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A Curandeira Solitária

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Synopsis
``` Quando as Provas de Unidade começaram e Neve recebeu um sistema junto com o resto da humanidade, ela sinceramente esperava estar entre os primeiros a morrer. A morte a evitava, no entanto, então, até que sua hora chegasse, ela se acomodou relutantemente no papel de uma curandeira. Um dia, ela e um grupo de jogadores aventuraram-se no reino do Desafio Final, uma estranha masmorra de outro mundo que daria à humanidade um período de descanso de dez anos se o completassem. Porém, embora a morte a evitasse, encontrava todos os seus aliados. Agora, sem ninguém em quem confiar e com um ardente desejo de vingança, Neve precisa se tornar mais forte se espera vingá-los. Mas como ela pode fazer isso, no entanto, quando é apenas uma curandeira? Uma história de aventura GL de sobrevivência! ```
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Chapter 1 - O Fim da Vida Regular

"Aff, mas você é muito ruim no jogo! É inacreditável."

Enquanto a luz do luar brilhava pelas janelas, uma garota baixa e magra com cabelos sedosos de cor safira e lábios ressecados martelava seu teclado.

Não porque ela estivesse escrevendo um livro ou uma tarefa escolar, mas porque estava executando combos de alto nível em seu jogo favorito.

Entre isso, porém, ela precisava, não, ela precisava fazer questão de deixar seus colegas de equipe saberem exatamente o que ela sentia.

{xxhealsl0txx}: como q vc está no mesmo elo q eu? ? ?

{xxhealsl0txx}: você é uma merda de verdade

{O Penetrador}: kkk

Neve Stephens continuou a digitar um texto enorme no chat do jogo detalhando cada erro que seu colega de equipe tinha cometido.

Lendas do Overcraft, um dos jogos mais populares do mundo, era conhecido por sua base de fãs tóxica e suada. E, durante momentos como esses em que ela estava frustrada ao extremo, Neve estava mais do que feliz em contribuir para essa perspectiva.

Era frustrante entrar numa partida ranqueada só para ser emparelhada com alguém tão inapto como essa pessoa. Ela precisava de um momento para desabafar.

"Sério, por que você joga?" Ela perguntou em voz alta, amargamente. "Fica ausente ou alguma coisa."

Era particularmente frustrante porque Neve era uma curandeira. Infelizmente, o jogo foi projetado de tal maneira que ela simplesmente não podia carregar os fardos vivos do time sozinha. Ela precisava de colegas de equipe que tivessem alguma noção do que estavam fazendo.

Em vez disso, ela tinha um bot disfarçado de humano.

Que azar.

Enquanto seu carry começava a spammar um emote de dança ao lado dela, Neve praticamente rosnou.

"Não, não, não. Vou sair do jogo. Me dá a penalidade, não tô conseguindo."

E assim, ela apertou alt-F4 e se afastou, caindo em sua cama com um resmungo. O jogo tinha produzido uma dor de cabeça que martelava em seu crânio.

Preguiçosamente, ela pegou seu laptop e se recostou, colocando-o sobre suas coxas.

Ela não pôde evitar de checar as tabelas de liderança. Queria ver quantos pontos de ranque ela tinha perdido como resultado da última partida.

"Menos 31? Sério!? Aff, o mmr desse jogo tá muito quebrado."

Apesar de sua saída abrupta, Neve ainda estava entre os 100 melhores jogadores do servidor, e entre os 10 melhores jogadores de suporte no geral. Era um fato do qual ela se orgulhava, mesmo que não fosse algo sobre o qual realmente pudesse se gabar para alguém.

[Aaaagh, se eu não tivesse que lidar com a escola, provavelmente já seria a número 1.]

Essa declaração a fez lembrar de algo.

[Espera, eu escrevi minha apresentação oral para amanhã?]

Deixando de lado seu laptop por um momento, Neve foi olhar sua mochila. Depois de revirar por alguns segundos, encontrou algumas folhas de papel rabiscadas alguns dias atrás.

Lendo um pouco em voz alta, Neve andava de um lado para o outro no quarto. Seus olhos estavam quase sempre nas notas até que ela se viu no espelho em cima de sua cômoda.

O que ela viu foi... ligeiramente embaraçoso. Cabelo azul escuro selvagem e mal cuidado, olhos desagradáveis da mesma cor, pele pálida que raramente sentia o carinho da maquiagem mas que provavelmente precisava muito, e o corpo de alguém que só comia nos intervalos dos jogos online, e mesmo assim a comida consistia principalmente de lanches aleatórios e muito não saudáveis.

[... Aff.]

Voltando às notas, elas eram, bem, feitas sem muita dedicação e de qualidade horrível, mas ela sentia que isso dava à apresentação uma sensação de alma.

Além disso, ela simplesmente não se importava o suficiente para querer melhorá-la.

[Isso é o suficiente. Tanto faz.]

E assim, com o gosto ruim da pobre experiência ranqueada ainda em sua boca, ela decidiu ir dormir ali mesmo, preferindo entrar logo no próximo dia.

Não que o dia seguinte fosse muito melhor.

---

