"A mente é a causa de todas as doenças, e o coração a fonte de todas as curas."
— Sabedoria oriental
O lobo riu fraco ao se lembrar da primeira vez que encontrou o garoto que possuía os mesmo olhos que o jovem a sua frente. A criatura da noite hesitou, mas sentiu a necessidade de cessar suas dúvidas.
"Você… é filho de Kenzou Kousei?", o lobo foi direto, e Itsumo parou de correr imediatamente. Encarou o lobo com os olhos arregalados.
Hanasaki e Mukanshi que estavam na frente perceberam a súbita parada de Itsumo. O jovem dos cabelos prateados arqueou uma das sobrancelhas confuso.
— Qual é o pro- — Mukanshi iria perguntar, mas desistiu, por conta da expressão no rosto do jovem dos fios prateados. Hanasaki estando preocupada, tentou ir até Itsumo, porém Mukanshi a impediu. A garota tentou se livrar do aperto do jovem, mas não conseguiu. Em resposta, ela rangeu com os dentes. O jovem de modo a convencê-la a ficar em seu lugar, a olhou de forma rígida. Felizmente, dessa forma ela entendeu o que ocorria.
— Só dessa vez — Ela falou baixinho.
— Obrigado — Agradeceu Mukanshi no mesmo tom usado pela, a garota.
Itsumo estava paralisado, mas sua curiosidade foi maior que o choque que aquilo lhe favoreceu.
"Como conhece meu pai?", perguntou ao lobo. Que apenas fez um sinal com cabeça, dizendo lhe para ir para sua área mais distante. E calma também. Itsumo olhou para frente, observou por um momento Hanasaki e Mukanshi. Indiferente, ele virou de costas e seguiu o lobo.
— Venha — Mukanshi chamou Hanasaki. Que não o ouviu de primeira! Estava muito concentrada em ver Itsumo se distanciando cada vez mais. O jovem percebeu, e suspirou cansado — Hime-sama, tenho certeza que Hansamukirã irá voltar. Então, venha. Não podemos ficar muito tempo plantados nesse lugar — Mukanshi pediu mais uma vez, e dessa vez foi atendido. Ela se virou e fez "ah! com a boca.
— Tudo bem — Falou aleatoriamente. Ela sorriu em seguida — Não precisa se preocupar comigo, Mukanshi.
O jovem ignorou a última coisa que a garota falou, e apenas seguiu. Desviando das árvores, e dos animais que somente ele conseguia enxergar, que ficavam em seu caminho. Hanasaki maneou a cabeça, e começou a caminhar também.
"Que interessante. Ele é tímido", pensou Hanasaki ao ver a reação de Mukanshi pelo, o que acabara de falar.
O lobo levou Itsumo, para uma área mais clara. Está sendo a luz da lua. Itsumo ao andar, ficava olhando a todo momento para os lados. Acreditando que poderia ser uma emboscada, e mesmo que fosse, ele não iria perder uma oportunidade de saber mais de seu pai.
A criatura da noite riu fraco, ao ver Itsumo com uma atitude tão cautelosa.
"Não é uma emboscada, garoto. Pode ficar tranquilo", falou o lobo se subindo de uma pedra vermelha e se acomodando em seguida. Os lobos que estavam na escuridão, saíram. Ficando todos sentados ao redor do lobo que acabara de se sentar.
"Você é o alfa?", perguntou curioso. O jovem já estava desconfiando deste que viu seu tamanho, e sua atitude de superioridade.
"O que você acha?", ele olhou Itsumo de forma intimidante.
"Acredito que não devo responder", conclui Itsumo. Não estava com muita disposição para responder o óbvio. "Então, irá contar-me como conhece meu pai?", foi direto ao ponto.
O lobo riu alto, e pediu para Itsumo se aproximar mais. Assim, ele poderia escutar melhor a história que ele conta a seguir. Desconfiado, o jovem se aproximou e os outros lobos pediram que ele se sentasse. Como estava lidando com animais, Itsumo sentiu no dever obedecer o que as criaturas pediam. Se acomodou em uma das pedras espalhadas sobre o lugar.
"Muito bem!", Itsumo semicerrou os olhos na direção da criatura. Pois, sentiu sarcasmo em sua voz.
"A primeira vez que vi seu pai, ele ainda era só um moleque malcriado. Não falava, e tinha um olhar vazio. Suponho que isso foi devido às condições em que nasceu e cresceu por bastante tempo. Derrotou-me em poucos minutos. Se ele não tivesse desmaiado de fome, não tenho muita certeza que eu estaria vivo. À primeira vista, a única coisa que atraia minha curiosidade era seus olhos carmesins", o lobo fez o 'suspense' pairar sobre o local.
