"A paz não é determinada pelo que esta acontecendo em torno de você, mas sim o que esta acontecendo dentro de você."
— Sabedoria oriental
O homem decidiu seguir a rota que a mulher havia lhe dito. Ao seu ver a mulher não possuía más intenções, pelo, o contrário, parecia desesperada.
Entrando na floresta sinistra que ficava apenas alguns quilômetros do local onde estava, ele sentiu uma presença forte tentando o empurrar para fora da floresta. No entanto, segurou bem os pés no chão e seguiu seu caminho. Precisava encontrar o animal que a bela mulher havia falado.
A vegetação da floresta começou a se movimentar como se estivessem assustadas, e das folhagens saiu duas criaturas esqueléticas. Levantando suas garras, as criaturas avançaram sedentas por sangue fresco.
O jovem samurai se defendeu com a sua espada ainda na bainha. Em seguida aplicou força, jogando as criaturas para longe. Elas chegaram até encostar o corpo no chão, porém, o jovem sem dar nenhuma oportunidade de um novo ataque; sacou sua espada e cortou ambas as criaturas ao meio.
Imediatamente a carne apodreceu, e gradualmente os restos das criaturas foram sumindo.
O homem achou aquilo um pouco estranho, mas seguiu seu caminho com mais cautela.
A cada passo ele podia sentir sua energia indo embora, sua cabeça começava a latejar, sua visão embaraçar. Apesar de todos os incômodos, ele seguia seu caminho com determinação.
Após passar por um corredor de plantas secas, que eram tão juntas, que ao atravessar o caminho dela; elas arrancavam pedaço da carne. Com alguns rasgos em sua roupa, e carne; o homem chegou em uma parte que nem mesmo parecia fazer parte da floresta.
Nela a neve caia sem parar, as árvores eram congeladas, e estalactites espalhadas em todo o cenário. O jovem arfou, e de tão frio ele conseguia ver o ar saindo de sua boca.
"Muito frio", comentou o jovem observando cuidadosamente o lugar.
"Como o seu coração", outra voz retrucou para o jovem. A voz era mansa, e nela continha diversão e sabedoria.
"Você é o espírito da raposa?", perguntou o jovem procurando onde ela estava com seus olhos.
"Possa ser que sim, possa ser que não", disse a raposa, e logo continuou, contudo dessa vez a voz parecia mais próxima. "Meu jovem, responda-me uma pergunta. Você que veio até mim, ou fui até você?", perguntou a raposa para o jovem.
"Acredito que tenha sido eu que veio até você", disse confiante. No entanto, aquela resposta arrancou risos travessos do animal.
"Como sabe disso? Mesmo que você tenha vindo até mim, se eu não aparecesse, sua viajem seria em vão. No entanto, eu o esperei aqui. Fazendo com que eu tenha indo até você, e não o contrário", explicou com calma a raposa para o jovem. Ele ficou um tempo absorvendo, e realmente ela tinha razão.
"Uma linda mulher aconselhou-me a vim até você, e passar por um de seus testes", disse o belo samurai. E, o animal observando entre as folhagens arregalou os olhos, e sua boca ficou entreaberta. Fez um "ah! baixinho, e riu em seguida.
"Apenas aqueles que verdadeiramente conhece a si mesmo conseguirá passar pelo, o meu teste", a raposa semicerrou os olhos e continuo. "A meu ver, você, está perdido. Inconscientemente escolheu o caminho das sombras, e até mesmo o que virão após você pagara."
Isso atiçou um medo adormecido no âmago do jovem. Não queria que ninguém mais passasse pelo que ele passou. Era doloroso demais.
"Então, por favor, diga-me como posso reverter isso!", implorou desesperado.
"Vença a si mesmo", foi a única coisa que a raposa aconselhou. O jovem arqueou uma das sobrancelhas, e suspirou em seguida.
"Como venço a mim mesmo?", perguntou. E, nenhuma resposta foi lhe dada; pelo menos, não imediatamente.
"Descubra sozinho", disse a raposa se estirando em um dos galhos da árvore onde estavam.
O jovem cerrou forte os punhos, e mordeu seu lábio inferior. Mas, pensando melhor não era isso que devia fazer. Inspirou e expirou e decidiu ir direto ao ponto.
"Qual é o seu teste?", perguntou o jovem, e a raposa ficou pulando de árvore em árvore.
"Este é o meu teste, jovem", no mesmo instante o animal pula das folhagens, e pousa no ombro do jovem. O samurai fica confuso, apesar de sentir a raposa em seu ombro, não conseguia enxergá-la.
"O que significa isso?", pergunta olhando para o seu ombro. A raposa sobe um pouco mais pelo, o corpo do homem, e para na cabeça. Se aconchega, e rir.
"O teste é enxergar mais do que seus olhos podem ver. E, isso não eu estou falando em vendar os olhos, como você faz. Quando você esconde algo que é seu por medo, faz de você uma farsa. Por não se mostrar por inteiro", falou a raposa. Irritando o jovem mais uma vez.
"Então, o que deveria fazer? As pessoas tinham medo dos meus olhos!", se exaltou.
"Não. Você tem medo de si próprio. E, colocou a culpa em seus olhos carmesins", falou por fim a raposa, calando o jovem.
