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Terras de Adira

🇧🇷ThaliaSant
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Synopsis
Em um dos quatro reinos de Adira, a serpente infame Maeve Fermi Escarlate ressurge misteriosamente em um dia qualquer, quebrando a paz dos magos de Avalon. Seu retorno assusta o mundo de tal forma que cada reino não consegue ser mais o mesmo com sua presença, fazendo com que muitos desejem que a justiça seja feita e que ela pague pelos seus pecados. Enquanto é presa e espera pelo seu julgamento, se depara com fantasmas e problemas mal resolvidos do passado. Além de estar empenhada em fugir e encontrar um velho amigo que possa trazer respostas e um novo caminho a ela como escolhida. Por sorte do destino ou azar, Fênix e Serpentes voltam a se encontrar quando Maeve conhece o príncipe mais novo de Zamoria, Eros. Tendo certeza de que nem o tempo é capaz de apagar o ódio enraizado entre duas espécies inimigas, principalmente quando Maeve percebe que tem sua vida nas mãos de Eros. Do outro lado de Adira, em Calisto. Vive Baltazar, um homem íntegro e independente, que cuida sozinho dos seus dois filhos órfãos, e quando ele sente a presença de Maeve no mundo de novo, ele sabe que esse é o chamado, e que agora terá que escolher entre suas obrigações e seus dois filhos. tags: com foco em fantasia épica/medieval, construção de mundo lenta, ação, aventura, violência, magia, deuses, demônios, anjos, bruxos, magos, romance, slow burn, enemies tô lovers, friends tô lovers
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Chapter 1 - Capítulo 1

Prólogo

No mundo, havia uma jovem muito desprezível e odiada por todos os quatro reinos de Adira, cujo nome era Maeve Fermi Escarlate.

Quando nasceu, os antigos a registraram como "A Escolhida", pois mesmo com seu pai sendo considerado estéril entre os homens, pela sua fé tamanha, ele conseguiu concebê-la. Cumprindo a profecia dos deuses que prometeram um salvador para o reino de Arcádia.

Na época, seu território a recebeu de bom grado, com comemorações e festas do norte ao sul, do leste ao oeste. Felizes pelo período de trevas finalmente estar com seus dias contados, e os demônios, grandes inimigos das serpentes, poderiam ser dizimados por ela.

Essa era a missão de Maeve Escarlate, e toda Adira, que a observava mesmo antes de nascer, esperava que se realizasse. No entanto, a que veio para salvar uma nação perdida e desolada, também poderia traçar o caminho contrário e destruir aquilo que de certa forma já estava destruído, o seu próprio povo, e assim foi… não precisou de duas décadas.

Não havia registros ou presentes que confirmassem a era de degradação que se instaurou em Arcádia, mas existiam vestígios da terra queimada, junto com ossos, edifícios danificados e um lugar que jamais seria habitado novamente. Boatos, diziam. Chamavam de 'Ruínas Escarlate'.

Nesse período, as serpentes foram extintas, não restando mais nenhuma para contar a história, apenas especulações, circulando e voando por toda Adira. Havia aqueles que falavam sobre uma doença que varreu metade do povo e que a outra parte se foi na guerra, bem no momento que a herdeira Maeve enlouqueceu e queimou todos vivos com seu poder, até ela.

Essa era a versão mais dominante, mais concreta, mas havia aqueles que acreditavam que de desgosto a escolhida se matou com sua própria espada e descansou as margens do Rio Vermelho. 

Muitas conversas se espalharam, mas o fato é que desde que Maeve nasceu, o mundo não foi mais o mesmo. Guerras foram travadas, batalhas findadas, reinos se desuniram e Adira se tornou mais perigosa com tempo. 

Pelo menos, após a morte da traiçoeira, muitas preocupações cessaram e o mundo se tornou um pouco mais tranquilo. Embora, ainda existiam artigos que mostrassem o oposto e as três nações restantes continuassem com suas diferenças. No entanto, nada que se iguale ao que Arcadia sofreu e fez os outros reinos sofrerem…

E após longos dezoito anos sem a presença infame da escolhida, em um dia qualquer, quando todos menos esperavam, ela retornou de uma forma misteriosa.

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Localização; Avalon - Praça da Cidade

Maeve

Era primavera no reino de Avalon.

As flores desabrocharam e ganharam vida à medida que o sol acenava para a terra e a magia emanava do povo alegre na praça da cidade.

