Chapter 9 - 2.2

Nos primeiros dias de Brandon como ajudante do conde, ele ficava em uma mesa que foi posta ali para ele para trabalhar e perguntar algo que não sabia. Seria ineficiente sair de seu quarto, onde ele trabalharia, para questionar toda vez que tivesse dúvidas sobre o documento. Então, foi decidido, pelo conde, que ele tivesse um espaço ali para que usasse durante seu aprendizado.

As tarefas postas para si eram relativamente simples, com a organização dos papéis e alguns trabalhos que ele poderia fazer para se adaptar. Não eram algo que exigiria conhecimento específico nem muita experiência. Quando foi aumentando gradualmente a dificuldade, o conde analisava e ia revisando, apontando seus erros que cometeu e como encontrá-los e resolvê-los. 

Era algo que Brandon gostou de fazer. Os elogios do conde também eram incentivadores para ele continuar. Por isso, ele tratou de aprender bem e realizar direito suas tarefas, sendo um ótimo ajudante para o senhor Miller.

"Sem ele, eu não poderia ter aprendido tão bem e rápido. Claro, demorou alguns meses para eu me adaptar ao trabalho. Eu teria cometido mais erros se não tivesse suas instruções, no entanto."

Um sorriso cresceu nos lábios de Brandon, enquanto Ferion prestava atenção nele.

"Ainda sim, é impressionante que aprendeu isso em meses."

"Agradeço o elogio." Brandon disse. "Pois bem, Ferion. Se você não tiver mais alguma pergunta, agora que terminamos, irei indo. Tenho que entregar esses papéis para o conde."

O ruivo se levantou e pegou um maço de papéis na mesa. Eram documentos que eles já haviam revisado. Não havia necessidade de estar ali mais.

"Não tenho. Pode ir."

"Com sua licença."

Brandon se curvou levemente e saiu do quarto do nobre. 

Ferion olhou por alguns instantes e se recostou na cadeira. A mente direcionada ao tempo que trabalhou com Brandon pela manhã e tarde. O garoto, aos seus olhos, havia mudado e não era sua imaginação.

Ele viu como o outro estava durante o dia de sua chegada. Um sorriso no rosto, mas seus olhos não estavam sorrindo junto. Pelo contrário, eles estavam tão sombrios quanto a noite em uma floresta.

Além disso, havia a falta de expressão quando ele não sorria. Um rosto sério que esconde qualquer sentimento, emoção e pensamento dos outros ao seu redor. 

Não era algo que ele fazia quando saiu, então ele deve ter conseguido depois de sua partida.

"Como pode ele ter mudado assim? Ele era tão honesto antes."

Um murmúrio baixo foi dito na sala em silêncio. 

Ferion respirou fundo e suspirou. Ao seu ver, Brandon era como um irmão, então vê-lo mudado era algo novo e ele nem sabia a causa.

Ele se lembrava de ter ido até sua mãe para saber da causa depois de sua chegada. Ela estava lendo calmamente na mesa do jardim, lendo o jornal e tomando um chá com uns lanches quando chegou de sua ida a cidade. 

"Boa tarde, mãe."

Não era mais de manhã, pois ele tinha saído cedo para resolver assuntos pessoais. Ferion não estava trabalhando como herdeiro e ainda estava em seus dias de descanso, mas não quer dizer que não havia coisas para fazer agora que voltou. 

A mulher ao ouvi-lo abriu um sorriso alegre. A face toda iluminada ao ver seu primogênito e que ele foi o primeiro a vê-la. Claire ainda estava contente em ter seus dois garotos de volta à mansão depois de tanto tempo sem vê-los.

"Oh, o que meu filho quer agora que ele veio até mim? Sente-se e me conte." Ela disse bem-humorada, recebendo um beijo em sua bochecha de seu filho e vendo-o se sentar no lugar que ela mostrou.

"Não posso vir apenas para passar um tempo com a senhora? Faz anos que não conversamos direito." A Condessa MIller riu da fala de seu filho.

