A mansão do conde Miller estava barulhenta para todos os lados que fossem. Os empregados não tinham intervalo, pois os preparativos para a chegada dos dois filhos mais velhos de seu senhor, que estavam vindo após muito tempo depois de sua partida, precisavam estar prontos antes deles chegarem. Os donos da casa, o conde e a condessa, estavam ansiosos para ver os rostos de seus dois filhos e como eles estavam.
A condessa Miller estava animada ao lado de seu filho mais novo, James, que estava tremendo visivelmente para rever seus irmãos mais velhos. O conde Miller estava orgulhoso de seus filhos que voltaram vitoriosos da guerra que ocorreu durante três anos. Todos estavam felizes por eles sobreviverem e por não terem nenhum ferimento sério ou que os tornassem aleijado.
Porém, ninguém estava sentindo tão intensamente tais emoções quanto Brandon.
O homem de vinte anos estava com um misto de emoções complicadas que se enredam entre si e não possuem começo nem fim. Sua expressão não indicava nenhuma delas, graças aos seus anos de trabalho ao lado do conde e da condessa e a experiência profissional, mas seu interior estava tremendo de emoção por ver aquele que amava depois de três longos anos.
Seus dedos coçaram e seu coração batia mais rápido com o pensamento de que poderia vê-lo. Era um sentimento que o fazia se sentir ansioso a cada segundo que passava e nenhum aviso de chegada vinha.
Brandon não conseguia não se sentir assim.
Ele o esperou durante todo esse tempo, lembrando-se da promessa que fizeram no dia da partida de seu amado. Na época, ainda estava nas primeiras horas do dia e o sol estava nascendo no leste, quando a porta de seu quarto foi aberta e um corpo em roupa preta entrou para dentro. Um adolescente em seus dezoito anos apareceu com um sorriso e seus olhos se encontraram no mesmo instante.
Era o segundo filho do conde e da condessa Miller, Phillip Ulisses Miller.
O recém-chegado no quarto se aproximou do dono e o abraçou, enterrando sua cabeça no vão entre o pescoço e o ombro. Seu nariz aspirou o cheiro agradável de Brandon e aproveitou o calor que lhe era transmitido.
Brandon não falou nada. Ele simplesmente aceitou os braços do outro em volta de si e gostou da sensação de se sentir acolhido ali. Ele nem tinha conseguido dormir naquela noite, preocupado com a viagem e os perigos que Phillip poderia enfrentar durante o tempo de guerra.
"Bom dia." A voz bem-humorada de Phillip saudou os ouvidos de Brandon e causando cócegas em seu pescoço graças à respiração.
Um sorriso nasceu dos lábios do jovem abraçado. Ele tinha um desejo que seus dias pudessem ser começados assim, com ele ao seu lado, o abraçando e desejando um bom dia. Isso somente o fez se sentir um pouco mais triste com o que estava por vir.
"Bom dia." A resposta não foi tão alta, mas Phillip ouviu perfeitamente.
Nenhum dos dois falou mais nada, somente a sensação dos dois corpos um no outro era confortável o suficiente para não se expor em palavras. Phillip foi o primeiro a se afastar, ficando ao lado de Brandon em sua cama. Seus lábios subiram em um sorriso ao ver a expressão de desagrado no rosto do ruivo por ele ter se afastado. Ele ergueu sua mão e levou até a bochecha do outro, afagando-o com seu polegar levemente.
Os raios de sol começavam a entrar pela janela do quarto, começando a iluminar levemente o quarto de Brandon e tornando mais visível ver o sorriso em seu rosto. Os olhos verdes de Brandon brilharam ao sentir o carinho em sua bochecha, mas logo eles se tornaram sombrios. Ele não queria acabar com aquela atmosfera confortável e silenciosa entre eles, porém o tempo que eles tinham juntos era limitado. A contragosto, sua voz saiu com pesar e rouca por não ter falado por horas na madrugada.
"Você tem mesmo que ir, Phillip?" Ele não respondeu, somente parou o carinho e recolheu a mão. Ele o olhou em silêncio, antes de falar.
"Você sabe que sim."
