De repente, os olhos de Brandon se abriram e sua respiração estava irregular ao se sentar na cama. O peito subia e descia em uma velocidade incomum, sem notar que seu rosto estava molhado.
Brandon chorou tanto que adormeceu sem perceber. E também chorou enquanto dormia.
Mas ele não notou isso. Tudo o que ele pensava no momento era o sonho que teve, enquanto olhava para a parte inferior de seu corpo por baixo do lençol.
Para ser mais preciso, sonho não era a palavra correta, mas lembrança. Uma lembrança vívida que pareceu que ele estava vivendo-a novamente. A dor de ver sua mãe doente e um pouco de felicidade por vê-la novamente.
Era uma lamentação que ele sentiu e lembrou tudo o que sentia na época, mas um alívio tremendo por ainda ter tais memórias. O doce som da voz dela que ele nunca mais ouviu estava em suas memórias, mesmo que não pudesse vê-las com frequência.
Um sonho que o fez chorar e que o fez se sentir triste, mas grato por vê-la novamente, por mais que tenha sido um pouco e em tal situação.
Seu coração que estava cheio de tristeza e raiva reprimida, agora estava um pouco mais aliviado depois de uma noite de liberação de suas emoções.
"Mãe…"
A voz do ruivo a chamou, fraca e baixa, ele falou num ambiente silencioso sem ninguém mais para ouvir.
Ele olhou para o teto e depois para a fora da janela levemente aberta. As estrelas ainda estavam lá, embora o sol estivesse nascendo. O que ele ouviu, que ela estava lá olhando e torcendo por ele, era muito reconfortante.
"Obrigado."
Foi em um murmúrio que ele disse, ao voltar ao olhar para o céu novamente.
Passos foram ouvidos do lado de fora de seu quarto. Isso era incomum dado que só ele andava por aquele lugar e o horário ainda era de madrugada, os únicos que deviam estar acordados nessa hora eram os cavaleiros e as pessoas que tinham empregos longes de suas casas.
O som desapareceu e uma presença parou em frente à porta. Não havia nada que indicasse que ela estava lá, mas Brandon conseguia sentir que ela estava do outro lado.
Um novo ruído foi feito e era do metal torcendo para baixo. Alguém estava tentando entrar e a maçaneta torcida para baixo. Devido a ele ter trancado ela antes de dormir, o desconhecido não conseguia entrar.
'Quem é?'
Enquanto Brandon ouvia o indivíduo tentando entrar, ele encarou a porta quase sem respirar. Quem poderia estar tentando entrar em seu quarto era o que passava por sua cabeça. Mas ele não conseguia pensar em ninguém.
Até se fosse James, ele teria aparecido antes da meia-noite, não no crepúsculo do amanhecer. O único que vinha em sua mente, que chegava a esse horário quase sempre, era Phillip.
Seu rosto ficou frio ao pensar que a presença era dele.
'O que ele está fazendo aqui?'
O homem deveria estar em seu quarto, com sua noiva, a quem ele fez questão de apresentar para todo mundo logo que chegou à mansão.
Não era óbvio? Como ele poderia estar ali?
Mesmo que ela estivesse em seu quarto próprio, era muito inapropriado ir ao quarto de outra pessoa, ainda mais um ex-amante, quando se estava noivo de outra pessoa e em plena madrugada.
Ele não tinha vergonha?
A presença parou, desistindo de entrar. Ela foi ouvida se distanciando do quarto e Brandon não conseguiu segurar um suspiro, voltando a olhar para fora da janela, o céu, com o sol continuando a nascer no horizonte.
*
A condessa Miller caminhava em direção a carruagem com seu filho mais novo ao lado. A mulher de cabelos roxos tinha uma expressão suave e alegre por ver como o garoto caminhava animado.
James estava expectante por poder sair pelas ruas e ver o condado. Por ser filho do senhor, não teve muitas chances de sair da propriedade, ainda mais nos tempos de guerra, cujo as pessoas estavam mais ansiosas com sua segurança. Ele somente saiu em ocasiões especiais.
