O sol começa a surgir no horizonte, banhando a masmorra com sua luz dourada e despertando a jovem prisioneira que habita aquele lugar sombrio. Ela é uma visão de beleza rara, com longos cabelos vermelhos que reluzem como chamas e olhos castanho-claros, belos e expressivos, embora neste momento eles reflitam tristeza e pesar. Ao sentar na cama, ela toma consciência da dura realidade: ainda está aprisionada, com um dos pés acorrentados. Quando acordou, sua esperança era que tudo aquilo não passasse de um pesadelo terrível, como os que a atormentavam na infância, quando acordava assustada entre gritos, e seus pais vinham em seu socorro. Seu pai a envolvia em um abraço acolhedor, enquanto sua mãe preparava leite quente, dizendo que aquilo a ajudaria a voltar a dormir. Eles se deitavam ao seu lado até que o sono a dominasse. No entanto, a amarga verdade se impõe: seu reino foi invadido e derrotado, e agora ela se tornou prisioneira dentro de seu próprio castelo, aguardando um destino incerto.
A jovem reflete sobre a possibilidade de escapar, mas a lembrança da noite anterior a assombra. Ela havia tentado de todas as formas fugir, porém sem sucesso, e agora, ao olhar para suas mãos, nota as escoriações resultantes dessas tentativas. Ela esforça-se para recordar os eventos que a trouxeram até ali mas esse esforço provoca desconforto em sua cabeça, todavia ela persevera, temendo enlouquecer em sua prisão, como ouvira em histórias de homens que, após longos períodos encarcerados, perderam sua identidade e se tornaram menos que animais. Katherine não deseja esse destino para si.
Ao observar o ambiente ao seu redor, ela vê tigelas quebradas no chão, cercadas por restos de comida e com dificuldade recorda que os alimentos eram destinados a ela, mas, em um ímpeto de rebeldia, ela a havia rejeitado, lançando-a aos seus carcereiros. Mas agora a fome aperta seu estômago e um leve arrependimento a invade, entretanto logo se impõe, decidindo que não dependerá dos bárbaros que a sequestraram. Ainda assim os carcereiros que lhe ofereceram alimento não eram estranhos; eram ex-aliados, traidores que tentavam convencê-la a se submeter ao tirano que usurpou seu reino. Uma onda de raiva a atravessa, e sua garganta arde. Felizmente, os algozes trocaram a garrafa de água que a mesma quebrou durante sua explosão de fúria, pois há outra ao lado de sua cama. Ela a agarra, bebendo avidamente, saciando a sede que a atormentava. Ao terminar, deixa a garrafa vazia sobre a cama e fecha os olhos, buscando clareza em meio ao turbilhão de pensamentos. Em seu íntimo, ela jura que não se submeterá, que não perderá sua identidade, e em um momento de tensão, ergue a voz, proclamando:
- EU SOU KATHERINE DE MONT BLANC, PRINCESA DO REINO DE ROSENHEIN!
Contudo, para sua amarga constatação, nenhuma resposta ecoa pelas paredes frias da masmorra. A solidão a envolve, revelando que é a única prisioneira ali - a única viva, imagina. Ela percebe também que seus carcereiros estão distantes, oferecendo-lhe um breve respiro para acalmar a mente, recordar e planejar. Katherine esforça-se para reviver os acontecimentos que a levaram a essa situação desesperadora. Recorda-se de meses atrás, quando um emissário de um império do qual se ouviam rumores veio até eles em nome de seu imperador , exigindo que seu pai se rendesse e entregasse o reino de Endor. Orgulhoso, o rei recusou, desencadeando um conflito que culminou na queda de seu lar.
A memória de seu pai, o rei Gyldor, que permaneceu firme defendendo o castelo, enquanto ela e seu general, Daryus, lutavam bravamente no campo de batalha, a atormenta. Um nó se forma em sua garganta ao pensar que, em um momento fatídico, soube que o imperador marchara pessoalmente para o castelo de Endor, trazendo consigo um pequeno regimento. Um frio gélido, semelhante à morte, percorre sua espinha ao perceber que ela não sabe o que ocorreu com seu pai. A ideia de que ele possa ter sido morto a consome, enquanto se esforça para recordar como chegou ali. Lembra-se de lutar contra vários inimigos, resistindo bravamente, até que uma dor aguda na parte de trás da cabeça a fez desmaiar. Desde então, a jovem flutuou entre momentos de consciência e inconsciência, até despertar naquela cela.
Katherine se vê sozinha, seu reino derrotado, seus súditos rendidos ou mortos, e seu pai, talvez, também esteja. Mas por que ela ainda permanece viva? Ela nota que suas feridas foram tratadas, a comida no chão é de qualidade surpreendente, e a cama em que repousa é melhor do que a de uma cela comum. Seus captores se esforçaram para proporcionar uma prisão que, se não confortável, é pelo menos menos cruel, e a pergunta que a atormenta é: qual o motivo disso? Ela permanece, tentando forçar a memória, até que uma lembrança surge, de quando esteve semi-consciente, recebendo cuidados. Lembra-se de ouvir uma conversa entre os guardas que a atendiam, um deles questionando por que seu mestre desejava que a tratassem bem e deixassem a cela confortável. O outro respondeu que o próprio imperador viria falar com ela, mas Katherine desmaiou antes de ouvir mais.
Inconformada com a realidade, ela observa as flores deixadas em um vaso de barro e os curativos em seu braço, falsos agrados que em nada atenuam a dor e tristeza que a jovem princesa está sentindo, frustrada e cansada ela deixa-se cair na cama, mas ao se deitar, sua cabeça colide com a pequena garrafa de vidro, causando-lhe dor e ao tocar o objeto, uma ideia surge em sua mente. Ela segura a garrafa e a quebra contra a cama, enquanto sua mente traça planos para o momento em que o usurpador de seu reino vier à sua prisão. Katherine sabe que atacar o imperador ali seria um ato suicida, mas em seu furor e desespero ela aperta o vidro em sua mão, imaginando as atrocidades que aquele monstro poderia infligir a ela. Depois lembra-se de seu pai, e uma chama de coragem arde em seu coração. Com ânimo renovado e firmeza em sua voz, ela diz a si mesma:
- Venha, vilão. Verei sua morte antes de eu mesma cair...
E assim, a determinação de Katherine se fortalece, enquanto ela se prepara para enfrentar o que está por vir.