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Chapter 7 - Capítulo 7

Localização; Avalon - Palácio encantado

Eros

— Vossa Alteza, seu pescoço está….

— Sangrando? — Eros esnobou o ferimento — isso não é nada comparado ao que enfrento todos os dias em Zamoria.

Davina observou o sorriso satisfeito do rapaz enquanto andavam pelos corredores de volta para o salão do palácio.

— Seu povo é conhecido…

— Pela brutalidade? — interrompeu ele a rainha.

— Diria que pela força extrema que carregam. É de dar inveja, principalmente aos desprovidos. — ela respondeu com total sinceridade — Fico contente que a enfrentou com bravura e mostrou a sua capacidade.

Eros acenou, sua expressão mudando com a menção.

— No entanto, meu príncipe, quero deixar explícito que sou contra violências desnecessárias, independente de quem seja. — apontou a rainha ao parar, seu olhar nele. — Deixe que a justiça faça os opressores pagarem pelos seus crimes, não se torne um deles.

— Meu objetivo não é me tornar semelhante a cobra.

— Então o que pensou quando travou uma luta com ela?

— Queria saber se ela é realmente a temida Maeve.

— Já tínhamos verificado isso.

— Queria ter certeza usando os meus próprios meios.

Davina suspirou, ela parecia desconfortável com as ações do príncipe mais cedo, mesmo depois de ter concordado em deixá-lo entrar na cela e fazer o que quisesse com a serpente.

— Bom, espero que tenha conseguido sua resposta.

— Consegui sim, Majestade.

— Posso saber como?

Eros se divertiu com sua curiosidade e voltou a caminhar. Davina e Connor o seguiram sem outra opção.

— Só alguém que realmente me odeia seria tolo o suficiente para me desafiar, minha rainha.

— Claro.

Ela compreendeu a arrogância disfarçada com sarcasmo e relevou. Eros tinha razão, o fato de Maeve ter revidado era apenas por ser quem é, se fosse outro alguém, tentaria ao máximo fugir e implorar por misericórdia.

Ela, no entanto, não era esse alguém.

Maeve era implacável e inconsequente, como os historiadores diziam. Não fugia de batalhas, travava guerras e lutava até matar ou morrer. Davina conseguia apreciar a distância e sabia que os outros dois homens também. Apesar das diferenças entre as espécies atrapalharem os seus raciocínios.

Eros andou devagar para ser acompanhado e pairou seu olhar na rainha — Fique tranquila, Majestade. Com relação a sua prisioneira, não a tocarei mais ou farei danos a ela até que decidam o contrário. Apenas foi um susto. Minha forma de dizer boas-vindas. Também não aprecio violência, mas não nego que não consegui me controlar quando a vi.

— Quando nos deparamos com um inimigo é comum que nosso lado obscuro se mostre, — compreendeu a rainha, depois ela insistiu. — porém, não se deixe corromper.

Eros assentiu, sabendo o quão difícil seria se controlar enquanto estivesse ao lado de Maeve.

A contenda existente entre as duas raças era tão natural que seria estranho se ambos sentissem qualquer afeição um pelo outro, o ódio sendo inevitável e crescente. Desde antes do nascimento de Maeve, ele foi ensinado a sentir repulsa pelas serpentes, ouvindo histórias sobre os crimes cometidos contra sua família e assim vice-versa. O surgimento de Maeve intensificou ainda mais tamanha aversão, pois seu povo a considerava uma maldição, um ser demoníaco vindo de artes obscuras que as Serpentes cometeram.

Ele não tinha dúvidas disso, mas a odiava por motivos ainda mais profundos que o cegavam.

Davina cruzou os dedos das mãos, andando lado a lado do príncipe e percebendo sua tensão com o conselho.

— Agradeço pela honestidade, Alteza, e a devolvo com uma informação.

— Diga-me.

— Ambrose está usando em Maeve uma magia fortíssima para quebrá-la de dentro para fora. Ela será incapaz de fugir e nós saberemos se ela tentar.

Eros ouvia atentamente a explicação, e as dúvidas brotaram ao pensar demais. Como não tinha controle quando o assunto era ser civilizado, resolveu fazer uma pergunta que o deixava curioso.

— Ainda não entendo os passos da rainha. Mas cedo disse que ela serviria por algum motivo. Só que não entendo que ligação a senhora tem com a víbora. Vocês não pareciam se conhecer e a senhora disse que nunca a viu. A não ser que mentiu para mim?