"O-Olá, m-meu nome é N-Neve, Neve Stephens, e esta, ehm, esta é minha apresentação sobre a história da C-Cidade Starlight."

Cinco fileiras de rostos desinteressados e indiferentes a observavam enquanto ela tentava passar por uma experiência torturante que sentia ser inconstitucionalmente.

[Sério, qual é o maldito ponto disso?] Ela se perguntava enquanto sentia o suor das mãos molhando os papéis que segurava. [Não é suficiente escrever um trabalho? Por que eu tenho que ficar aqui em pé e me humilhar assim? Aliás, alguém ligou o aquecedor? Por que estou suando tanto? Droga!]

Graças a Deus, várias pessoas na plateia não podiam estar menos interessadas nesta apresentação, como Neve podia dizer pelo fato de estarem deitados em suas cadeiras, dormindo. Ela desejava estar fazendo o mesmo, mas, infelizmente, tinha que enfrentar isso.

A própria professora parecia se importar tanto quanto Neve. A mulher de meia-idade apoiava seu queixo na palma da mão enquanto olhava para Neve com os olhos semicerrados. Se não fosse pelo piscar lento que ela dava a cada 10 ou 20 segundos, Neve poderia jurar que ela estava dormindo de olhos abertos.

Não, as únicas pessoas que pareciam realmente se importar com essa apresentação eram os nerds. Os malditos nerds.

Os olhares deles eram os que mais zombavam de Neve.

Ela podia sentir os pensamentos julgadores passando por suas cabeças apenas olhando nos olhos deles, por trás dos óculos.

Em particular, havia uma garota levemente gordinha com rabo-de-cavalo cujo olhar Neve podia sentir queimando um buraco em sua testa. Seus olhos, estreitos e desdenhosos, diziam uma coisa: "Eu poderia escrever um relatório melhor que esse dormindo".

Honestamente, Neve acreditava nisso.

Ela continuou falando, e falando, até que, finalmente, e felizmente, terminou, encerrando essa lenta execução pública de sua dignidade.

"E... é isso."

Com a gravidade de um peido silencioso, a apresentação de Neve acabou.

Mantendo a cabeça baixa de vergonha, Neve voltou para sua cadeira e procedeu a imitar a mesma pose dos outros belos adormecidos, cruzando os braços e repousando a cabeça sobre eles.

Houve um silêncio constrangedor por um tempo antes da professora finalmente perceber que a apresentação tinha terminado.

"Ahem, hum, obrigada, Senhorita Stephens. Eu acredito... uh, espera, quem é o próximo?"

Enquanto ela revirava suas anotações em busca da resposta para essa pergunta, Neve fechou os olhos e deixou sua mente vagar. Seus pensamentos acabaram voltando para os jogos que ela jogou ontem.

Ela poderia revivê-los quase perfeitamente em sua mente. Ela se importava com eles a esse ponto, tanto que outros provavelmente a julgariam por isso se soubessem.

[Hm... Minha posição estava tão ruim naquela luta. Eu deveria ter ido mais para a direita. Talvez teríamos ganhado, de fato.]

Depois disso, várias apresentações monótonas vieram e se foram antes que o sino finalmente tocasse e a turma fosse liberada para ir embora.

Neve presumiu que ela também estava livre, mas a professora a chamou.

"Senhorita Stephens."

"Hã?" Neve se virou para ela com uma expressão confusa. "O-O quê?"

A professora levantou e caminhou até ela.

"Você tem pensado na sua faculdade ultimamente?"

"..." Neve piscou.

"Senhorita Stephens, nós falamos sobre isso!" Ela declarou com um suspiro. "Você precisa descobrir o que quer fazer."

"Eu sei," Neve respondeu. "Eu só… estou tão ocupada, e…"

"Tudo bem," a professora disse a ela com um aceno de mão. "Você ainda tem tempo. Estou só dizendo, você precisa pensar no seu futuro."

Neve se sentiu como uma criança de 12 anos naquele momento. Mas, a bronca foi merecida. Ela realmente precisava descobrir o que diabos iria fazer.

"Eu sei," Neve baixou a cabeça um pouco. "Eu… sim."

"Tudo bem, você pode ir."

"Obrigada."

Ela saiu o mais rápido que pôde.

O resto do dia foi largamente sem eventos. Por onde Neve passava, ela jurava poder sentir as pessoas olhando para ela, julgando-a. Talvez pensassem que seus sapatos, que eram alguns anos velhos, pareciam estúpidos, ou talvez ela não tivesse se maquiado o suficiente hoje, ou…

Poderia ser um milhão de coisas. Qualquer coisa que a mente de Neve precisasse para lembrá-la de que ela não era tão boa quanto qualquer outra pessoa ao seu redor. Que ela não era tão valiosa.

Talvez por isso tudo em que ela conseguia pensar enquanto voltava para casa era ligar seu laptop e jogar mais um pouco de Lendas do Overcraft.

Afinal, era a única coisa na qual ela era boa.

E, mesmo que não importasse, ela tentava ter algum orgulho nisso.

Quando ela chegou em casa, as ruas da Cidade Starlight estavam cheias de pessoas com vidas reais tentando ir de um lugar para outro. Os arranha-céus, motivo de orgulho para os locais, escondiam a luz do sol, fazendo parecer quase noite às apenas 17h.

Neve entrou em sua casa e fechou a porta atrás de si.

Sua casa estava silenciosa.