Um suspiro saiu de Brandon, ele sabia a resposta, mas queria que fosse outra ou que houvesse um jeito dele não ter que ir. Suas mãos pegaram a de Phillip e começaram a brincar com a palma e os dedos. Brandon olhou para a mão em seu colo, ele não queria olhar para Phillip e mostrar que estava mais triste do que estaria. Ele sabia que era necessário, era uma ordem do imperador. Se não fosse a guerra, ele não teria que ir batalhar contra o reino vizinho, Torzik, que declarou guerra à eles puramente por arrogância.
Desde os séculos passados que tal reino se gaba de ser o mais forte em poderio militar e que só não conquistou o continente por causa de não querer. E agora, o rei tolo e soberbo, declarou guerra ao império, simplesmente por achar que poderia lutar contra um dos principais poderes políticos do continente. Então, a convocação do imperador às famílias nobres e seus cavaleiros para a luta foi feita através de uma carta que chegou a uma semana na propriedade Miller. Ele convocou pelo menos um de seus filhos e pelo menos metade das forças.
E, infelizmente, Phillip era um dos cavaleiros mais notáveis da propriedade, sendo designado para elevar a moral dos soldados, junto com seu irmão, Ferion, o herdeiro do condado. Phillip observou Brandon quieto, brincando com sua mão. Ele não podia dizer que não entendia, pois também não queria ir. Ele moveu e pegou a mão macia que brincava com a sua, atraindo a atenção dos olhos verdes pouco claros devido à iluminação.
"Eu vou voltar." Sua fala saiu com convicção. Ele falou com confiança para acalmar aquele em sua frente. "Eu sei que vou voltar."
"Eu acredito." Brandon sorriu com a fala dele. E também assentiu, concordando com isso. Ele queria acreditar que ele voltaria, para ele também.
"Brandon."
"Sim?"
"Você… Pode me esperar?"
A pergunta ou pedido foi feita, soando séria com a voz de Phillip. Brandon o observou, silenciosamente, antes de sorrir e assentir diversas vezes, antes de expor seus pensamentos em voz alta.
"É claro que irei. E você também, certo?" Embora não quisesse soar, ainda havia um pouco de insegurança na pergunta.
"Certo. Também irei. Prometo" Ele prometeu. Ambos sorriram um para o outro.
Phillip pegou a mão do ruivo e trouxe aos seus lábios, beijando as costas como se fizesse uma promessa, e aproximou seu corpo de Brandon, para beijá-lo em seus lábios. Esse foi o último beijo que eles compartilharam, antes de Phillip sair do quarto para sair da mansão.
E então, durante os três anos, desde que Phillip partiu, Brandon dedicou-se ao trabalho. Ele trabalhava como um assistente do conde nos assuntos dos territórios e da condessa sobre os cuidados da casa, vida social ou simplesmente como companhia, e às vezes cuidava de James, o que não era um trabalho em si para ele.
Seu trabalho era diversificado e não era um empregado comum.
No entanto, quando viu os cavalos chegando à propriedade junto com os outros servos e a família Miller, ele não pôde deixar de pensar que tal espera fora desperdiçada com a visão que via à sua frente.
Ferion vinha na frente, liderando todos os outros atrás de si. Os cavaleiros tinham expressões alegres e animadas por voltarem a sua terra natal, e estavam ansiosos para poderem ver suas famílias novamente e terem um pouco de paz. E Phillip, ao lado de Ferion, vinha com uma garota à sua frente no mesmo cavalo.
O homem havia mudado muito desde a última vez, há três anos.
Os resquícios de sua adolescência haviam desaparecido e seu rosto parecia muito mais afiado do que antes, tornando-o mais másculo do que anteriormente. Seu corpo estava mais musculoso sobre a vestimenta pesada que vestia e também estava um palmo mais alto. Porém, não era ele que chamava sua atenção.
'Quem é ela?'
O coração de Brandon afundou e a respiração se fechou. Os pensamentos antes felizes se cessaram e o ruivo não pensava em mais nada, além da surpresa. Claro, seu profissionalismo o impedia de demonstrar o choque e a tristeza que crescia a cada momento em seu peito. A imagem não mostrava nada explícito, mas Brandon sabia reconhecer a expressão de Phillip depois de tantos anos juntos.
