"A águia da inteligência não mostra as garras."
— Provérbio japonês
A mulher das neve continuava com uma expressão contorcida no rosto, encarava com tremenda raiva o rosto de Itsumo. Não conseguia parar de pensar, que definitivamente, Itsumo deveria morrer naquele exato momento.
O garoto de fios negros, depositou uma das mãos no cabo de sua espada, no entanto; seus olhos começaram a arder. Reclamou baixo, para que, ninguém pudesse o ouvir. Poderia aguentar até tudo acabar. Com sacrifício, ele sacou sua espada e atacou a criatura. Desviou por pouco, mas Itsumo ainda havia conseguido a ferir uma de suas bochechas.
Hanasaki também sacou sua Chimamire, mas por puro reflexo. Não conseguia dar um passo, pois sentia que algo estava muito errado. Mukanshi, por outro lado, ficou entre a sua mãe e o Hansamukirã.
— Espere! — pediu. — Aparentemente, ela sabe muito mais sobre você e Hanasaki. Acredito que valerá a pena, deixá-la viva.
Aconselhou o garoto, porém, ele não queria o ouvir; ou melhor, não conseguia. Não conseguia controlar mais a sede de sangue que guardava dentro de si.
Estralou a língua, cansado de escutar coisas inúteis. Levantou a espada contra Mukanshi e cortou seu ombro esquerdo. Imediatamente sua roupa branca ficou manchada do mais puro vermelho. Em um, reflexo natural; apertou forte a ferida. Cambaleou até Itsumo, já com a visão turva. Tinha certeza que desmaiaria.
Ficou frente a frente, e observou bem a feição de Itsumo. Era cruel. Pura insanidade.
— Eu não te conheço... — Sussurrou antes de perder a consciência. Em poucos segundos uma poça de sangue surgiu em redor do corpo do garoto.
Hanasaki engoliu a seco. Cansou de sentir medo, e em passos corajosos, foi até Itsumo e o abraçou por trás. Fora rejeitada imediatamente pelo o garoto, que se debateu para que ela soltasse. Porém, ela o apertou mais forte. Nervoso pelo, o ato da garota, a golpeou forte na nunca. Fazendo-a perder a consciência.
A mente de Itsumo estava confusa. Um zumbindo irritante a todo instante soava, o irritando cada vez mais. Seus olhos pareciam estarem sendo incendiados. E, algo dentro de si, o torturava.
Gritou com a dor, e a Yuki-Onna retrocedeu alguns passos. Aquela era a oportunidade perfeita para fugir. Virou-se de costas, e foi, logo surpreendida ao sentir algo gelado sobre seu pescoço.
— Nem tente fugir — rangeu. — Esse será o seu túmulo! — Ergueu a espada, pronto para acabar com a vida da mulher. Ela levantou o braço, a sua frente, para se proteger.
— Monstro! — Gritou com medo. Se tremia. Não conseguia acreditar que os deuses mais uma vez, a fez, cruzar com um humano dos olhos vermelhos.
O que deveria ser sua última palavra, se tornou, sua salvação. O jovem soltou a espada, e caiu de joelhos. Fechou os olhos, e a, nuvens voltaram a cobrir a lua carmesim. Recobrou os sentidos, mas não se lembrava o que havia feito; não com clareza.
— Morra! — Esbravejou a mulher com lágrimas caindo de seu rosto — Nenhum de vocês deveriam ter nascido! Porque não morrem de uma vez!
A expressão do rosto do garoto está indiferente, contudo, ao ouvir a mulher dizer aquelas palavras memórias antigas vieram a sua mente. Revoltado bateu o punho contra o chão.
— Como se eu quisesse viver! — o jovem gritou, assustando a criatura — Diariamente também faço a mesma pergunta! Eu vivo esperando ansiosamente minha morte! Eu deveria ter morrido! — Pela, a primeira vez em anos lágrimas brotaram dos olhos do garoto. A Yuki-Onna nunca ouvira palavras tão sinceras quanto as que Itsumo, acabara de dizer.
Vendo a sua frente, um humano, que por anos cultivou ódio, chorando; despertou algo no coração do ser. Nunca imaginou que eles eram tão destruídos por dentro. Apenas os julgou, não tentou entender. Não ser do mesmo modo que outros de sua raça, e carregar dentro de si quase uma maldição nunca fora fácil para eles. E, a criatura se deu conta agora.