O jovem se sentou na neve fria, pensando em como olhar algo além do que enxerga. Fechou os olhos por um instante, e sentiu cada floco de neve cair sobre sua pele. No entanto, eles não derreteram e muito menos eram frios.
Deitada sobre a cabeça do jovem samurai, abriu somente um olho e riu.
"Muito bem, pirralho! Não posso acreditar que a Tsukiyomi-sama deu parte de seus poderes para este humano", pensou a raposa.
Contudo, a raposa não queria facilitar para o samurai. Propositalmente ela cravou suas garras no couro cabeludo do jovem. Fazendo-o soltar um grunhido de dor baixinho. Mesmo com a distração o jovem não saiu de seus pensamentos. Até que percebeu que a atual paisagem é uma ilusão.
"É uma ilusão!", animado com a descoberta se levantou rapidamente, quase derrubando a raposa.
"Ei! Cuidado! Poderia ter me derrubado!", reclamou a raposa.
"Ninguém mandou ficar em cima da minha cabeça!", retrucou o samurai.
A raposa o xingou internamente, e fechou a cara para o samurai. O jovem olhou ao redor, e focou no lugar.
"O que derrete gelo?", perguntou a raposa. O samurai não entendeu qual era o propósito dela fazer a pergunta, mas logo se deu conta.
"Fogo!", respondeu já olhando ao redor procurando para fazer fogo.
"Fogo físico não fará com que minha magia seja desfeita. Como eu disse, tem que conhecer verdadeiramente a si mesmo", aconselha mais uma vez.
"Conheço bem minhas capacidades!", falou exaltado.
"Sei... se você diz...", em tom irônico a raposa volta a cochilar. O samurai range os dentes.
"Então, me dê um exemplo!", provocou o samurai.
"Idiota!", gritou a raposa. "Seus olhos vermelhos absorvem suas energias negativas. Se você imaginar chamas, a energia se transformará no que você desejar!", a raposa ficou até sem fôlego explicando.
"Que interessante!", comentou o samurai. Com isso, recebendo um carinhoso tapa no topo da cabeça.
"Ande logo!", mandou irritada.
O samurai desembainhou sua espada, e a apontou para frente. Fechou os olhos, e imaginou chamas. Ainda com os olhos fechados avançou com sua espada erguida, e cortou o espaço. Saindo da paisagem de neve, para uma verde.
O samurai abre os olhos, e vê que a paisagem mudou drasticamente. Tudo é muito verde, tem até mesmo um pequeno córrego. A raposa desce da cabeça do samurai, e fala: "Você passou na primeira fase do teste. Agora terá que lugar com o seu pior inimigo!"
Após falar isso a raposa desaparece, e deixa o samurai sozinho, sem explicação alguma. Ele coloca um pé na frente, e outro atrás. Se curva um pouco mais, explica sua destra na espada. Iria dedicar boa, parte de sua força no saque.
Sua intenção era matar com apenas um golpe. Amansou sua respiração, e olhava para cada canto. O inimigo poderia vir até de cima, ou talvez de baixo.
Todo cuidado é pouco.
Olhando para frente, um som de um galho quebrando atravessa seus ouvidos. Se virou bruscamente, e bloqueou o ataque do seu possível inimigo.
Que pulou passos para trás, e sorriu. O jovem apertou um pouco os olhos e ficou surpreso ao ver seu inimigo.
Era a si mesmo!
Os dois ficaram se encarando por um tempo, até que avançaram mais uma vez. No começo só ouvia o tilintar das espadas, mas logo aumentando a velocidade dos ataques. O jovem conseguiu ferir a sombra em várias partes, e a sombra só conseguiu atingir a fita que amarrava os cabelos do jovem. A franza ficou em seu campo de visão, mas não tinha tempo para se preocuparem com isso.
Mudou a posição da espada. Se agachou, e com o fio da espada para cima, ela avançou na sombra que desviou; apenas se virando brevemente para o lado. Mas o jovem, girou seu pé e com o cabo da espada ele atingiu o estômago da sombra.
Ela cospe uma considerável quantidade de sangue. Tonto cambaleou para trás, mas o jovem não perdeu tempo; e socou ambos os lados da face da sombra. Mudou a espada de mão, e a gravou no coração da sombra. E a girou, para ir até o cabo.
Entretanto, a sombra sorriu de forma sarcástica e agarrou o pulso do jovem. Manejou sua espada, e por pouco não acerta precisamente o peito do jovem. Ela desvia no último instante.
Ofegante, o jovem tenta pegar sua espada de volta, mas a força da sombra é sobre-humana. Desistindo de pegar a espada, ele a solta e retrocede os passos.
Com a mão esquerda alcança a faca que guarda em sua faixa localizada na barriga.
A sombra não tinha mais muito o que fazer. Já estava quase morta, mas se apegava na faísca de vida. Com esforço, ele tira a espada do jovem, e a joga para longe. Jorrando sangue pela, a ferida ele se aproxima do jovem, e ergue o braço na intenção de o enforcar. Mas o jovem puxa o corpo da sombra, ficando por trás, corra a garganta da sombra. Que cai no chão instantemente!
"Eu venci, desgraçado!", sua voz saia arrastada. Caiu seguida. Fazia muito bem que não dormia, e após a luta ficou muito cansado.