Chereads / Dead Gods (Portuguese Edition) / Chapter 7 - Capítulo 6: Teia (II)

Chapter 7 - Capítulo 6: Teia (II)

Parte Única

Ellen caminhava por uma rua, ladeada por lojas e barracas de mercadores. A brisa trazia o cheiro de pão recém-assado e especiarias, e o burburinho das pessoas misturava-se ao som de carruagens e cavalos. Seu coração batia mais rápido conforme se aproximava de uma casa familiar, situada no meio da cidade.

A antiga casa de Ellen, com sua estrutura de madeira e pedras, parecia intocada pelo tempo. As janelas tinham cortinas que eram para ser brancas e o jardim da frente estava cheio de flores mortas. Ellen parou diante da porta, sua mão hesitando antes de finalmente empurrá-la.

Ao entrar, foi recebida pelo cheiro de sopa caseira e ervas secas penduradas no teto. A sala de estar era vazia, com uma mesa de madeira escura e tapeçarias velhas nas paredes. O som de passos no chão de pedra fez seu coração disparar.

"Ellen?" A voz de seu pai ecoou pela casa. Ele apareceu na porta da cozinha, o rosto cheio de surpresa e emoção. Seus cabelos grisalhos e as rugas em seu rosto mostravam os sinais do tempo, mas seus olhos agora brilhavam, diferente do olhar frio e indiferente de sempre.

"Pai?" Ellen respondeu, sua voz embargada. Ela deu pequenos passos para trás, mas ele correu até ela e abraçou ela com força, como se temesse que Ellen fosse desaparecer novamente.

"Eu senti tanto a sua falta..." disse seu pai, a voz trêmula.

"Tenho tantas coisas para te dizer, Ellen. Eu... eu sinto muito. Por tudo."

Ellen se afastou ligeiramente, olhando nos olhos do pai. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. "Eu também senti sua falta, pai. E... eu também senti..."

Os dois se sentaram em cadeiras de madeira junto à fraca lareira, e seu pai começou a falar.

"Eu era tão cruel, tão egoísta. Nunca devia ter deixado você ir embora assim, nunca devia ter dito aquelas coisas horríveis. Você sempre foi tudo pra mim, Ellen. Eu estava errado e sinto muito."

Ellen segurou a mão dele, sentindo um toque a muito não sentido. "Eu entendo, pai. Nós dois cometemos erros. O importante é que podemos superar isso, juntos."

O pai de Ellen sorriu, um sorriso carregado de anos de arrependimento e esperança. "Vamos recomeçar, filha. Vamos recuperar o tempo perdido."

Enquanto os dois conversavam, riam e lembravam dos bons momentos, uma sensação de paz começou a envolver Ellen. Mas então, uma pequena dúvida começou a crescer em sua mente. Ela olhou ao redor da sala, algo parecia... errado. A perfeição do momento, a forma como tudo estava exatamente como ela sonhava. Era quase... surreal.

Ela fechou os olhos por um momento, tentando afastar a dúvida, mas quando os abriu novamente, a imagem de seu pai começou a se desfocar. As paredes da casa tremulavam como se fossem feitas de névoa, e o calor do abraço de seu pai desapareceu.

"Não pode ser." Ellen murmurou para si mesma, sentindo o chão começar a se desvanecer sob seus pés.

"Tudo isso... tudo isso não foi real."

O sorriso de seu pai se tornou triste, e ele começou a desaparecer como uma miragem. "Ellen, minha querida, nunca se esqueça do que eu disse. Mesmo que eu não seja real, meu amor por você é verdadeiro. Sempre foi."

As lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Ellen enquanto a imagem de seu pai desaparecia completamente. Ela estava de volta ao jardim de flores, o brilho suave das flores contrastando fortemente com a escuridão ao seu redor. Um som de flechas sendo atiradas ecoava ao longe, trazendo-a de volta à realidade..

Lirian correu em sua direção, seu rosto suado e tenso. "Você acordou, sem tempo para explicar! Ataque a aranha!"

Ellen se virou rapidamente, vendo a enorme aranha com seus olhos multifacetados e patas peludas, que se movia agressivamente atrás de Lirian. Sem hesitar, Ellen sacou suas adagas e avançou com a agilidade de uma sombra. Ela desferiu um golpe preciso nas patas dianteiras da aranha, cortando uma delas e fazendo a criatura soltar um guincho agudo.

A aranha se virou para Ellen, suas mandíbulas clicando furiosamente. Ellen esquivou-se de um golpe de suas patas traseiras e pulou em cima da aranha, cravando uma de suas adagas profundamente no abdômen da criatura. Um líquido roxo brilhante jorrou da ferida, cobrindo a lâmina da adaga e escorrendo pelo chão.

A aranha se agitou violentamente, sacudindo-se em um frenesi desesperado. Ellen foi arremessada ao chão, seu corpo batendo pesadamente na terra. A aranha, agora ferida e sangrando profusamente, recuou para um canto, onde suas mandíbulas continuaram a clicar ameaçadoramente.

Ellen se levantou, ignorando a dor que pulsava em seus músculos. Ela correu até Thalon, que estava caído e gravemente ferido. "Thalon, está me ouvindo? Vamos, acorde!"

Thalon abriu os olhos com dificuldade, seu rosto contorcido de dor. "Ellen... Você acordou. Preciso... de um momento." Com um esforço visível, ele fez um gesto com as mãos, e uma luz branca suave envolveu seu corpo, fechando algumas de suas feridas.

