Katherine não tinha certeza de quanto tempo havia passado desde o seu despertar, mas uma coisa era clara: durante esse período, ela não ouviu nada. Não houve conversas, nem visitas à sua cela. A fome e a sede tornaram-se companheiras constantes, levando-a a questionar por que ninguém havia se digno a levar comida até sua masmorra. Seria esse um castigo por sua recusa em se alimentar?
Independentemente dos motivos, Katherine aprovou a solidão para exigir seu plano. Ela mediu a distância que a corrente em seu pé lhe permitiu alcançar dentro da cela, que era maior do que ela imaginava. Para marcar seu limite, deixei duas pedras no chão e posicionei o vaso com plantas ao seu lado de maneira estratégica. Um pedaço de vidro foi escondido entre suas roupas. Um jovem lamentava não poder usar sua magia, pois as runas de anulação na cela a impediam. Apesar de ser uma usuária de magia espiritual, sua força era insuficiente para evocar seus poderes. A frustração aumentava ao perceber que, sem seus dons, estava obrigado a beber a água do jarro de plantas, um líquido que não podia purificar, alimentando ainda mais seu ódio pelo usurpador.
Sentada no chão, Katherine utilizou uma técnica de meditação antiga para conservar suas forças e manter a mente focada enquanto aguardava seu inimigo. Recordava-se dos acontecimentos que se seguiram à partida do representante do imperador, que, embora não tenha sido testemunhado pessoalmente, magoou alvoroço. Logo soube da invasão do temido Exército de Ferro nas fronteiras dos reinos do sul e da exigência do Imperador pela rendição de seu povo. Ela se lembrava dos soldados enviados à batalha, que voltavam em pânico ou, pior, não retornavam, como Pelleus, o irmão mais novo de Daryus, que marchara para enfrentar os inimigos e não voltou. O pesar pela morte do guerreiro, que cresceu ao seu lado, a consumia.
Katherine também se registrou das histórias sobre seu algoz, do modo como o imperador depôs o legítimo regente de Ferrys, dominou o local e alterou seu nome para Leorya. Sabia que ele havia elevado os preços do ferro e do aço, conforme seu pai mencionara, e como, nos anos seguintes, começou a invadir outros reinos, subjugando-os sob um regime tirânico e transformando os reinos do norte no Grande Império de Leorya. Enquanto refletia, questionava-se sobre a motivação do vilão em atacar os reinos do sul após tanto tempo no poder. Seria uma ambição desmedida, inventada. Katherine respirou fundo, registrando as informações que ouviu sobre o imperador: um bárbaro ignorante, mas perigoso em combate, um mestre de guerra notável, estrategista e devoto de Artos, o deus da guerra, embora não tenha herdado seu caráter. Histórias sobre suas vitórias sobre grandes guerreiros, feras, monstros e até dragões ecoavam em sua mente, e ela repetia o nome que se tornaria conhecido até mesmo nos reinos distantes do sul: Cyranno de Lyon, o leão de ferro do norte.
Quase como uma invocação, ao pensar no nome de seu inimigo, Katherine começou a ouvir sons vindos das entradas da masmorra. Passos pesados e rítmicos indicavam a presença de soldados, um pequeno grupo, mas ainda assim, soldados. Isso fez com que Cyranno estivesse se aproximando. Sua teoria se confirmou quando, após os passos pararem, ela pegou o som de trombetas anunciando a chegada de um nobre. Sentiu-se enojado ao perceber que aquele bárbaro queria se passar por um digno. Após os três toques de trombeta, que anunciavam a entrada de um nobre, Katherine se viu novamente em um silêncio que não durou mais de dez minutos. Logo, passos se aproximaram, desta vez de uma única pessoa. E embora não pudesse vê-lo, ela sentiu em seu íntimo que o imperador de ferro estava no caminho.
A masmorra era um lugar sombrio e úmido, com paredes de pedra gélidas e cobertas de musgo. A briga luz das tochas criava sombras dançantes, e o ar estava impregnado de mofo e desespero. Katherine estava sentada no chão, vestindo roupas rasgadas e sujas, com os cabelos desgrenhados caindo sobre o rosto, ocultando a determinação que persistia em seu coração.
A porta de ferro ficava aberta, e a luz do corredor iluminava brevemente a escuridão, revelando a silhueta de um homem que parecia mais uma lenda do que uma pessoa real. O som de suas botas pesadas ecoava pelas paredes frias, ressoando como um trovão na mente de Katherine. Ao entrar, uma onda de imponente envolve o ambiente; sua figura robusta, envolta em uma armadura intricada, faz as sombras recuarem.
Os olhos negros de Lyon, profundos e intensos, capturaram a atenção de Katherine imediatamente. Havia uma força inegável neles, uma mistura de determinação e sabedoria que fez sentir um frio na barriga. O emblema de leão em seu peito brilhava sob a luz bruxuleante, evocando a essência do poder e da bravura. A capa vermelha que fluía sobre seus ombros parecia viva, dançando ao ritmo de sua presença majestosa.
Katherine sentiu seu coração acelerar ao perceber que o homem diante dela era tudo o que as histórias diziam — um bárbaro tirano, temido e admirado em igual medida. Contudo, havia algo mais, algo que intrigava. A maneira como ele se movia, com confiança inabalável, revelava uma força que transcendia o físico, uma força de caráter.
A presença de Lyon era opressiva, mas, ao mesmo tempo, Katherine sentia uma paz inexplicável emanando dele. A aura de autoridade que o cercava a fazia sentir-se pequena, mas também despertava uma centelha de esperança. Ele não era apenas um conquistador; era um homem que carregava o peso de seu império, e por trás da imagem de tirano, havia um mistério profundo que a fascinava.
Enquanto ele se aproximava, a luz das tochas refletia nas pedras vermelhas adornando sua armadura, criando um espetáculo de cores que iluminava a escuridão da masmorra. A atmosfera estava carregada de tensão, e mesmo sem palavras entre eles, uma conversa silenciosa e intensa parecia se desenrolar. Katherine, presa em sua cela, sentiu que, naquele instante, suas vidas estavam entrelaçadas de uma forma que nunca poderia ter imaginado. Lyon parou diante dela, e a luz que o envolvia parecia desafiar a escuridão, trazendo consigo uma nova esperança e um vislumbre de um futuro incerto, mas repleto de possibilidades.