Parte Única
Broke se encontrava em um vasto vazio, onde o chão e o céu se fundiam em um tom cinzento indistinguível. Não havia som, nem vento, apenas um silêncio absoluto que pesava sobre seus ombros. Ela olhou ao redor, tentando entender onde estava, mas tudo parecia eterno e sem fim.
De repente, uma luz suave começou a brilhar à distância. Broke se virou, seus olhos fixos na fonte de luz. À medida que a luz se aproximava, ela revelou a forma de uma jovem mulher, envolta em uma aura radiante que escondia seu rosto. A figura caminhava graciosamente, cada passo iluminando o vazio ao seu redor.
"Broke..." a voz da jovem era doce e reconfortante, ecoando suavemente no ar vazio.
Sentindo uma estranha familiaridade na voz, Broke começou a caminhar em direção à figura. Cada passo parecia mais leve, como se a presença da jovem estivesse afastando o peso do vazio ao seu redor.
"Kyra, é você?" Broke perguntou, sua voz ecoando suavemente no silêncio.
"É claro que sou eu, Broke..." respondeu a jovem, sua voz melodiosa e reconfortante.
"Venha. Toque minha mão, tenho saudades."
Enquanto Broke se aproximava, a luz ao redor da jovem se intensificava, criando uma sensação de calor e conforto. Quando finalmente chegou perto o suficiente, Broke estendeu a mão, hesitante, para tocar na mão da jovem.
No momento em que seus dedos estavam prestes a se tocar, uma sensação de realidade a abalou. O vazio ao seu redor começou a se desfazer, e a luz da jovem se desvaneceu. Broke piscou, tentando se agarrar à visão reconfortante, mas foi inútil.
De repente, Broke estava de volta ao jardim de flores. Ela rapidamente percebeu a ameaça iminente: a aranha gigante, suas patas longas e peludas movendo-se com uma precisão assustadora, estava preparando uma magia, seus olhos multifacetados brilhando com uma energia maligna.
"Não vou deixar!" Broke gritou, levantando-se com determinação. Ela agarrou sua grande espada, sentindo o peso familiar em suas mãos, e avançou com uma fúria implacável. Com um salto ágil, ela atingiu a aranha, desferindo um golpe devastador que cortou uma de suas patas. A aranha chiou em dor, o líquido roxo brilhante jorrando da ferida aberta.
Enquanto isso, Garen, preso nas teias pegajosas da aranha, lutava para se libertar. Com um grande esforço, ele rasgou as teias, libertando-se com um grito de triunfo.
"Estou livre!" Garen gritou, pegando sua espada e avançando para ajudar Broke.
Desesperada e com raiva, a aranha soltou um grito estridente que ecoou por todo o jardim. O som era tão agudo e penetrante que parecia rasgar o próprio ar. Broke e Garen instintivamente cobriram os ouvidos, tentando bloquear o som ensurdecedor.
De todos os cantos escuros do jardim, aranhas menores começaram a surgir, atendendo ao chamado da mãe. Elas se moviam rapidamente, suas mandíbulas clicando ameaçadoramente enquanto avançavam para cercar Broke, Garen, Ellen, Lirian e Thalon.
"Estamos cercados!" Lirian gritou, disparando flechas encantadas em direção às aranhas que se aproximavam. Suas flechas brilhavam com uma energia azul, perfurando as carapaças das criaturas com precisão letal.
Broke, ainda focada na aranha maior, desferiu mais um golpe com sua espada, abrindo uma nova ferida no corpo da criatura. A aranha recuou, suas patas tremendo enquanto ela tentava conjurar uma nova magia.
Garen, agora ao lado de Broke, usou sua espada para bloquear um ataque das aranhas menores. Elas se lançaram sobre ele, suas patas afiadas e mandíbulas venenosas tentando perfurar sua armadura. Com movimentos rápidos e precisos, Garen conseguiu repelir a maioria dos ataques, mas o número crescente de aranhas começava a sobrecarregá-lo.
A aranha maior, vendo seus filhos atacando seus inimigos, concentrou sua magia em seu corpo. Um manto de energia rosa começou a se formar em todo seu corpo, pulsando com um poder malévolo.
"Ela está preparando algo!" Thalon avisou, ainda se recuperando de suas feridas.
Ellen, percebendo o perigo iminente, gritou com urgência: "Pegue Ethan e corram!" Sem hesitar, todos começaram a correr pelos corredores do Abismo, suas sombras alongadas pelas luzes tremeluzentes das tochas.
A aranha, tendo conseguido ativar sua magia, tornou-se mais furiosa, forte e rápida, além de ter regenerado todos os seus machucados e pernas. Com um rugido ensurdecedor, ela lançou-se em perseguição, seus filhos menores correndo ao seu redor como uma maré negra.
Enquanto corriam, o grupo tentava atacar a aranha e seus filhos. Garen golpeava as aranhas menores com sua espada, seus movimentos precisos e letais. Lirian disparava flechas encantadas, cada uma brilhando com energia mágica, enquanto Ellen usava sua agilidade de ladina para lançar adagas certeiras, mirando nas articulações das patas das aranhas.
