Chereads / Paraíso Proibido (PT-BR) / Chapter 5 - Capítulo Três

Chapter 5 - Capítulo Três

A ansiedade de conhecer a universidade e começar as aulas, deixou Débora inquieta durante a noite inteira, quase não conseguiu descansar. Logo pela manhã, a jovem se encontrava bocejando, desejando voltar para a cama.

Um pouco relutante e resmungona, Débora se apronta para a aula e, ao terminar, vai até a cozinha, onde encontra Rosa, a empregada da família, preparando o café da manhã.

— Acordou cedo! — exclamou Rosa, trazendo consigo a jarra de café.

— Não consegui dormir a noite toda, estava muito ansiosa.

— Aqui está um cafezinho para despertar. — Rosa serve o café em uma xícara que havia separado para Débora.

— Obrigada! — a jovem assopra o café, antes de levá-lo à boca.

— Estou vendo que o chaveirinho também não conseguiu dormir. — Débora se vira para trás, se deparando com a imagem de seu irmão todo despenteado, ainda de pijama e com a feição de quem teve uma noite péssima.

— Rosa, se esqueceu da conversa que tiramos sobre você me chamar de chaveirinho? — Lucas demonstra irritação, o rapaz detestava o apelido que Rosa havia colocado nele.

Rosa passou a chamá-lo assim, pois quando mais novo, o rapaz sempre estava a acompanhando em tudo que ela fazia. Ele adorava a companhia da mulher, que aos poucos foi se tornando uma segunda mãe para ele, entretanto quando Lucas começou a faculdade, o tempo de convivência entre os dois diminuiu, mas o carinho um pelo outro permaneceu intacto, entretanto o apelido passou a lhe incomodar.

— Não interessa, você sempre será o meu chaveirinho!

Lucas se aproxima de Rosa, e a envolve em um abraço, descansando sua cabeça no ombro da senhora.

— Só não fale isso em público, por favor — o rapaz deposita um beijo na bochecha de Rosa, que sorri com o gesto.

— Eu sei que você gosta desse apelido, eu te conheço Lucas. Agora me responda uma pergunta. Por que ainda não se arrumou para o trabalho?

— Em cinco minutos já vou estar pronto, estou morrendo de fome — Lucas esfrega a palma das mãos uma na outra, a procura de algo para comer. — Débora, vou te levar para a universidade hoje, não invente de se atrasar.

— Que milagre! Tá fazendo uma pra Deus ver, é? — a garota brinca, recebendo um olhar de desdém de seu irmão.

— Eu sempre fui gentil, minha querida! — debochado, Lucas imita o tom de voz de Débora.

Ao terminar o café da manhã, os dois partem para suas respectivas tarefas do dia. Porém antes, Lucas passa na casa de sua namorada, já que Selena estudava na mesma universidade que Débora.

— Nem sabia que você iria dormir lá em casa ontem — Débora direciona suas palavras a Lucas, que observa seu reflexo no retrovisor do carro, ajeitando os fios dourados, no intuito de deixá-los perfeitamente alinhados.

— Fiquei por causa da dona Diana — Lucas olha para trás, observando Débora. — Ela me pediu com aquele jeitinho carinhoso que só nós dois conhecemos — Lucas diz irônico, os dois dão uma gargalhada, relembrando perfeitamente bem cada palavras e expressão que Diana dizia para convencê-los de fazer algo por ela.

— Ela fica dizendo aos quatro cantos da casa o quanto sente sua falta. Não falo só por ela, mas é esquisito você não estar mais lá — um canto de sua boca se elevou e os ombros caíram.

— Em todos esses anos da minha vida, nunca imaginaria que a minha irmã iria confessar que sente minha falta — Lucas simula uma falsa surpresa.

— Larga de ser bobo! — Débora ergue sua bolsa, ameaçando bater em Lucas, que se encolheu no banco do carro.

— Olha amor, ela está querendo me bater! — ao avistar a cabeleira loira de Selena se aproximando, Lucas pede por socorro.

— Você tá merecendo levar uns tapas mesmo — Selena adentra o carro ao lado de Lucas, fechando a porta e ajustando o cinto de segurança.

— Que isso? Uma conspiração contra mim?

— Nada disso, benzinho — Selena deposita um beijo nos lábios de Lucas, um sorriso se expressa na face dos dois.

No banco de trás, Débora observa tudo, um pouco chateada, pois muita coisa ainda a fazia lembrar de Martins. Mesmo não querendo, memórias sobre ele vinham à tona em sua cabeça.

Lucas dá partida no carro, e os três vão rumo a universidade.

Um enorme calafrio sobe pela espinha de Débora, não entendia o motivo de estar tão nervosa, apesar de que sempre se sentia da mesma forma ao sair de sua zona de conforto. Não conhecia quase ninguém, exceto Selena, porém as duas faziam cursos de diferentes áreas.

— E aí, tá empolgada para seu primeiro dia de aula? — Selena questiona.

