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Chapter 4 - Capítulo Dois

Barra da Tijuca, Fevereiro de 2022

Nenhuma mensagem, nenhuma ligação Débora havia recebido ao longo daqueles três meses. A jovem até foi visitar Martins em sua casa, mas ele não se encontrava lá, foi até mesmo ao encontro de seus sogros, que mal acreditaram nas palavras de Débora sobre o fim do namoro. Disseram a ela que Martins foi viajar a trabalho, porém Débora não foi avisada de nada disso, então ele simplesmente sumiu, sem dar uma explicação qualquer.

Débora ficava enciumada por seu namorado, agora ex, ser cantor, e despertar olhares cobiçadores das fãs, ela tentava não se preocupar tanto com isso, pois confiava em Martins, mas a esse momento suas desconfianças apontavam para outra coisa. Cogitou que ele apenas terminou com ela para "aproveitar" ainda mais a viagem, podendo sair e ficar com quem quiser em um novo estado. Só de imaginar isso, a garota sentia uma enorme repulsa. Nunca imaginou que ele seria capaz de tal coisa.

A última vez que ela teve "notícia" sobre ele, foi em um post no Instagram, do perfil da empresa que ele fazia parte - que confirmava a palavra de seus sogros - Martins estava realmente viajando a trabalho. Na foto, apenas indicava os locais que ele faria show, e conforme a data, provavelmente ele se encontrava em São Paulo.

Débora aproveitou o último mês de férias, viajando também, porém as últimas semanas foram uma intensa correria para a jovem, que estava se preparando para ingressar na faculdade de design de moda, algo a qual ela sempre teve sonho desde criança. A cada dia que as aulas se aproximavam, a ansiedade da garota só aumentava.

Para aproveitar o último dia das férias, Débora convidou Júlia para dar uma volta na praia, como era bem perto da casa das duas, não foi necessário pegar nenhum tipo de transporte.

Ao pisar os pés na areia quente por conta do calor do sol, que brilhava intensamente no céu, Débora relaxa, o som das ondas do mar transmitiam tranquilidade, e a leve ventania deixava o ambiente agradável.

A praia do Pepê estava agitada, de um lado, pessoas passeando e andando de bicicleta pelo calçadão, do outro, jovens surfistas, crianças correndo e se divertindo, mulheres e homens tomando banho de sol e o céu estava sendo colorido por praticantes de asa-delta e paraquedistas.

As duas vão até um quiosque, se sentam nas cadeiras em frente ao estabelecimento, aproveitando a sombra do guarda-sol, se protegendo do sol que brilhava fortemente no céu.

— E aí, ansiosa para as aulas? — Júlia questiona.

— Muito. Estou mais preocupada com o trote — Débora temia que os veteranos fizessem brincadeiras de mal gosto com os calouros. Já não bastava as brincadeiras sem graça do fundamental e do médio, aguentar isso na faculdade seria demais. — Acho que nem vou conseguir dormir essa noite.

— Ah, isso só vai durar um tempinho, até você ver que a faculdade é um porre, e cogitar todos os dias trancar o curso — Júlia ajeita os óculos de sol, os colocando no topo de sua cabeça.

— Nossa, como você é uma pessoa motivadora! — diz sarcástica.

— Estou sendo realista, essa é a verdade. Por isso larguei a faculdade para me tornar jogadora de vôlei, foi a melhor coisa que eu fiz...

— Com licença! — uma mulher de cabelos longos e escuros, interrompe a conversa, ela carregava um tablet em suas mãos. Rapidamente, as meninas reconhecem que se tratava da atendente do quiosque. — As senhoritas desejam pedir algo?

— Eu vou querer um suco de laranja e um sanduíche natural — Júlia pede sem nem ao menos olhar o cardápio. Já estavam tão habituadas a frequentarem aquele quiosque, que já conheciam de cor e salteado cada item do cardápio.

— Vou querer o mesmo — Débora pede, quando a mulher direciona sua atenção para a garota.

— Dois sanduíches naturais e dois sucos de laranja - ela dá alguns toques na tela, selecionando o pedido das garotas.