"Continue correndo!" Thalon gritou, começando a preparar uma magia poderosa. Suas mãos se moviam em padrões complexos, a energia mágica se acumulando ao seu redor em um brilho alaranjado intenso.
Mas no meio do caos, Lirian acabou ficando para trás. Ele tentou disparar mais uma flecha, mas foi pego pelas teias pegajosas da aranha mãe. Em um segundo, ele estava preso, suas pernas e braços imobilizados.
"Lirian!" Ellen gritou, parando abruptamente e virando-se para ajudar seu companheiro.
"Não! Continuem!" Lirian gritou, sua voz desesperada.
"Thalon, faça o que precisa fazer!"
Thalon hesitou, a dor evidente em seus olhos. "Lirian, não!"
"Agora, Thalon! Não temos escolha!" Lirian gritou, enquanto a aranha se preparava para dar o golpe final.
Com o coração pesado, Thalon concentrou toda a sua energia na magia. "Desculpe, Lirian," ele murmurou, antes de lançar a magia com um grito de desespero.
Uma onda de fogo e luz explodiu das mãos de Thalon, correndo pelos corredores do Abismo como uma tempestade devastadora. A magia envolveu a aranha e seus filhos, suas carapaças estalando e queimando sob o intenso calor. As criaturas soltaram gritos agonizantes enquanto eram consumidas pelas chamas.
Lirian, preso nas teias, foi engolido pelo fogo junto com as aranhas. Seu grito ecoou pelos corredores, um som de dor e agonia.
Quando a luz finalmente se dissipou, restou apenas o silêncio. Thalon caiu de joelhos, exausto e devastado. Ellen, Garen olharam em volta, os olhos cheios de lágrimas e choque. As aranhas estavam mortas, mas a que custo?
***
Ethan avançava cautelosamente pelo corredor escuro, cada passo ecoando suavemente nas paredes úmidas aço escuro frio. O ar estava carregado com o cheiro de mofo e algo metálico, como sangue velho. A escuridão parecia quase tangível, como se pudesse envolvê-lo e sufocá-lo a qualquer momento. O som distante de água gotejando e o ocasional ruído de algo rastejando amplificavam a sensação de isolamento.
Suas mãos tremiam ligeiramente enquanto ele segurava sua adaga, os nós dos dedos brancos pela tensão. Ele sabia que deveria se apressar e encontrar seus companheiros, mas algo o impelia a continuar adiante, como se uma força invisível o atraísse mais fundo no Abismo.
De repente, uma leve brisa soprou pelo túnel, trazendo consigo um sussurro quase inaudível, como se o próprio Abismo estivesse respirando. Ethan parou, seus instintos de sobrevivência gritando para ele voltar. Mas sua curiosidade, misturada com um terror primitivo, o manteve avançando.
Foi então que ele notou a abertura na parede à sua esquerda, uma fenda estreita e irregular que parecia ter sido criada por algo muito antigo e poderoso. A luz fraca e sobrenatural que emanava de dentro daquela abertura chamou sua atenção, destacando-se na escuridão quase total do corredor.
Ethan aproximou-se da fenda, o coração batendo descontroladamente. Quando espiou pela abertura, seus olhos se arregalaram em puro terror. Do outro lado, em meio a uma vastidão inumana e desconhecida, um grande olho o encarava fixamente. A íris era de um vermelho profundo, como sangue coagulado, e a pupila vertical, semelhante à de uma serpente, parecia perfurar sua alma.
O olho era monstruoso, maior do que qualquer criatura que Ethan já havia imaginado. As veias que o circundavam pulsavam com uma luz própria, um brilho malevolente que parecia pulsar ao ritmo de um coração gigantesco e maligno. Ele não podia ver o corpo ao qual o olho pertencia, mas a mera visão daquele globo ocular imenso e vigilante era suficiente para paralisar qualquer pensamento racional.
O olho piscou lentamente, e Ethan sentiu como se todo o seu ser estivesse sendo devorado por aquele olhar insano e insaciável. A sensação era de um terror ancestral, como se ele estivesse diante de uma entidade que existia desde o início dos tempos, algo além da compreensão humana.
De repente, uma voz profunda e ressonante ecoou em sua mente, uma voz que não era ouvida com os ouvidos, mas sentida nas profundezas de seu espírito. "Grivimiji, Vinori ragui. Hoge vaimir forguir."
Ethan sentiu uma onda de pânico, mas seus pés estavam enraizados no chão. Ele queria gritar, correr, fazer qualquer coisa para escapar daquele olhar implacável, mas não conseguia se mover. Sua respiração se tornou ofegante, e o suor escorria por seu rosto em grandes gotas.
A voz continuou, cada palavra reverberando em sua mente como um trovão distante. "Vaz terimor batar civoz. Nar mir sadifot cer que divor i Ferrum.
Finalmente, com um esforço sobre-humano, Ethan conseguiu se afastar da fenda. Ele tropeçou para trás, quase caindo no chão frio e úmido do corredor. Seu coração martelava no peito, e sua mente estava à beira do colapso.
Ele se virou e correu, os passos apressados ressoando pela passagem enquanto o som da respiração do Abismo o seguia.