Em frente ao espelho, Alice ajeita seus cabelos com um pente garfo a fim de deixá-los volumosos, da maneira que sempre preferiu.
Querendo dar uma inovada no visual, saindo um pouco da mesmice, Alice foi até o guarda-roupas de sua irmã para pegar uma peça de roupa emprestada, sabia que Sara poderia surtar, porém a mais velha, também fazia o mesmo, nada mais justo que emprestar uma de suas roupas também.
Apesar de ter o corpo um pouco mais magro e ser mais alta que sua irmã, o vestido dourado lhe caiu bem, deixando boa parte de suas costas à mostra, o vestido delineava bem o seu corpo, sem que ficasse muito justo.
Alice procurava por algum batom, era a última coisa que faltava para enfim estar pronta.
— Não imaginava que o vestido ficaria melhor em você do que em mim — ao passar em frente ao quarto de Alice, Sara se depara com sua irmã se arrumando, e não perde a oportunidade de fazer algum comentário — Enfim decidiu sair do confinamento?
— Por incrível que pareça, sim. Estou mesmo precisando me enturmar.
— Quem diria! Você saindo de casa à noite, minha irmã tá sendo corrompida — Sara brinca com a situação. — Aproveite bastante, vai acabar perdendo sua juventude se sua cabecinha só ficar pensando em estudar, estudar e estudar...
— Vamos ver lá na frente quem vai perder o que.
— Sei que você vai me sustentar, confio em você!
Os lábios de Alice se curvam para baixo e ela maneia a cabeça para os lados, mas logo sua cara fechada toma um espaço para um sorriso e em sequência, uma risada.
— Agora preciso ir — Alice ajeita o vestido mais uma vez e segura a alça de sua bolsa. —Tchauzinho!
As irmãs se abraçam como despedida. Apesar das implicâncias de Sara, Alice a adorava.
Alice não era muito fã de sair a noite para boates ou bares, não se sentia confortável em estar nesses ambientes, apenas naquela noite ela havia se permitido ir em tal lugar, só esperava não se arrepender depois, por ter trocado sua cama quentinha, por um ambiente agitado.
Ao chegar no ponto de encontro, Alice já se depara com Débora, Lucas e Júlia em frente a boate, conversando entre si e, provavelmente, aguardando a chegada do restante dos amigos.
Alice se aproxima, chamando a atenção do trio que logo nota sua presença.
— Quem é essa deusa grega que acabou de chegar? E por que veio falar com meros mortais? — Júlia elogia Alice, que fica nervosa e sem graça diante dos elogios da garota.
— Obrigada! — Alice abaixa a cabeça, tentando desviar o olhar de quem estivesse por perto.
—Júlia e seus elogios exagerados — Débora dá risada e se aproxima de Alice, na tentativa de deixá-la confortável.
— Pode nem elogiar mais, que horror! — Júlia finge estar ofendida.
— A Júlia tem razão. Alice está linda! — dessa vez Lucas a elogia, Alice jurava que dessa vez seu rosto estava vermelho, pois o sentiu queimar.
— O Dante disse que está nos esperando lá dentro — Júlia diz, guardando o celular de volta na bolsa, após conferir a mensagem.
— Estamos esperando o que? Vamos entrar — Débora toma a frente, passando pelo segurança que permite sua entrada na boate.
A música estava calma e gradativamente ia acelerando o ritmo, as pessoas presentes se movimentavam acompanhando a melodia principal da música. O DJ estava animado e isso engaja a quem estava presente, ao reconhecer a música, Débora se junta a dança, sentindo como se cada batida da música impulsionasse a musculatura do meu coração, o fazendo bater no mesmo ritmo.
— Vamos dançar, Alice? — Júlia a convida, porém, a garota maneia a cabeça, se recusando.
Alice não estava se sentindo à vontade para se juntar às meninas para dançar, precisava ao menos tomar uma dose de álcool para se soltar um pouco. Sua cabeça gira à procura do bar, mas a multidão atrapalhava a sua visão. Ela sente um toque quente, que arrepia por um instante os pelos de seu corpo, Lucas segurava de forma suave seu braço, chamando sua atenção.
—Quer beber alguma coisa antes? Depois encontramos as meninas — o rapaz sugere, Alice acena com a cabeça, acompanhando Lucas em meio às pessoas.
