Chapter 4 - ACEITAÇÃO

Sem forças, Katherine aceita resignadamente o seu destino, acreditando que seu fim será selado pelas mãos de Lyon, que concentra energia mágica em seu punho. No entanto, para sua surpresa, ele não a ataca; ao invés disso, mira em suas correntes e dispara um raio mágico que as quebra, libertando a jovem, que, atônita, questiona o homem:

— Por que me libertou?

 Lyon se vira, caminhando lentamente, enquanto explica:

— Meus homens relataram sua coragem e determinação ao enfrentá-los, e fiquei curioso para conhecê-la pessoalmente, pois nunca vi uma nobre como você, especialmente uma mulher.

 Katherine se levanta cautelosamente, mudando seu tom para um mais comedido, e continua a questionar:

— O que quer dizer com isso? Poderia esclarecer melhor?

 Ele para na porta da cela e prossegue, sem olhar para ela:

— Em todos os reinos que conquistei, os membros da realeza nunca lutavam ao lado de seus exércitos, deixando seus soldados à mercê da morte para proteger esses covardes. Mas você não só lutou ao lado de seus guerreiros, como frequentemente priorizou a vida deles. Além disso, teve a coragem de me enfrentar, mesmo em desvantagem. Um gesto tolo, admito, mas corajoso.

— E o que você pretende fazer comigo? — pergunta Katherine, um pouco receosa quanto à resposta.

— Já mencionei que meu desejo é que vocês se rendam a mim pacificamente. Sei, pela maneira como seu pai tratou meu emissário, que ele não aceitará, mas, reconhecendo que você é diferente de um nobre covarde e arrogante, gostaria de lhe oferecer a chance de convencê-lo — respondeu Lyon, virando-se para ela.

 Katherine reflete por um momento. Ela sabe que foi derrotada e que a recusa pode levar à morte dela e de seu pai. Considera a possibilidade de aceitar, mas ainda fala com um certo orgulho, especialmente em relação ao que Lyon disse sobre seu pai.

— Meu pai respondeu às ameaças de seu emissário à altura e permitiu que voltasse com uma mensagem para você. Embora ele seja um homem de bem e a derrota seja um fato, era de se esperar que ele fosse ríspido com seu representante, afinal, nosso reino foi invadido e dominado.

 Lyon observa Katherine e percebe que a princesa ainda ignora muitos aspectos sobre seu pai. Questiona-se como alguém tão forte e corajosa pode ser tão emotiva e ingênua. Em um último gesto de clemência, ele a oferece novamente a opção, mas seu tom torna-se mais ríspido e autoritário.

— Princesa Katherine Rosalye de Mont Blanc, aceite a realidade: independentemente da sua resposta ou dos meus motivos para invadir, seu reino agora me pertence. A guerra acabou e eu saí vitorioso. Estou lhe dando a oportunidade de se render e sobreviver, pois uma guerreira como você merece uma chance de viver ou, ao menos, uma morte mais digna do que a de uma prisioneira em uma masmorra. Porém, minha paciência é limitada, então, qual é sua decisão?

 Ao ouvir a firmeza na voz de Lyon, Katherine finalmente compreende sua verdadeira situação. As palavras duras de seu inimigo a atingem com mais intensidade do que qualquer golpe físico, quebrando seu espírito e fazendo-a desistir de resistir.

— Muito bem, Lorde Lyon, aceito conversar com meu pai.

 Lyon relaxa um pouco, demonstrando uma calmaria que dissipa sua aura de intimidação. A mudança em seu tom é tão perceptível que até Katherine nota enquanto ele continua:

— Muito bem, princesa, você tomou uma excelente decisão. — Ele chama seus guardas. — Levem a princesa até seu pai, deixem-na conversar com ele à vontade e, em seguida, conduzam-na para seu quarto, para que possa se alimentar e descansar. À noite, estarei esperando vocês dois para um jantar.

