Localização; Avalon - Palácio encantado.
Eros
— Vossa Alteza, seja bem-vindo a Avalon!
Eros foi cumprimentado devidamente por subordinados que o esperavam diante da barreira. Esta foi aberta para ele passar e logo fechada novamente por mais de cinquenta homens com mágica. O príncipe acenou contente para os magos, sentindo em seguida a forte presença de magia quando respirou e o seu peito se encheu de poeira.
Era como se estivesse engolindo terra ali mesmo, por isso tossiu e seus olhos arderam, tornando-se vermelhos.
— A magia daqui… é forte e… dominante, Mestre, — Connor, seu melhor amigo, tentava explicar em meio a dificuldade também.
Após pegar dois lenços de seu bolso, entregou um a Eros e colocou outro sobre seu nariz.
— Infelizmente nos afeta por estarmos mal acostumados, mas ficaremos apenas por uns dias aqui.
— Será até eu matar a maldita. — o príncipe engasgava em meio às palavras — que por sinal deveria estar morta. Sete palmos da terra.
Connor não contra argumentou, ouvindo-o atentamente e concordando com cada palavra em silêncio.
— Sabe o que me chama atenção? — Eros soltou uma pausa pensativa. — Ela estar de volta em um corpo que provavelmente é o dela. A questão é, como?
Eros havia desistido de tentar responder suas perguntas há muito tempo. Desde que recebeu a notícia da volta infame de Maeve Fermi Escarlate, não dormiu mais, e com o fato de ter sido expulso de seu reino temporariamente pelo seu pai logo depois, sua paciência finalmente tinha cessado.
Ele tinha noção da sua culpa pelos acontecimentos que levaram ao seu exílio, mas não conseguiu evitar se meter em mais problemas, e ainda desacreditava que seu pai foi capaz de mandá-lo embora apenas por um erro fútil. Ele estava disposto a infernizar a vida do rei como punição quando voltasse.
Connor caminhava ao seu lado.
— A vários motivos possíveis, Alteza. Mágica, bruxaria, poder… não sabemos ao certo quem a invocou ou o que ela fez para voltar, mas coisa boa não foi.
Eros tinha rugas embaixo dos olhos. Ele nunca foi um homem que se preocupou muito na vida, muito menos com problemas políticos. Isso era responsabilidade de seu pai e somente dele por dezoito anos, mas agora Uziel havia decidido mudar sua rotina. O punindo com uma obrigação que não foi pedida e o deixando responsável por manter as relações entre fênix e magos estável, já que agora até isso a imprestável da cobra havia ameaçado.
Ele não conseguia definir o tamanho da aversão que sentia por tal mulher, até pensar nela causava arrepios.
— Também não tenho tanta curiosidade para descobrir como essa peçonhenta retornou. — ele dizia com fúria — vou apenas conversar com o Rei de Avalon e tentar convencê-lo de matá-la o quanto antes. Os magos não irão se opor, quando o que mais querem é ela morta.
Os dois homens fortes e robustos olhavam ao redor após pararem de discutir. Suas cabeças eram visíveis em meio a vastidão de magos pelas ruas. Ambos se destacando e recebendo olhares curiosos.
— Tudo funciona com magia aqui!
— Connor, a pergunta que quero fazer é: o que você faz aqui?
— Sou encarregado de acompanhá-lo na missão a mando de seu pai.
Eros ouvia as palavras óbvias de seu camarada. Ele e Connor desde crianças foram próximos, lutando juntos e às vezes um contra o outro. Durante anos, séculos, vidas e a cada renascimento, Connor o seguiu a mando de seu pai, embora servisse mais a Eros do que Uziel.
— Não preciso de supervisor, irmão.
— Claro que precisa, o Rei não confia inteiramente no Senhor para esse trabalho.
— Se não confia, não deveria ordenar que eu ficasse responsável. — retrucou com amargor.
Eros sabia que nunca foi verdadeiramente preparado para exercer a função de um príncipe herdeiro. Ele foi criado como caçula, o irresponsável que fazia o que queria, e em alguns assuntos tomava a frente, mas que nunca seria o suficiente para seu pai, um homem insatisfeito com a vida, filhos e esposa.
Eros também havia desistido de tentar agradá-lo em algum momento e decidido seguir seu próprio caminho, que por algum motivo injusto dava em estar em Avalon, um reino que nunca pisara e que de alguma forma ainda conseguia ser fascinante.
