Katherine permanece em silêncio, observando o homem à sua frente. Em sua mente, ela havia imaginado encontrar um demônio, algo horrendo e selvagem. No entanto, ao encarar o Imperador, percebe que ele é tão humano quanto ela, muito diferente do bárbaro que imaginara. Embora sua aparência fosse brutal e intimidadora, havia uma nobreza em sua postura e andar que a surpreendia. Por um breve instante, Katherine se perde em pensamentos enquanto admira a figura poderosa e até bela diante de si, engolindo os últimos vestígios de líquido em sua garganta à medida que ele se aproxima, ainda em silêncio.
A ação de Lyon a desperta, e ela o observa atentamente, arquitetando um plano. Nota que não há guardas por perto, nem mesmo fora da cela, o que indica que ele deseja manter a conversa em segredo. Contudo, questiona a imprudência da situação, já que, se ele fosse atacado, os guardas não chegariam a tempo para ajudá-lo. Isso a enfurece internamente, pois conclui que ele não a vê como uma ameaça. Lyon avança lentamente, com passos firmes, seus olhos analisando a cela e Katherine, que sente um desconforto sob seu olhar, mas não desvia os próprios olhos daquele homem. Assim, ambos travam uma batalha mental silenciosa, até que ele pára exatamente na marcação de distância que ela havia feito com pedras, um espaço que lhe permitiria atacá-lo se ele se distrair.
Lyon, que mantinha uma das mãos oculta sob seu manto, a revela lentamente, aumentando a apreensão de Katherine. Todavia, ela percebe que ele segura uma maçã, que joga em sua direção. Ela a pega rapidamente, sem mostrar a arma improvisada que esconde e finalmente, o Imperador quebra o silêncio:
— Você não come há dois dias, deve estar faminta. Espero que aceite este fruto.
A voz de Lyon é grave e firme, transmitindo força e autoridade. Ao ouvir suas palavras, Katherine se lembra dos trovões que a assustavam na infância, mas, com um olhar determinado, recorda que não é mais uma criança e que ele não é uma força da natureza. Em um tom ríspido, ela questiona:
— Como posso saber se a fruta não está envenenada?
Lyon ri alto, seu tom sarcástico ecoando na cela:
— Eu imaginava que a grande princesa que emboscou meus exércitos e derrotou mais de 100 homens fosse mais inteligente.
Ele aponta para o jarro de plantas derrubado na mesa, onde ela havia bebido água, e continua:
— Se eu quisesse matá-la, você já estaria na morada dos espíritos. E, se quisesse envenená-la, a água seria a melhor opção.
Katherine se irrita com a risada dele, mas também consigo mesma, por não ter sido mais prudente. Tentando manter a postura, morde a maçã e prossegue com a conversa:
— Por que me poupou? O que deseja de nós e o que aconteceu com meu pai?
Enquanto pergunta, saboreia a maçã, que, devido à sua fome, se torna mais apetitosa do que os mais magníficos banquetes. Observando-a comer, Lyon responde com um toque de satisfação ao ver sua inimiga não se intimidar:
— Muitas perguntas para alguém que foi derrotada, mas responderei em respeito à sua coragem. Seu pai está vivo; eu o venci sem matá-lo. Vocês ainda estão vivos porque quero discutir os termos de rendição.
Katherine se enfurece:
— Rendição?! Não satisfeito em nos derrotar, quer nos humilhar!
Ela se levanta, furiosa.
— Pense bem antes de agir, princesa. Seu reino foi derrotado, meus exércitos tomaram seu castelo. Você e seu pai são meus prisioneiros. Com uma ordem, posso encerrar suas vidas, mas estou oferecendo a chance de sobrevivência.
— Se nos submetermos ao seu reinado bárbaro... — Katherine retruca.
— Um reinado que ajudou sua economia a prosperar. De onde acha que vieram os metais que vocês usam em suas armas e construções? Meu império possui as maiores minas de minérios ferrosos e aço que vocês nobres compram. Além disso, já os venci; não há como escapar, então a melhor opção é me obedecer — diz Lyon.
Katherine indaga:
— E se não obedecermos?
Lyon, em um gesto de superioridade, cobre os olhos com a mão direita e, após um momento, diz:
— Vocês não gostariam de me desafiar...
No entanto, ele não tem tempo de concluir a frase. No instante em que desvia o olhar, Katherine arremessa o jarro de barro contra ele e avança com um pedaço de vidro, com a intenção de atacá-lo. Infelizmente para ela, Lyon já antecipava essa ação. Com um movimento ágil, ele quebra o jarro e, em uma velocidade surpreendente, segura o braço da jovem com uma mão e, com a outra, agarra seu pescoço, sua voz potente e ameaçadora ecoando:
— Idiota! Você realmente me subestimou? Acha que não percebi as pedras marcando o chão ou que não notei o desaparecimento da garrafa de água que mandei que lhe enviassem?
Katherine fica emudecida, tendo investido suas últimas forças em um ataque desesperado. Agora, sem energia ou esperança de enfrentar seu captor, ela é erguida acima da cabeça de Lyon, que continua seu discurso:
— Meus soldados afirmaram que você era uma grande guerreira e estrategista, mas sua inexperiência e impulsividade a levam a cometer erros simples.
Ele aperta o pescoço da jovem, que sente o desespero tomar conta ao perceber que pode morrer.
— Sua ideia de me atacar foi corajosa, admito, mas suas emoções a atrapalham. Se realmente quisesse me vencer, não deveria ter caído em minhas provocações e ao invés disso devia ter esperado que eu me aproximasse. Em vez de recusar a comida, deveria ter aceitado tudo que lhe foi ofertado para ter forças suficientes para me enfrentar.
Ele aproxima seu rosto do dela e continua:
— Sua arrogância a fez subestimar-me, achando que eu viria despreparado para enfrentar uma inimiga.
Erguendo-a novamente pelo pescoço, ele aponta para um canto escuro da cela. Ao olhar, Katherine vê uma adaga emergindo das sombras, passando perto de seu rosto. Assustada, ela percebe que há um assassino oculto. Derramando uma lágrima, amaldiçoa sua própria tolice e inexperiência. Lyon, caminhando em direção à cama com a princesa ainda em seu aperto e a intimida com suas palavras:
— Você realmente é uma idiota, princesa. Ignorou que seu pai permanece vivo e investiu em um ataque egoísta que pode ter condenado não apenas você, mas todo o seu reino.
Lyon fixa seu olhar nos olhos de Katherine, que, em um último ato de rebeldia, manda-o para o inferno e cospe nele. Em resposta, ele a arremessa violentamente na cama, fazendo-a sentir dor e medo, cobrindo os seios com um braço e o rosto com o outro. Ao ver o Imperador levantar uma mão e concentrar energia nela, Katherine sente seu coração disparar, consciente de que seu fim pode estar próximo.