"Você sabe o que significa um humano nascer com os olhos vermelhos, e cabelos tão negros quanto a noite?", perguntou para Itsumo. Que apenas balançou a cabeça negativamente! "Pois te conterei uma história de três mil anos atrás", a criatura falou animado. Fazia muito tempo que não contava sua história favorita para alguém. O último foi Kenzou.
"E vamos a mais uma história...", pensou Itsumo e suspirou em seguida.
TRÊS MIL ANOS ATRÁS
Naquela época o mundo ainda não era iluminado. Não que hoje dia seja, mas a escuridão traiçoeira reinada sobre os corações dos homens. Os seres de cima, apenas observava atentamente. Fazendo suas apostas, para qual lado iria ganhar. Ver reinos aparecendo e perecendo, eram seu passatempo.
À (princípio) Amaterasu, a deusa do sol não sentia nenhuma simpatia pelo, os mortais e muito menos Tsukiyomi, a deusa da lua. Enquanto os outros deuses se divertiam com a desgraça dos povos, estas duas deusas não estavam se importando tanto.
Mas como eu havia dito, a princípio...
No entanto, Tsukiyomi, em um dia qualquer, enxergou com seus poderes um mero humano moribundo. Sua vida estava por um fio. Tudo estava acabado.
Ela sabia disso como ninguém, porém, de alguma forma ela sentiu uma enorme simpatia pelo, o guerreiro. Tsukiyomi se levantou imediatamente de seu trono, e às pressas foi até o jovem quando estava desacordado. E passaria um pouco de seus poderes para o jovem, contudo, Amaterasu apareceu e a impediu.
A deusa do sol com calma disse a deusa da lua: "Não faça isso. Sabe que mesmo que ele sobreviva, não será o mesmo. Sua espécie o julgará por ser diferente."
Tsukiyomi não queria dar ouvidos às palavras de Amaterasu, então entre dentes ela perguntou o que exatamente poderia dar errado. Qual seria o problema?
Amaterasu tombou com a cabeça pensando em como a explicaria. Mas em instantes ela teve a ideia. Com seu poder ela mostrou imagens representativas. Onde tinha o homem caído no chão se erguendo, com os olhos vermelhos, e logo pessoas se acumulando ao redor dele apontando o dedo. E depois, ela segurando a espada ensanguentado.
Tsukiyomi levou suas mãos até boca chocada com o acabara de ver. Ela olhou para o homem suspirando pesado, e torceu os lábios. Mesmo que a tragédia acompanhasse aquele homem, e outros depois dele, ela não poderia deixar sua vida acabar ali. Naquele instante o desejo de salva-lo era maior que qualquer coisa.
Olhou determinada para sua irmã e disse: "Se este humano era julgado por sua espécie, então darei-lhe e sua descendência poderes fortes o bastante para se proteger. As criaturas serão seus amigos, e nada e ninguém os desafiaram!"
Amaterasu ficou chocada com a determinação de sua irmã para salvar o humano. Por um segundo ela ficou com raiva, mas logo, seu rosto suavizou. Prevendo que haveria problema nenhum.
"Se assim deseja, faça. Tenho pena desse homem, e de sua descendência. A solidão quase eterna os aguarda", falou Amaterasu se virando de costas e retornando para seu reino.
Sua irmã, Tsukiyomi, preferiu ignorar as palavras de sua irmã. E deu um pouco de seus poderes para o homem. O efeito foi quase de imediato. A primeira mudança que ocorreu no homem foi a cor de seus olhos, que eram um vermelho tão intenso que pareciam chamas dançando. A deusa achou estranho o fato dele ter ficado com olhos vermelhos, quando devia ter ficado com os olhos prateados. Virou rapidamente sua visão para a lua, e viu que ela estava vermelha. Tsukiyomi arregalou os olhos. Agora o homem seria mais azarado que antes.
Para Tsukiyomi, a lua vermelha significa um mau presságio. Pois, eram nas noites mais trágicas que a lua era manchada. Absorvia os maus sentimentos e pensamentos das pessoas. Mas não tinha muito o que fazer mais. O importante era que o homem estivesse bem.
Sorriu com ternura, e acariciou o rosto do homem. E sussurrou: "Não se preocupe. Tudo ficará bem. Veja além do horizonte, olhe para si, e vença sua própria natureza. Seu inimigo não é sua espécie, mas a si mesmo. Desejo boa sorte, belo guerreiro. Estarei sempre observando."
Tsukiyomi subiu novamente para acima das nuvens, e deixou o homem confuso, sem saber o que havia se tornado.
Era um teste. E, o homem teria que passar, e mesmo que não passasse, um de seus descendentes iria algum dia.