"Eu não acredito nisso. Nem se fosse James dizendo eu acreditaria. Ele só vem até mim quando quer algo." Ela diz. "Mas não é ruim, sempre posso conseguir favores dele também."

Era um fato conhecido para seus filhos. A Condessa Miller ao receber pedidos de seus filhos, pede algo em troca. Quando pequenos, geralmente era um abraço, um beijo ou um tempo para ficarem juntos. Coisas simples que qualquer criança poderia fazer e que expressassem seu relacionamento com eles.

O que mais utilizou tal método foi Phillip, que pedia brinquedos novos ou coisas que chamavam sua atenção. James pede às vezes, mas ele fica com Brandon a maior parte do tempo e não tem nada que realmente queira. Quanto a Ferion, foram poucas, mas seus pedidos eram algo que o ajudavam. 

Ela fazia com orgulho para ver os sorrisos deles quando ganhavam o que queriam.

"Então, qual é o motivo para vir até mim? Tenho certeza que você está ocupado o suficiente, já que você não fica muito na mansão e só volta antes do jantar. Sabia que seu pai está preocupado? Ele deu dias de descanso para você e você não fica parado. Não quero me intrometer em seus assuntos, mas descanse apropriadamente."

"Eu estou descansando o suficiente."

"Soube que você saiu no dia seguinte à sua chegada." 

"Foi uma coisa rápida. Voltei à mansão antes de você, James e Brandon."

"E no dia seguinte."

"Isso…"

"E no dia seguinte ao dia seguinte."

"..."

O homem não poderia falar nada para a mulher que estava à sua frente com uma expressão leve, mas um olhar firme direcionado a ele.

Quanto tempo ele não vivenciou algo assim? Uma sensação de nostalgia e saudades o preencheu, recordando da época que ele trabalhava como herdeiro e que sua mãe o visitava e a seu pai e exigia que ambos tirassem tempo para descansar. Seus pedidos eram ainda mais exigente ao chefe da família, por causa de sua idade.

Um sorriso um pouco torto cresceu em seu rosto pelo tom de repreensão na voz dela. Talvez ele tenha esquecido depois de tanto tempo, mas sua mãe ainda era tão ameaçadora para ele quanto um exército inimigo. 

Os cabelos roxos e os olhos castanhos em seu rosto gentil eram amigáveis, mas todos sabem que a personalidade dela é travessa e forte. Para seus filhos, quando ela está com um sorriso no rosto enquanto esconde parte de sua raiva, ela é muito mais intimidadora. 

Ele estava errado, em todo caso. Era certo que ele tinha que descansar e pegar leve depois da longa viagem e pressão que teve por três anos. Porém ele mal parava na mansão.

"Desculpe." Ele disse, baixando a cabeça para ela.

"E?"

"Vou descansar direito até que o pai me mande trabalhar."

O tom de voz era baixo, mas era audível para ela. Quem conhecesse Ferion, um dos melhores generais na guerra, não acreditaria em tal visão. Ele estava sendo repreendido por sua mãe e tinha uma atitude tão passiva que era incomparável com a que teve nos campos de batalha, onde ele atuou com vigor.

Ao ouvir o que ele disse, ela suavizou a face, diminuindo a firmeza em seu olhar.

"Não precisa parar de sair, não tenho como lhe impedir disso. Você é um homem feito. Só peço que tenha uma devida pausa. Parar e pensar um pouco é uma coisa boa e benéfica."

"Sim."

Condessa Miller o olhou e pegou sua xícara de chá para beber um gole. O homem estava parado e com a cabeça para cima a olhando. Ela não teve como não se lembrar de quando ele era um adolescente com tal visão. Ferion era sério e fazia o que tinha que fazer, o que o levava a dar importância às suas repreensões quando as fazia. Eram poucas, então não era de se preocupar tanto.

"Ainda não me disse qual o motivo para vir aqui. E não diga que é apenas para me ver, querido."

"Eu queria saber o que ocorreu durante os três anos. As cartas não contam tudo o que acontece."

"De fato…" Ela balançou a cabeça. "Mas terá que ser mais específico. Há muitas coisas que acontecem em um período de tempo."