Por isso, o jovem James não podia deixar de expressar suas emoções com um rosto vívido e um sorriso em seu rosto. As bochechas naturalmente avermelhadas davam um ar de juventude nele, bem como radiante.
A porta da carruagem foi aberta e ambos se sentaram em bancos separados. Os bancos confortáveis o suficiente para não sentirem nada durante a viagem e eles estavam de frente para o outro.
"Onde está Brandon, mãe?"
"Foi informar ao seu pai que estava vindo comigo, mesmo que eu já o tenha informado."
Ela disse e a criança assentiu, entendendo, mas não diminuiu a empolgação que estava sentindo.
Felizmente, não demorou muito para que Brandon aparecesse. Os cabelos ruivos estavam penteados e os olhos verdes pareciam mais escuros na contraluz. Ele estava na elegante para uma viagem que faria com sua senhoria e seu jovem mestre.
"Oi, irmão."
"Olá, James." Brandon disse.
Os dois não se encontraram durante as primeiras horas do dia. Brandon havia saído cedo de seu quarto e tomado o café da manhã para depois organizar os documentos que foram deixados, por causa de sua dispensa, no dia anterior.
Então, não teve a chance de se encontrar com James, embora tenha visto o conde e Ferion, quando foi entregar os documentos.
"Senhora." Ele curvou-se um pouco e se sentou ao lado de James.
"Fico feliz que você tenha aceitado vir comigo."
"Eu não ousaria recusar o convite." Brandon sorriu, dizendo com sinceridade.
A carruagem começou a andar, se afastando da propriedade Miller e deixando a mansão para trás. Havia alguns cavaleiros, que não foram para a guerra, os acompanhando durante sua saída. Uma medida protetiva básica para qualquer aristocrata que deseja sair pela rua.
A rua dos comércios estava sempre movimentada e naquele dia não era diferente. Havia diversas pessoas caminhando pelas ruas, dos mais diferentes estilos e cores. As vozes das conversas entre elas eram altas e animadas, alegres pelo fim da guerra.
James olhava para fora da carruagem através da janela, vendo o cotidiano daqueles que andavam por ali. Brandon também olhava, mas pela outra; ele não saía muito da mansão também, principalmente depois da morte de sua mãe.
A condessa via os dois com olhos suaves, rindo interiormente das expressões que os dois faziam. Brandon podia ter ficado menos expressivo nesse meio, porém seu olhos o entendia completamente.
O parar da carruagem sinalizou que haviam chegado ao seu destino. A porta foi aberta e James saiu primeiro, sendo seguido por Brandon e, por último, a condessa. Ela se levantou e apoiou a mão na de Brandon para sair, pisando no chão de pedra e vendo a fachada da loja, com roupas em sua vitrine.
O trio entrou. Manequins com roupas e vestidos pendurados estavam à mostra para os clientes verem e apreciarem, para comprar qual queriam. Roupas masculinas também estavam ali, prontas para serem compradas.
"Oh, condessa Miller. Brandon."
A atendente apareceu sorrindo e cumprimentou a condessa. Ela era muito conhecida por todos no condado e era uma cliente quase regular da loja.
"Paula, oi." A nobre retribuiu. "Estamos aqui para fazer algumas compras."
"Sim. E quem é esse garoto atrás de você? Eu conheço Brandon, já que ele vem com você às vezes."
A lojista olhou para James com um sorriso simpático e um olhar curioso. O garoto se constrangeu um pouco com o olhar da estranha. Ele não é tão criança assim, mas ainda é tímido com estranhos.
"É meu filho, James."
"O pequeno James? Fiona me disse que ele havia crescido da última vez que ela foi lá, mas não imaginava que fosse tanto."
A mulher ficou surpresa, pois o garoto era alto para a idade dele, parecendo ser um pouco mais velho, caso algum estranho o olhasse. James ainda tinha um rosto infantil, então podia se dizer que não fazia tanta diferença para Brandon e a condessa, que ainda eram mais altos que ele.
"Olá, James." Ela acenou, voltando-se para a condessa. "Então, vamos às compras. Há algo específico que querem?"
A condessa abriu um sorriso para a mulher, olhando de rabo de olho para James, antes de responder.