— Já trago o pedido de vocês — diz antes de se retirar.

— E como foi a viagem para a casa da vovó? — Débora pergunta a Júlia.

— Olha, se o Felipe não tivesse ido seria bem melhor. Ele parece que está querendo roubar o posto de ovelha negra da família de mim. Meus pais reclamam tanto das minhas atitudes, que veio o Felipe para mostrar que pode ser muito pior.

— E o que ele fez dessa vez?

— Acredita que ele disse à vovó que iria dormir na casa de uns amiguinhos que moram lá perto, e o moleque atravessou a cidade indo parar no Espírito Santo!

Débora fica desacreditada com o que o Felipe havia feito, não sabia se dava risada da situação ou se mantinha a seriedade. Ela não entendia o motivo de Felipe estar sempre aprontando, tendo em vista que seus pais eram bem liberais, e não os proibiam de sair e se divertir com os amigos. Mas quando mais nova, ela e Júlia também aprontavam, deixando seus pais de cabelo em pé. A única diferença, era que Débora dificilmente era pega em suas travessuras.

— E como ele conseguiu sair do estado? Ele é menor de idade!

— A gente sabe disso melhor que ninguém! — Júlia dá uma gargalhada, relembrando da vez que as duas foram em uma festa e, no fim, acabaram parando em outra cidade com desconhecidos.

— Família de louco! — Débora apoiou seus cotovelos na mesa, descansando seu rosto em suas mãos.

— Pensando bem... Acho que vou pedir um refrigerante bem gelado ao invés do suco. — Júlia se torna pensativa — Calma aí, eu vou lá trocar meu pedido - a garota se levanta indo em direção ao quiosque.

Débora observa o mar azulado à sua frente, se perdendo em seus devaneios, ela retira do bolso de seu shorts jeans, uma aliança que Martins havia lhe dado quando a pediu em namoro. Ela brinca com o objeto, sentindo saudades da presença e do abraço de seu ex.

A garota coloca novamente a aliança em seu dedo anelar. Não queria que tudo acabasse daquela forma, sem nenhuma explicação e um adeus através de uma mensagem.

— Eu não estou acreditando nessa palhaçada! — Júlia volta do quiosque com uma bandeja em mãos, olhando desacreditada para Débora usando a aliança que dissera ter descartado. — Você disse que tinha jogado isso aí fora!

— Eu não consegui, está sendo muito difícil para mim desapegar das coisas dele — diz quase como uma súplica.

— Olha... Eu me achava trouxa, mas você me supera — Júlia coloca a bandeja sob a mesa e arrasta a cadeira para ficar mais próxima a Débora.

Débora revira os olhos, sua prima não iria entender seu lado jamais.

— Amiga, aquele babaca terminou contigo no dia do seu aniversário, nem ao menos te deu uma explicação do que aconteceu. E agora ele está como? Por aí curtindo a vida, e você? Apegada a alguém que nem te merece. Você precisa sair, espairecer a cabeça, conhecer outras pessoas, não ficar estagnada esperando ele voltar.

— É fácil falar, não é mesmo? Não foi você que terminou o namoro.

Júlia umedeceu seus lábios, não era momento para discutir com Débora. Ela sabia do sofrimento da amiga, doía em si mesma ver Débora chorando apenas por ouvir o nome do ex. Mas Júlia não queria deixar as coisas assim mesmo, precisava tomar uma atitude, mesmo que Débora não fosse gostar tanto.

Ela observa a sua volta, a praia estava cheia, e o que não faltavam eram opções, mas muitas delas pareciam desinteressantes.

Seus lábios se curvam em um sorriso, sabia exatamente o que deveria fazer dali em diante.

— Olha só, aquele cara faz o seu tipo — ela aponta em direção a um rapaz que acabará de sair do mar, carregando embaixo de seu braço uma prancha de surf.

— O que você está pensando em fazer? — Débora se exaspera, temia qualquer tipo de ideia mirabolante de Júlia.