A cidade despertavá naquela manha e os magos de mantos negros e de cores escuros iam e vinham pelas ruas. Um rio de água cristalina dividia umas partes da cidade, tendo pontes para chegar em certos destinos, alguns lugares obtinham tochas que pareciam ser de magia, as mesmas iluminavam e brilhavam de uma forma única e intensa, além da barreira que cobria todo o Reino mágico deixando uma vista de sinais, desenhos e riscos pela ala que separava da terra vizinha.
Alguns grupos de meninos golpeavam o ar e brilhos caiam em seus rostos sorridentes enquanto outros se atacavam quase parecendo se machucar com a brincadeira.
— Crianças são tão tolas, Connor. É por isso que não gosto delas.
— É, o Senhor gosta mais de mulheres…
Eros olhou para seu amigo careca boquiaberto e lançou um tapa fraco em sua cabeça. Finalmente um sorriso surgindo em meio a tantas desgraças
— Falando nisso, temos que nos divertir mais tarde, encontrar algumas mulheres.
— Não.
— Não?
Connor se endireitou e colocou suas duas mãos para trás. Era como ele fazia quando queria puxar a orelha do príncipe.
— Vossa Majestade impediu que eu deixasse o Senhor se envolver com qualquer rabo de saia. Mulheres só depois da infame Maeve Escarlate morta. E de preferência solteiras.
Eros ficou parado por um momento, depois soltou uma risada indignada enquanto cerrava os punhos e colocou uma mão em sua testa tentando conter sua indignação.
— Aquele velho maldito! Ele não pode privar a minha alegria te colocando como um cão de guarda cheirando meus rastros.
— Não fale assim do nosso rei.
— Ahhh. Você diz aí todo protetor a ele, mas sei o que realmente pensa Connor.
Antes de mostrar ainda mais sua revolta, foi impedido por um mago que se curvou para eles em respeito e perguntou seriamente enquanto os encarava.
— Podemos ir senhores? Vossa Majestade de Avalon está esperando.
Eros mexeu em seus braceletes de ouro, os ajeitando de forma calculista. Ele olhou de soslaio para Connor, buscando alguma reação negativa ao convite, quando não teve acenou para o mago recém chegado.
Então os homens se juntaram, e o mago diante deles abriu as mãos, com uma magia cor verde saindo de sua palma e os envolvendo como uma cortina de fumaça.
A visão ia embaçando à medida que segundos se passavam e a mágica por algum motivo cheirava a terra, deixando a mente dos dois homens convidados tonta e confusa. O mago estava tranquilo, parecendo acostumado com a sensação, não podendo ser diferente quando esse nível de poder era comum para ele.
Não suportando a experiência, Eros fechou os olhos para não esfregá-los e pisou firme no chão para não cair de tão zonzo que ficou.
Ele já ouvira falar do teletransporte dos magos diversas vezes e de como era vantajoso essa habilidade. Embora não discordasse da eficiência, o fato da magia ainda ser incômoda era um tanto inconveniente e perigoso, mesmo quando não era uma serpente que foi a raça mais vítima desse poder no passado.
— Senhores.
Uma voz feminina e calma soou de repente quando eles pousaram em seu destino.
Ao abrir os olhos, o príncipe vislumbrou um salão gigante de cor amarela vibrante, que tinha colunas que sustentavam o teto e tochas que iluminavam a área como um todo. A magia parecia fluir do fogo da clareira de alguma maneira que os dois homens de postura dominante não compreendiam.
Os olhos do príncipe bateram com os de cores azuis diante deles.
— Vossa Majestade. — Eros vislumbrou a beleza indescritível de Davina.
Seu sorriso se alargou, não tinha nada em sua vida que gostasse mais do que ver mulheres bonitas e admirá-las, principalmente quando estava irritado. Era o bastante para quaisquer sentimentos negativos desaparecerem.
Ele se aproximou da mulher jovial, que estendia sua mão para ele e depois beijou gentilmente a pele macia de seus dedos adornados de aneis e pulseiras nos pulsos.
— É um prazer finalmente conhecê-la. — ele bajulou. — Dizem que é a maga mais poderosa de Avalon, acrescento que também é a mais formosa.