Chegando ao bar, Lucas chama a atenção do barman, que tenta decifrar seu pedido, que quase se torna inaudível pela música alta. Logo mais, Lucas se vira para Alice, e lhe diz palavras incompreensíveis, a garota reclama dizendo que não escutou. O rapaz então se aproxima.
— O que vai querer beber?
Alice pensa por um momento, olha para a lista das bebidas disponíveis que se encontrava no balcão, por impulso, ela acaba escolhendo a primeira da lista.
— Vou querer Rum.
Lucas exibe a fileira de dentes perfeitamente alinhados e brancos.
— Vai com calma — dá um aviso, levemente divertido.
Alice se vira contra o balcão, observando as pessoas se divertindo, dançando e até mesmo flertando umas com as outras. Se perguntou por um momento, o que tinha na cabeça para aceitar ter ido naquele lugar, o calor do ambiente, pessoas cambaleando, algumas até mesmo passando dos limites, pessoas suadas se esbarrando; aquilo tudo não combinava nenhum um pouco com os ambientes que Alice costumava frequentar.
— Queria te agradecer por ter me ajudado naquele dia — Lucas tira Alice de seus devaneios, a garota o encara.
— Não precisa agradecer, faria aquilo com qualquer um.
— Mesmo assim... Queria me desculpar por ter agido como um estúpido com você. — Lucas esfrega a têmpora e volta a apoiar a mão no balcão.
— Tá desculpado! — Alice lhe oferece um sorriso sincero. Lucas ergue a taça para Alice, que aceita de bom grado. O rapaz se vira na mesma direção que a garota, observando as pessoas à sua frente.
— Fica por minha conta, como um pedido sincero de desculpa.
Abruptamente Alice afasta a taça de sua boca, deixando cair algumas gotas da bebida em seu vestido, ela tenta se limpar e logo protesta:
— De maneira alguma! Eu mesma pago, não se preocupe.
— Você que não deveria se preocupar, e se continuar insistindo terei que usar meu lado apelativo.
Alice umedece os lábios, em seguida, dá um sorriso. Decide então aceitar, mas aquela seria a primeira e última bebida que iria tomar naquela noite.
— E você... Está melhor desde aquele dia? — indaga a garota. Seus dedos percorrem delicadamente a borda da taça.
— Estou vivendo um dia de cada vez.
— Vai ficar tudo bem, acredite — era o máximo que Alice conseguiu dizer. Sabia muito bem que palavras não seriam suficientes para consolar o rapaz.
— Só achei engraçado alguém aparecer naquele dia com um kit de primeiros socorros — Lucas volta a sorrir.
— Quando se é uma pessoa desastrada, é bom sempre andar prevenido — Alice volta a tomar o rum, que desce tão quente e amargo como antes.
— Vamos descobrir quem salva quem na próxima.
— Espero que nenhum dos dois precisem ser salvos — Alice diz convicta, queria estar o mais longe possível de confusão.
— Você deve odiar estar em lugares assim, não é?
— Como tem tanta certeza?
— Você parece estar desconfortável, conheço de longe quem só vem pela companhia, mas não faça nada para simplesmente agradar os outros quando isso não irá te deixar bem.
Débora e Júlia se juntam a Lucas e Alice, as duas estavam ofegantes e cansadas, porém estavam animadas, a noite estava apenas começando.
— Desculpe Alice, mas a gente não poderia perder a coreografia de Mi Gente de maneira alguma. — Débora arqueja.
Júlia toma a taça da mão de Lucas virando a bebida de uma só vez, tentando diminuir um pouco de sua sede. Lucas a olha de cima a baixo, indignado por ela ter roubado sua bebida.
— Vamos lá no segundo andar, vou te apresentar a Sacareno de ponta a ponta — Júlia chama por Alice, e devolve a taça vazia para Lucas.
—Quantos andares tem esse lugar? — Alice questiona.
— Ao todo tem quatro, o primeiro é a pista de dança, o segundo é a sala de jogos e o terceiro é o restaurante junto com karaokê, e o último é o terraço — Júlia responde.
— Por isso que a Sacareno é a melhor do bairro, você vai adorar aqui — Débora afirma, estava empolgada para apresentar um pedacinho do lugar que ela mais gostava de visitar.
