Tendo colocado a caixa ao lado do diário do ferreiro na mesa, percebeu-se que estava levemente empoeirada, sugerindo que não estava guardada por muito tempo.
"Provavelmente foi feita e armazenada este ano."
Dalan comentou com sua irmã, enquanto passava a mão sobre a superfície da caixa para limpar, claramente curioso sobre o que poderia estar guardado nela. A caixa era fina e retangular, parecendo ser um molde para algo específico. Entretanto, ela estava envolta por correntes trancadas com um cadeado.
"O que esse velho estava escondendo para colocar até um cadeado nessa caixa?"
Indagou Dalan, demonstrando uma leve irritação, com uma veia saltando em sua testa.
"O problema não é esse... É onde vamos encontrar a chave... Se é que existe uma. Use o martelo dele."
Sylvia caminhou até a pedra de forja e pegou o martelo, voltando para entregá-lo ao irmão. Dalan seguiu a sugestão dela, levantou o martelo e desferiu um golpe. Ao acertar, percebeu que o cadeado não se amassou tanto, o que o levou a continuar golpeando repetidamente.
"Quebrou...!"
Dalan exclamou após dar o último golpe, amassando o cadeado até que as correntes se soltaram. Sem mais conter a curiosidade, ele abriu a caixa.
"O que é isso?"
Sylvia tentou compreender o conteúdo. Dentro, havia um livro sobre um objeto retangular e dois braceletes. Ela estendeu a mão na frente de Dalan e pegou o livro.
"Isto parece uma espada, mas a empunhadura é mais retangular comparada à que usava antes."
Ele pegou a espada em seguida, observando que tanto o cabo quanto a bainha eram simétricos, embora mais finos. O material de ambos era negro, com adornos dourados formando linhas que se conectavam ao longo de toda a extensão.
"É muito bonita... E também confortável e mais leve."
Dalan comentou ao segurar a espada, examinando cada detalhe.
"Este livro parece ser um manual. Acho que o tio Ferneck preparou isso para que usássemos, mas por que ele escondeu?"
Sylvia expressou dúvida, folheando o livro rapidamente. Tentando encontrar algo relacionado ao uso dos braceletes e da espada, ela parou em uma página específica.
"Energia mágica...? Parece que os braceletes podem ser usados como arma se eu os ativar com minha energia mágica, mas... O que diabos é isso?"
Ela ficou ainda mais confusa ao tentar entender as explicações do livro. Mesmo assim, pegou os braceletes da caixa e os colocou nos pulsos. Quando o fez, pequenas correntes surgiram de cada lado. O branco dos braceletes também estava envolto por adornos dourados, criando um padrão de elos que terminavam na base das correntes.
"Caramba! Como isso aconteceu? Que estranho."
Sylvia se assustou com a rápida transformação dos braceletes, mas logo sua curiosidade predominou, levando-a a continuar lendo o livro.
"Uau... Será que a espada tem algo assim também?"
Dalan perguntou, decidindo desembainhar a espada imediatamente. Ao fazê-lo, notou que a lâmina era fina, mas ao tocá-la cuidadosamente, percebeu que sua resistência era semelhante ou até superior à sua última espada. Havia também um traço de metal dourado no centro da lâmina, que ia da empunhadura quase até a ponta. Enquanto estava fascinado, Dalan sentiu algo tentar drenar sua energia. Instintivamente, tentou soltar a espada, mas não conseguiu. Nesse momento, a marca em seu peito começou a queimar intensamente, causando uma dor lancinante.
"Dalan? Você está bem?"
Sylvia percebeu que o irmão estava começando a agonizar e, ao vê-lo cair de joelhos, começou a gritar seu nome, largando o livro para tentar ajudá-lo. Ela estava desesperada, mas Dalan não respondia. A fascinação que ele sentia transformou-se em dor intensa, a ponto de ele não conseguir gritar. As veias de seus dedos começaram a saltar, seguidas pelas do braço e, por fim, pela marca no peito. Devido à queimação, uma pequena fissura se abriu em seu peito, liberando gotas de sangue que mancharam sua camisa. O mesmo aconteceu sob as unhas da mão que segurava a espada. Seu sangue escorreu pela arma até a lâmina, sendo absorvido imediatamente. Quando estava à beira do desmaio por causa da dor, sentiu a queimação diminuir e a espada parar de drenar sua energia. Após esse sofrimento, ele soltou uma respiração rápida e pesada, deixando a espada cair no chão.
