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Chapter 3 - Reflexo da Lâmina Sob o Luar.

A vila sob o brilho do luar estava em completo silêncio. Os moradores permaneciam dentro de suas casas, e o único som era o do leve balançar das sombras sob a iluminação. Movendo-se nas trevas, estava Dalan. Ele caminhava com passos rápidos e silenciosos, evitando ser visto pela equipe de segurança que fazia a patrulha noturna da vila. Dalan se sentia mais à vontade agora, em comparação à primeira vez que havia corrido com uma espada na mão. O peso da espada já não o incomodava tanto, e ele conseguia ser ágil e discreto. Além disso, o tempo que passara treinando entre a floresta e a casa do ferreiro o ensinou sobre as rotas e pontos cegos da vigilância. No início, Ferneck o acompanhava de volta, mas nos últimos meses, Dalan aprendeu a fazer o trajeto sozinho.

"Cheguei... Agora preciso pensar em como entrar sem levantar suspeitas..."

Dalan estava diante de uma das casas de dois andares da vila. Como o chefe e seus ajudantes eram pilares para a fundação e o desenvolvimento contínuo da vila, suas casas estavam situadas nas quatro extremidades do lugar. Os três ajudantes ocupavam as pontas leste, oeste e sul, enquanto o chefe morava no norte. Observando a estrutura, Dalan buscou uma forma de entrar despercebido. Ao dar uma volta rápida pela sombra, notou que a janela do segundo andar estava aberta. Refletindo um pouco sobre como subir até lá, ele utilizou as brechas na madeira e no feno como apoio. Com algum esforço, conseguiu escalar, e antes de entrar pela janela, escutou atentamente, mas o silêncio prevalecia. Levantando a cabeça cautelosamente para observar o interior da sala sem se expor muito, viu que não havia ninguém. Com mais um pouco de esforço, conseguiu entrar na casa.

"Caramba..."

Dalan não pôde conter a surpresa ao ver aquela sala. Era uma biblioteca, com livros espalhados por todos os cantos, uma escrivaninha em um dos lados e alguns volumes largados no chão.

"Que bagunça... Como ele consegue viver aqui?"

A curiosidade de Dalan foi despertada por aqueles livros e o que eles poderiam conter, mas ele balançou a cabeça levemente para retomar o foco. Ao ver uma corda sobre a escrivaninha, teve a ideia de amarrar a bainha nas costas, o que lhe permitiria caminhar sem precisar segurar a bainha.

"Pronto... Agora preciso descobrir onde está o terceiro ajudante..."

Ele pensou enquanto colocava a ideia em prática, segurando apenas a espada. Em seguida, aproximou-se da porta e tentou ouvir o que se passava do lado de fora. Conseguia escutar um som baixo, vindo do primeiro andar. Lentamente, girou a maçaneta, abrindo a porta e, antes de sair, verificou o corredor para confirmar se estava seguro. Caminhou cautelosamente pelo corredor, evitando fazer qualquer som que pudesse chamar a atenção de quem estivesse no andar inferior. No entanto, parou ao chegar perto da escada, ao identificar a origem do ruído.

"Essa mordida ainda não cicatrizou... Aquela criança amaldiçoada... Se não fosse pelo maldito ferreiro estar em casa, eu já teria ensinado a ela como se submeter à minha vontade, como as outras mulheres da vila..."

O terceiro ajudante resmungava. Dalan se aproximou um pouco mais, conseguindo uma visão mais clara da situação. Observando o braço dele, viu que a ferida deixada por Sylvia ainda estava aberta, evidenciando uma mordida violenta. As palavras do ajudante e a cena que ele desejava criar despertaram um profundo desprezo em Dalan, reacendendo o ódio em seu peito. Seu olhar se aguçou enquanto planejava como se aproximar rapidamente e atacar com a espada. Quando o ajudante se levantou da cadeira de costas para a escada e começou a enfaixar o braço ferido, Dalan segurou a espada com firmeza. Ele hesitou por um momento, mas ao ver o ajudante se movendo em direção a outro cômodo no primeiro andar, tomou sua decisão.

"É agora...!"

Dalan pensou enquanto saltava, descendo a espada em um corte durante a queda, mirando o braço do terceiro ajudante. O ataque foi certeiro, e ele conseguiu pegar o homem desprevenido, cortando-lhe o braço fora.

"O quê? Ugh!"

O terceiro ajudante gritou de dor e surpresa, colocando a mão no lugar onde seu braço fora cortado, vendo o chão se encher de sangue.

"Seu desgraçado! Como entrou aqui? E por que está com uma espada?"

Ele berrou, sentindo a dor intensa, enquanto observava seu braço decepado caído sobre o tapete ensanguentado.

"Eu... Cortei uma pessoa..."

Dalan ficou em silêncio, refletindo sobre o que acabara de fazer. Seu corpo paralisou, hesitando em dar o próximo passo. Era a primeira vez que ele cortava alguém dessa forma, algo completamente diferente dos treinos, onde os ataques não chegavam a causar ferimentos tão graves. Vendo o ajudante olhar para um canto da sala, Dalan também olhou, percebendo que ali estava a espada dele. Quando o ajudante tentou correr para pegar a arma, Dalan, instintivamente, avançou. Antes que ele conseguisse alcançar a bainha, Dalan desferiu outro golpe, desta vez cortando-lhe a mão fora, fazendo o homem cair de costas no chão e gritar novamente.

"Você é mesmo uma criança amaldiçoada... Eu disse ao chefe que você era! Deveria ter sido executado junto com seus pais!"

O ajudante vomitava seu ódio, mesmo em meio à dor. Contudo, ao encarar Dalan, um calafrio percorreu sua espinha. Ele ficou aterrorizado ao ver a expressão vazia do garoto, mesmo com o rosto sujo de sangue. Os olhos de Dalan eram penetrantes, como se julgassem a própria alma do ajudante.

"Você é quem é o verdadeiro amaldiçoado aqui... Nem mesmo merecia a mordida da Sylvia..."

Dalan falou enquanto pisava no peito do ajudante e encostava a ponta da espada em sua boca.

"E também... Nunca mais ouse falar dos meus pais...!"

O garoto gritou, descendo a espada de uma vez, fazendo a lâmina atravessar a boca do ajudante. Após o ato, Dalan permaneceu parado por alguns segundos.

"Sniff... Sniff..."

De repente, ele começou a tremer, e lágrimas começaram a cair sobre o rosto do ajudante. O peso de ter matado alguém invadiu sua mente. Ciente do que acabara de fazer, Dalan lentamente ergueu a espada e se apoiou na parede ao lado. Em seguida, sentou-se e se encolheu, abraçando a espada enquanto chorava sem parar.