Com o grupo reunido ao redor da carruagem, o ambiente tornou-se menos opressivo, refletindo o alívio que surgiu após a luta contra os assassinos Skirash'An. Anastasia desviou o olhar de Dalan para observar Hannabel, concentrando-se na alabarda que ela segurava, revelando sua curiosidade.
"Intrigante... Nunca vi você carregando uma arma antes, Hannabel."
Anastasia comentou, segurando sua foice com a lâmina voltada para baixo, atrás de si. Com um movimento ágil e controlado, a lâmina da foice dobrou, travando automaticamente e assumindo a forma de um machado.
"Nunca tive motivo para usar uma arma antes. Minha função é ser taverneira da cidade, afinal."
Hannabel respondeu, fincando a alabarda no chão e recostando-se no cabo, cruzando os braços.
"Eu disse à Anastasia que levaria alguém comigo, caso fosse necessário. Pensei naquele soldado que nos recepcionou na entrada, mas ele não parecia capaz de ajudar. Como já tinha uma intuição sobre a Hannabel, pedi ajuda a ela antes de sair."
Dalan explicou, enquanto Sylvia o soltava do abraço, exibindo uma expressão triste. Nesse momento, Dalan sentiu seus músculos se contraírem, causando dor, e ele caiu sobre Sylvia, que o amparou.
"Ei, você está bem?"
Sylvia perguntou preocupada ao vê-lo naquele estado, decidindo sentá-lo no chão. Hannabel, Aiden e Anastasia observaram em silêncio.
"Estou... Só preciso descansar um pouco."
Dalan respondeu com dificuldade. Agora sentado, Sylvia passou a mão sobre sua camisa.
"Você está muito machucado? Deixa eu dar uma olhada."
Ela afirmou, levantando a camisa do irmão. Apesar da resistência de Dalan, seu estado debilitado não o permitiu impedir. Quando conseguiu, as cicatrizes no torso de Dalan ficaram à mostra. Além das cicatrizes antigas, os ferimentos recentes causados pelo líder da equipe e por Radariel eram visíveis: um corte no ombro direito, no braço esquerdo, na lateral direita da cintura e seis cortes nas costas. No rosto, um corte profundo cruzava a bochecha esquerda até o pescoço, enquanto um corte superficial marcava a bochecha direita. No entanto, o que chamou a atenção de Sylvia foi uma queimadura ao redor da marca no peito de Dalan, um círculo perfeito que envolvia a marca de sangue, sem tocá-la diretamente.
"Por que tem uma queimadura...?"
Sylvia pensou, sem entender o motivo. Lembrou-se da primeira vez que viu a marca agir, quando ela apenas esquentou para cicatrizar as feridas do irmão.
"A marca está ficando mais forte? Será que a besta de sangue..."
Ela continuou, levantando-se do chão, enquanto suas mãos começavam a tremer, e seu semblante revelava crescente preocupação.
"Por que isso está no peito dele?"
Hannabel se perguntou, intrigada com a marca no corpo de Dalan.
"Sylvia...? O que houve?"
Dalan, confuso com a reação de sua irmã aos seus ferimentos, questionou-a. Sylvia, no entanto, olhou novamente para o sangue em sua roupa, um resquício da morte que causou.
"Por que você sempre se machuca tanto por minha causa...?"
Ela perguntou, passando as mãos sobre as manchas de sangue. Por um momento, ela paralisou, sem compreender completamente suas próprias emoções. O remorso, que havia sido abafado pela adrenalina da batalha, voltou com força ao ver os ferimentos de Dalan e a queimadura da marca.
"Eu prometi que ficaria mais forte para lutar ao seu lado... Eu até matei aqueles assassinos... Então por que você ainda se machuca tanto...?"
Sylvia ergueu as mãos, sujas de sangue. Observando-a, Dalan também ficou paralisado, confuso com as palavras dela. Hannabel e Aiden, surpresos, optaram por manterem-se em silêncio.
"Ei, Sylvia..."
Anastasia tentou se aproximar dela, cuidadosamente, estendendo a mão para tocá-la no ombro.
"Eu me tornei mais forte, e mesmo sujando minhas mãos, ainda não consigo evitar que você se arrisque tanto... Eu matei aqueles assassinos! Eu... Matei..."
