Ao deixar a masmorra, Katherine é guiada pelos
guardas por corredores estreitos e mal iluminados, sua mente agitada refletindo
sobre a conversa que teve com Lyon. A força e a autoridade que ele emanava eram
inegáveis, mas havia uma complexidade em sua atitude que não conseguia ignorar.
Por que ele a poupou? O que realmente desejava dela? Enquanto caminhava, um
peso se formava em seu coração, entrelaçando esperança e desespero.
Os guardas a levam a
um dos salões reais, agora transformado em enfermaria, onde curandeiros e
médicos do reino tratam soldados feridos de ambos os reinos. Um dos
curandeiros, leal a Gyldor, aproxima-se de Katherine.
— Princesa, que bom vê-la bem. Temíamos que o usurpador a
tivesse ferido. — Ele se ajoelha diante dela.
— Levante-se, você não me deve mais obediência. — Ela
responde, receosa de uma possível retaliação dos guardas. Depois de ajudá-lo a
se levantar, ele a conduz até o quarto onde seu pai se encontra. Ao entrar,
Katherine percebe que o ambiente está bem arrumado e confortável, digno de um
aposento real, o que a surpreende, dado o cuidado que Lyon teve com seu pai mesmo
sendo um inimigo.
Ao se aproximar da
cama, encontra seu pai, o rei Gyldor, sentado com um semblante grave e cansado.
Ao vê-la, seu rosto se ilumina, mas logo se transforma em preocupação.
— Katherine! Você está bem? — ele pergunta, levantando-se
rapidamente, embora a jovem perceba que ele se esforça para não demonstrar
fraqueza na presença dos guardas.
— Estou... — responde ela, hesitante. — Mas precisamos
conversar.
Os guardas se
afastam, proporcionando um momento de privacidade. O rei a observa com atenção,
e Katherine sente a necessidade de ser forte, não apenas por si mesma, mas por
seu pai e seu povo. Ela nota que ele está bem cuidado e suas feridas tratadas.
— Pai, o que aconteceu com você durante a batalha? —
questiona ela.
Com tristeza e
vergonha, ele narra os eventos que levaram à sua derrota:
— Logo após sua partida com os soldados, eu e os
conselheiros permanecemos no salão principal, aguardando notícias. No entanto,
o usurpador não é tão tolo quanto imaginei; ele antecipou nossos movimentos.
Algum tempo depois, ele e um grupo de apenas cinquenta soldados invadiram nosso
castelo.
Katherine fica
impressionada com a capacidade estratégica de Lyon, e seu pai continua:
— Eu estava no salão quando ouvi o som da batalha e um urro
selvagem que me causou calafrios. Saímos para ver o que ocorria e encontrei
aquele tirano derrotando nossos soldados um a um. Ele se movia com agilidade e
ferocidade, mas seus movimentos eram também coordenados e calculados, uma graça
selvagem. Em poucos momentos, apenas eu e ele permanecíamos de pé. Lancei um
feitiço de gelo, mas ele se esquivou com uma velocidade impressionante e, antes
que eu pudesse reagir, me desarmou e desferiu uma sequência de socos que
quebraram alguns ossos. Desmaiei, mas, para minha surpresa, ele me poupou e
permitiu que os curandeiros tratassem minhas feridas.
Katherine se
surpreende novamente, tanto pela derrota de seu pai quanto pelo cuidado que
recebeu. Contudo, ela conhece bem o pai e sabe que ele não gostará do que tem a
dizer. Gyldor percebe sua hesitação.
— O que ocorreu? — pergunta ele, com a voz baixa e tensa.
Katherine respira
fundo, tentando reunir coragem.
— O imperador me ofereceu uma chance de salvar nossas vidas.
Ele deseja que eu convença você a se render.
A expressão de Gyldor se endurece. — Jamais! Não podemos nos
curvar a ele, mesmo que isso signifique a morte.
— Mas pai, ele nos poupou! Poderia ter me matado, mas não o
fez. Ele quer conversar. Há algo mais em jogo aqui. Ele não é apenas um tirano,
é... diferente do que imaginávamos.
O rei balança a
cabeça, lutando contra a ideia. — Você não conhece a verdadeira natureza de um
conquistador, Katherine. Eles sempre têm um plano oculto e, mesmo que tenha
poupado sua vida, isso pode ser uma armadilha para nos manipular.
Katherine sente uma
onda de frustração, mas também uma determinação renovada.
— Eu sei, mas precisamos considerar nossas opções. Não quero
ver você ou nosso povo morrer. Se ele está disposto a ouvir, talvez possamos
encontrar uma forma de coexistir.
Gyldor observa a
filha com um olhar que mistura preocupação e admiração. Sempre soube que
Katherine era forte, mas agora via sua coragem brilhar em meio a circunstâncias
sombrias.
— Você realmente acredita que ele pode mudar? Que não é
apenas um tirano sedento por poder?
— Não sei se ele pode mudar, mas acredito que há mais nele
do que a história nos conta. — Ela hesita, lembrando-se da força que sentiu
emanando de Lyon. — Ele é um guerreiro formidável, mas também um líder. Há uma
razão pela qual ele tem sucesso em suas conquistas.
— Katherine, não podemos nos curvar a um bárbaro sujo e
ignorante. No entanto, reconheço que fomos derrotados. Conversar com o
usurpador pode ser uma forma de ganharmos tempo para recuperar o reino.
Katherine se espanta.
— Pai, o que quer dizer com isso?
O rei suspira, suavizando seu olhar.
— A vida de um líder é feita de sacrifícios, Katherine. Se
você acredita que ele pode ser um aliado, talvez essa seja a única maneira de
salvar o que resta de nosso reino. Você deve jogar o jogo dele por enquanto,
até que tomemos uma decisão.
Gyldor coloca a mão
no ombro da filha.
— Eu e o reino contamos com você.
Katherine acena, sua
mente já formulando uma estratégia.
— Vou me encontrar com ele esta noite, para o jantar.
Precisamos usar essa oportunidade sabiamente.
Com um aceno de
cabeça, Katherine despede-se do pai e deixa o salão. Enquanto caminha pelos
corredores, suas emoções se entrelaçam: um misto de medo e expectativa. O
jantar com Lyon se aproxima, e ela sabe que será um momento crucial. O destino
de seu reino pode depender de suas palavras e ações.
Ao ser levada a um
quarto luxuoso, Katherine se depara com um grande espelho ornamentado. Ao olhar
para seu reflexo, vê não apenas a princesa de um reino derrotado, mas uma
guerreira pronta para enfrentar o que vier. Com determinação, prepara-se
mentalmente para o encontro que definirá não apenas seu futuro, mas o futuro do
reino de Rosenhein.
A noite chega, e
Katherine se veste com um vestido simples, mas que a faz sentir-se forte e
digna. Ela não é mais a jovem ingênua que despertou naquela masmorra; agora, é
uma mulher decidida a lutar por sua casa, por seu povo e, quem sabe, por um
futuro inesperado ao lado de um homem que, a princípio, parecia ser seu maior
inimigo. Enquanto avança em direção ao salão onde o jantar será servido, repete
para si mesma:
— Eu sou Katherine de Mont Blanc, e não me renderei.