— Estou nervosa e nem sei o motivo, parece até quando comecei o fundamental — confessa a garota.

— Calma! É só o primeiro dia de aula, logo mais você se acostuma — Selena tenta lhe passar conforto. — Se quiser me encontrar no intervalo fique à vontade, costumo ficar próximo ao barzinho da esquina.

— Tudo bem - Débora assente. Estava feliz por ter Selena lá com ela, assim não se sentiria um peixe fora d'água.

Débora atravessa o enorme corredor em busca da sala de aula indicada pelo aplicativo da universidade. Observava minuciosamente cada detalhe das paredes coloridas e dos desenhos grafados com as silhuetas de grandes artistas, um detalhe particular do Centro Universitário de Arte e Design.

Ao adentrar a sala de aula, Débora encontra o local completamente vazio, até se questionou se estava na sala errada, mas estava certa que não, e suas dúvidas se esvaiu quando seus olhos pousaram em um mural com desenhos de croquis de moda e fotos de desfiles. Ao se sentir curiosa, Débora anda em direção ao mural, admirada com os modelos criados, e principalmente, das fotografias.

— São modelos criados por ex alunos nossos — Débora toma um susto com a fala repentina, ela se virou encontrando um homem de barbas grisalhas, com o rosto marcado por rugas na pele branca e bochechas levemente rosadas.

— São todos muito belos! - Débora elogia com sinceridade. — Os alunos elaboraram os desfiles também?

— Sim! — o professor caminha em direção a uma mesa extensa, onde coloca sua bolsa em cima da cadeira. — Vocês também irão passar por essa fase, só espero que não fique ansiosa até lá — o professor sorri, demarcando as maçãs, que saltam em seu rosto. — Como você se chama?

— Sou Débora — a jovem dá um sorriso sutil.

— Sou Wagner, seu professor de antropologia cultural.

Débora mantinha um misto de confusão e curiosidade, não fazia ideia do que se tratava aquela matéria, entretanto tinha curiosidade como seria aquele conteúdo com o professor, que por ventura, aparentava ser um homem simpático.

Mais e mais alunos adentram a sala de aula, Débora finda a conversa com seu professor e se senta em seu lugar.

Uma aluna um tanto desajeitada chega a sala de aula, ela esbarrava em alguns alunos antes de se sentar no lugar vago ao lado de Débora.

Débora se questionará se a jovem era modelo, pois exibia um corpo esbelto e curvilíneo, por volta de seus 1,78m, negra de cabelos volumosos que formam belos cachos em seu comprimento, lábios carnudos e olhos que transmitiam simpatia e carisma.

— Pensei que estivesse atrasada — a garota tenta puxar assunto com Débora. — Passei a noite toda em claro, aí fui dormir mais "cinco minutinhos" e sai às pressas de casa.

Débora fica mais aliviada em saber que não foi a única que estava nervosa.

— Eu também passei por isso e agora estou morrendo de sono. Só espero não dormir no meio da aula.

— Somos duas!

Débora observa as roupas que a sua colega estava usando e fica interessada no top de crochê azul pastel de mangas bufantes em que estava vestida.

— Gostei da sua blusa, onde comprou? — pergunta interessada.

A garota olha surpresa, não imaginaria que alguém iria reparar no que estava vestindo e muito menos que iria receber um elogio por isso.

— Uai, você gostou mesmo? — a jovem mal precisava  fazer esforço para sorrir, seus olhos demonstravam isso por si só. — Fui eu que fiz!

— Seria pedir demais para que fizesse um para mim também? — as duas dão risadas juntas. Alguns dos alunos em volta delas se sentem incomodados pelo falatório, as duas imediatamente se calam, prestando atenção na aula.

☼☼☼

Já era chegada a hora do fim das aulas, os alunos guardavam seus materiais e saiam alvoroçados da sala de aula.

— Você sabe de algum restaurante aqui por perto? Não estou com um pingo de vontade de fazer meu almoço hoje — explica a garota.

— Tem um atravessando a avenida em frente a universidade — Débora gesticula a direção do restaurante com a mão.

— Ainda bem, estou morrendo de fome!

— Se não se importar, poderíamos ir juntas, vou almoçar e depois ir para a auto escola.

— Sem problemas, bom que podemos conversar sem atrapalhar a aula — as duas dão risada sobre o acontecido. — Não lembro se me apresentei, me chamo Alice, e como você se chama?

— Débora.

— Estou me sentindo totalmente deslocada nesse lugar, ter vindo do interior de Minas para cá está sendo uma mudança em tanto!

— E eu reclamando por me sentir só na faculdade... — Débora comenta mais para si mesma do que para Alice. — Seja bem-vinda! Espero que goste do Rio, e principalmente da faculdade.

— Obrigada!

As duas saem da universidade e vão juntas até o restaurante, onde jogaram conversa fora. Alice foi bastante simpática e divertida, fazendo com que Débora desse bastante risadas com suas histórias.

