O amanhecer pintava o céu de tons laranja e roxo enquanto Maddy e Kael se aproximavam do Salão das Sombras. A cidade de Eldoria começava a acordar, mas eles seguiam por um caminho menos frequentado, onde as sombras ainda dominavam. O lugar ao qual foram chamados era famoso por ser um refúgio para os piores criminosos, mercenários e contrabandistas da cidade. Suas paredes escuras eram testemunhas de inúmeras transações ilícitas e acordos secretos.
Ao chegarem, Maddy sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A entrada do Salão era discreta, quase imperceptível, escondida entre becos sujos e repletos de caixotes velhos. Era difícil imaginar que algo tão sombrio e perigoso pudesse estar a apenas alguns passos do coração vibrante da cidade. O que mais a perturbava era o mistério por trás da mensagem. Quem os havia chamado? E por quê?
Kael olhou ao redor, certificando-se de que não estavam sendo seguidos, antes de abrir a porta de madeira envelhecida, que rangeu com um som baixo e ameaçador. O interior do salão era escuro, com luzes fracas vindas de velas espalhadas em mesas e cantos. Um cheiro de álcool forte e fumaça pairava no ar, e o murmúrio de conversas sussurradas ecoava pelas paredes. Poucos levantaram os olhos para observar os recém-chegados.
"Vamos com cautela," disse Kael, guiando Maddy através da escuridão. "Lembre-se, ninguém aqui é confiável."
Eles caminharam por entre as mesas, passando por rostos encapuzados, alguns mascarados, outros com cicatrizes de batalhas. O ar estava carregado de tensão. Era o tipo de lugar onde uma briga podia explodir a qualquer momento, e uma lâmina podia aparecer de surpresa.
"Estamos mesmo no lugar certo?" Maddy sussurrou.
Kael assentiu, mantendo a mão firmemente sobre o punho de sua espada. "A mensagem era clara. Este é o Salão das Sombras."
Antes que pudessem se aprofundar mais no local, uma figura encapuzada se destacou de uma mesa no fundo do salão e acenou discretamente para eles. A princípio, Maddy hesitou, mas Kael reconheceu o sinal e os levou até a pessoa misteriosa. A figura, envolta em mantos escuros, parecia fazer parte das próprias sombras do ambiente.
"Vocês vieram", disse a figura, a voz baixa e rouca. "Eu estava começando a me perguntar se teriam coragem de aparecer."
"Quem é você?" Maddy perguntou, tentando soar firme, apesar da tensão em sua voz.
A figura se inclinou levemente para frente, permitindo que apenas parte do rosto ficasse visível sob o capuz. Era um homem de pele pálida e olhos penetrantes, que brilhavam em um tom quase sobrenatural à luz das velas.
"Meu nome é Selior," respondeu ele. "E tenho informações que podem salvar sua vida."
Kael manteve-se em alerta. "E por que devemos confiar em você? Poderia ser uma armadilha."
Selior riu baixinho, um som seco e sem humor. "Se eu quisesse sua morte, vocês já estariam mortos. A Ordem de Lorthar não perdoa seus inimigos. Mas, por sorte, eu não sou leal a eles. Na verdade, tenho meus próprios motivos para ver o fracasso da Ordem."
Maddy franziu a testa, confusa. "Por quê? O que você tem a ver com tudo isso?"
Selior se inclinou ainda mais, agora falando em um sussurro conspiratório. "Porque, assim como você, sou um alvo. Os que controlam a Ordem querem o poder do Alcance, e eu… bom, eu sei demais sobre seus planos. Eles acham que podem controlar o Alcance, mas estão errados. Ninguém pode. Nem mesmo você, garota."
Maddy sentiu um frio percorrer seu corpo ao ouvir isso. "Então o que você quer de nós?"
"Uma aliança," Selior respondeu rapidamente. "Eu posso fornecer a vocês informações valiosas sobre a Ordem, sobre os movimentos deles e sobre quem está os financiando. Em troca, vocês me ajudam a me livrar deles de uma vez por todas."
Kael cruzou os braços, cético. "E por que deveríamos confiar em alguém que opera no submundo de Eldoria? Você pode estar jogando dos dois lados."
Selior sorriu de forma enigmática. "Porque, como vocês, eu estou desesperado. A Ordem quer mais do que apenas o Alcance. Eles têm outras ambições sombrias, ambições que vão muito além do que vocês imaginam."
"Explique," Kael exigiu.
Selior fez uma pausa, olhando ao redor para se certificar de que ninguém estava prestando atenção. Então, inclinou-se ainda mais perto, sua voz agora apenas um sussurro audível para Maddy e Kael.
"A Ordem de Lorthar não está apenas interessada em controlar o Alcance. Eles pretendem libertar um antigo mal, algo que foi selado muito antes do Alcance ser criado. Uma entidade que eles acreditam poder usar como uma arma definitiva para subjugar o mundo. E o Alcance… é a chave para quebrar o selo dessa entidade."
Maddy sentiu o chão sumir sob seus pés. "Uma entidade? O que você quer dizer com isso?"
Selior a encarou com seriedade. "Um ser de pura destruição, nascido das trevas mais profundas de Mysteria. Algo que foi contido pelos próprios antigos magos do Alcance, antes de desaparecerem. Se a Ordem conseguir completar seu ritual, o Alcance não será apenas uma ferramenta de poder – será a porta para o retorno dessa força devastadora."
"Por que eu?" Maddy perguntou, a voz quase inaudível. "Por que eu sou a chave?"
"Porque você é descendente de uma das últimas linhagens dos Guardiões do Alcance," explicou Selior, calmamente. "Seu sangue é o único capaz de ativar o poder completamente. É por isso que a Ordem quer tanto encontrá-la. Se eles colocarem as mãos em você, forçarão o ritual. E então… bem, o mundo estará à mercê deles."
O peso das palavras de Selior caiu como uma pedra sobre Maddy. Seu destino parecia muito maior do que ela jamais imaginara. Não era apenas sobre poder, mas sobre a sobrevivência de Mysteria como ela conhecia.
Kael interrompeu seus pensamentos, voltando-se para Selior. "E o que você sugere que façamos? Se a Ordem está tão próxima de liberar essa entidade, como podemos detê-los?"
Selior inclinou-se para trás, seus olhos brilhando na penumbra. "Precisamos atacar antes que eles possam agir. Há um ritual, escondido nas profundezas das catacumbas de Eldoria, que pode selar o poder do Alcance para sempre. Mas requer tempo, conhecimento e… confiança. Vocês terão que me seguir, porque eu sou o único que conhece o caminho."
Maddy e Kael trocaram olhares. A proposta de Selior era arriscada, e confiar nele significava se envolver ainda mais nas trevas que cercavam o Alcance. Mas com a Ordem de Lorthar à espreita e uma ameaça tão grande à espreita, talvez eles não tivessem outra escolha.
Maddy respirou fundo e deu um passo à frente. "Nós aceitamos sua ajuda. Mas saiba disto: se nos trair, não terá uma segunda chance."
Selior sorriu, sombrio. "Vocês têm minha palavra. E, por ora, minha palavra vale mais do que a vida."
Kael suspirou, ainda desconfiado, mas fez sinal para que seguissem. A jornada até as profundezas de Eldoria estava apenas começando, e com ela, o verdadeiro teste de confiança e coragem aguardava.