Ele sempre fora observador, ainda mais depois de começar a se envolver com o outro. E, como se não fosse só isso, ele sabia o que significava vir com alguém nobre em seu cavalo depois de uma batalha. Se ela fosse alguém comum, bastava ir em um novo cavalo ou ser acompanhada por um cavaleiro.
À medida que eles se aproximavam, a aparência da mulher se tornou mais evidente. Seu cabelo loiro era liso e descia até um pouco mais que os ombros. A pele era branca, mas se tornava mais pálida conforme descia pelo pescoço. Contudo, isso não era o que chamava a atenção de Brandon. O que ele estava olhando era para o sorriso crescente no rosto fino dela para Phillip, e como ele correspondia com um maior ainda.
'Você não iria me esperar?'
Talvez fosse um pedaço de vidro que ouviu se partir em sua mente, e não seu coração.
Ferion desceu de seu cavalo e chegou até eles, cumprimentando seu pai primeiro, sua mãe e um James sorridente que o abraçou forte, feliz por ele ter retornado, e recebeu um carinho nos cabelos roxos. Por último, um aceno para Brandon, cujo retornou com um igual e um sorriso no rosto. Por mais abalado que estivesse, o profissionalismo era importante. Ainda mais, na situação que estava.
Depois de Ferion, Phillip apareceu. Ele estava com as mãos na cintura da garota loira desconhecida. Seu rosto exibia um sorriso para seus familiares e olhos amorosos para a pessoa ao seu lado. Era óbvio que eles estavam juntos. Que eles eram um casal.
Ambos estavam lado a lado e qualquer um que visse aquela cena diria que os dois combinavam. Os cabelos pretos dele e os loiros dela contrastavam entre si, junto aos seus olhos pretos e os claros da mulher. Como o dia e a noite, eles pareciam lindos sobre os raios de sol em si.
"Quem é ela? Será a amante do jovem mestre?"
"Será alguém que ele salvou ou uma prisioneira que ele trouxe?"
"Ela é linda. Formam um bom casal."
Os empregados ao longe sussurravam como os dois pareciam bem juntos. E também, criavam teorias de quem ela era e como se conheceram. Brandon realmente não queria ouvir aquilo, mas não desmanchou a expressão em seu rosto nem por um segundo.
'Por enquanto, seja educado, Brandon. Vamos pensar depois.'
"Filho, você voltou." O conde parabenizou-o, com um sorriso em seus lábios, e o abraçou forte, como se para comprovar que ele havia estado ali.
"É bom ver você também, pai." Ele retribuiu feliz.
Seus olhos depois foram para sua mãe que o olhava atentamente. Ela fechou o leque em suas mãos e se aproximou alegre dele, colocando as mãos em sua bochecha, acariciando-a e apertando elas.
"Você está ótimo. Finalmente, está de volta." Ela disse e abraçou ele também.
A condessa Miller se afastou e voltou à sua posição, observando discretamente a mulher ao lado do filho. Phillip parou na frente de James e sorriu para ele também. Porém, diferente de quando fez com o mais velho, o garoto o encarou e o cumprimentou de maneira mais educada, mas animada também.
Discretamente, Phillip olhou em direção para onde Brandon estava. Ele o havia visto junto aos servos um pouco à distância. O ruivo estava ali, parado, com um sorriso no rosto e de olhos semicirculares, como se não vissem nada. Seu rosto, embora estivesse sorrindo, permanecia ocultando todas as emoções sentidas em sua mente.
Se antes dos três anos ele era mais expressivo e honesto em sua face, agora, ao olhar para ele, você não conseguia saber o que estava pensando. O tempo não foi o único que mudou para Phillip.
No entanto, não foi só seu comportamento que mudou, seu físico também. Os ombros de Brandon estavam mais largos e ele estava mais alto, embora mais baixo que Phillip. Seu braços com mais músculos, mas sua figura permanecia esguia e elegante. O cabelo ruivo estava em um corte mais nobre e mais vermelho do que antes. Brandon ficou mais lindo. E fazia sucesso entre as empregadas da casa e as damas que vinham na festa de chá.