```

[Hm? Será que meus pais-]

"Surpresa!"

"PORRA!"

A mãe e o pai dela saltaram de trás do balcão à frente.

Nas mãos deles havia balões e, sobre a mesa, estava um bolo que Neve não tinha percebido.

[O quê?]

Nos balões estava o número 18.

"Feliz aniversário!"

As sobrancelhas de Neve se arquearam.

[Ah... Certo. É meu aniversário hoje.]

---

"Então, ainda nada, hein?" O pai de Neve perguntou enquanto ele e sua filha estavam na varanda, olhando para a cidade animada abaixo deles. Sirenes e buzinas constantes eram tão comuns na Cidade Starlight que bem poderiam ter substituído os sons dos grilos. A barriga de Neve estava cheia e ela estava bastante certa de que tinha pedaços de bolo presos entre os dentes que precisaria tirar mais tarde.

"Sim," ela respondeu. "Eu só... eu não encontrei nada, sabe? Quero dizer, como é que eu vou saber o que eu quero fazer pelos próximos sei lá quantos anos?"

[Será que eu realmente tenho que fazer uma escolha dessas agora?] Ela se perguntou. Claro, a ameaça iminente da pobreza e a vergonha ancestral faziam com que a resposta fosse "sim".

Seu pai, no entanto, discordou.

"Não necessariamente," ele respondeu. "Mas, seria bom se você tivesse alguma ideia."

"Como é que eu vou saber, porém?" Ela perguntou. "Tipo, é para acontecer do nada que eu esteja olhando para alguma coisa um dia e dizer 'ah, acho que vou fazer *isso* para sempre. Incrível'"?

"Para algumas pessoas, é assim. Outras levam mais tempo para desabrochar. Pessoalmente, eu acho que você vai ficar bem."

"Espero que sim."

"Sério," ele deu uma risada. "Você é uma garota inteligente. E, não estou dizendo isso porque é meu trabalho te dar reforço positivo ou qualquer coisa do tipo. Eu acredito nisso. Você é mais esperta do que acredita ser."

"Vou acreditar na sua palavra."

"Deveria! Agora, vamos. Hora da sua primeira bebida."

"O quê? Sério?" Neve olhou para ele.

"Sim. Você é adulta agora. Se você acabar trabalhando num escritório ou algo assim, vai ser convidada para beber de vez em quando e minha filha não vai ser uma maldita fraca para bebida. Vamos."