O segundo andar estava um pouco mais luminoso que o andar de baixo. O lugar tinha duas mesas de pebolim, alguns fliperamas em volta do ambiente e duas mesas de bilhar. Devido a música estar um pouco mais baixa, a gritaria incessante se fazia presente no ambiente.
Em volta da mesa de bilhar, estavam vários rapazes e moças observando atentamente a partida de sinuca.
Um dos rapazes que estavam jogando se concentrava em encaçapar a última bola restante do jogo, ele posiciona uma das mãos na mesa e apoia o taco entre os dedos, abaixando o tronco e fixando o olhar na bola. O taco se eleva e se afasta algumas vezes antes do impulso final. Com um movimento certeiro do taco no centro da bola, ela é encaçapada, encerrando a partida.
— Quem será o próximo? — comemorativo, o rapaz chama seu próximo adversário.
Débora reconhece aquele tom de voz, era Dante que mantinha sua postura confiante em meio aquelas pessoas admiradas com sua maestria na sinuca.
"Ele só quer chamar atenção" A jovem dá as costas, levando aquilo em pensamento.
— Olha quem está ali... — Júlia nota também a presença do rapaz. — Vou avisar ele que já chegamos.
Débora dá um suspiro longo, acreditava que aquela noite seria muito, muito longa.
— Quem é o novo amigo de Júlia? — Lucas indaga.
— Não faço a mínima ideia — Débora desmente, cruzando os braços na altura do peito.
—Olá Débora! — Dante a cumprimenta com um sorriso estampado no rosto. Débora se vira em direção a Dante, o observando de cima a baixo, e segurando a forte vontade de revirar os olhos.
Dessa vez por estar de camiseta, as tatuagens que fechavam os braços de Dante estavam ainda mais aparentes. Ele usava uma camiseta verde musgo lisa, bermuda preta e um Jordan branco.
— Gente, esse daqui é o Dante - Júlia toca nas costas largas do rapaz, dando um leve impulso para ele se aproximar dos demais. — E Dante, essa é Alice e o Lucas.
— E aí pessoal! — Dante os cumprimenta com um breve aceno de mão. — Algum de vocês sabe jogar sinuca? — inclinando o taco, Dante os convida para jogar.
— Vamos ver se você é tão bom quanto aparenta ser — Lucas o desafia, dando alguns passos para se aproximar, agarrando o taco e seguindo Dante até a mesa de bilhar. As meninas apenas observam os rapazes se distanciarem.
— Já que os meninos se foram, não vamos ficar aqui de bobeira vendo eles se divertirem. — Júlia faz um sinal com a mão, chamando pelas amigas, rumo ao bar, em busca de bebidas.
Alice prometera que apenas tomaria uma taça de rum durante a noite inteira, mas sua promessa foi quebrada, pois aceitou beber vodka junto com Júlia e Débora. Aos poucos sentia seu corpo entorpecer, e seus sentidos ficarem um tanto confusos. Quando se deu conta, estava junto a Júlia, dançando na pista.
— Onde está Débora? — Alice pergunta, quando percebe que a morena não estava mais junto a elas.
— Você tá tão mal assim? — Júlia joga a cabeça para trás dando risada. — Não viu que ela está de pegação com o carinha ali? — a garota aponta em direção a Débora, que dançando abraçada a um rapaz.
— Pra mim já chega por hoje — Alice enterra os dedos entre seus cachos.
— Nada disso! Ainda nem fomos no karaokê — Júlia protesta.
— Eu morro de vergonha.
— Tá todo mundo muito bêbado para lembrar disso amanhã, vamos!
Alice aceita o convite de Júlia, talvez se permitir fazer algo que gostava iria valer a pena naquela noite.
☼☼☼
O relógio marcava 3:40 da manhã.
O efeito inebriante da bebida já havia passado e Alice se encontrava à procura de algum conhecido.
Seu sexto sentido dizia que não era pra sair de casa, e agora estava em uma agonia, desejando urgentemente sair daquele lugar sufocante e quente.
Débora nem sequer dava sinal de vida, mesmo com Alice lhe mandando diversas mensagens, a garota não atendia. E Júlia então, não fazia a mínima ideia de onde se encontrava. Alice decide então, apenas avisar que estava indo para casa, que pegaria um Uber para chegar segura.