Mas antes que pudesse a impedir, Júlia se encontrava com os braços estendidos para o ar chamando pelo rapaz, que observava atrás de si, conferindo se estavam chamando por ele. Júlia gesticula o dedo polegar para cima, sanando sua dúvida.

O rapaz caminha em direção as garotas, com passos lentos, porém firmes, vestia um wetsuit que demarcava perfeitamente bem os músculos de seu corpo, os detalhes em laranja no tecido preto da vestimenta davam ainda mais contraste a sua pele negra. No dorso de sua mão, tinha presente uma tatuagem que simulava a articulação de uma mão metálica de um cyborg, e junto aos seus cachos escuros, caíam gotas da água do mar em seu rosto.

— Olá? — ele diz com um olhar de estranheza, sem entender o motivo de ser chamado até ali.

Débora franze o cenho, aquele rapaz era familiar para ela.

— Você é novo aqui no bairro? Nunca te vi por aqui — Júlia indaga o rapaz, que ainda se mantinha confuso. - Prazer, meu nome é Júlia Vitória, mas pode me chamar de Juju, Vick, Tori, Lia...

— Acho que já chega, né Júlia? — Débora corta sua amiga, antes que ela apresentasse a lista de apelidos que criou para si mesma. O rapaz dá uma leve gargalhada, exibindo um belo sorriso.

— Eu me chamo Dante, muito prazer meninas — Dante estica sua mão, apertando a mão das garotas, uma de cada vez. — Como sabe que sou novo no bairro?

— A Júlia é quase uma vereadora, não tem uma pessoa que ela não conheça — Débora afirma.

A jovem acaba relembrando de quem se tratava o rapaz, mas mal sabia o seu nome. Ele trabalhava juntamente com Martins, que o apelidou de "cara da manutenção". Os dois nunca haviam trocado uma palavra, apenas um cumprimento de "boa tarde" ou "boa noite".

— Senta aí, vamos conversar — Júlia o convida.

— E que interesse repentino é esse em conversar comigo? — Dante apoia sua prancha nas cadeiras atrás de si, e puxa uma delas ao seu lado para se sentar.

— Já vou logo avisando, aqui é Júlia só para meninas! — a jovem revela, cortando qualquer segunda intenção que Dante poderia imaginar que ela queria ter com ele. — E como disse minha amiga Débora, sou vereadora, é a minha obrigação, no mínimo, saber o nome de cada um.

— Estou lisonjeado em estar na presença de uma grande celebridade! — Dante entra na brincadeira. — Sou da Colômbia, me mudei faz um mês, mais ou menos.

Dante desvia seu olhar para o de Débora, que percebe na hora que ele estava mentindo para Júlia, não iria contar para a prima, por enquanto.

— Que legal! — Júlia tenta conter a animação, por achar ter acertado sobre o rapaz ser novo no bairro. — E o que está achando daqui? — a garota inclina seu corpo para frente, demonstrando interesse ao que Dante dizia.

— Estou amando, principalmente as "brasileiras" — Dante direciona suas palavras a Débora, que dá um olhar cúmplice e um sorriso de canto de lábios.

Júlia tentava disfarçar um sorriso que quase escapava de seus lábios, acreditava que seu plano estava em bom andamento, mas ainda não era tempo para comemorar.

— A vantagem é que estou bem pertinho das praias, assim posso continuar praticando surf — Dante aponta em direção a sua prancha de surf vermelha.

— Tenho certeza que você vai amar o Rio, não é Débora? — Júlia se esforçava para envolver a prima na conversa.

— Ah sim! Aqui é um excelente lugar para morar — afirma a jovem, se segurando para não rir.

Júlia percebe que se dependesse da prima, nada andaria naquele momento, então, ela decide tomar outra atitude.

— O que você acha de fazer uma social com a gente, sei o quanto é chato ser novo na cidade, bom que você já faz amizades — Júlia propõe, não queria perder tempo conversando banalidades com o rapaz.

Débora se espanta com a tamanha ousadia que Júlia tomara, não imaginaria que a prima tivesse a atitude de convidar um "quase estranho" para sair. Temia que Dante aceitasse.

— Não me parece ser uma má ideia — Dante cogitar a ideia.

