Parte Única
A madrugada era sombria e silenciosa, até que um enorme barulho ecoou pelo Falcão do Mar. Ed acordou sobressaltado, o coração disparado. Ele pegou suas cimitarras e saiu da cabine, encontrando um caos no corredor. Sem hesitar, ele desceu a lâmina sobre um pirata que surgira à sua frente, matando-o instantaneamente.
Ed avançou, procurando os marinheiros, mas foi surpreendido por um grupo de piratas que avançaram com gritos ferozes. A luta foi intensa e violenta, o clangor das espadas ecoando pelo corredor estreito. Ed se movia com a precisão e agilidade de um dançarino mortal, suas cimitarras girando em um arco mortífero.
Ele bloqueou um golpe vindo da esquerda, respondendo com uma estocada que perfurou o peito do atacante. Um pirata tentou atacá-lo pelas costas, mas Ed girou, cortando-o na garganta antes que o golpe pudesse ser desferido. O corredor tornou-se uma arena de sangue e aço, com corpos caindo a cada movimento preciso de Ed.
Respirando pesadamente, Ed finalmente derrotou o último pirata. Ele olhou ao redor, tentando processar o que havia acontecido. Apoiou-se na parede, sentindo a adrenalina começar a dissipar. Mas então, seus olhos caíram sobre os corpos caídos no chão. Não eram os piratas.
Marinheiros do Falcão do Mar estavam caídos, mortos, suas faces contorcidas em dor e surpresa. O horror tomou conta de Ed quando ele percebeu o que havia feito. Entre os corpos, ele viu Peter, cortado ao meio, seus olhos vazios olhando para o nada.
"Não... eu não..." sussurrou Ed, sentindo o medo e a culpa esmagarem seu coração.
O corredor parecia estreitar ao seu redor, a realidade distorcendo-se enquanto ele olhava para o vasto e escuro mar além do convés. Com a mente nublada pelo terror, Ed caminhou até a borda do navio, olhando para o oceano negro abaixo.
Sem pensar, ele se jogou.
A queda parecia interminável, o frio do oceano envolvendo seu corpo quando ele finalmente atingiu a água. A escuridão era total, sufocante. Ele lutou para nadar, mas seus membros não respondiam. Sentia-se preso, incapaz de se mover ou gritar.
Então, ele a viu. Uma figura feminina emergiu das profundezas, sua pele pálida e olhos brilhando em um azul fantasmagórico. O Demônio d'água aproximava-se dele, seus movimentos graciosos e hipnotizantes. Ed tentou gritar, mas nenhum som saiu de sua boca.
O demônio chegou perto, insinuando um beijo. Quando seus lábios se tocaram, Ed sentiu um frio cortante atravessar seu corpo. O pavor dominou sua mente, mas ele estava paralisado, incapaz de reagir.
De repente, Ed foi arremessado para fora de sua cama, acordando com um sobressalto. Lá fora, o som das ondas tinha mudado para um rugido ensurdecedor, e o navio balançava violentamente. Ele se levantou cambaleando, sentindo o frio cortante da madrugada e ouvindo os gritos dos marinheiros acima.
"Uma tempestade!" murmurou para si mesmo, agarrando suas cimitarras por instinto antes de correr para o convés.
Quando Ed chegou ao convés, foi recebido por uma visão caótica. A noite estava envolta em trevas, apenas iluminada por relâmpagos que rasgavam o céu, revelando nuvens espessas e turbilhonantes. O vento uivava furiosamente, chicoteando as velas do Falcão do Mar e fazendo os mastros rangerem ameaçadoramente.
Marinheiros corriam de um lado para o outro, tentando segurar as cordas e ajustar as velas. A chuva caía torrencialmente, tornando o convés escorregadio e difícil de se manter de pé. O som das ondas colidindo com o casco do navio era ensurdecedor, e a água salgada espirrava para todos os lados, misturando-se com a chuva.
"Ed, ajude-nos com as velas!" gritou Wilde, que lutava para segurar uma corda que parecia querer escapar de suas mãos.
Ed correu até ele, agarrando a corda e puxando com todas as suas forças. O vento e a chuva eram implacáveis, dificultando cada movimento. O navio balançava violentamente de um lado para o outro, como se estivesse lutando contra a própria fúria do oceano.
Enquanto lutavam contra a tempestade, um grito veio do alto do mastro. "O Kraken! Eu vi o Kraken!"
O grito gelou o sangue de todos no convés. Ed olhou para cima, onde um dos marinheiros apontava desesperadamente para o mar negro. Um relâmpago iluminou a cena por um breve momento, revelando um vulto imenso sob as ondas agitadas.
"Não pode ser..." murmurou Ed, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. A história que ouvira na noite anterior vieram à tona em sua mente, e o medo começou a se instalar em seu coração.
