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Chapter 6 - Capítulo 5: Teia

Parte Única

Thalon se encontrava em uma vasta e antiga biblioteca, as paredes cobertas por prateleiras que se estendiam até onde seus olhos podiam alcançar. Livros de todas as formas e tamanhos, alguns cobertos de poeira, outros com capas brilhantes e bem conservadas, enchiam as estantes. O cheiro de pergaminho envelhecido e tinta desbotada permeava o ar, criando uma atmosfera de sabedoria.

As luzes de candelabros flutuantes iluminavam suavemente o ambiente, lançando sombras dançantes sobre as lombadas dos livros. Havia um silêncio profundo, interrompido apenas pelo ocasional som de páginas virando. Thalon sentia uma estranha mistura de maravilhamento e desconforto enquanto caminhava por entre os corredores estreitos, seus passos ecoando suavemente no chão de madeira polida.

De repente, algo chamou sua atenção. No fundo da biblioteca, isolado em uma prateleira que parecia mais antiga e desgastada que as outras, estava um livro peculiar. Sua capa era de um negro profundo, como se absorvesse toda a luz ao seu redor. A textura parecia áspera, como couro não tratado, e as bordas estavam gastas e esfarrapadas. Em sua capa, havia um título escrito de forma grosseira e irregular: "Scriptores Veneficus".

Thalon estendeu a mão hesitante e pegou o livro. Assim que seus dedos tocaram a capa, sentiu uma estranha vibração, como se o livro estivesse pulsando com vida própria. Ele abriu cuidadosamente a primeira página e viu que o texto estava escrito em uma língua indecifrável, repleta de símbolos desconhecidos e desenhos irreconhecíveis. Mesmo sem entender o significado exato, Thalon sentiu uma onda de poder emanando das páginas, como se contivessem segredos antigos e perigosos.

De repente, uma sensação de irrealidade o envolveu. Ele piscou, percebendo que a biblioteca ao seu redor começava a se desfazer, como uma pintura sendo apagada. Thalon rapidamente compreendeu que estava em uma ilusão. Ele fechou os olhos, concentrando-se, e forçou sua mente a despertar da falsa realidade.

Quando abriu os olhos novamente, estava de volta ao jardim de flores de dama da noite. O brilho suave das flores contrastava com a visão que acabara de ter. Porém, um som suave e ameaçador chamou sua atenção. Ele virou a cabeça e viu uma enorme aranha, seus olhos multifacetados brilhando maliciosamente, prestes a atacar Lirian, que ainda estava preso na ilusão.

"Não tão rápido." murmurou Thalon, levantando as mãos e começando a conjurar uma magia. Seus dedos se moveram em padrões complexos, e raízes começaram a emergir do chão ao seu comando. As raízes grossas e retorcidas avançaram rapidamente, enrolando-se em torno da aranha e puxando-a violentamente para trás, lançando-a vários metros e deixando-a tonta.

Aproveitando a oportunidade, Thalon correu até Lirian e sacudiu seu ombro. "Lirian, acorde!" ele ordenou, enquanto usava sua magia para cancelar a ilusão que prendia seu companheiro.

***

Lirian se encontrava em um campo vasto e verdejante, o horizonte tocado pela luz dourada do sol nascente. Ele podia sentir a brisa suave acariciando seu rosto e o cheiro fresco da grama matinal. Este lugar lhe parecia estranhamente familiar, como um eco distante de um sonho que ele costumava ter na infância.

Ao longe, viu uma aldeia pitoresca com telhados de palha e paredes de pedra branca. As pessoas caminhavam pelas ruas, rindo e conversando alegremente. Havia uma paz e uma alegria no ar que Lirian não sentia há muito tempo. Ele começou a caminhar em direção à aldeia, sentindo um estranho impulso para se aproximar.

Quando chegou à aldeia, foi saudado por rostos conhecidos. Pessoas que ele reconhecia da sua infância, amigos e familiares que ele havia perdido ao longo dos anos. Sua irmã mais nova correu em sua direção com um sorriso radiante. Ele a pegou nos braços, girando-a no ar. O reencontro foi emocionante e cheio de afeto, trazendo-lhe uma sensação de lar que ele pensou ter perdido para sempre.

A garotinha o levou até uma casa aconchegante na aldeia. Seus pais estavam lá, sentados à mesa, sorrindo para ele. O coração de Lirian se encheu de alegria e alívio ao ver os rostos amados de seus pais, algo que ele não via há muitos anos.

Mas à medida que a conversa avançava, Lirian começou a sentir uma estranha sensação de desconforto. Algo não parecia certo. Ele olhou ao redor da sala, observando os rostos de sua família e amigos. Havia algo nos olhos deles, uma sombra que ele não conseguia definir.

De repente, a imagem da casa começou a desfocar. As vozes se tornaram ecoantes e distantes, como se estivessem submersas em água. Lirian piscou, tentando clarear sua visão, mas a ilusão se desfez ainda mais.

***

Lirian acordou abruptamente, seus olhos piscando ao tentar se ajustar à realidade. A visão da enorme aranha, com suas mandíbulas afiadas e olhos múltiplos brilhando com malícia, o trouxe de volta ao presente com um choque de adrenalina. A aranha, sentindo a interrupção, lançou-se sobre os dois com um ataque rápido e mortal.

Thalon desviou agilmente, puxando Lirian para fora do caminho no último segundo. "Mantenha-a ocupada! Vou preparar uma magia!" gritou Thalon, recuando enquanto começava a se concentrar, suas mãos fazendo um símbolo incomum.

Lirian sacou seu arco com rapidez, puxando uma flecha e disparando em um movimento fluido. A flecha zuniu pelo ar e atingiu a aranha em uma de suas patas dianteiras, fazendo-a recuar com um chiado de dor. Ela se virou para Lirian, suas mandíbulas clicando ameaçadoramente.

Enquanto Thalon continuava a conjurar sua magia, a aranha avançou novamente, suas patas longas e peludas se movendo com uma velocidade assustadora. Ela saltou, suas mandíbulas abertas prontas para morder. Lirian rolou para o lado, disparando outra flecha que atingiu o corpo da aranha, mas não foi o suficiente para deter sua investida.

Thalon estava quase pronto para liberar sua magia. "Lirian, continue! Só mais um pouco!" ele gritou, sentindo a energia desconhecida pulsar em suas veias.

Lirian lançou outra flecha, atingindo a aranha na cabeça, mas a criatura parecia incansável. De repente, ela se lançou para frente com uma rapidez surpreendente, empurrando Thalon contra a parede com força suficiente para fazê-lo desmaiar. O corpo de Thalon deslizou para o chão, a magia incompleta dissipando-se no ar.

"Lirian!" o grito de Thalon se apagou enquanto ele caía inconsciente.

Lirian correu para o lado de Ellen, que ainda estava sob o efeito da ilusão. Ele a sacudiu, tentando acordá-la. "Ellen, precisamos de você agora!" disse ele desesperadamente, seus olhos checando constantemente a aranha que agora se aproximava dele.

A aranha, agora sem a distração de Thalon, virou sua atenção completamente para Lirian. Suas patas dianteiras se levantaram, prontas para desferir um golpe mortal. Lirian puxou Ellen para fora do caminho, apenas a tempo de evitar a mordida venenosa da aranha.

Com um último olhar para Thalon, agora imóvel contra a parede, Lirian se preparou para fazer o que pudesse para proteger seus companheiros de grupo.