Katherine respirou profundamente ao se aproximar da imponente porta do salão, onde o jantar com o imperador Lyon estava prestes a ocorrer. Uma mistura de nervosismo e determinação a acompanhava, e o som de seus passos ecoava pelo corredor. Ela estava ciente de que aquele momento poderia ser crucial, e que suas palavras teriam o poder de moldar o futuro de seu reino. Ao empurrar a porta, foi recebida por uma sala iluminada por candelabros, onde uma longa mesa estava repleta de iguarias e vinhos finos.
Lyon se encontrava à cabeceira da mesa, sua presença imponente marcada por um sorriso enigmático que transmitia curiosidade e respeito. Vestido com uma armadura leve, adornada com detalhes que refletiam a luz de maneira hipnotizante, ele se levantou ao vê-la entrar, gesticulando para que se juntasse a ele.
— Princesa Katherine, que prazer vê-la novamente — disse ele, sua voz profunda ressoando no ambiente. — Espero que esteja pronta para uma refeição digna de uma guerreira.
Katherine forçou um sorriso, tentando ocultar a tensão que ainda a acompanhava. Observando ao redor, intrigada com a cortesia do homem que antes considerava um ignorante, respondeu: — Espero que a comida esteja à altura, Lorde Lyon. Afinal, parece que, apesar de ser um conquistador, você sabe como tratar seus prisioneiros.
Ele riu suavemente, o som ecoando pela sala. — Você tem razão, mas não me vejo como um tirano que apenas sacia seus caprichos. Acredito que uma mente aguçada é alimentada por uma boa refeição. À propósito, seu pai é não se juntará a nós?
-Os curandeiros reais disseram que ele ainda precisa ficar em repouso por um tempo.
-Uma pena, gostaria de poder conversar com sua majestade real, mas ainda assim terei imenso prazer em jantar com você, por favor sente-se
Sentando-se à mesa, Katherine contemplou a opulência das iguarias diante dela, com aromas deliciosos, muitos deles representando a culinária de seu reino. No entanto, sua mente estava focada no que realmente importava: a conversa que teriam. Lyon começou a servir vinho em dois cálices ornamentados e, ao oferecer um a ela, seus olhares se encontraram em um momento que parecia se estender por uma eternidade.
— Para novos começos — propôs Lyon, erguendo seu cálice. Katherine hesitou, mas, em um gesto de respeito, ergueu o dela também.
— Para novos começos — repetiu, embora a hesitação ainda estivesse presente em sua voz.
Enquanto se serviam, Lyon fez perguntas sobre seu reino, suas tradições e sua visão de mundo. Katherine respondeu com cautela, tentando desvendar o que se escondia por trás da fachada do imperador. Ela percebeu que ele não era apenas um conquistador; havia um genuíno interesse em entender a cultura de Rosenhein.
— Você fala com paixão sobre seu povo — comentou Lyon, enquanto cortava um pedaço de carne. — Isso é admirável. Muitos líderes esquecem o valor de ouvir suas vozes.
— E muitos conquistadores ignoram o valor da vida humana — respondeu Katherine, mantendo-se firme. — Não sou apenas uma princesa; sou a voz de um povo que não deseja se submeter a um tirano.
Lyon a observou, a expressão séria. — Você ainda me vê como um tirano, não é? Mas, diga-me, o que realmente sabe sobre mim?
Katherine hesitou. Ele estava certo; conhecia-o apenas pelas histórias de guerra e conquista, mas ali, ao seu lado, descobria um homem complexo que desafiava suas expectativas. — Sei que você conquistou muitos reinos, que seu nome é temido e respeitado, e que muitos morreram em suas mãos.
— E você acredita que derivei prazer disso? — ele questionou, com um olhar que mesclava frustração e sinceridade. — Luto por um império que traga ordem, mas a guerra é um preço alto a se pagar.