"Ah, tá bom."

Isso foi tudo. Foi tudo o que seu aniversário representou.

Ela não saiu com amigos, principalmente porque não tinha nenhum, a celebração não podia realmente ser chamada de "festa", e o bolo era... decente.

Foi assim que Neve entrou na vida adulta. Com um bolo de baunilha medíocre e algumas bebidas baratas.

---

No dia seguinte, Neve acordou cedo.

Ela queria jogar algumas partidas antes de ir para a escola.

No momento em que se levantou, no entanto, ela encontrou algo flutuando sobre sua cabeça.

Palavras.

Palavras de algum tipo estavam simplesmente... lá, flutuando acima.

"Hã?" Ela perguntou, esfregando os olhos e bocejando. "Que diabos?"

As palavras diziam:

{As Provas de Unidade começaram!}

{Escolha Seu Caminho}

{Caminho do Guerreiro}

{Caminho do Assassino}

{Caminho do Mago}

"... Ok. Eu realmente enlouqueci. Porra, eu não sabia que estava tão estressada. Azar."

Ignorando as palavras que ela assumiu serem apenas um fruto da sua imaginação, o resultado de uma esquizofrenia recém-desenvolvida, Neve arrastou suas pernas em direção à porta.

Ao se aproximar dela, ela ouviu alguns sons estranhos vindo do outro lado.

[Isso é... rosnados? Um cachorro?]

Ainda mais confusa, ela abriu a porta e deu um único passo para fora.

Um passo para fora de seu quarto foi tudo o que pôde dar antes de a visão à frente a fazer parar.

Sangue por toda parte. Havia um rastro de carmim marcando o chão de madeira da porta da frente até o balcão, o mesmo onde Neve tinha comido seu bolo de aniversário no dia anterior.

Quando Neve encontrou a fonte de todo esse sangue, todo o ar de seus pulmões a abandonou.

Ela não conseguia falar. Ela não conseguia emitir um som. Arrepios subiam por sua espinha.

No centro da sala, rosnando enquanto mordia a carne, estava a mãe de Neve.

E o corpo que ela estava atualmente devorando era o do pai de Neve.

"... Mãe?"

A palavra saiu tão baixinho, através de lábios trêmulos, e ainda assim ela a ouviu.

"Argh?"

A mãe de Neve virou-se em direção a ela, e Neve não encontrou vida em seus olhos. Apenas um olhar selvagem e sedento de sangue que agora tinha Neve na mira.

Caminhando lentamente pelo cômodo, Neve tentava não se engasgar.

"M-Mãe?" Ela perguntou novamente, esperando por algum tipo de resposta. Sua mãe simplesmente se levantou, a carne de seu marido caindo do queixo dela para o chão enquanto ela observava sua filha. "O-O que está acontecendo?"

"Aaaarrrr...." Sua mãe abaixou a postura.

Movendo-se ao redor dela, por instinto, Neve foi até o balcão e pegou uma faca lentamente.

Entre todos os pensamentos de "isso não pode estar acontecendo" e "o que está acontecendo?", havia um que tomou conta.

[Ela vai tentar me matar.]

E esse pensamento fez Neve apertar mais forte o cabo da faca de cozinha.

"... Por favor, não," ela implorou.

Seu aviso foi ignorado.

Sua mãe investiu contra ela.

"Ah!" Neve gritou, colocando sua faca entre ela e sua mãe.

Sua mãe foi direto nela.

"Ack!?"

A faca de cozinha entrou diretamente na garganta da mulher, e mesmo assim ela ainda tinha energia para arranhar e golpear o rosto da filha. Ela se debatia violentamente, e tudo o que Neve podia fazer era manter o rosto virado para evitar cortes e arranhões.

Ela tentou ao máximo não olhar para a mulher na outra extremidade daquela faca de cozinha. Mas falhou.

Então, sua mãe caiu para trás, morta.

Neve desabou. Seus joelhos atingiram o chão e seu pijama absorveu um pouco do sangue do seu pai que havia se acumulado.

Aquelas palavras estranhas permaneceram sobre a cabeça de Neve, quase como se estivessem zombando dela.

Foi assim que Neve acordou no dia em que o mundo mudou. O dia em que a vida regular acabou e um novo mundo surgiu.

O dia em que as Provas de Unidade começaram.

```