus pensamentos, notou que Dalan estava agonizando levemente enquanto descansava, e as feridas dele começavam a cicatrizar.

"Como isso é possível...? Será por causa da marca?"

Sylvia tentou compreender o que estava acontecendo, e ao colocar a palma da mão sobre a marca em seu irmão, sentiu que a área estava muito quente.

"Entendo... É por isso que você está sentindo dor..."

Sua expressão mudou para um semblante pensativo. Embora se sentisse um fardo, ela não queria ser uma.

"Vou me tornar forte por você também... Te proteger quando se arriscar demais."

Ela esboçou um pequeno sorriso e, aproveitando que a chuva tinha parado, acomodou-se ao lado dele e fechou os olhos, adormecendo também. No dia seguinte, ambos acordaram revigorados. O sol brilhava sem nuvens no céu, anunciando um dia claro. Antes de partirem da vila, decidiram passar na casa do ferreiro, caminhando pelas ruas onde os ataques ocorreram, ainda marcadas por corpos, manchas de sangue e poças d'água deixadas pela chuva.

"Ugh... Que cheiro horrível."

Sylvia tampou o nariz devido ao odor forte. Seu irmão, por outro lado, apenas observava as pessoas ao redor, com um olhar pensativo. Notando o comportamento dele, ela preferiu se manter em silêncio, seguindo logo atrás. Ao chegarem à casa, começaram a procurar por coisas úteis. Primeiro, trocaram as roupas molhadas, e Dalan vestiu uma camisa, já que estava sem desde a noite que cedeu a sua para Sylvia dormir.

"Dalan, o que acha de pegarmos algumas coisas do tio Ferneck? Talvez possamos encontrar uma nova espada para você."

Ela sugeriu após se reunirem na sala da casa.

"É uma boa ideia, preciso de uma espada mais resistente, mas acho que vai ser difícil encontrar uma que possa cortar algo como o monstro de ontem sem quebrar."

Dalan concordou, tomando a iniciativa de ir para o porão.

"Será que ele vai voltar? Ou talvez existam outros parecidos?"

Sylvia mostrou preocupação com essa ideia. Ao ouvir isso, Dalan voltou a ficar em silêncio. Embora quisesse perguntar o motivo do silêncio, Sylvia compreendia em seu coração: a derrota, o medo, a sensação de ter matado alguém com sua espada. Por um momento, a lembrança da marca e de como ela reagiu às feridas do irmão trouxe inquietação à garota.

"Se ele voltar ou se realmente existirem outros como ele, preciso continuar treinando para ficar mais forte. Esse seria o conselho do ferreiro Ferneck."

Dalan escondeu o rosto enquanto descia as escadas, demonstrando incerteza em suas palavras. Retornar ao porão após dois anos fora não tinha mais o mesmo significado. Não havia o calor da fornalha, o som do metal sendo martelado, nem a presença de seu tio forjando algo novo.

"Caramba... Esse lugar sempre foi tão escuro assim?"

Ele foi direto à fornalha, juntando algumas lenhas pequenas para acender o fogo e iluminar o espaço.

"Também nunca vi esse porão escuro. O tio Ferneck passava tanto tempo aqui que sempre estava na pedra de forja."

Sylvia observou o ambiente ao redor, procurando algo que pudesse ajudá-los naquela situação. Por passar muito tempo ali com Ferneck, ajudando-o sempre que possível, ela conhecia bem o local de trabalho dele.

"Se bem me lembro, ele tinha algo para fazer anotações. Não sei se era um diário ou uma lista, mas nunca me deixou ler."

Ela explicou, enquanto caminhava até a estante com os materiais. Viu alguns metais, e ao lado, estava a mesa onde seu tio deixava os equipamentos prontos antes de entregá-los ao chefe da vila.

"Um diário? Será que ele escrevia informações importantes?"

Dalan demonstrou curiosidade e começou a procurar algo útil também. Tocando em um dos buracos na parede, seu dedo entrou mais fundo e ficou preso. Ao puxá-lo de volta, uma abertura foi revelada, e uma placa de pedra caiu.

"Encontrei o diário! Estava embaixo da mesa, preso com fita."

Sylvia ficou animada ao descobrir aquilo, abrindo logo o livro de capa de couro e folheando as páginas em busca de informações.

"Eu também encontrei algo. Parece ser um esconderijo."

Dalan revelou sua descoberta, mas ao olhar para sua irmã, viu que ela estava com uma expressão assustada.

"Sylvia? O que aconteceu? O que está escrito?"

Ele perguntou, levantando-se do chão e caminhando até ela.

"Dalan, é sobre aquele monstro!"

A garota exclamou, fazendo com que ele parasse. Decidindo ler o que estava escrito, Dalan começou:

"O treinamento com o Dalan tem sido um sucesso. Suas habilidades são notáveis entre as crianças da vila. Entretanto, desde o início, sinto algo ruim envolvendo esse garoto, e durante o treinamento, sinto que estou sendo observado por alguém. Talvez seja paranoia minha, relacionada à investigação que venho fazendo sobre o chefe da vila. Recentemente, descobri suas intenções para este lugar. Ele planeja usar algo para tornar a vila uma potência grandiosa, mas temo que isso não seja realmente controlável e que ele esteja se aproveitando da ambição cega do chefe. Além disso, quanto mais investigo, mais sinto que olhos vazios me observam... Olhos vazios... Olhos vazios..."

Sylvia leu, notando em seguida que Dalan colocou a mão no livro e rasgou as páginas. Com o coração acelerado, ele amassou as folhas e jogou-as no fogo.

"Ei, mantenha a calma e concentre-se, Sylvia!"

Ao ouvir o grito do irmão, a garota percebeu que estava em um tipo de transe, soltando uma respiração pesada.

"Certo... Obrigada, Dalan..."

Sylvia parecia desnorteada, fechando o livro e o largando sobre a mesa.

"Olhos vazios... Com certeza é aquele monstro. Mas por que o chefe da vila estava envolvido? E por que ele estava te observando?"

Ela questionou, ainda confusa após a experiência de transe.

"Eu não sei, e agora não temos mais como saber..."

Dalan ainda estava agitado, visivelmente desesperado. Enquanto ela falava sobre os olhos vazios repetidamente, ele também começou a sentir-se observado, o que o levou a reagir daquela forma.

"Também não sei por que ele estava me observando, mas ele realmente deixou isso claro quando me visitou enquanto eu estava preso."

Ele lembrou-se de quando esteve com o monstro na caverna. Sua mente estava tumultuada. Tentando se acalmar, respirou fundo e voltou à abertura na parede. Ao abaixar a mão para alcançar o vão, sentiu algo robusto.

"O que é isso...?"

Ele se perguntou ao puxar e ver uma caixa preta. Ela tinha formato retangular e era quase do tamanho dos gêmeos. Ao puxar rápido, algo dentro chacoalhou.

"Desde quando isso está aí...?"

Sylvia estava curiosa, embora receosa com o que poderia haver dentro.