— Se tem uma virtude que tenho como prioridade é a franqueza. Reafirmando o que já disse e negando suas acusações, não há nenhuma relação entre nós duas.

— Certo, então porque preza pela vida da mesma quando o que todos os homens do mundo querem é matá-la?

Davina olhou-o profundamente como se ele pudesse adivinhar a resposta.

— Homens furiosos tomam atitudes tolas, uma mulher prudente é o melhor caminho a se seguir.

Eros franziu a testa.

— Isso não me convence. Ainda a quero morta, mesmo que talvez ela me revelasse informações que se morresse seriam enterradas com ela.

— Aí é que está. Maeve é carregada de mistério e segredos, e temo que ela seja útil. Não apenas para revelar o seu passado, mas o passado de Adira.

O interesse de Eros aumentou, e ele pôs uma mão em seu queixo.

— A senhora acredita que ela tem um papel a desempenhar por ser escolhida?

— Tenho certeza.

— Mas quer a manter viva apenas por benefício da dúvida. Porque não estou certo de onde essa certeza vem.

— Vossa Alteza, o senhor é mais inteligente do que parece, por isso aprecio que esteja aqui e não o seu pai. — Davina gesticulou ao falar — O rei Uziel não compreenderia meus termos, assim como meu marido. Ambos deixaram um ódio de eras enraizarem em seus peitos e viveram por décadas nessa amargura, onde não conseguem enxergar ou se perguntar quem é a Maeve. Não a Maeve que dizimou sua própria casa e matou milhares, mas a que nasceu com o papel de salvá-los e falhou.

— Não entendo a diferença entre elas.

— Por favor, se esforce! Maeve pode ser a salvadora não só de Arcádia, mas sim da Adira inteira. Já pensou nisso?

Eros se tornou cético.

— Sendo sincero? Não! Acho muito distante essa crença. Ela seria incapaz de tal feito.

— Bom, não se apegue a isso. — reclamou. — Se apague ao seu irmão cujo Maeve conheceu e desde o fim de Arcádia qualquer vestígio dele se tornou pó. Ela deve saber de algo.

As palavras atingiram Eros subitamente, seus olhos brilharam de raiva e ele se virou para a rainha de uma vez, não acreditando que ela mencionara o mesmo assunto duas vezes no mesmo dia.

Ele disse rispidamente.

— Não fale dele como se pudesse. Na primeira vez suportei por consideração a aliança entre nossas raças, mas não aceitarei uma repetição dessas. A assuntos no reino das fênix, que somente fênix estão a par. Esse é o caso!

Eles se encaram por um longo tempo, Eros acreditando que Davina insistiria em convencê-lo usando seu irmão como isca ou iria tentar prejudicá-lo de alguma forma, Connor que estava em completo silêncio tinha os ombros tensos e estava pronto para intervir caso fosse necessário.

Por sorte a rainha era mais esperta do que obstinada e deu alguns passos para trás. Não por medo, ela definitivamente não temia Eros ou qualquer um, ela não precisava. Fez simplesmente por respeito.

— Me perdoe meu príncipe por tamanha inconveniência, não irá se repetir.

— Assim espero.

— O deixarei se limpar, se deitar e pensar em tudo que foi conversado. Acredito que em pouco tempo meu marido voltará com sangue nos olhos e trará um julgamento popular para ela. O fim é notório — lamentou. — Certamente Maeve será apedrejada em praça pública, isso se os deuses tiverem pena, pois imagino um destino mais cruel para sua alma quando os magos a verem.

— No fim, todos recebem o que merecem.

— Discordo, há muitas injustiças por aí. No entanto, o senhor terá o tempo para decidir de qual lado ficará e qual destino será o dela, está em suas mãos. — Davina então chamou. — Benta, leve-os até o aposento destinado a eles.

A sombra da mulher surgiu de repente, e no mesmo instante magia consumiu o ar das fênix que tossim enquanto eram levadas tão facilmente que pareciam penas.

Quando foram deixados em um corredor em frente a uma porta, só tiveram tempo de se olharem e se espantarem com tamanha rapidez da maga. Depois ela nem estava mais lá para dizerem sobre seu quarto.

Connor piscou atordoado.

— O que foi tudo isso?

— A magia é interessante e útil.

Eros adentrou no quarto iluminado por tochas, onde havia duas camas espaçosas e separadas por uma escrivaninha. O lugar era grande consumido pelo cheiro de fumaça e mofo. Não havia nada de novo ou incomum ali, apenas um quarto pobre. Eros torceu o nariz.