Uma pausa se instaurou entre eles, enquanto Katherine processava suas palavras. Lyon era um homem que lutava, mas o que realmente almejava? Com cuidado, decidiu explorar essa ideia.
— Você conquistou meu reino, mas o que deseja com isso? Poder? Glória? Ou há algo mais?
Lyon se inclinou para frente, seus olhos ardendo com uma intensidade que a intrigou. — Desejo um mundo onde a força não seja a única resposta. Meus objetivos vão além de simples conquistas. Quero criar um império que prospere, uma união entre os reinos, onde a guerra não seja a única linguagem. Para isso, preciso de pessoas que vejam além do ódio. Você me julga um tirano por usar a força, mas não percebe que suas bibliotecas e escolas foram preservadas em meus ataques, que seu povo e sua cultura permaneceram intactas, mesmo sob meu domínio. Meu desejo não é destruir, mas unificar.
Katherine ponderou sobre suas palavras e reconheceu que havia, ao menos, um fundo de verdade no que ele dizia.
— Se me unir a você significar que terei que trair meu pai e meu povo, não posso aceitar. Mesmo que você não seja o tirano que eu imaginava, não posso ignorar a dor que sua conquista causou.
Lyon assentiu, a seriedade em seu olhar mostrando que compreendia a profundidade de sua luta interna. — Não peço que traia sua lealdade. Apenas que considere uma nova perspectiva. A verdadeira força não reside apenas em lutar, mas em saber quando lutar e quando negociar.
Katherine sentiu-se dividida. Uma parte dela desejava acreditar em suas palavras, mas a lealdade a seu pai e ao seu povo era inabalável. Com um olhar firme, declarou: — Darei a você a chance de mostrar que suas intenções são sinceras, mas não me peça para trair meu pai. Eu o amo e lutarei ao seu lado, mas nunca contra ele.
Lyon sorriu, um gesto que parecia sincero e, ao mesmo tempo, enigmático. — Então, vamos trabalhar juntos. Se conseguir convencer seu pai a ouvir, talvez possamos criar um futuro onde o sangue não precise ser derramado.
Ao deixar o salão, a mente de Katherine fervilhava com as revelações da noite. Assim que se afastou dos olhares de Lyon, sua determinação se solidificou. Sabia que a conversa apenas começara e que precisava se preparar para o que viria a seguir.
Ao retornar ao seu quarto, sentou-se à mesa, observando a luz da lua que filtrava pela janela. As sombras dançavam nas paredes, refletindo seu estado interior. A memória da conversa com Lyon ainda ecoava em sua mente. Ele era diferente de tudo que havia imaginado, mas a dúvida persistia. Poderia realmente confiar em alguém que havia conquistado seu reino, que, mesmo não sendo o vilão que ela supunha, ainda era um bárbaro?
Após a saída de Katherine, Lyon foi abordado por uma figura encapuzada que emergiu das sombras. Ao desfazer sua camuflagem mística, revelou-se uma bela mulher de cabelos e olhos negros, com uma postura firme, mas ao mesmo tempo sensual e enigmática. Ela se ajoelhou diante de Lyon.
— Meu rei.
Lyon acariciou seus cabelos. — Estamos sozinhos, Dianne. Pode me tratar de forma menos formal. Percebo que algo a incomoda. O que deseja perguntar?
Dianne, mais à vontade, questionou: — Lyon, meu senhor, por que, quando essa princesa o insultou e eu arremessei minha adaga para matá-la, você a protegeu?
— Eu sabia que essa era a sua preocupação, Dianne. A questão é que Katherine é diferente de todos os nobres que conheci. Ela possui uma coragem e determinação que me intrigam, além de uma bondade que só vi em uma pessoa até agora.
Dianne percebeu sobre quem seu rei falava e, sendo amiga de Lyon, sabia que tocar na memória dela poderia despertar a ira do leão. Assim, optou por se calar e saiu da presença do rei. Lyon também se levantou e chamou os servos que o atenderam.
