O sol ainda estava fraco, mas já anunciava o começo de mais um dia. Ganth acordou ligeiramente atrasado, como se o relógio tivesse se conspirado contra ele. Não havia o mesmo ritmo tranquilo da manhã anterior; agora, ele tinha pressa. Era quase uma obrigação de manter a rotina imperturbável, mas hoje a energia parecia diferente. Os passos apressados pela casa de luxo, o cheiro do café ainda no ar e a agitação silenciosa das árvores ao redor deram-lhe a sensação de que algo estava prestes a mudar.
Ele se apressou ao vestir-se e foi direto para a cozinha. O movimento de sempre: o café era feito com precisão, sem desperdício de tempo, como um ritual que ele havia adotado ao longo dos anos. Mas, ao contrário do habitual, desta vez o aroma do café parecia mais forte, mais convidativo. Ele olhou para o carro estacionado na garagem, o clássico Maverick preto que sempre foi a extensão de sua personalidade sóbria e refinada. Mas hoje, ao entrar nele, não se sentiu apenas como o presidente de marketing, mas como alguém prestes a começar um novo capítulo.
No caminho para o trabalho, ele se observou no retrovisor mais do que o normal, talvez na tentativa de ver algo que antes não percebia. Seu semblante estava mais animado, mais aberto. Ele sorriu para si mesmo, sentindo algo que há muito tempo não sentia: a expectativa do novo. E com isso, ele acelerou um pouco mais, a música suave preenchendo o carro, enquanto ele avançava para a rotina que o aguardava.
Ao chegar na empresa, o ambiente estava o mesmo de sempre. Mas um toque novo parecia estar no ar. Dentro da empresa, as luzes brilhavam mais, e o som das conversas parecia menos distante. O presidente da empresa, com seu sorriso largo e sua postura imponente, anunciou durante a reunião que, após quinze anos de serviço exemplar, Ganth assumiria o posto de novo presidente. As palavras pareciam flutuar no ar, e todos os olhares estavam voltados para ele. No entanto, algo era diferente. A nova secretária, uma jovem mulher de olhar suave e postura tranquila, foi apresentada como sua assistente. Era a mesma mulher com quem ele havia se esbarrado no dia anterior, e seus olhares se cruzaram novamente, mas desta vez com mais intensidade.
Ganth sentiu um leve arrepio ao vê-la. Ela parecia ainda mais cativante perto dele, e, por mais que fosse apenas um gesto simples, a maneira como ela lhe entregou um documento fez o momento parecer mais íntimo. Ele tentou se concentrar no que estava acontecendo, mas a presença dela parecia ocupar todos os seus pensamentos, como se ela fosse um enigma pronto para ser desvendado. Ela sorriu discretamente, e ele sentiu a curiosidade crescer dentro de si.
O dia passou rápido, com a nova assistente organizando sua agenda, facilitando tarefas que ele, até então, fazia com esforço. Ele a observou várias vezes, notando sua maneira gentil de trabalhar e sua habilidade para lidar com tudo. Ela parecia realmente dedicada, mas ao mesmo tempo, sua proximidade o fazia sentir algo mais. Algo novo, algo inesperado.
No fim do expediente, quando ele estava saindo para o carro, ela se aproximou com um sorriso tímido, segurando uma sacola. "Você esqueceu seus pães e café", disse ela, entregando-lhe a sacola com um gesto suave.
Ganth sorriu e agradeceu, sentindo uma estranha leveza dentro de si. O momento parecia simples, mas algo ali tinha um toque diferente. Ela olhou para ele com um brilho nos olhos e perguntou com naturalidade: "Você é casado ou…?"
Ele olhou para a mão esquerda, mostrando que não usava anel. "Não", respondeu ele com sinceridade, sem saber exatamente o que aquilo significava.
Ela sorriu, mas agora com um toque mais confiante, e a conversa continuou.
"Eu estava pensando", ela disse com uma leve hesitação, "se você gostaria de sair comigo neste fim de semana. Uma nova cafeteria abriu na cidade. Podemos ir amanhã no almoço."
Ele sentiu uma vontade quase inesperada de aceitar. Algo em sua rotina estava quebrando, como se ele estivesse se permitindo, finalmente, algo diferente. "Acho que seria ótimo", respondeu ele, com um sorriso genuíno. "Amanhã no almoço, então."
Eles se despediram com um aceno, e Ganth percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, a sensação de expectativa e curiosidade estava preenchendo seu peito. Ele entrou no carro, sentindo-se ligeiramente diferente. Ao invés de colocar a música clássica melancólica de sempre, optou por uma peça mais animada, com melodias vibrantes que pareciam refletir seu estado de espírito. Ele dirigiu até sua casa, mas, ao invés de chegar em casa e seguir seu ritual solitário, uma sensação de leveza o acompanhou.