Alice contará a Débora que se mudou para a casa de sua irmã no Rio de Janeiro, e juntas, dividem um sobrado localizado no bairro ao lado.

—... minha mãe concordou em que eu me mudasse para cá por conta da faculdade, ela tem me ajudado bastante e me incentivado também. Já meu pai, disse que só seria perda de tempo, que estava apenas estudando para me tornar costureira — Alice explicava a história do motivo de ter se mudado para Débora, que ouvia atentamente.

— Vai ver que ele não falou isso com maldade, apenas deve achar que nossa profissão se resume a isso — deduziu Débora.

— Não mesmo! Ele quer que eu desista, que tente fazer medicina, direito... Algo que dê rios de dinheiro.

— Uma pena ele ter a mente tão fechada assim.

— O que apenas me resta é ignorar as provocações dele e focar no meu futuro — Alice diz convicta, ao perceber que estava próximo do horário para o início do seu turno de trabalho, a garota resolve se despedir de Débora. — Agora preciso ir, até amanhã!

— Até! Foi um grande prazer te conhecer — Débora e Alice se abraçam, e por fim, cada uma segue seu destino.

Débora fica desacreditada em ter feito amizade tão facilmente com Alice, o desenrolar da conversa e a concordância entre os assuntos fluiu de uma forma boa, as duas pareciam ter se conhecido há anos em poucos minutos de conversa.

A jovem aguarda o Uber que a levaria até a auto escola. Chegando lá e vendo que ainda não iria se iniciar a aula, ela se encosta no muro próximo a entrada, retira do pequeno bolso de sua mochila uma carteira de cigarro, pega um deles, o acende com um isqueiro e o leva até a boca. Ao sentir o contato da nicotina se misturando ao seu organismo, um misto de alívio e prazer a rodeia.

— Nunca imaginei encontrar a Barbiezinha fumando por aí — uma voz um tanto familiar chega ao encontro de Débora, que direciona o seu olhar para o rapaz que "conheceu" na praia. — Isso daí faz mal, tanto pra você quanto pra quem está perto.

Débora estranha suas palavras, pois nem ao menos era loira para ser comparada a tal boneca, e muito menos alguém já demonstrou tanta "preocupação" com sua saúde, ela retruca então.

— Se está tão incomodado, é só não respirar perto de mim.

Dante fica desacreditado com a grosseria da garota.

— Além de ser uma chaminé ambulante, ainda é bocuda. Nem parece aquela moça educada e delicada que conheci na praia naquele dia.

— A primeira impressão é a que fica, não é mesmo? — Débora leva o cigarro novamente a boca, tragando e soltando a fumaça logo em seguida.

— Como está a Júlia? Pensei que alguma das duas iria me chamar para conversar.

— Está bem! — as orbes azuis de Débora encara os olhar negro de Dante, o qual desce gradativamente para o crachá em seu peito, onde estava gravado o nome "José Henrique" acompanhado de uma foto do rapaz. Ela se questionará se o rapaz escondeu seu verdadeiro nome, mas isso não vinha ao caso agora. — Acabei me esquecendo de mandar seu número para Júlia, que estava interessada em sair com você era ela, não eu.

Dante ajeita a postura e cruza os braços na altura do peito, Débora dá outra tragada no cigarro, nesse momento, ele notará que a garota não usava mais a aliança. Se perguntou se ela tinha esquecido, ou se havia brigado com seu namorado. Um pouco curioso, ele indaga sobre a situação.

— E como anda o Martins?

Débora fica vacilante, tocar no assunto sobre seu ex ainda a deixava sensível.

— Não estamos mais juntos — revela. — Na verdade, nem ao menos tenho mais notícias dele .

Dante franze o cenho, um tanto confuso.

— Acreditava que você já soubesse.

— Eu não trabalho mais no estúdio, já tem um longo tempo. Estou trabalhando aqui — com o polegar, Dante aponta em direção a escola de direção.

— É, eu percebi - a garota joga o cigarro no chão, apagando a chama com a sola do sapato. — A gente se vê por aí, José Henrique — Débora dá ênfase ao seu nome, e com seu olho direito, dá uma leve piscada, e adentra os portões da auto escola.

Débora cogitou se Júlia já não o conhecia antes, já que a garota que recomendou a escola para que Débora tivesse suas aulas de direção, ou seria tamanha coincidência?

Mas se Júlia achava que estava ajudando Débora de algum jeito, estava completamente enganada, mais tarde, conversaria com a garota por estar interferindo dessa forma em sua vida, pagando de falso cupido.

☼☼☼

Croqui- Desenho com traços simples, de modo que mostre o essencial do modelo, sem grandes necessidades de detalhes. Pode ser utilizado em diversas áreas, da arquitetura a moda.

Antropologia cultural - É uma matéria destinada a entender as dinâmicas socioculturais, protocolos de ação e expressões de  signos de poder e beleza.