— Eu até te passaria meu número para a gente ir conversando, mas esqueci meu celular e não sei meu número de cor. Passa o seu aí Débora.

Relutante, Débora se nega a passar o número para o rapaz, sabia exatamente que sua prima estava inventando desculpas para dar um jeito dos dois saírem. Não estava disposta a conhecer mais ninguém, principalmente um homem que Júlia escolheu aleatoriamente pela praia.

— Posso passar o meu, se quiser — Dante sugere.

Débora iria negar mais uma vez, mas Júlia acertou sua perna com um chute, e fazendo algumas expressões que só as duas entenderiam. E assim, Dante dita o número de seu telefone, a qual Débora anota em seu celular, mas que visivelmente jamais o chamaria para conversar.

— Caraca! Meu refrigerante acabou, vou ali buscar mais - antes que Débora se pronunciasse, Júlia salta da cadeira, andando apressadamente para longe dos dois.

Agora Débora se encontra a sós com Dante, que começa a dar risada pelas reações de Júlia. Débora o acompanha, rindo também.

— Ela acreditou mesmo que eu fosse colombiano? — o rapaz se inclina para trás, ainda rindo.

— Se você simulasse um sotaque espanhol, certeza que ficaria mais fiel — supôs a garota.

— Por que ela me chamou para sair? — Dante questiona. Em um instante, o sorriso de Débora se desfaz e seu rosto se ruboriza, o tom avermelhado se mistura às sardas de suas bochechas.

Não iria contar que sua prima estava querendo arrumar um pretendente para ela, além de constrangedor, conhecer pessoas novas e se apaixonar não estavam na sua lista de prioridades.

— Por... Por que... a Júlia adora fazer amizades novas, em um rolê já arruma uns 10 amigos diferentes — dando uma risada sem graça, Débora torce para ter convencido o rapaz.

Às grossas sobrancelhas de Dante se juntam , e Débora teve a certeza de que sua desculpa não funcionou. Um clima de constrangimento havia se formado entre os dois. Débora abraça seu próprio corpo e balança as pernas freneticamente, estava a procura de Júlia, que deu um sumiço repentino. Não queria tentar puxar um diálogo com o rapaz, e a cada segundo que passava, ela ficava mais e mais desconfortável.

— Ela parece ser gente boa — Dante declara. — Talvez não seja má ideia sair com vocês — o rapaz estica o braço direito no encosto da cadeira ao lado, ficando mais à vontade na presença da garota.

— Você vai adorar sair com ela, isso posso afirmar — propositalmente, Débora coloca uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, com a mão em que estava a aliança. Esperava que Dante entendesse que nem ela e nem Júlia estavam ali com outros interesses.

O celular de Débora vibra, e junto, uma música acompanhada do nome "Mãe" aparecia na tela. A jovem atende o telefone, a qual Diana pede para que ela retorne para casa, pois precisava de sua ajuda. Débora respira aliviada, finalmente havia encontrado um motivo para sair daquela situação.

— Me desculpa, eu preciso ir, minha mãe precisa de mim lá em casa — Débora se levantou ajeitando sua roupa. — Avisa para a Júlia que tive que voltar?

— Claro que eu aviso - Dante dá um singelo sorriso. — Muito prazer em conhecê-la, Débora — os pelos do corpo da garota de eriçam ao ouvir seu nome sair dos lábios do rapaz. Não sabia se ele havia dado ênfase de propósito, mas aquilo foi o suficiente para lhe dar arrepios.

— Te mando uma mensagem quando chegar em casa — um sorriso nervoso e desajeitado se forma no rosto de Débora. Ela se distancia ligeiramente rumo a sua casa.

Ao retirar o celular do bolso, Débora vai até sua lista de contato, deletando o número que o rapaz acabará de lhe passar. Não estava disposta a conhecer novas pessoas, principalmente Dante, que apesar de não ser um completo desconhecido, não era de interesse para a jovem.

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Wetsuit - vestimenta utilizada por surfistas e mergulhadores, com o objetivo de evitar a perda de calor do corpo e proteger de contato acidental com seres marinhos.