O vento cortante assobiava entre as Montanhas Kal'dor, sua passagem pelas fendas rochosas como um lamento distante. A neve acumulada nos cumes parecia se mover com a mesma inquietação do ar, como se a montanha estivesse viva e consciente do que estava por vir. Maddy Liak, com o manto puxado firmemente ao redor dos ombros e o capucho cobrindo a cabeça, escalava a trilha íngreme com a habilidade de alguém que conhecia cada pedra e cada curva daquele terreno traiçoeiro.
A jovem, com seus dezoito anos, estava acostumada a enfrentar o clima rigoroso das montanhas. Criada ali desde que se lembrava, o mundo além dos picos nevados era um mistério distante. A vida na pequena aldeia nas montanhas era simples, mas era a única que Maddy conhecia. Seus dias eram preenchidos com a coleta de ervas, a manutenção da casa e a assistência aos poucos habitantes que compartilhavam aquele local isolado. Era uma existência tranquila, mas repleta de desafios diários.
Naquela manhã, no entanto, algo estava diferente. O ar estava mais pesado, e o silêncio entre os animais era inquietante. Maddy sentia um desconforto profundo, uma sensação de que algo estava prestes a acontecer. Ela parou por um momento e olhou ao redor, tentando identificar o que causava aquele pressentimento. O céu estava nublado e cinza, como se estivesse prestes a desabar a qualquer instante.
Ela estava a caminho do Vale dos Ecos, um lugar que sempre lhe causava arrepios. Diziam que o vale era habitado por espíritos antigos, suas vozes presas nas pedras. Superstição, pensava ela, mas o lugar ainda a fazia sentir-se desconfortável. No entanto, o estoque de ervas medicinais estava quase no fim, e o íris-prateado, uma flor rara essencial para os curandeiros da aldeia, crescia apenas naquele vale.
Maddy desceu pela trilha sinuosa até a entrada do vale, e o silêncio se tornou ainda mais profundo. A neve sob seus pés parecia amortecer todos os sons, e o ar parecia estar preso em uma tensão palpável. Ela hesitou por um momento, considerando se deveria continuar. Mas a necessidade a impulsionava. Com um suspiro decidido, ela avançou.
À medida que se aproximava, o vale se revelava diante dela como um espaço amplo e sombrio. As paredes de pedra escarpadas formavam um contorno natural que parecia abraçar o lugar em uma escuridão silenciosa. Maddy sentiu um calafrio percorrer sua espinha, mas continuou, os passos ressoando nas paredes de pedra.
No centro do vale, algo chamou sua atenção. Havia uma pedra negra, polida e brilhante, repousando em um local onde Maddy nunca havia notado antes. A pedra parecia estar ali há pouco tempo, como se tivesse sido colocada recentemente. Era um objeto estranho, destacando-se contra o cenário austero e natural.
Aproximando-se com cautela, Maddy examinou a pedra. Seu brilho sombrio parecia pulsar, como se tivesse um ritmo próprio. Ela sentiu um impulso inexplicável de tocá-la, como se a pedra estivesse chamando por ela. Maddy hesitou, a mente lutando contra a sensação quase mágica que sentia. Nunca havia acreditado em superstições, mas aquela pedra era diferente.
Ela estendeu a mão, a pele tocando a superfície fria e lisa. Assim que seus dedos entraram em contato com a pedra, um estrondo ensurdecedor ecoou pelo vale. A luz começou a brilhar intensamente, ofuscando os olhos de Maddy. Ela tentou se proteger, mas a força da luz era avassaladora.
O chão começou a tremer, e Maddy caiu de joelhos, tentando manter o equilíbrio. O vale, normalmente silencioso, estava agora reverberando com um som profundo e primordial, como se a própria terra estivesse gritando. A pedra parecia estar emitindo uma energia poderosa, e Maddy sentiu-se completamente consumida por aquela força.
A luz começou a diminuir, mas o tremor continuou. Maddy olhou para baixo e viu que símbolos antigos haviam surgido em seu braço, ardendo com um brilho dourado. Eles eram complexos e intrincados, e Maddy percebeu que estavam em um padrão que ela nunca tinha visto antes. A sensação de calor em seu braço era ao mesmo tempo dolorosa e revigorante.
De repente, uma voz grave e imponente sussurrou em sua mente. Era um sussurro que parecia vir de dentro dela, mas também de além dos limites da realidade.
"O Alcance..." a voz murmurou. "Você é a Escolhida."
Maddy lutou para entender o que estava acontecendo. A voz parecia ser uma mistura de força e sabedoria, e suas palavras reverberavam dentro de sua mente. A profecia, que ela conhecia apenas como uma antiga história contada pelos anciãos, parecia estar se concretizando diante de seus olhos.
O vale foi subitamente invadido por uma sombra imensa que se estendeu até o horizonte. Maddy ergueu os olhos e viu uma figura negra no céu, uma sombra que parecia estar engolindo a luz. O sentimento de pavor se intensificou, e ela sabia que algo terrível estava prestes a acontecer.
Ela tentou se levantar, mas suas pernas estavam fracas e trêmulas. A pedra, agora apenas um objeto comum em comparação com o que acabara de ocorrer, estava ainda ali, mas sua presença não parecia tão ameaçadora. Maddy sentiu um impulso para sair daquele lugar, para fugir da escuridão que começava a se espalhar. Com esforço, ela se levantou, apoiando-se em uma rocha próxima.
A mente de Maddy estava confusa, mas havia uma coisa clara: o que quer que tivesse acontecido ali, ela estava agora envolvida em algo muito maior do que qualquer coisa que poderia ter imaginado. O Alcance, aquele artefato enigmático, havia despertado forças que estavam além da compreensão dela.
Com o coração batendo acelerado e a mente cheia de dúvidas e medos, Maddy se afastou do vale, suas pegadas rapidamente sendo cobertas pela neve que começava a cair novamente. Ela sabia que sua vida havia mudado para sempre e que uma nova jornada estava prestes a começar. O destino de Adlaud, e talvez de todo Mysteria, estava agora ligado a ela de maneiras que ainda não compreendia.
À medida que ela se afastava, o vento nas Montanhas Kal'dor parecia carregar uma nova melodia, um sussurro que prometia aventuras e perigos desconhecidos. Maddy Liak estava prestes a descobrir que o verdadeiro poder estava não apenas naquilo que ela tinha encontrado, mas nas escolhas que faria a partir daquele momento.