Download Chereads APP
Chereads App StoreGoogle Play
Chereads

O inferno de Ganth

🇧🇷AcaoComics
28
chs / week
The average realized release rate over the past 30 days is 28 chs / week.
--
NOT RATINGS
920
Views
Synopsis
Ganth é um homem centrado, que segue uma vida monotóna. até que uma nova assistente começa a mudar seu ritmo cotidiano.
VIEW MORE

Chapter 1 - O Ritmo de Ganth

Ganth acordou com a luz suave da manhã filtrando pelas cortinas pesadas de sua casa. O relógio marcava 6:30, e como todos os dias, ele se levantou da cama com a precisão de um autômato. O corpo ainda pesava um pouco da noite mal dormida, mas o compromisso o despertava com a urgência de uma rotina que já não parecia trazer mais prazer. Os passos ecoaram pelo piso frio da casa vazia enquanto ele seguia para a cozinha. Como se já soubesse exatamente o que fazer, ele pegou o pacote de café moído e o despejou na cafeteira. A água quente, quando se uniu ao pó, exalou um aroma forte que invadiu a cozinha. Ele observou o processo sem emoção, como se fosse mais um ato mecânico de sua jornada diária.

O café estava pronto. Ele pegou sua caneca, uma simples porcelana preta com uma linha dourada no topo, e a segurou com as duas mãos, sentindo a temperatura quente, mas sem se deixar envolver. O ritual matinal de Ganth era preciso, mas vazio. Ele havia se acostumado a isso, a esse ciclo sem fim de pequenas tarefas, pequenos gestos, pequenos pensamentos.

Depois de tomar o café, vestiu sua camisa de manga longa preta e jogou um paletó sobre os ombros. Passou a mão pelo cabelo, ajeitou-o com precisão e, como se fizesse parte de um grande espetáculo, olhou para o espelho, conferindo a si mesmo pela última vez. Uma última olhada. Ele saiu para o carro. O Maverick clássico de cor preta estava estacionado no alpendre, longe da vista de qualquer vizinho. A casa, isolada e cercada por árvores altas, parecia um refúgio do mundo, mas também uma prisão silenciosa.

Ganth entrou no carro e ligou o motor. O ronco do motor ecoou pela estrada vazia enquanto ele seguia em direção ao trabalho. No rádio, uma música clássica suave preenchia o espaço, e ele se perdeu no ritmo da melodia enquanto dirigia. A cada minuto, as ruas pareciam mais e mais familiares. O caminho era sempre o mesmo, e a cidade que se estendia à sua frente não oferecia surpresas. Nada parecia mudar. No trabalho, ele sempre era o mesmo. No escritório, era um dos pilares da empresa, alguém que todos viam como promissor. Presidente de Marketing. Sua carreira estava em ascensão, sua imagem impecável.

No centro da empresa, Ganth era reverenciado. Em reuniões, ele falava com clareza e confiança, como um líder que todos seguiam. As pessoas sorriam para ele, elogiavam suas ideias, seus projetos. Ele cumprimentava a todos com um sorriso suave, o tipo de sorriso que não era exagerado, mas que transmitia a ideia de que ele estava ali, presente, disposto a ajudar. Quando se sentava diante do computador, sua atenção estava voltada para os números e gráficos que surgiam na tela. A estrutura estava sempre no lugar, a vida estava sempre dentro de uma caixa bem organizada.

Ao final do expediente, ele ia até o caixa da padaria local, cumprimentava o balconista e comprava o mesmo café descafeinado de sempre, acompanhado de três pães de queijo. Como de costume, ele entregava o pagamento com a mesma expressão amigável e fazia o mesmo gesto de aceno antes de sair. Lá fora, o mundo parecia tão rotineiro quanto os passos de sua vida. E ao entrar novamente no carro, ele respirava profundamente, mas seu semblante mudava imediatamente. O sorriso, que era sempre perfeito, se desfazia, e um semblante sério e cansado tomava conta de seu rosto. Ele ligava o rádio novamente, mas dessa vez, a música era mais melancólica, mais introspectiva. O som de uma peça clássica mais lenta preenchia o carro enquanto ele dirigia pelas ruas conhecidas. Sua casa, o refúgio, era o destino.

Chegando em casa, ele preparava uma omelete simples, os ovos batidos com uma pitada de sal e queijo. A mesa estava vazia, o ambiente silencioso, exceto pelo som do violino que ecoava pela casa. Ganth comia sozinho, como sempre. O som da música clássica parecia acompanhar seu ritmo lento de vida. Depois de terminar, ele ia para o banho. A água quente caía sobre seu corpo, e ele a deixava escorrer sem pressa. Ao terminar, vestiu seu pijama, apagou as luzes e se deitou na cama. O som do violino continuava a tocar suavemente enquanto ele fechava os olhos.

No dia seguinte, a rotina se repetiria.

A mesma cafeteira, a mesma camisa preta, o mesmo carro, o mesmo escritório, o mesmo café. Nada mudava. A vida de Ganth era um loop, uma espiral sem fim. E por mais que ele quisesse acreditar que algo poderia ser diferente, algo dentro dele dizia que nada jamais mudaria.

Mas naquele dia, algo estava prestes a mudar.

Ao sair do trabalho, como de costume, com seu café e seus pães de queijo, Ganth encontrou alguém que não fazia parte de sua rotina. Ele estava distraído, olhando para o celular, quando, de repente, esbarrou em alguém. O café escorreu pela sua camisa, e os pães de queijo caíram no chão. Ele olhou para a moça que, com os olhos arregalados, tentava desesperadamente limpar o caos que havia causado.

"Desculpe, eu não vi...", ela começou a dizer, nervosa. "Eu... Sinto muito, posso comprar outro café e os pães?"

Ganth a olhou com calma, percebendo o nervosismo dela, e deu um leve sorriso. "Não se preocupe, não é nada. Eu peço outro café e pão de queijo."

Ela parecia aliviada, mas ainda visivelmente preocupada. "Na verdade, não sou cliente aqui, sou a nova funcionária da empresa... Eu... Ah, não queria causar esse desconforto."

Ele a olhou nos olhos. Algo naquele olhar parecia diferente. Ela estava ali, à sua frente, tentando corrigir o erro, enquanto ele sentia algo inexplicável passar por ele. Ela lhe entregou o café e, ao fazer isso, tocou gentilmente sua mão.

Por um momento, Ganth hesitou. Algo em sua rotina estava quebrando. Ele entrou no carro, mas dessa vez, não ligou a música melancólica de sempre. Em vez disso, colocou algo mais animado, mais leve. A melodia preenchia o carro de uma forma nova, e, pela primeira vez em muito tempo, Ganth não sentia o peso da vida tão forte.

Ele dirigiu para casa, mas não era mais o mesmo. Algo havia mudado. Algo dentro dele se mexera. E ele ainda não sabia, mas aquilo seria apenas o começo.