No continente de Adira, poder fazia homens serem conhecidos por todo os quatros reinos. Era assim com magos, serpentes, fênix, humanos, qualquer um que tivesse um grande feito teria os olhos do mundo sobre si. Com Davina não era diferente, ela sempre fora uma maga que se destacou entre as mulheres sendo a responsável pela construção da barreira gigantesca que cobria o Reino de Avalon, e não era a à toa que uma mulher que fora uma simples plebeia um dia, carregava hoje um título de rainha consorte de Avalon.
— Vossa Alteza também é apresentável. — ela disse educadamente. — Não gostariam de uma bebida?
— Não!
— É claro que sim, Connor. — Eros interveio de imediato ao seu parceiro que negou, e completou em seguida. — uma bela conversa sempre é acompanhada de um bom vinho.
Connor estudou seu mestre sorridente por um momento, acostumado com sua postura desavergonhada em público, porém ainda esperando um bom comportamento nessas situações.
Davina notou a interação silenciosa dos dois e sua boca se curvou um pouco.
— Iria servi-los de chá, mas trarei uma bebida mais amarga. Ouviu benta?
A serva que estava presente no salão acenou e se retirou rapidamente, deixando os três para trás com mais alguns magos de guarda e outros como estátuas paradas.
— Sentem-se.
Davina gesticulou para a mesa brilhante que reluzia sob a luz das tochas.
Eros concluiu que tudo estava em volto de mágica, pois Avalon parecia ser mais iluminado do que deveria, até a água aparentava ter poder misturado em sua essência ou até mesmo os cálices de ouro na mesa e alguns áreas a fundo que não estavam ao alcance da visão do príncipe, mas pareciam ter um luz que confirmava suas apostas.
Certo dia ele ouviu que magia emanava dos magos, ele discordava tanto dessas palavras, certamente a magia emanava dos objetos, eram tantos brilhos aqui e ali que perturbavam sua vista.
Ele então voltou seu olhar para a rainha, que era casada com o rei George Justine, um mago renomado que era melhor amigo do pai de Eros, Uziel.
Ambos os reis eram responsáveis pela aliança duradoura entre os reinos e pela paz de todo território de Adira. Pelo menos era o que os dois afirmavam para o mundo, Eros tinha suas dúvidas e certezas.
— Onde Vossa Majestade está? — ele perguntou enquanto se sentava ao lado de Connor.
— O Rei teve que se ausentar por uns dias, mas logo voltará. — explicou Davina diante deles. — Com esse escarcéu todo sobre o retorno da escolhida as notícias já chegaram aos seus ouvidos. Os senhores também se apressaram…
Eros se endireitou na cadeira, tentando manter sua postura confiável e alerta. Ele sorriu ao cruzar seus dedos.
— Alguns dos nossos informaram a volta repentina da serpente. A questão que deixa todos nós de cabelos em pé e envelhece ainda mais meu estimado pai de idade é se realmente é ela?
Davina pareceu desconfortável quando pensou por um momento em uma resposta.
— Não sei informar com toda a certeza… Eu nunca a vi em sua outra vida ou conhecêssemos alguém que a viu para afirmar. Então, estamos colhendo informações valiosas que nos ajudem a verificar sua real identidade.
Eros se cansou só de ouvir e se recostou na cadeira enquanto olhava para o teto. Ele não queria esperar para ter certeza, independente de quem quer que fosse seria melhor estar morto logo. Pagar para ver poderia ser caro.
Então ele disse abertamente.
— Julgo que seria valioso se apenas a matassem. Para que verificar quando não há possibilidade dela estar de volta? Como ela faria isso?
— Maeve é a escolhida.
— E até hoje nós não sabemos ao certo o que isso significa. — argumentou Eros.
Muitos tinham crenças de que os escolhidos teriam um papel no mundo que só eles sabiam a verdade sobre. No entanto, especulações rolavam a solta no mundo de Adira, eram uns dizendo que teriam os salvadores escolhidos pelos deuses, outros mencionaram eras de guerras iniciadas por demônios e profecias antigas que um dia iriam se concretizar.
Eram tantos mitos que ninguém sabia a real verdade, a única certeza era que Maeve nasceu para salvar seu reino e ela falhou em sua missão. Amaldiçoando sua terra e seu povo. Mas como ela se tornou ou o que fez para ser uma escolhida era tão oculto quanto às profundezas do oceano.
Davina massageou suas têmporas.
— Não podemos matá-la antes de tirarmos algumas perguntas de seus lábios.
— E até quando esperarei essa decisão?
— Um pouco. Até o rei retornar, Vossa Alteza.