No centro, as sete estatuetas enormes dos deuses podiam ser vistas de longe. Elas estavam firmadas no solo e faziam um círculo com seus corpos de pedra. Suas mãos se estendiam para o meio ao mesmo tempo, como se dessem boas vindas aos que perambulavam para lá e pra cá na feira debaixo delas.

Era um amontoado de gente, que comprava e vendia mantimentos, desde joias, roupas a armas leves para proteção, mas nada que fosse incomum para os magos que dispensavam qualquer tipo de defesa dos objetos, quando nasciam com magia.

Em uma das barracas que continha arcos e flechas, uma criança tagarelava alto ao lado de sua mãe.

— Mamãe, aquela ponte está… meio embaçada. Para onde ela leva?

O vendedor com uma barbicha pequena ouviu-o por acaso, notando o menino magricela apontar para a única travessia do reino, a que separava Avalon de Calisto.

A neblina consumia aquela área próxima da cidade, mas pela altura era impossível a visão passar despercebida por alguns curiosos. A ponte era alta e estreita, sendo considerada pelos mais sábios muito perigosa.

Não havia informantes sobre o estado atual da mesma, pois ninguém mais poderia andar por ela novamente, tanto por ser proibido pelo rei, quanto por existir a barreira que protege o reino dos males afora, impedindo que atravessem alguns passos até ela.

O comerciante que já estava muito acostumado com esse tipo de pergunta ficou bastante animado, então ele respondeu pela mãe do menino.

— É o reino das bruxas, garoto, — ele tocou em seu bigode, o apontou para cima e, após entregar uma cesta para a mulher, continuou, — lá eles abrigam os seres ruins e maliciosos que machucam crianças.

Os olhos pequenos do menino se arregalaram, surpreso com a resposta, logo depois ele se escondeu atrás de sua mãe.

O homem não conseguiu impedir o sorriso satisfeito ao perceber que o amedrontou.

— Não dê ouvidos às perguntas bobas do meu filho, senhor. — disse a mulher.

— Claro que não, senhora. Volte sem…

Antes do vendedor se despedir deles, outra agitação se iniciou rapidamente próximo a sua barraca, chamando sua atenção imediatamente.

Uma multidão mais violenta e desesperada, se juntou em uma roda, parecendo discutir sobre algo. Os mais velhos foram empurrados e as frutas caíram de suas caixas enquanto as pessoas gritavam horrorizadas. Era um escarcéu, como se demônios brotassem no chão da feira diante de todos.

— Como ela apareceu? — alguém berrou por cima das outras vozes.

— E-ela… surgiu do nada.

— Como mágica!

— Impossível, não há tal magia com esse poder.

As pessoas pareciam observá-la com repulsa. Seus rostos se escurecendo a cada instante que se passava.

Interessado, o vendedor saltou de sua barraca e correu para poder espiar também. Enfiando sua cara até onde não cabia para ver o mesmo que os outros. Ao se aproximar, sentiu seu queixo cair ao ver uma jovem estirada no chão.

Se fosse uma pessoa comum, não haveria tanto tumulto, mas não era. A jovem tinha a pele tão translúcida que suas veias esverdeadas pareciam saltar de seu rosto, seus cabelos flamejantes se estendiam pelas suas costas expostas, e escondiam pequenos vestígios de cicatrizes rosadas por todo seu corpo.

A moça estava nua e desacordada, encolhida em uma posição como se tivesse com medo de alguém machucá-la. Seus dedos tremiam e sua testa franzia em meio ao pesadelo que ocupava sua mente.

Uma mulher com indignação na voz, gritou.

— Não pode ser quem pensamos!

— Seus cabelos são ruivos como…

— Não fale irmão! — o mais velho interrompeu o mais novo com um tapa em sua nuca — Pode trazer mau agouro para a família.

O outro se calou no mesmo instante com a advertência.

Em seguida, um senhor de aparência singela se aproximou com uma mão no queixo e a outra no joelho desgastado. O interesse estava estampado em seu rosto enrugado e nos dos outros que o seguia como ovelhas.

— Sua pele é pálida demais… bem incomum.

— É ela, Mestre? — uma menina perguntou a ele.

— Teríamos que verificar para ter certeza.

— Não faremos nada disso, velhote! — o outro levantou as mãos, um facão estava estendido para o céu enquanto falava. — Se ela é ruiva, só pode ser um dos malditos! Teremos que cortar sua cabeça e entregar seu corpo aos cachorros!