Sylvia gritou, liberando o remorso que começava a corroê-la. Anastasia hesitou antes de tocar seu ombro, sentindo-se incapaz de oferecer apoio, pois também não sabia como lidar com o fato de ter matado alguém pela primeira vez naquela noite.
"Você era um assassino, não era? Aquele homem morto te conhecia e sabia seu título."
Sylvia questionou Aiden, apontando para o corpo do assassino das adagas, caído próximo a eles.
"Sim, eu era."
Aiden respondeu, ainda surpreso com a situação. Antes que pudesse reagir, Sylvia se aproximou e agarrou a gola do traje dele.
"Então foi você que atraiu esses assassinos até aqui? Por isso tivemos que matá-los, e o Dalan se machucou tanto de novo? A culpa é sua?"
Ela o confrontou, tremendo de desespero. Dalan observava em silêncio, ainda processando os acontecimentos, enquanto Hannabel e Anastasia abaixaram a cabeça. Aiden, sem responder, deixou transparecer compaixão através de seu olhar preocupado.
"Tsc..."
Sylvia soltou a gola de Aiden, e lágrimas começaram a descer de seus olhos. Ela passou por ele e caminhou até a carruagem, entrando.
"Sylvia... Vou tentar falar com ela..."
Anastasia disse, deixando os três ali, e se dirigindo à carruagem para ficar com Sylvia.
"Huff..."
Hannabel soltou um suspiro profundo e voltou sua atenção para Dalan, que abaixava a cabeça, fixando o olhar em sua espada, Agdornius, que estava ao seu lado.
"Eu arrastei ela para isso..."
Dalan murmurou, enquanto levava a mão à cabeça, sentindo uma dor crescente. Memórias começavam a invadir sua mente, e ele lentamente deslizou a mão até o cabo da espada.
"Eu quebrei minha promessa com o ferreiro... Jurei empunhar minha espada para me defender e proteger Sylvia apenas quando fosse realmente necessário."
Erguendo a Agdornius, ele apontou a lâmina em direção ao céu noturno. Seus cabelos caíram desajeitadamente sobre seu rosto, ocultando suas feições.
"Desonrei essa promessa quando matei o terceiro ajudante... E ainda assim, tentei proteger Sylvia disso. Pelo visto, fracassei novamente. Então, por que continuo empunhando minha espada? Qual o sentido de lutar? Apenas sujar minhas mãos para dizer que me tornei mais forte? Tentar proteger alguém, quando você mesmo se torna a causa do sofrimento dela?"
As palavras ecoaram no silêncio da noite, enquanto ele olhava fixamente para a lua.
"Esse garoto ainda não aprendeu a lidar com suas próprias emoções e responsabilidades, mas já carrega um peso enorme... Me faz lembrar dele..."
Hannabel pensou, evocando lembranças de alguém do passado. Nesse momento, ela notou que Aiden levantava a manga da camisa, revelando as faixas encharcadas de sangue.
"Não há como descobrir um propósito se sua vontade estiver sendo destruída pelo peso da responsabilidade. O ser humano age em torno do sacrifício, algo que o faz naturalmente por suas ambições. Se deseja realmente encontrar um motivo para empunhar sua espada, deve estar preparado para sacrificar algo. Embora tenha quebrado suas promessas, isso não o impede de continuar lutando para encontrar o que busca."
Aiden falou enquanto removia as faixas sujas e, ao levantar a outra manga, retirou a luva e usou as faixas limpas para cobrir os ferimentos novamente. Em seguida, aproximou-se de Dalan.
"Quanto mais você se afundar em suas falhas e dúvidas, mais perdido ficará. Agora, vire-se, vou examinar seus ferimentos. Apesar de meu passado como assassino, também sou um curandeiro."
Dalan abaixou sua espada, pensativo com as palavras de Aiden. Embora cercado por tristeza, ele reconheceu a verdade no que foi dito. Então, obedeceu, virando-se de costas e corrigindo sua postura.
"Vou usar minha afinidade mágica para realizar a análise, então você precisa meditar. Tente manter sua energia mágica estável, sem liberá-la, pois, se isso acontecer, haverá um choque entre nossas afinidades, e você sentirá ainda mais dor e exaustão. Portanto, concentre-se apenas no fluxo da sua energia, mantendo-a em todas as áreas do corpo."
Aiden explicou, colocando a mão nas costas de Dalan e começando a liberar sua própria energia mágica. Dalan, por sua vez, fechou os olhos e iniciou a meditação.