A Benta que fora pegar as bebidas havia finalmente retornado e trazido um vinho para Eros e Connor, os servindo rapidamente.
O príncipe apenas ficou satisfeito porque seu humor tinha azedado e agora a bebida iria trazer seu ânimo de volta. Quando bebeu o líquido posto, foi de uma vez só, sentindo o amargo na garganta e os olhos se encherem de lágrimas, ficando renovado para continuar a discutir.
— Meu pai é um tanto impaciente, Majestade. Ele a quer morta, a cabeça dela em uma bandeja para ser exato e eu não serei o que irá me opor a isso. Penso que o que nos fênix e magos temos em comum é o desejo de vingança por aquelas que ela matou a sangue frio, além da rivalidade gigantesca que todos os reinos de Adira sabem que Zamoria tem contra Arcádia e assim vice-versa.
Davina acenava a cada palavra.
— Entendo perfeitamente caro príncipe, mas ainda assim nossos passos serão curtos. Maeve Escarlate é a chave de uma porta que talvez precisamos abri-la futuramente. O senhor precisará ter paciência.
— A rainha não entendeu. — Eros sorriu insatisfeito e Connor tentou controlá-lo tocando sorrateiramente em sua perna, mas era em vão quando o príncipe queria falar. — Eu tenho um prazo em Zamoria para retornar, não posso brincar de esperar os senhores terem o que querem dela, preciso da serpente morta.
— Sei que o ódio move o mundo e que vingança é o que procura, mas e se ela tiver algumas respostas para senhor também caro príncipe. O que fará se ela for levada ao túmulo com segredos que talvez o acalmariam?
Eros franziu a testa. — O que quer dizer?
— Quero dizer que Maeve conheceu seu irmão antes dele desaparecer. Talvez o príncipe não tenha mais vontade de procurá-lo?
Connor apertou a coxa de Eros para chamar sua atenção, mas o príncipe ignorou seu acompanhante e se afastou do mesmo. Ele engoliu em seco enquanto pensava em uma resposta. Seu silêncio dizendo muito mais do que ele queria falar.
— Escolhas, majestade, escolhas. — sua voz soava trêmula, as palavras sendo doídas. — Todos fazem as suas. Por enquanto o passado é passado.
— E se mudar?
E se mudar? Eros pensava, mas antes que seus pensamentos se concretizassem, outra presença apareceu entre eles de repente e foi apresentada pelo subordinado.
— Sor Ambrose.
O recém chegado acenou e Davina retribuiu.
— Me perdoe por estar atrasado, Vossa Majestade.
— Chegou na hora certa, Vossa Alteza, esse é um dos nossos melhores magos, especialista nas magias mais poderosas já conhecidas.
Eros encarou o homem de estatura nobre, ele não era qualquer um quando se vestia adequadamente e se portava como tal. Parecia ser alguém digno de tal cargo apenas pela sua presença.
O homem o cumprimentou.
— É uma honra conhecer o estimado príncipe herdeiro de Zamoria.
Eros acenou, escolhendo se manter calado por enquanto.
— Caro príncipe, Ambrose acompanhará Maeve. A deixando incapaz de fugir de nossas mãos em uma das nossas melhores celas. Então não se preocupe tanto. Na hora certa tudo que tiver que acontecer acontecerá.
Davina tentava tranquilizá-lo em vão, ela já tinha feito uma catástrofe com a conversa anterior, mas ainda assim Eros assentiu para acabar com a discussão.
— Certo. Então pretende deixá-la engaiolada, Majestade?
— Sim, — respondeu — ela ficará alguns dias se habituando à sua nova realidade, depois que conseguirmos o que queremos conversamos melhor sobre a sua morte. Até lá. Avalon está aberto para sua hospedagem
Eros julgou engraçado, por isso sorriu, a discussão indo para o lado indesejado por ele.
— Agradeço, Majestade. Eu poderia ver a prisioneira?
— Claro! Sor Ambrose e eu iremos verificar o comportamento da mesma. Saber se ela é a verdadeira Maeve Fermi Escarlate. Nos acompanhe!
— Soube que ela é um pouco violenta. — o mago completava enquanto as fênix se levantavam para segui-los olhando um para o outro.
Connor parecia querer esmurrar Eros ali diante de todos com seus olhos fervendo de raiva, mas se segurava enquanto o príncipe permanecia pensativo.
— Não é uma novidade para nós. — a rainha então concluiu.
Os magos na frente e as duas fênix atrás.