Agora que Aurora mencionou, a boutique de fato estava um tanto silenciosa novamente, mesmo que a Senhora Cecília Bennett tivesse dito que seus serviços estavam agendados.
As duas mulheres saíram do provador e notaram que a loja de vestidos estava suspeitosamente vazia, enquanto a Senhora Cecília Bennett estava inquieta atrás do balcão, seu rosto coberto por uma mistura de nervosismo com medo evidente.
Aurora colocou o vestido escolhido por Rosalie no balcão e alcançou o dinheiro de sua bolsa de couro preta. No entanto, Cecília balançou a cabeça rapidamente e gesticulou para que a empregada guardasse o dinheiro.
"Por favor, não há necessidade. O vestido já está pago."
Houve outro momento de silêncio constrangedor que se seguiu a esse comentário. Rosalie decidiu quebrá-lo primeiro.
"Peço perdão? Como assim já está pago? Por quem?"
A proprietária da loja empacotou o vestido vermelho em uma grande caixa de cartão, envolvendo-a cuidadosamente com uma longa e fina fita de seda azul, em seguida lançou um olhar rápido ao redor, como se temesse algo ou, talvez, alguém, e cuidadosamente colocou outra caixa de cartão em cima da primeira.
Ignorando a primeira pergunta de Rosalie, ela finalmente continuou,
"E a pessoa que pagou pelo seu vestido também deixou isto para você como um presente."
A Senhora Ashter estendeu instintivamente a mão para abrir a caixa, mas hesitou. Quem lhe deixaria um presente? E se fosse uma brincadeira? Memórias inundaram sua mente de quando ela tinha dez anos, recebendo um brinquedo de Jack-in-the-box que a assustou com um feio palhaço vermelho saindo assim que ela o tocou. A lembrança sozinha fez com que ela recuasse a mão.
Como se tivesse lido os pensamentos da Senhora Ashter, a Senhora Cecília colocou sua mão calejada em cima da caixa de cartão e perguntou, embora relutante e cautelosa,
"Gostaria que eu a abrisse para você?"
Rosalie não conseguiu conter um aceno de cabeça surpreendentemente entusiasmado, afinal, ela não estava acostumada a receber presentes, e sua curiosidade continuava crescendo. As mãos da costureira procederam a desatar a longa fita de renda branca que adornava a caixa de cartão rosa, um símbolo conhecido de um item requintado de sua loja. Com um movimento rápido, a tampa da caixa foi levantada, revelando uma beleza de tirar o fôlego que nem Rosalie nem Aurora haviam encontrado antes em toda a sua vida.
"Senhorita Rosalie, isto é..."
Aurora cautelosamente espiou dentro da caixa, mas rapidamente recuou o corpo inteiro, como se receasse que até mesmo sua respiração pudesse arruinar o item valioso dentro.
Sua reação era compreensível. Afinal, a peça dada a Rosalie por um visitante misterioso da boutique da Senhora Cecília não era apenas a mais cara, mas também indiscutivelmente o vestido mais deslumbrante de toda a loja. E se ele detinha essa distinção dentro da loja, sem dúvida era o vestido mais bonito de toda a Capital.
A costureira, visivelmente ainda perplexa e frustrada com a situação que se desenrolava, soltou um suspiro fundo e irritado e ajustou seus óculos retangulares finos em seu nariz elegantemente esculpido.
"O vestido pode estar um pouco folgado em você, Senhorita Rosalie, mas eu acho que... Posso ajustá-lo para o seu corpo."
Rosalie foi pega de surpresa pela rápida mudança de atitude de Cecília. Enquanto a ideia de aceitar sua ajuda para ajustar o vestido era tentadora, Rosalie optou por deixar a mulher experimentar um pouco de seu próprio remédio por uma mudança.
"Não há necessidade. Minha empregada fará um trabalho tão bom quanto o seu. Obrigada de qualquer forma."
Sem intenção de esperar pela reação da costureira, a Senhora Ashter fechou descuidadamente a caixa de cartão, nem mesmo se dando ao trabalho de envolvê-la com a fita de renda, ofereceu a Cecília um sorriso obviamente falso e forçado, e gesticulou para Aurora pegar seus vestidos e segui-la para fora da loja.