"Leve-me até Garen," ele pediu, ainda fraco.

Ellen ajudou Thalon a se levantar, colocando seu braço sobre seus ombros para apoiá-lo. "Vamos, precisamos ir rápido."

***

Garen estava diante do grande trono retorcido de aço negro frio, uma estrutura imponente e assustadora que parecia absorver a luz ao seu redor. O trono estava adornado com detalhes intricados, pontas afiadas e ganchos que davam a impressão de que poderia rasgar a carne de qualquer um que ousasse se aproximar demais.

Sentado no trono estava o rei, uma figura imponente vestida com uma armadura negra que refletia levemente o brilho das tochas ao redor da sala. Ele usava uma máscara de caveira feita de ouro, um contraste sinistro com a escuridão de sua armadura. A coroa que adornava sua cabeça era de aço puro, simples mas ameaçadora, um símbolo de seu poder implacável.

"Você, Garen." disse o rei, sua voz reverberando pelas paredes de pedra da sala do trono.

"Eu escolho você para liderar o ataque contra nossos inimigos. Você é meu guerreiro mais leal e capaz. Esta é sua missão. Conduza nossos exércitos à vitória."

Garen se ajoelhou diante do rei, seu coração batendo com uma mistura de honra e apreensão. "Eu aceito, meu rei. Lutarei até meu último suspiro para honrar seu nome."

O rei olhou Garen por alguns segundos. "Levante-se, Garen. Vá agora e prepare-se para a batalha. Traga-me a cabeça de nossos inimigos e mostre ao mundo o verdadeiro poder do Rei de Lyssandra."

Algum tempo depois, a guerra estava em seu auge. Garen liderava a linha de frente com bravura e determinação, seu grande escudo e espada refletindo o brilho dos relâmpagos que cortavam o céu tempestuoso. O campo de batalha era um caos de gritos, aço se chocando e o som dos tambores de guerra que ecoavam pela planície.

Garen estava no meio da batalha, sua espada cortando inimigos com precisão mortal. Seus soldados o seguiam com fervor, inspirados por sua coragem e liderança. Eles avançavam, empurrando as forças inimigas para trás, ganhando terreno a cada momento.

O inimigo, porém, era tenaz. Arqueiros nas colinas disparavam flechas incessantemente, e magos lançavam bolas de fogo que explodiam entre as fileiras dos soldados de Garen. O campo de batalha era um espetáculo de destruição e bravura, com soldados caindo e gritos de dor enchendo o ar.

Garen lutava como um leão, sua armadura suja de sangue e lama, mas seu espírito indomável. Ele desferia golpes poderosos, abrindo caminho através das linhas inimigas. Em um momento de respiro, ele olhou ao redor, buscando seu próximo alvo. Foi então que ele viu o líder inimigo, um guerreiro formidável montado em um cavalo negro, sua armadura ornamentada brilhando à luz dos relâmpagos.

"Ali está o comandante inimigo!" gritou Garen, apontando sua espada na direção do líder.

"Sigam-me, homens! Derrotem-no e a vitória será nossa!"

Com um grito de batalha, Garen avançou, seus soldados logo atrás. A luta que se seguiu foi feroz. Garen enfrentou o comandante inimigo em um combate corpo a corpo, suas espadas chocando-se com tanta força que faíscas voaram. Garen sentiu a força e habilidade de seu oponente, mas não recuou. Cada golpe era uma troca de habilidades e força bruta, um teste de vontade e resistência.

Finalmente, Garen viu uma abertura. Com um movimento rápido, ele desarmou o comandante inimigo e o derrubou de seu cavalo. Antes que pudesse dar o golpe final, uma lança atravessou o ar e cravou-se no ombro de Garen, forçando-o a soltar sua espada e cair de joelhos.

O comandante inimigo, aproveitando a distração, levantou-se e desferiu um golpe mortal. Garen sentiu a lâmina penetrar seu abdômen, a dor intensa quase o paralisando. Ele caiu de costas, seu olhar se voltando para o céu tempestuoso. Ao seu redor, a batalha continuava, mas os sons pareciam distantes, abafados pela dor que dominava seu corpo.

"Eu... falhei..." murmurou Garen, sentindo a vida esvair-se de seu corpo.

"Meu rei..."

***

Garen acordou com um sobressalto, a visão embaçada e os sentidos confusos. Vendo a grande aranha, ele se ergueu, pegou sua espada do chão, e correu em direção à aranha. A criatura, com suas patas longas e peludas, chiou ao vê-lo aproximar-se e, com um movimento rápido, lançou uma teia espessa e pegajosa. Garen tentou desviar, mas foi pego no meio do caminho, a teia envolvendo seus braços e pernas, imobilizando-o.

"Lirian, ataque!" gritou Thalon, que estava do outro lado do campo de batalha, tentando acordar Broke.

Lirian, com determinação nos olhos, puxou uma flecha de seu aljava e a infundiu com energia mágica. Ele mirou cuidadosamente e disparou. A flecha, brilhando em rosa com um poder desconhecido, zuniu pelo ar e atingiu a aranha diretamente, explodindo em um raio de luz que deixou a criatura ainda mais ferida e desorientada.

Enquanto isso, Thalon se ajoelhou ao lado de Broke, cancelando a ilusão da aranha enquanto a sacudia gentilmente. "Broke, acorde!"