"Agora, deixem-me apresentar ela." Phillip rodeou a cintura da mulher que trouxe. "Essa é Johannes Attwater, minha noiva."
"Prazer em conhecê-los, senhor e senhora. Jovem mestre." Ela pegou as pontas de seu vestido simples e se inclinou. Um cumprimento típico para os nobres.
O fato dela estar vestindo um vestido simples não ocultava sua beleza aparente. Ela era linda, isso ninguém podia negar. Se ela se arrumasse e estivesse como uma verdadeira dama, poderia ser tão linda quanto uma fada.
Ninguém havia falado nada. O conde olhava surpreso para os dois. Ele tinha noção de que os dois estavam em um relacionamento, mas não pensava que estavam noivos. A condessa estava com os olhos arregalados, um comportamento não muito nobre, com o leque em sua boca, para ocultar sua boca aberta pelo que acabou de ouvir. O pequeno James simplesmente encarou a mulher, fechando o rosto logo em seguida; por algum motivo, ele não gostava dela.
Dali, até entre mesmo os empregados, somente Ferion e Brandon não expressaram seus sentimentos. Ferion suspirou, como se esperasse que ele fizesse uma declaração do tipo, e o olhou como se fosse um aborrecimento.
'O quê? Noiva?'
Brandon, por outro lado, não fez nada, sua mente estava em um caos, diferente da calmaria que seu rosto transpassa.
"E-entendo…" O conde foi o primeiro a responder, gaguejando em surpresa e se recompondo ao tossir. "Vocês, peguem as bagagens e coloquem em seus quartos. Os cavaleiros estão dispensados e poderemos discutir logo. Por hoje vocês estão livres."
Com as falas do conde, rapidamente as pessoas voltaram a si e se dispersaram para fazer o que deveriam fazer. O mordomo e a chefe das empregadas, que estavam ao lado de Brandon, rapidamente se distanciaram e foram comandar.
"Querido, você deve estar cansado da longa viagem. Por que não entra e volta para seu quarto? Descanse bem." A condessa disse assim que seu marido terminou de falar. Ela colocou a mão nos ombros de Phillip e começou a guiá-lo para dentro da casa, com a moça logo atrás.
"Haaa…" Um suspirou foi ouvido do conde, cuja mão estava em sua testa para apaziguar a dor de cabeça que com certeza viria. Ele se virou para Ferion. "Como isso aconteceu?"
Não precisou nem especificar o que era, o filho mais velho havia entendido perfeitamente ao que seu pai se referia.
"Eu não sei. Alguns meses antes da guerra acabar, alguns soldados disseram que ele estava com uma mulher. Mas nunca achei que ele teria ficado noivo até que ele contou pouco antes de voltarmos."
"Isso é problemático…"
O conde iria continuar a conversa, mas notou que seu filho mais novo estava próximo dele, o encarando. Ele se virou para Brandon que estava parado, o ruivo em algum momento ficou ao lado de James, e esperando alguma ordem, afinal, ainda estava na hora de seu trabalho.
"Você está dispensado, Brandon. Mas, se puder, cuide de James." O conde pediu, ele teria muito o que pôr em detalhes com Ferion sobre a guerra e o que houve com seu segundo filho.
"Claro, senhor." Brandon se curvou, antes de sorrir para James e o ver retribuir também. "Vamos, James?"
"Sim! Eu tenho tanto que te mostrar."
"É sobre seus estudos? Ouvi que seu professor estava elogiando da última vez."
"São os novos feitiços que aprendi na aula. Você vai gostar."
O garoto falou animado, balançando a cabeça e seu cabelo roxo para frente ao acenar. Brandon sorriu em falso de sua animação. Ele se virou um pouco e olhou para trás, onde o conde e Ferion começaram a andar para dentro da casa, provavelmente o escritório. Depois disso, voltou-se para o jovem mestre ao seu lado. Ele não notou o olhar que Ferion havia enviado para ele quando se virou.