Ele ponderou se deveria ir direto ao ponto ou perguntar outros assuntos para depois chegar no desejado. Porém, conhecendo sua mãe, ela reconheceria que aquilo não era o que ele realmente queria perguntar. Sua perspicácia era grande.

Portanto, ele decidiu ser direto. Ela o responderia adequadamente, de qualquer maneira.

"Quero saber o porquê de Brandon mudar. Quando o vejo, seu rosto parece tão rígido. Ele mudou. Ele não parece em nada com o jovem Brandon que me lembro há três anos."

A condessa ao ouvir a pergunta, entendeu o que ele queria dizer. Brandon era mais aberto anteriormente. Se fosse como antes, somente em olhar para seu rosto você poderia dizer que ele estava feliz ou triste.

Claire também sabia porque seu filho havia perguntado algo sobre Brandon. O mesmo o via como um irmão mais novo, igual ela via o ruivo como um filho. Embora não tivessem muito contato quando mais jovens, ela sempre o via tratá-lo com cuidado. Era parecido com James, que admirava Brandon.

Um olhar para baixo e um sorriso um pouco triste cresceu em suas bochechas. Ela gostou de dizer isso.

"Eu não sei."

"O quê?" Ele questionou surpreso pela resposta inesperada.

"Eu não sei. Não tenho ideia do porquê disso ter acontecido." A condessa suspirou. Olhando para a cor verde transparente em sua xícara. "Aconteceu depois de um tempo após vocês irem. Ele não demonstrava muita reação ou tentava ao menos. Parecia que estava tentando se controlar. Desde então, ele ficou daquele jeito. Ficou tão bom que às vezes até eu penso o que ele está pensando."

Ferion estava surpreso com as palavras ditas por sua mãe. Ela era uma mulher que procurava saber o que acontecia melhor com as pessoas à sua volta. Por isso, foi chocante tal declaração.

"Você tentou perguntar?" 

"Ele não me responderia. Nem para James ele diz. Ele é um garoto que não gosta de dizer para as outras pessoas se há algo que o incomoda."

O homem de cabelos negros não teve como não discordar. Ele suspirou. A conversa não tinha ido da maneira como desejado, então tudo que podia fazer era suspirar.

Claire assistiu seu filho. O homem que ela criou agora estava com ombros para baixo. Ele estava um pouco chateado. Porém, havia algo ali que ela conseguia reconhecer.

"Filho, Brandon está bem. James está bem. Seu pai e eu estamos bem também. Não tem porque se sentir responsável conosco. Não estamos em um campo de guerra, você pode relaxar."

Quando ela o chamou, ele ergueu a cabeça. As palavras que se sucederam foram algo que o havia atingido. Sua mãe, Claire Miller, estava certa. Ele estava se sentindo um pouco responsável pelo outro. Um senso de dever com aqueles que estava a sua volta era o que o fazia querer ajudar.

"Obrigado, mãe." Ele sorriu, sentindo-se um pouco reconfortado com aquelas palavras.

*

O dia estava fresco e o céu claro. Os raios de sol iluminavam toda a terra e não estavam em uma temperatura alta. Era um dia ótimo para passear, andar a cavalo ou simplesmente sair com um amigo.

No jardim da mansão Miller, senhoras e senhoritas estavam reunidas em uma longa mesa recheada de bebidas e lanches. Elas estavam conversando e rindo de coisas que achavam mais engraçadas. Os rumores sobre quem ou o mais novo escândalo da capital eram os assuntos mais comentados.

"Oh, vocês souberam? A marquesa Rannon descobriu que seu marido estava a traindo com uma de suas empregadas. Dizem que ela agiu como uma louca e foi tirar satisfação com o marquês."

"Meus Deuses. O que aconteceu?"

"Gritos foram ouvidos da sala onde eles conversaram e depois disso ela foi brigar com a empregada e a demitiu depois de dar uma punição. Não se sabe se ela irá pedir divórcio. E já que ela é a herdeira oficial do marquesado, se ela se divorciar, ela terá o domínio de toda a propriedade.