Connor o seguia indignado e fechou a porta com força, indicação da sua fúria. Ele resmungou.

— O senhor foi controverso em todas as suas atitudes.

— Não quero ser questionado.

— Como não quer quando fez exatamente o que disse que não faria? Sua firmeza foi inexistente em sua decisão de matá-la e deixou a rainha manipular toda a situação usando suas feridas passadas contra o senhor? Estendeu ainda mais a nossa estadia aqui.

— Connor! — ele chamou o nome do amigo como aviso.

Mas não foi o suficiente para pará-lo.

— O que dirá ao rei quando ele souber que quando pisou em Avalon decidiu esperar pelos magos decidirem se irão matá-la ou não?

— Connor não preciso que me ensine como o meu pai é ou o que devo fazer?

— Como não ensinar quando parece que se esqueceu? — ele suava enquanto reclamava e Eros se jogou na cama enquanto ouvia. — O rei ficará enfurecido quando descobrir os passos dos magos e saber que concordou. Tenho pena da sua alma, e pena dessa rainha que mencionou o filho caído do rei. Todos sabem o quão delicado é esse assunto e ainda assim foi tola ou muita astuta de conseguir falar abertamente.

O príncipe fechou os olhos tentando limpar sua mente do dia que teve, mas Connor não facilitaria até remoer hora por hora.

— Senhor.

— O que foi Connor?

— Não acredite nela, nelas. — ele implorou sentando na beirada da cama e olhando para Eros com a raiva diminuindo. — Maeve nada saberá sobre… sobre ele e mesmo se souber ela não irá colaborar. Ela é o inimigo, é perigoso, ela põe medo no mundo. Não deixe que seus sentimentos te iludam e afetem as suas decisões.

— Não permitiria tal coisa!

— Mas parece que falha tanto.

— Sei que está preocupado, não com minha alma, mas com a sua própria.

Connor pareceu ofendido quando cobrou.

— Como diz isso quando somos irmãos de carne e sangue?

— É a verdade, ninguém será mais punido entre nós dois do que você, e não o culpo por ser um pouco egoísta. No entanto, ainda quero irritar meu pai.

Connor olhou para o teto com raiva, parecendo acostumado com a direção que a conversa tomava e Eros ainda assim explicou.

— Connor, o rei Uziel é desprezível!

— Não fale assim do nosso rei!

— Falo, você sabe a verdade, eu sei. Sabemos o que aconteceu e o que acontece, meu pai é de longe o homem mais odioso que conheci, você não entende o que é ser comparado com a figura que ele representa. Sei que não sou um exemplo de bom homem e faço justamente para envergonhá-lo, pois sei que não é possível competir com ele em relação a isso.

— Eu já ouvi demais meu príncipe.

O subordinado se levantou e se afastou da cama. Ouvindo a conversa a contra-gosto. Eros não ficou para trás e insistiu enquanto gesticulava.

— E eu ainda nem comecei a falar. Connor, se a cobra é realmente a chave para entender os passos do meu irmão e os do meu pai, eu vou usá-la como bem entender e terei a vida dela em minhas mãos. Não porque uma rainha manipuladora me disse, mas sim porque a razão nas palavras de Davina.

Connor se dirigiu para sua cama, deitou nela com roupas e tudo e exclamou após um momento.

— Julgo que extrapolei nas minhas palavras e me esqueci de que antes de ser seu irmão de sangue e carne sou apenas um subordinado que serve ao rei Uziel.

Eros fechou os olhos e os apertou com o indicador e o polegar, decepcionado por essas discussões sempre terminarem com ele revoltado pela falta de ação de seu camarada e Connor descontente com as tentativas falhas do príncipe de tentar perturbar o rei e envolvê-lo.

Apesar de serem unha e carne na maioria das vezes, ainda existiam grandes distinções de opiniões entre eles que dificultavam a convivência.

— Boa noite, meu príncipe, que o sono acalme seus pensamentos turbulentos.

— Boa noite. — sussurrou insatisfeito, desejando que a noite de Connor fosse horrível e ele não conseguisse dormir até entrarem em consenso.

— E limpe seu ferimento, Alteza — completou — sujou toda sua túnica.

Eros assentiu, mas Connor não se virou para verificar se ele se limpou ou não. Ele estava deitado de costas para o príncipe, que fez o mesmo depois de ter tirado sua roupa, joias e se limpado.

Assim eles ficaram, Eros encarando a chama da vela até finalmente seus olhos pesarem e ele adormecer tocando no pedaço de pele que lhe foi tirado.