— Ainda há comida sobrando. Agradeço a vocês por seu esforço e trabalho. Chamem as cozinheiras e comam o que desejarem da mesa. Eu vou aos meus aposentos.
Lyon deixou a sala, e os servos que sempre serviram a Gyldor ficaram surpresos com a atitude do imperador e se sentaram para jantar. Ao seguir para seus aposentos, encontrou um homem elegante, de cabelos e barba grisalhos, que denotava uma idade maior que a sua. O homem, vestido com roupas de linho fino de cor azul, olhou para seu mestre com um sorriso e começou a falar.
— Majestade, estava me dirigindo ao salão real para apresentar o relatório do reino.
Lyon respondeu: — Cedric, estou cansado. Que tal você me apresentar isso em meu quarto, velho amigo?
Lyon caminhou, e Cedric o acompanhou até os aposentos do imperador, que já se sentou. O conselheiro começou seu relatório.
— Os reinos vizinhos mantêm a neutralidade em relação à nossa tomada de Rosenhein. Os cidadãos da Cidade das Rosas já retornaram para suas casas, e alguns guardas de Gyldor se renderam a nós, mas muitos decidiram permanecer nas prisões, incluindo o capitão da guarda.
— Você o manteve longe dos outros? — perguntou Lyon.
— Sim, mestre, como pediu. — respondeu Cedric.
— Muito bem. Ele é um homem influente e poderia incitar os soldados contra mim se ficar próximo deles.
Cedric se calou por um momento, admirando a astúcia de seu mestre, mas logo retomou o relatório, concluindo-o após algum tempo. Lyon tomou um chá, visivelmente cansado, e, olhando pela janela, falou com seu conselheiro.
— Muito bem, Cedric. Obrigado por seu excelente trabalho. — Lyon respirou fundo e voltou a atenção para o reino. — Rosenhein é um lugar belo, e eu gostaria de conseguir a paz sem derramar sangue.
— Majestade, se conseguir a rendição do rei, você terá a obediência do povo.
— Apenas dos plebeus e soldados. Os nobres aqui nunca me aceitarão completamente; eles me veem como um tirano, usurpador e bárbaro. Assim como em Leorya e em todos os reinos que dominei, mesmo onde não conhecem minhas origens, a maioria dos nobres me considera um simples plebeu ignorante que ascendeu ao poder.
Cedric se aproximou, colocando a mão no ombro do rei, mostrando a amizade entre eles. — Nem todos os nobres lhe rejeitam, meu rei.
— Eu sei que você me apoia, mesmo sendo um duque. Sou grato pela sua amizade e devoção, mas se não conseguir ser aceito pelos nobres, sempre enfrentarei problemas em meu reinado.
Cedric se afastou e voltou a tomar seu chá. — Meu rei, você sabe que pode resolver isso com um casamento com uma dama da nobreza.
— Cedric, já discutimos isso. Não quero substituí-la.
Cedric explicou calmamente os motivos. — Mestre, para realizar seu sonho de paz, você precisa eliminar a dissidência, e conquistar o respeito da nobreza é fundamental. Além disso, você precisa de um herdeiro para continuar seu sonho e sua linhagem. Ela também desejaria que o senhor fizesse isso. Ao menos considere a proposta, meu imperador.
Cedric deixou os aposentos do imperador, e Lyon pegou um colar, derramando uma lágrima enquanto o observava.
Em seu quarto Katherine, deita ainda pensando em tudo que viveu nos últimos dias e no jantar que teve com o usurpador, ao mesmo tempo seu pai em seus aposentos pensa em formas de trair e matar Lyon, e não só ter seu reino de volta como se tornar o regente dos outros reinos dominados pelo imperador e do lado de fora dos aposentos do imperador Dianne observa Lyon chorando e seu coração sangra por não poder aliviar a dor do seu imperador.