Alice se espreme em meio a multidão, que naquele horário da madrugada estavam mais exasperadas que antes. E ao atravessar a porta de saída e sentir o vento gélido sente um alívio rondar seu corpo. Nunca pensou estar precisando de ar fresco como naquele momento.
A garota pega seu celular na bolsa tentando ver se o Uber estava próximo, mas a corrida havia sido cancelada mais uma vez.
— Que droga! — Alice só não atira seu celular para longe, pois não teria como comprar outro.
A rua em frente a boate estava bem movimentada, apesar de ser tarde da noite. Isso deixava Alice um pouco menos apreensiva em se encontrar sozinha naquele lugar.
Seus olhos percorrem pela rua aguardando mais uma vez pelo motorista, nisso, seus olhos pousam em Lucas, que estava sentado na calçada como um morador de rua. Alice, um pouco confusa, se aproxima do rapaz para ter certeza do que estava vendo.
— Lucas? — a garota chama pelo rapaz que estava de cabeça baixa, Alice se abaixa e passa a mão no rosto do jovem, asfaltando seus cabelos dos olhos.
— Selena? — Lucas levanta seu olhar, ao ver que a garota não se tratava de sua ex, ele volta a abaixar a cabeça.
— O que você está fazendo aqui fora? Devem estar te procurando — Alice tenta segurar o braço de Lucas, que o puxa abruptamente.
— Me deixe em paz!
Como uma criança desconsolada, Lucas começa a chorar, Alice fica sem saber o que fazer, se deveria procurar por Débora, se ficava ali com ele, ou se colocava Lucas em um Uber para levá-lo para casa, mas ela nem ao menos sabia onde ele morava.
Alice se levanta, decidindo deixar Lucas do jeito que estava, ele não era problema dela.
Mas a garota sabia que não conseguiria dormir, iria ficar preocupada, com a consciência pesada se não o ajudasse.
Mais uma vez Alice se aproxima de Lucas, ela se abaixa para ficar da sua altura e segura o rosto do rapaz com suas mãos para fazê-lo olhar para ela.
— Lucas, você não tá bem. Eu não vou te largar aqui até encontrar a Débora e te deixar seguro em casa.
O rapaz novamente a observa, ele dá um sorriso triste, e volta a olhar para o nada.
—É inacreditável como tudo na sua vida está indo tão bem e pode desmoronar em questão de segundos — desabafa.
Alice fica sem saber o que dizer, sabia que o rapaz se referia a Selena, o real motivo de fazê-lo estar devastado daquela forma.
— Ela era tudo pra mim! Eu pretendia pedi-la em casamento nesta semana... Fico me perguntando o que eu fiz de errado? E se eu tivesse agido de forma diferente? Ela ainda estaria comigo até hoje?
— Não... — Alice olha para o chão, ela nunca havia passado por algo parecido, mas sabia perfeitamente bem a sensação do término de um relacionamento. — Nunca foi sua culpa. A traição diz mais sobre seu parceiro do que de você.
Lucas enxuga suas lágrimas com o dorso de sua mão, logo após dar uma fungada.
— Vamos comigo, vou procurar Débora para irmos pra casa, tudo bem? — Alice passa seus dedos pelos cabelos de Lucas, sentindo o toque macio de suas mechas.
O rapaz balança a cabeça e tenta se levantar, mas Alice sabe que ele não conseguiria sozinho. Para ter mais equilíbrio, a cacheada retira seus saltos, e com o outro braço ajuda Lucas a se reerguer, ele passa o braço em volta de seu ombro, e Alice tenta manter os dois em pé, o cheiro de bebida que exalava de Lucas incomoda a garota, mas ela sabia que aquilo era o de menos comparado a situação.
☼☼☼
Débora cambaleava ao sair do bar com outra taça de coquetel em suas mãos. Apesar de ter bebido muito até aquele momento, ela sabia que aguentaria mais algumas doses antes de sair dos limites de vez. Não estava se importando com mais nada, estava certa que queria se divertir até o último segundo.
Quem diria que a última pessoa a querer estar lá, queria ser a última a sair da boate.
Débora eleva a taça, bebericando a bebida mais uma vez.