 Katherine se surpreende com a mudança de atitude de Lyon. Enquanto os guardas a assistem, ele começa a sair da cela, mas para, olha para ela e diz:

— Apenas uma coisa, Katherine.

 Curiosa, a princesa observa Lyon. Ele estende a mão, disparando uma energia dourada que passa próximo ao seu rosto, assustando-a. O ataque atinge a parede atrás dela, destruindo-a completamente. Com um tom firme, Lyon se dirige à princesa:

— Nunca mais me desafie e não tente me trair.

 Após isso, Lyon sorri e sai da cela. Katherine percebe que ele errou o ataque intencionalmente e se dá conta da pressão espiritual que emanou dele ao disparar. Nunca havia sentido uma pressão tão intensa em sua vida. Ela observa Lyon se afastar e, em seu íntimo, reconhece que nunca teve chances de derrotar aquele homem.

  Quando Lyon se aproxima do local sombrio de onde saiu o ataque com faca, Katherine nota uma figura obscura e indefinida movendo-se na penumbra, seguindo o imperador. A princesa solicita que os guardas a aguardem na porta da cela por alguns minutos, enquanto reflete. Havendo recebido ordens para demonstrar respeito por ela, os guardas obedecem e permitem esse breve momento de privacidade, permanecendo de costas para ela em sinal de respeito.

 Katherine dirige seu olhar para a parede destruída e, por um instante, considera a possibilidade de escapar por aquele buraco. No entanto, rapidamente descarta essa ideia ao lembrar dos crocodilos que habitam o fosso abaixo da masmorra. Ela percebe que, mesmo que conseguisse sobreviver aos animais e fugisse, seu pai seria assassinado e seu reino ficaria à mercê de Lyon. Respirando fundo, a princesa reconhece sua grande responsabilidade para com seu povo e decide não se rebelar. Avaliando o poder que sentiu emanando de Lyon, ela se dá conta de que ele conseguiu usar magia mesmo dentro da cela, ignorando os efeitos das runas de anulação. Questiona-se sobre como isso foi possível, e percebe que ele detinha uma clara vantagem sobre ela naquele ambiente; enquanto ela se encontrava cansada e derrotada, ele estáva no auge de sua forma física e completamente descansado. Além disso, enquanto ela é incapaz de usar magia dentro da prisão , ele pode empregar seus poderes a qualquer momento. Mesmo assim, ele não a matou e não se mostrou arrogante ou ameaçador, embora tenha sido bastante sarcástico.

 Katherine também nota que, apesar de todas as vantagens, Lyon manteve um assassino nas sombras, pronto para eliminá-la caso ela fosse uma ameaça. Este fato revela que ele nunca a subestimou, mas sim a respeitou como guerreira. Ao olhar para a faca lançada pelo assassino quando Lyon deu a ordem, ela se surpreende ao encontrar outra lâmina caída próxima, idêntica à primeira. Ao pegá-las, questiona-se:

— (Outra adaga? Quando foi que o assassino lançou esta?)

 Sentando-se na cama, ela força a memória e, após alguns segundos, uma lembrança surge: logo após ela cuspir em Lyon, ele a jogou na cama. Agora, Katherine recorda de algo passando rapidamente por cima deles ao cair. Pergunta-se se foi a segunda faca que o assassino atirou em sua direção por causa de sua insolência, e se o imperador realmente a empurrou para a cama para ameaçá-la ou, foi um movimento ágil e estratégico, para protegê-la do ataque da faca.

 Levantando-se, Katherine lança um último olhar para a cela onde passou aqueles dias. Ela chama os guardas que a auxiliam a deixar o local e, enquanto se afasta, sua mente se volta para Lyon, intrigada com os mistérios que cercam o homem que dominou seu reino. Ao subir as escadas, está incerta sobre o que o futuro lhe reserva, mas faz um juramento silencioso de que fará tudo o que for necessário pelo bem de seu reino.