"Coitada da marquesa, passar por algo assim…"

"O marquês não era flor que se cheira. Sempre senti que havia algo de errado com ele."

As damas conversavam entre si animadas, dando suas opiniões sobre o assunto. Algumas simpatizavam com a marquesa e outras sentiam pena dela. Maldições não eram ouvidas, pois era considerado vulgar, mas todas menosprezavam silenciosamente o marquês e suas ações. Quase todas eram casadas, então só conseguiam imaginar se fosse com elas que acontecesse tal coisa.

A Condessa Miller somente olhava para as mulheres enquanto bebia um pouco do chá. Ela não repreendia as senhoras ou discordava de suas falas. Se fosse o seu marido, ela teria deixado essa casa no mesmo dia, mas não sairia sem se vingar decentemente dele e da mulher que seria a amante.

Contudo, seu objetivo não era socializar ou saber as novidades mais quentes do império. Na verdade, ele era para descobrir mais sobre a noiva de seu segundo filho. Ela sempre ficava em seu quarto ou no de Phillip e somente a via durante o jantar, já que o almoço geralmente passava no quarto. 

Os servos que a serviram disseram que era simpática e relataram seus movimentos para ela. Não havia nada de especial ou suspeito em seu comportamento, mas a falta de entusiasmo por se tornar noiva de um nobre era algo que a intrigava. Por isso, ela estava com um pé atrás.

Um convite foi enviado para ela abordando sobre a festa do chá e que seria bom se ela comparecesse e interagisse com as outras mulheres. Não dizia muito e era bem direto. A resposta foi-lhe dada imediatamente e ela foi positiva. Tudo o que tinha que fazer era esperar a hora dela descer.

"Condessa, eu soube que seus filhos voltaram da guerra. Você deve estar super feliz com isso, não é?"

"Sim, eu também soube. Lorde Ferion e Lorde Phillip devem ter mudado muito e estarem diferentes. Deve ter sido uma surpresa vê-los novamente depois de muito tempo."

As mulheres todas focaram sua atenção em Claire. Elas estavam curiosas sobre os filhos da condessa. Ambos eram homens em idade para casar, solteiros e de boa linhagem, era natural que elas estivessem antenadas sobre eles. Algumas até foram com o propósito de juntar um deles com suas filhas.

Claire desceu a xícara e a colocou na mesa, dando um sorriso profissional e balançando a cabeça em concordância. Ela sabia que seria um dos tópicos da conversa, visto que era a anfitriã, mas foi mais rápido do que imaginava. Achou que teria alguns tópicos a mais para conversarem entre si até que Johannes, a noiva de Phillip, chegasse.

"Fiquei muito feliz ao vê-los depois de muito tempo. Vê-los voltar para casa foi como se uma preocupação fosse apagada. Mas, de fato, foi surpreendente ver como eles mudaram, principalmente Phillip que ficou mais alto."

"Eu também fiquei chocada ao ver meu filho Anderson. Ele tinha saído magro, mas quando voltou estava musculoso e mais alto. Não parecia meu filho. Achei que fosse engano."

Condessa Lemaire disse e riu, contando sua experiência ao ver que seu filho, um cavaleiro que se voluntariou para a guerra, chegou completamente diferente de quando partira. Suas intenções eram, obviamente, atrair a atenção das outras senhoras e arranjar uma noiva para ele.

"Oh, mas há um rumor sobre Lorde Phillip que meu filho me contou sobre quando estavam no exército."

O olhar de Claire caiu sobre a Condessa Lemaire e a mesma a olhou, como se pedisse permissão para falar sobre isso. Com um aceno de cabeça, a Condessa Lemaire percebeu que havia sido permitida a falar. As senhoras estavam curiosas e ansiosas para as próximas palavras que a Condessa Lemaire diria. Todas gostavam de fofocas e se a anfitriã permitia, quem seria elas para não se permitirem ouvir e comentar?

"Ele disse que Phillip andava com uma mulher junto a ele e que pareciam íntimos. Foi comentado entre os soldados e parecia que ele estava dizendo que faria dela sua noiva. Era verdade, condessa?"