"Ora, pare de gritar e ajude-nos aqui embaixo!" rugiu Basil, o capitão, tentando manter a ordem em meio ao caos.
"Precisamos controlar o navio, não temos tempo para lendas!"
Mas o marinheiro no mastro continuava a apontar para o mar, seus olhos arregalados de terror. Ed tentou afastar o medo e concentrou-se na tarefa à mão. Ele e Wilde conseguiram amarrar a corda, mas o barco continuava a ser sacudido violentamente pelas ondas.
Outro relâmpago iluminou o horizonte, e desta vez, Ed viu claramente. Tentáculos enormes e disformes emergiram das profundezas, movendo-se de maneira ameaçadora. O coração de Ed quase parou.
"É o Kraken!" gritou outro marinheiro, desta vez do convés. O pânico se espalhou rapidamente entre a tripulação.
O Falcão do Mar parecia estar à mercê das forças naturais e sobrenaturais combinadas. As ondas eram montanhas líquidas que se erguiam e caíam, jogando o navio para cima e para baixo, enquanto a chuva caía em torrentes, tão pesada que era quase impossível enxergar a poucos metros de distância. Relâmpagos rasgavam o céu, iluminando por breves momentos a silhueta monstruosa do Kraken e as expressões aterrorizadas dos marinheiros.
Os tentáculos do Kraken eram imensos, cada um deles capaz de destruir uma seção inteira do navio com um único golpe. Um dos tentáculos envolveu a proa do navio, apertando com uma força descomunal e fazendo a madeira estalar e ranger. Outro tentáculo subiu pelo mastro principal, enroscando-se e puxando com tanta força que parecia prestes a quebrar o mastro ao meio.
"Segurem-se!" gritou Basil, tentando manter o controle enquanto o navio balançava violentamente.
"Não deixem o navio virar!"
Os marinheiros lutavam desesperadamente para se manter de pé e realizar suas tarefas. Alguns tentavam cortar os tentáculos com machados e facas, enquanto outros corriam para ajustar as velas e as cordas, tentando manter o Falcão do Mar em curso. Ed, de cimitarras em mãos, tentava se mover pelo convés escorregadio, buscando uma maneira de ajudar.
De repente, um dos tentáculos se moveu rapidamente e atingiu a lateral do navio, partindo a madeira com um estalo ensurdecedor. Um grito de dor e desespero veio de um dos marinheiros que foi arremessado ao mar pela força do impacto. Ed mal teve tempo de se desviar de outro tentáculo que veio em sua direção, acertando o convés e criando uma rachadura que se espalhou rapidamente.
A chuva continuava a cair, misturando-se com a água do mar que já cobria o convés. O vento uivava, e cada relâmpago revelava a magnitude da destruição que o Kraken estava causando. As ondas pareciam crescer ainda mais, ameaçando virar o navio de lado. Ed conseguia ver o medo nos olhos dos marinheiros ao seu redor, mas também via a determinação feroz de lutar até o fim.
"Não vamos sobreviver a isso..." ele pensou, enquanto um frio gélido percorria sua espinha.
E então, tão repentinamente quanto começou, o Kraken recuou. Os tentáculos soltaram o navio, desaparecendo nas profundezas do oceano. O rugido da tempestade ainda ecoava ao redor, mas o monstro que havia causado tanto terror estava indo embora. As águas começaram a se acalmar lentamente, e a chuva diminuiu de intensidade.
O Falcão do Mar balançava suavemente agora, os destroços e pedaços de madeira flutuando ao redor. A tripulação olhava para o mar, atônita e aliviada. Basil, ainda segurando firmemente o leme, olhou para o horizonte e então para seus homens.
"Estamos vivos!" ele gritou, sua voz ressoando com uma mistura de alívio e exaustão.
"Conseguimos!"
Os marinheiros começaram a se reunir, alguns se abraçando, outros simplesmente caindo de joelhos, agradecendo por estarem vivos. Ed, com as cimitarras ainda nas mãos, olhou ao redor, sentindo uma onda de alívio misturada com incredulidade. Ele mal podia acreditar que haviam sobrevivido ao encontro com o Kraken.
"Ed, você está bem?" perguntou Wilde, colocando a mão no ombro do jovem.
Ed assentiu, ainda tentando recuperar o fôlego. "Sim, eu... eu estou bem. Mas o navio..."
O estado do Falcão do Mar era preocupante. A proa estava severamente danificada, e o mastro principal estava inclinado, com várias partes do convés quebradas ou rachadas. Os marinheiros começaram a avaliar os danos e a cuidar dos feridos.
A tempestade começava a se dissipar, e o mar ficava cada vez mais calmo. As nuvens se afastavam, revelando um céu estrelado que contrastava fortemente com o caos que havia se desenrolado momentos antes. A luz das estrelas e da lua iluminava suavemente o navio danificado, enquanto a tripulação trabalhava para consertar o que pudesse.