— Ou enfiar a cabeça dela em uma estaca!

— Sim!

— Verdade.

Concordâncias eram ouvidas por todos os lados, a plateia se tornando maior do que já era, sendo construída por três dúzias de pessoas com sangue nos olhos. A vingança dominava corações que nem precisavam ser corrompidos e por conta da língua de alguns, todos eram envenenados rapidamente.

A pobre jovem, alheia ao seu redor, piscou pela primeira vez.

— Afastem-se! Ela está acordando!

Não foi preciso gritar duas vezes, a multidão deu dois passos para trás como se ela tivesse uma doença contagiosa e fosse passar para eles apenas por respirarem o mesmo ar.

Era esmagador o sentimento de desprezo, mas pior era estar desorientada em um lugar desconhecido.

Seus cílios batiam uns nos outros enquanto seus membros se esticavam e sua consciência era recobrada aos poucos. A luz do dia inundava seus olhos, e lentamente ela enxergava as pessoas à sua volta ansiando pelo seu despertar.

Maeve ergueu uma sobrancelha quando respirou profundamente, depois tossiu seco como se sua garganta cerrasse por dentro. Seus olhos se encheram de água e ela se sentou para não engasgar.

A dor súbita em seus ossos correu percorreu por cada parte do seu corpo e o ar parecia estranho e opressor, como se a cada respiração ela se sentisse ainda mais sufocada. Maeve tossiu mais, e era o único som ouvido a léguas de distância. O mundo parecia parar, olhando para ela, seja céu, terra e até mesmo o inferno.

Sua primeira reação era inesperada, ela olhou seu palmo aberto em meio ao mal estar, estava limpo como nunca, mas ela ainda via sangue, machucados, fedor e morte. Sempre veria.

Seus olhos dançaram pela feira, em busca de respostas que não teria, pois o que estava vendo não era nem um pouco familiar, o lugar, as pessoas, o ar. Era horrível. Maeve levou suas mãos à boca no mesmo instante, tentando abafar a bile que começava em sua garganta, mas seus dedos não foram suficientes para segurar o vômito que escorreu de seus lábios para fora.

As pessoas discutiam.

— Ela está sujando nossa terra!

— Não podemos deixá-la ilesa.

Um brutamonte corajoso ou muito estúpido, que estava presente, se adiantou na retaguarda de Maeve. Seus passos foram rápidos demais para que os outros o detivessem e quando assimilaram o que ele faria, as mãos sujas do homem já estavam agarradas aos cabelos longos da jovem.

A força foi tanta que Maeve deitou o pescoço para não sentir o desconforto, sendo obrigada a levantar no mesmo instante com seus joelhos querendo ceder. Ela cerrou os dentes, permitindo a princípio a violência inesperada, só que não por muito tempo.

Maeve agarrou o braço enfurecida, seus dedos mal fechando sobre ele, e quando pôde, apertou o membro sem dó alguma. Ela permitiu a aproximação entre os dois corpos quando ele a puxou em resposta, e se aproveitou para dar uma pisada nos dedos dos pés dele enquanto oferecia uma cotovelada nas costelas desprotegidas. Os estalos foram ouvidos em meio aos gritos ao redor. Eram os ossos se quebrando.

O brutalmente gemeu, não conseguindo aguentar a agonia que cresceu nas partes atingidas.

Em sua outra vida, Maeve era considerada a mais forte que existia, e ela conhecia seu prestígio em toda Adira, abusando desse poder quando era forçada a reagir em momentos como esse. Embora, odiasse na maioria das vezes.

Sua cabeça ainda latejava mesmo depois de ter sido solta rudemente.

O homem robusto se curvava, mal conseguindo se manter firme por causa do pé quebrado e do braço machucado que segurava sobre seu estômago. Seu estado era lamentável e não tinha conserto algum que Maeve conhecesse para ele voltar a ser igual antes.

As pessoas ao redor vaiaram a luta, e o homem chorava enquanto procurava uma saída no círculo fechado.

Maeve deveria se sentir culpada por atrapalhar uma vida dessa forma. Se tivesse tempo sim, mas antes de assimilar o que aconteceu, uma dor fina atravessou suas costas e fez ela se ajoelhar enquanto gritava.

— Vamos matá-la!

— Pegue uma corda!

