Em uma grandiosa mansão, um quarto luxuoso exalava opulência. Cortinas de veludo de cor creme suave pendiam das altas janelas, deixando entrar raios suaves da luz do sol da tarde. Uma cama de dossel com lençóis de seda ocupava o centro do quarto, enquanto móveis elegantes adornavam o espaço.
Uma garotinha estava sentada na beira da cama, olhando pela janela. Seus pensamentos vagavam livremente, um raro momento de tranquilidade antes da tempestade social que se aproximava. Ela suspirou, desejando que a noite pudesse passar sem ela.
"Está na hora, Broke!" A voz de uma mulher mais velha ecoou pelo quarto. Ela entrou com graça, vestida impecavelmente para o baile. Seu vestido de cetim vermelho amaranto cintilava sob a luz, e seu sorriso era cálido e acolhedor.
"Você precisa se preparar para o baile", continuou a jovem, avançando com passos leves. Atrás dela, três empregadas seguiam, carregando um vestido magnífico e uma coleção de joias brilhantes.
Broke franziu o cenho. "Eu não quero ir, irmã", disse ela, levantando-se rapidamente.
"Eu... simplesmente não quero ir."
A irmã mais velha sorriu pacientemente, aproximando-se da irmã mais nova. "Eu sei que você não gosta dessas festas, mas todos estão esperando por você. Além disso, este baile é importante para nosso pai."
As empregadas começaram a organizar o vestido e as joias sobre a cama, prontas para ajudar Broke a se preparar. Mas ela deu um passo para trás, a determinação brilhando em seus olhos.
"Eu realmente não quero fazer isso dessa vez", disse Broke, sua voz firme. Antes que a irmã pudesse responder, Broke correu em direção à porta, seus cabelos escuros soltos balançando atrás dela.
"Broke, espera!" A jovem moça chamou, mas sua irmã já estava descendo correndo pelos corredores da mansão, seus passos ecoando nas paredes ornamentadas. Ela atravessou portas de vidro que davam para um gigantesco e lindo jardim. O sol poente banhava as flores com uma luz dourada, e as fontes murmuravam suavemente, mas Broke não prestava atenção à beleza ao seu redor. Ela precisava fugir.
O jardim parecia um labirinto, mas Broke conhecia cada canto. Seus pés descalços mal tocavam o chão enquanto ela se distanciava da mansão, adentrando o bosque que a rodeava. As árvores altas se fechavam ao seu redor, bloqueando a luz do sol e mergulhando-a em uma penumbra reconfortante.
Ela correu até que seu coração pulsasse em seus ouvidos, finalmente parando quando encontrou um pequeno espaço aberto no meio da floresta densa. No centro dessa clareira, uma única árvore se destacava. Estava morta, seus galhos retorcidos pareciam mãos esqueléticas apontando para o céu. No entanto, pendurado em um de seus galhos, havia um único fruto. Ele parecia brilhar com uma luz própria, sua aparência era incrivelmente atraente.
Broke, ainda ofegante, se aproximou da árvore. O fruto parecia chamá-la, uma força irresistível que ela não podia ignorar. Ela estendeu a mão e colheu o fruto, seus dedos tremendo levemente. Sem hesitar, levou-o aos lábios e deu uma mordida. O sabor era doce e amargo ao mesmo tempo, uma combinação que a surpreendeu.
À medida que mastigava, sentiu uma aterrorizante sensação de frio se espalhar pelo seu corpo. Algo não parecia certo dentro dela.
Sua visão ficou escura, o mundo ao redor de Broke se distorceu. A claridade do céu desapareceu, substituída por uma paisagem desolada, uma terra de sombras. O céu estava cinzento e sem vida, e um frio cortante a envolvia. Vozes sussurravam ao seu redor, murmurando seu nome, chamando-a.
"Broke... Broke..."
Ela olhou ao redor, o terror crescendo dentro de si. Figuras feitas de cinzas, que se desfaziam como areia, surgiram do chão. Eram rostos familiares, distorcidos pelo sofrimento e desespero. Sua família, seus amigos, todos que ela conhecia, estendiam as mãos, clamando por ajuda.
"Por favor, Broke, ajude-nos..."
"Salve-nos, Broke..."
"Não nos abandone..."
Ela deu um passo para trás, o coração batendo descontroladamente. "Não... isso não pode ser real..."
As vozes ficaram mais altas, mais insistentes. As figuras se aproximavam, suas mãos tentando agarrá-la. Broke tentou afastar-se, mas seus pés pareciam presos ao chão, como se raízes invisíveis a segurassem.
De repente, a terra tremeu. Uma figura imponente emergiu no céu, montada em um cavalo feito de sombras. Era um cavaleiro, sua armadura negra parecia feita de sombras que se contorciam e se moviam. Seu rosto era uma caveira dourada, brilhando com um brilho sinistro, caveira essa que era acompanhada por uma coroa de espinhos que se entrelaçavam com sua cabeça.
Broke ficou paralisada, o terror tomando conta de seu corpo. "Quem... quem é você?" Sua voz saiu trêmula.
O cavaleiro olhou diretamente para ela, os buracos vazios que deveriam pertencer aos olhos pareciam perfurar sua alma. "Todos que amam..." ele disse, sua voz sussurrada como uma voz distante.
"Não escapam da morte."
Broke tentou recuar, mas as mãos dos seres de sombra a seguravam com força. "Eu não... eu não quero isso..."
O cavaleiro avançou lentamente com seu cavalo de sombras, galopando pelo ar. A cada passo parecia sugar a luz e a esperança ao seu redor.
As figuras atormentadas começaram a puxar Broke em direção ao chão. Ela lutou, tentando se libertar, mas suas forças estavam se esvaindo. "Por favor...!"