Seu olhar dá de encontro com um belo rapaz que trocava olhares com ela, Débora sabia que não precisava fazer muito para conseguir o que queria. Ela o observa mais uma vez, e um sorriso se forma em seu rosto, a garota desviou o olhar e passa os dedos entre seus cabelos, os jogando para trás.
O rapaz decide tomar uma atitude, ele se aproxima da jovem moça de olhar penetrante.
— Com licença — Débora volta a olhar para o rapaz, dessa vez o analisando mais de perto. —Você está acompanhada?
— Só de algumas amigas minhas — Débora brinca com a bebida, girando o líquido cintilante na taça.
— Quer dançar comigo? —o rapaz convida, esticando uma de suas mãos.
Débora concorda com a cabeça, e segura na mão do rapaz, o acompanhando até a pista de dança. O rapaz segura na cintura de Débora, se deixando levar pela mulher.
Débora sorri diante o belo rapaz a sua frente, só estava esperando ele tomar a iniciativa de beijá-la, Débora desliza a ponta de seus dedos na nuca do rapaz e continua a dançar, ao virar de costas, ela esbarra em alguém, deixando com que a taça escapasse de sua mão, espalhando a bebida e pedaços de acrílico pelo chão.
Dante observa seu tênis, que antes branco, agora estava fortemente tingido de vermelho.
Débora dá um sorriso amarelado, completamente sem graça com o que tinha acontecido.
— Foi mal — a garota se desculpa, estava a noite inteira evitando o contato de Dante, e naquele momento, o pior havia acontecido.
— Merda! — Dante chacoalha seu pé, tentando tirar o excesso do líquido. Ele se vira para a mulher, a qual estava trocando beijos, lhe pedindo licença para se retirar e indo até o banheiro.
— Só um momento! — Débora pede para o rapaz que estava a acompanhando, indo atrás de Dante.
Por não alcançar o rapaz, Débora tenta esperá-lo próximo a porta do banheiro.
Na tentativa falha de limpar o tênis, Dante resolve sair do banheiro, se deparando com Débora encostada na parede próxima a porta.
— Valeu por estragar meu tênis, empata foda.
— Desculpe interromper a sua troca de fluídos corporais com aquela moça, tá legal? Só vim te pedir desculpas, posso comprar outro tênis pra você.
Dante ri, Débora fica sem entender nada.
—Não precisa, lavou tá novo!
— Eu faço questão...
— Já disse que eu não quero!
— Não precisa ser tão grosso!
— Eu tentei conversar contigo quando chegamos, mas a única coisa que você fez foi revirar os olhos e ficar me evitando, depois o grosso sou eu?!
— Você não deve ter percebido o quão inconveniente estava sendo, eu não tô afim de fazer amizade contigo, ou qualquer outra coisa além que você esteja imaginando.
Dante estala a língua, por um momento ele pensou em simplesmente ir embora, ignorando Débora, mas talvez ela precisasse ouvir algumas verdades.
— Diminua um pouco o seu ego, patricinha fresca e mimada está muito longe de fazer o meu tipo.
Débora ergue ambas as sobrancelhas, se sentindo ofendida com as palavras do rapaz. A garota tinha plena certeza que passava bem distante dos estereótipos que Dante havia colocado nela.
Débora morde o interior de suas bochechas e inspira fundo, o que ela menos queria, era arrumar confusão naquela noite.
A morena dá as costas pisando firme no chão para se afastar de Dante, mas infelizmente, ao pisar em falso, seu salto quebra, a fazendo desequilibrar e quase cair.
—O karma veio mais cedo do que eu imaginava — Dante se aproxima da garota, colocando as mãos no bolso e observando a morena tentar ajeitar seu salto quebrado.
—Vai se foder!
—Eu preferia estar fodendo. Mas você resolveu estragar meus planos de hoje a noite — Dante levanta os ombros e dá um sorriso debochado.
—Você é completamente desnecessário!
Dante resolve deixar um pouco da discussão de lado para saber se Débora estava bem.
— Você se machucou?
— Agora quer mostrar que está preocupado? Não quero sua ajuda.
— Tudo bem — Dante vira as costas, se afastando da jovem.
Débora retira os saltos, seus olhos percorrem em busca de Júlia, precisava ir para casa, aquela noite já havia sido constrangedora o suficiente para ela.