Finalmente, mesmo que fosse apenas por um segundo, Rosalie se sentiu incrivelmente bem consigo mesma.
***
"Quem você acha que poderia ser, Minha Senhora? Quem sabe, Lord Wiliam Amado? Afinal de contas, ele é seu futuro noivo!"
A empregada continuou a tagarelar sem parar, seus pensamentos fluindo livremente enquanto caminhava atrás de Rosalie, que, perdida em sua própria contemplação, não prestou atenção ao seu redor.
'Embora eu entenda que minhas ações estão desviando do enredo original do romance, mesmo assim... Sempre foi Raphael quem comprou presentes para Rosalie, e mesmo assim, eles nunca foram tão grandiosos devido às suas finanças limitadas. Será que realmente foi o Lord Amado, então?'
O turbilhão de pensamentos e emoções emaranhados envolveu a mente da garota como um nevoeiro denso. Ela estava tão profundamente absorvida em suas contemplações que não percebeu que havia saído da calçada, colocando-se diretamente no caminho de uma carruagem que se aproximava.
"Senhorita Rosalie!"
O grito alto de Aurora chegou aos ouvidos de Rosalie tarde demais. Ela parou quando viu os cavalos galopando rapidamente em sua direção, incapaz de mover um único músculo, seus olhos arregalados e cheios de terror.
E justo quando ela pensou que sua morte era inevitável, algo duro e pesado envolveu sua cintura delgada e puxou-a para fora do caminho da carruagem com um único movimento rápido. Ainda chocada, Rosalie só podia ouvir seu próprio coração enlouquecido batendo em seus ouvidos, enquanto suas mãos agarravam o braço forte que ainda a segurava pela cintura.
"Nossa Senhora! Minha Senhora, você está bem?"
Ao ouvir os gritos de sua empregada, a Senhora Ashter voltou a si e virou-se rapidamente para identificar a pessoa ou entidade a quem deveria expressar sua gratidão por salvar sua vida.
Atrás dela estava um homem alto e robusto, adornado inteiramente em traje preto. Uma máscara de lona preta escondia a parte inferior de seu rosto, e um capuz preto cobria o resto, protegendo suas feições de olhares curiosos. Seus olhos dourados brilhavam enquanto se fixavam nos dela, exalando uma aura de compostura e tranquilidade. Enquanto isso, seu braço firme e musculoso a segurava cuidadosamente contra seu próprio corpo.
"O- Obrigada. Você salvou minha vida."
Finalmente, Rosalie conseguiu expressar sua gratidão em poucas palavras, o que o homem mascarado enigmático reconheceu com um aceno de cabeça discreto. Largando-a, ele soltou um suspiro profundo, claramente insatisfeito com a quantidade de atenção que havia conseguido atrair pelo seu ato de bondade para com uma dama em perigo, e simplesmente afastou-se, deixando a garota aos cuidados ansiosos de sua empregada.
"Minha Senhora, como você pôde ser tão imprudente?! Meu coração quase saltou do meu peito! Se não fosse por aquele mercenário, nem consigo começar a imaginar o que poderia ter acontecido conosco!"
Aurora continuou a soluçar incontrolavelmente, circulando freneticamente ao redor de sua senhora, certificando-se de que seu corpo estava ileso. Enquanto isso, o olhar de Rosalie permanecia fixo no local onde o homem que havia salvo sua vida acabara de desaparecer.
'Será que mercenários realmente andam por aí salvando vidas assim?'
"Oh, Senhorita Rosalie, temo que eu precise sentar em algum lugar, ou então posso cair morta!"
Aurora colocou uma mão trêmula no peito, seu rosto pálido reluzindo com o suor. De repente, Rosalie percebeu que ela também estava tremendo. Recolhendo as caixas que sua empregada havia deixado cair na pressa, Rosalie firmemente pegou a mão úmida de Aurora e liderou o caminho em direção à pequena padaria situada do outro lado da rua.
"Vamos, Aurora. Quando se trata de estresse, doces são o melhor remédio, então deixe-me ser sua médica por hoje!"