Ela ouvia o alvoroço interminável, tentando tatear onde sentia a nova ardência. A sensação não era estranha ou nova, parecendo que já havia sentido antes.

Maeve tremeu quando reconheceu o ataque e seu coração acelerou como se fosse sair pela sua boca.

"Não poderia ser". Pensou, mas não disse.

Logo depois, foi ferida de novo com mais força. A magia entrando em contato com sua pele e queimando como se fosse uma chama. Era doloroso e agonizante.

Maeve não conseguia segurar seu corpo mole da queda no chão, assistindo o mundo girando em sua frente, e antes de cair uma corda laçou em seu pescoço, segurando-a como um animal selvagem para o abate.

Depois disso, tudo aconteceu rápido demais, ela era puxada pelos dez homens em alguma direção, e todo seu corpo ardia em meio a brutalidade. Maeve arregalou os olhos, não sabendo como agir com sua boca entreaberta. Ela pegou a corda com a ilusão de que pudesse diminuir o aperto em sua garganta, mas era em vão, logo sua respiração ficaria trancada e de seus dedos já estavam saindo uma fumaça.

O odor era inconfundível, forte e picante, provocando intensamente suas narinas. Era magia. A corda também estava encantada.

Maeve não aguentaria por muito tempo, sua voz não saia e sua visão estava turva, a fraqueza se apossando dela pouco a pouco e naquele momento ela sabia que ia morrer, não havia salvação.

Seus pensamentos sem querer foram pro dia final, o último dia que esteve viva e sabia que ia perder a guerra. Maeve havia chorado, implorado por misericórdia, e lutado a cada segundo por uma vitória inexistente. Naquele momento ela já tinha perdido tudo, até a dignidade, e rejeitou o único fio de esperança que ofereceram a ela.

Maeve não teve tempo de se arrepender da decisão tomada, mas ainda se pegou pensando se poderia ser diferente se aceitasse, se optasse por fugir. Porém, não seria uma Escarlate se fizesse, era uma vergonha que ela nunca escolheria e seu orgulho e valentia não permitiriam.

Maeve preferia perder com ousadia. Por isso, encarou seu pulso enquanto era arrastada cruelmente entre as pedras afiadas, enxergando um símbolo feito há muito tempo ali. A marca era tão negra que contrastava com sua pele pálida e coçava como se fosse mordida por um mosquito. O triângulo desenhado não trazia boas lembranças, muito menos uma boa ideia.

"Era ela ou eles". Pensou.

E quando tomou sua decisão ao fechar seu punho. Uma magia súbita reluziu próximo ao tumulto. Assustando a maioria que se juntou contra Maeve. Até ela. Que procurou o dono da mágica usada entre as pessoas. Pelas luzes o poder era vigoroso e marcante.

— Parem!

— Matem-na! Não esperem!

Os berros não paravam, e enchiam a feira de forma desordenada ao ter eles decidindo seu destino, por sorte os magos desistiram de puxá-la e resolveram parar para ver o que se desenrolava.

Maeve sentiu a corda afrouxar, seus olhos estavam embargados e uma pedra acertou em sua cabeça. Em alerta ela se virou para o seu agressor e as pessoas que receberam seu olhar assassino deram dois passos para trás com temor. Ela não poderia adivinhar quem havia a atacado e nem soube.

Uma linha se formava nos dois lados da multidão, sobrando apenas o espaço para duas pessoas passarem.

Em instantes, todos se calaram, o silêncio sendo perturbador quando uma figura vestida da cabeça aos pés surgiu vindo até ela. Maeve não era inocente de acreditar que seria um salvador, era mais fácil ser alguém para terminar de enterrá-la viva.

A jovem não via a figura claramente de onde estava, mas sabia que era uma mulher que usava um longo vestido verde. Quando se aproximou, Maeve a olhou de relance, sua visão comprometida pela magia, porém, os olhos cor do céu não passavam despercebidos, muito menos a pele de pinhão que brilhava no sol da manhã, e os cabelos encaracolados amarrados em um coque solto que a deixavam elegante. A mulher era divina. Dizer que era bela seria uma ofensa.

Maeve reconhecia sua influência, principalmente quando todos se curvaram à presença da mulher nobre de idade jovial.

Maeve fechou os olhos e suspirou ao abaixar a cabeça.

— O que está acontecendo? — perguntou a rainha se posicionando no centro. — Porque ouvi gritos e boatos infundados de um demônio à solta.