"Ugh... Que droga... O que aconteceu comigo...?"
Dalan continuou a gemer de dor, colocando a mão sobre o peito, tentando estabilizar sua respiração, embora ainda tremesse.
"Dalan! Você está bem? Você caiu de joelhos segurando a espada e não me respondia!"
Sylvia estava em choque, sem entender que o irmão estava sentindo dor ou que havia passado por todo aquele processo.
"Acho que estou... A marca começou a doer, mas já passou..."
Ele respondeu com dificuldade, levantando-se do chão com esforço. Em seguida, caminhou em direção à saída do porão.
"Ei, espera! Para onde você vai?"
Sylvia pegou o livro novamente, além da espada, colocando-a de volta na bainha, e seguiu Dalan. Quando se aproximou, ajudou-o a subir as escadas.
"Preciso de ar fresco. Acho melhor sairmos daqui o quanto antes."
Dalan afirmou, aceitando a ajuda da irmã.
"Certo..."
Sylvia achou a reação dele estranha, mas concordou com a decisão. Depois de alguns minutos, chegaram à saída da vila, onde começava a floresta.
"Você está melhor? Aqui, trouxe sua espada."
Sylvia perguntou, soltando o irmão e lhe entregando a bainha.
"Estou, sim, obrigado..."
Dalan agradeceu pela preocupação ao pegar a espada. No entanto, ficou em silêncio por alguns segundos.
"Senti algo além da dor no peito... Foi como se minha energia vital estivesse sendo roubada. Não sei explicar... Mas, de alguma forma, senti uma conexão com a marca."
Ele explicou, demonstrando incerteza em suas palavras. A sensação parecia difícil de ser compreendida de imediato.
"É como se... Uma parte daquele monstro estivesse dentro de mim, e a espada absorveu essa parte."
Foi a melhor explicação que conseguiu dar, embora ainda se sentisse confuso. Ao ouvir aquilo, Sylvia abaixou a cabeça.
"Você sempre carrega todo o fardo sozinho... Isso não é justo! Não é justo!"
Sylvia levantou a cabeça e, tentando aliviar sua angústia, deu um soco no braço do irmão.
"Isso dói! Por que está fazendo..."
Dalan levou a mão ao braço onde foi socado, mas parou de falar quando viu lágrimas descendo pelo rosto da irmã. Sentindo-se constrangido, apenas soltou um suspiro.
"Eu não estou sozinho, Sylvia... Tenho você aqui comigo. Mesmo quando você não está por perto, eu penso em você, e isso me dá forças para continuar. Até agora, o motivo para eu aprender a lutar e me fortalecer foi para não te perder, assim como perdemos nossos pais... Lembra quando perguntou se havia outros gêmeos no mundo? Depois de tudo o que aconteceu, acredito que sim. Devem existir outros em melhores condições, mas também podem ter existido outros como nós, que não lutaram para sobreviver. Por isso, pretendo lutar para permanecer livre. Eu quero viver. E você também tem feito isso, só precisa acreditar mais em si mesma, em vez de se achar um fardo."
Dalan sorriu de forma genuína. Suas palavras tocaram o coração de Sylvia, que secou as lágrimas e retribuiu o sorriso.
"Céus... É realmente você dizendo isso? Quase não acreditei... Bem, talvez você tenha razão. Nesse caso, prometo me tornar forte para lutar ao seu lado."
Ela disse, levantando o punho fechado em direção a Dalan.
"Certo, então vamos sair da vila."
Ele respondeu, batendo com o punho no dela e começando a caminhar pela floresta. Sylvia o seguiu.