Se levantou, e silenciosamente acercou-se do garoto. O abraçou carinhosamente. Itsumo não retribuiu e nem falou nada. Apenas continuou a chorar…
Algumas horas se passaram, Itsumo parou de chorar e vencido por um cansaço adormeceu nos braços da Yuki-Onna. A criatura admirou por segundos a feição tranquilo do jovem, e logo após, se afastou com cuidado; indo até o corpo de seu filho. Se agachou, passou a mão sobre o ferimento e em segundos ele já estava quase completamente curado.
Sussurrou no ouvido do garoto um pedido de desculpas verdadeiro, soltando algumas lágrimas. Em seguida, juntou os três e os manteve perto de si, protegendo-os do terrível frio da noite.
•••
Em outro lugar da floresta, havia uma enorme mansão, que emanava uma assustadora aura maligna. Fazendo, com que, as mais temíveis criaturas se afastarem.
Nos diversos cômodos da casa, havia um, onde descansava um homem alto; robusto e com uma expressão cansada, que apreciava seus cinquenta e poucos anos.
Com raios de sol atravessando sua porta, ele acorda reclamando. Pega uma garrafa de saquê ao lado de sua cama e toma apenas um gole.
Pensando agora, que seu dia finalmente poderia melhorar, de repente, duas sombras se moldam no pé da porta de seu quarto. Antes mesmo de perguntar ele já imaginava o assunto que eles queriam tratar.
— Kawasaki-sama, termos boas e más notícias — uma das sombras pronunciou-se.
O homem revirou levemente os olhos, e tossiu, como se estivesse dizendo que não importava e eles poderiam prosseguir. Ambos os homens trocaram olhares, e outro diferente do outro falou:
— A boa notícia é que Mukanshi está retornando com Itsumo. A má notícia é que Itsumo o feriu no caminho, e há uma terceira pessoa com eles. Irashi Hanasaki — disse por fim.
— O quê?! — o mais velho ficou de pé em um instante com a notícia. Trincou o maxilar e cerrou os punhos com força. Não conseguia absorver o fato, de que, Itsumo o desobedeceu pela primeira vez. Era o seu melhor cão e não poderia perder-lo!
Mandou os homens se retirarem, e indo de um lado para o outro no cômodo, pensando o que poderia ter acontecido-lhe o desobedecer. Nada veio a sua mente, então liberou um pouco de sua raiva jogando um vaso no chão.
•••
Acordando, Hanasaki olhou ao redor confusa. O que havia acontecido mesmo? Não se lembrava com clareza. Sentou-se e sentiu uma enorme dor de cabeça atingir-lhe. Isso a fez lembrar um pouco da noite passada.
— Haa... não acredito que Itsumo deve a coragem de machucar-me sem nem hesitar — um pequeno sorriso forçado surgir em seus lábios, porque isso só provava que ela ainda não era tão especial assim para ele.
Preferindo afastar pensamentos negativos, ela se levanta procurando os outros com os olhos. Avançando um passo, ela se desequilibrou por está tonta. Acreditou que cairia no chão, porém suas costas entraram um contado com algo confrontante. Virou a cabeça para saber quem poderia ser, com um pouco de dificuldade enxergou a mulher das neve. Tentou falar alguma coisa, mas sua voz não saía.
A criatura no que lhe concerne, só a deitou cuidadosamente. Tampou seus olhos com uma das mãos, e pediu gentilmente para ela dormir. Sem se debater a garota acatou o pedido e dormiu sem problemas.
Terminando com a garota, ela voltou a ficar próxima de seu filho. O garoto se livrou do perigo, mas ainda, tinha febre alta e a mulher pressentia que demoraria pelo ao menos um dia para ele se recuperar por completo.
E, Itsumo ainda desfrutava de seu sono. Apesar, que a Yuki-Onna havia lançado um pouco de seus poderes para fazê-lo dormir mais. Pois, não queria lidar com ele por hora. O jovem poderia voltar a ser agressivo, e... ela não desejava que visse o estado atual se seu filho. Com toda certeza ele iria se sentir culpado.