Um mercador que tinha a testa no chão, se levantou ao chamá-la. — Vossa Majestade.

Ela se virou para o homem de mãos sujas de carvão, o olhando tão calmamente que parecia que o tempo não corria e que um alvoroço não estava acontecendo.

— Diga.

— Essa… essa… essa… — ele tremia ao apontar para Maeve. — essa peçonhenta surgiu do nado no chão da feira. Causou um tumulto entre os feirantes e depois agrediu um de nós facilmente. Ela até ria enquanto fazia. Sua aparência não esconde suas origens, é só olhar para ela. Essa cobra ainda usou sua força e marcou eternamente um dos nossos irmãos.

— Ela é Maeve Escarlate, minha senhora, — uma mulher de túnica anunciou com nojo, — o demônio antigo que retornou para causar a queda de Adira.

Outro empurrou os que estavam em sua frente e berrou.

— Íamos matá-la da forma antiga, fazendo justiça por aqueles que ela matou décadas atrás!

— Sim, queremos vingança!

As vozes dos magos se misturavam enquanto julgavam o destino incerto de Maeve, era um consenso que todos a queriam morta.

A rainha apenas alisou suas têmporas como se tudo fosse uma pequena dor de cabeça.

— Como tem certeza de que ela é Maeve Fermi Escarlate? A mesma morreu há dezoito anos com sua espada Adira enfiada no peito. De seus restos mortais não sobraram nada.

A testa de Maeve franziu ao ouvi-la, soando estranho as palavras ditas, como se não fosse sobre ela que discutiam. A menção a fez ficar cabisbaixa, não impedindo que eles continuassem a falar sobre o assunto.

— Se ela é realmente Maeve Escarlate nós não sabemos, mas que ela é uma serpente, é inegável. Seu cabelo é ruivo, um traço que só as víboras possuem, além da magia enfraquecê-la.

— Também poderíamos citar as cicatrizes em seu corpo e a cruz em seu peito, feita provavelmente pela sua espada Adira.

A nobre ouvia atentamente.

— Minha rainha, confiamos em seu julgamento como acreditamos nos deuses que habitam naquelas benditas estátuas.

Todos se viraram para as imagens bem feitas, Maeve faltou revirar os olhos se negando a ouvir mais da discussão.

Ela considerou nesse meio tempo atacá-los e tentar sair de Avalon o mais rápido possível. No entanto, para isso acontecer teria que machucar pessoas e lutar contra a mulher que tinha seus sapatos quase em seu rosto, e Maeve não sabia se ganharia dela.

A rainha tinha uma proteção em seu corpo, uma magia chamada barreira que impedia que a tocassem e se aproximassem. Era por isso que os moradores se afastaram dela quando chegou e a evitaram ao máximo.

Se Maeve tentasse atacá-la com sua força seria obrigada a tocá-la, e se fizesse seria repelida pela magia da rainha. Além de ter que suportar ser golpeada pelos magos que a escoltavam. Certamente envolveria sangue e morte, e Maeve não queria pagar para ver. Era mais coerente esperar a decisão da mulher que por algum motivo desconfiava que ela era a verdadeira Maeve.

Talvez essa incerteza a manteria viva por alguns dias.

A nobre encarou o corpo nu de Maeve. Parando seu olhar no triângulo desenhado em seu pulso.

Por hábito, Maeve escondeu o braço e tentou não se encolher, mas foi impossível e deprimente. A vergonha começou a apossar e a deixar desconfortável, percebendo somente agora que estava ridícula, machucada e frágil. Como esteve em outro momento que não valia a pena lembrar.

Ambas mulheres se entreolharam por um minuto silencioso, depois a rainha decidiu.

— O julgamento será no palácio diante dos olhos dos homens e dos deuses. No conforto do meu lar saberemos se ela é quem vocês afirmam dizer ou não. — as primeiras palavras foram para os magos e as segundas para Maeve. — De qualquer forma, você irá cooperar, não é? É melhor que facilite as coisas para nós e para você.

Maeve não teve tempo para reagir ou responder, o mundo sobre seus olhos escureceu e ela se debatia inutilmente contra os braços que a seguravam. A magia queimou de novo em sua pele e com algum encanto feito, suas forças cessaram, seus olhos pesaram e ela caiu em um sono profundo.

Ela tinha a sensação em meios aos sonhos que se afogava em mais magia e que se teletransportava para algum lugar que não era nem um pouco bom.