"Não muito. Eu adoraria que você trouxesse umas peças para experimentar. Não para mim, é claro. Mas para meu filho."
James a olhou desconfiado. Um arrepio passou por sua espinha e um pressentimento de que algo assustador aconteceria surgiu. Ele olhou para Brandon, mas tudo o que viu foi o rosto do outro olhando como se fosse ver algo divertido à sua frente.
Ele não sabia o que pretendiam, mas estava óbvio que seu irmão estava em conluio com sua mãe.
"Isso é ótimo. Temos muitas roupas novas, principalmente a mais recente moda."
A condessa riu, pondo o leque que carregava em sua boca. Ela tinha expectativas para essa tarde e que seria produtiva.
"Por favor, me sigam."
Eles foram levados a uma área ampla e foram convidados a se sentar. A atendente, Paula, trouxe um catálogo para a condessa e saiu para buscar algumas roupas que combinam com James.
Um chá foi servido por um funcionário e posto na frente dos dois mais velhos. Para o jovem mestre Miller foi servido um suco de cor alaranjada, para se adequar ao gosto infantil.
"Isso está delicioso." A nobre disse, sorrindo.
Os outros não comentaram. James estudava o lugar, pensando se já esteve ali antes e Brandon simplesmente esperando Paula voltar.
Brandon batia seus dedos na perna, ele estava empolgado em ver James em diversos estilos, pensando em como ele ficaria fofo em tais vestimentas. Seu coração era fraco para coisas adoráveis e o garoto se encaixava nessa categoria por ser como um irmão mais novo para ele.
Claro, para a Claire, a condessa, não era diferente do que era para Brandon. Ela estava fazendo aquilo por ter a ideia após ter noção de que seus dois filhos mais velhos se tornaram homens feitos. O tempo precioso que teve com eles quando eram menores não voltaria e ela tinha que aproveitar enquanto seu mais novo era um adolescente.
Embora, certamente, ela o faria ir às compras com ela novamente quando for adulto.
"Voltei."
Paula disse ao voltar alegremente e as roupas que trouxe foram mostradas ao trio. Eram dos mais variados tipos, cores e detalhes. Alguns extravagantes, discretos e simples.
"Eu vou ter que vestir tudo isso…?" James olhou para o que ele classificou como uma montanha, mas não literalmente.
"É claro. Viemos para a loja de roupas para isso, querido."
"Eu pensei que íamos comprar roupas para você." James respondeu surpreso.
"Eles tem minhas medidas, não era necessário eu vir aqui."
"Então por que chamou Brandon?"
"Oras, para te trazer é claro." Ela riu do rosto dele. "Se Brandon viesse, você viria naturalmente."
"Irmão… Você sabia disso?"
Brandon não respondeu de imediato, ele estava bebendo um gole do chá, antes de responder. A todo o momento, ele estava com os olhos um pouco desviados de James. Então, apenas assentiu.
"Irmão, você…"
"Deixe Brandon e vá com Paula, ela vai te mostrar onde você irá experimentar as roupas."
A condessa Miller disse, tomando mais um gole do chá que lhe foi servido.
James, sem escolha e se sentindo desamparado pela traição de seu irmão e esquema da mãe, caminhou para o vestiário.
Pouco tempo depois, ele estava de volta. Estava vestindo um casaco em tom creme e a roupa era branca. Seu cabelo estava natural e solto, caindo um pouco em seu rosto. O roxo claro de seus cabelos era algo que o tornava charmoso ao cair em sua testa e os olhos castanhos olhavam para os dois com uma insatisfação aparente.
"Está bonito."
"Sim, a roupa lhe cai muito bem."
"Não é ótima para ele sair? Parece ideal para isso."
"Acho que seria bom. Também é boa para se usar em casa."
Os dois o estudaram e elogiaram sua aparência. James vendo-os falar sobre si e como ele estava bonito o constrangeu um pouco, tornando as bochechas levemente coradas.
As mudas de roupas que se seguiram foram iguais.
Uma estava com um casaco azul escuro, com uma blusa preta e uma calça elegante. Os cabelos penteados para trás. Era perfeita para bailes e banquetes, pois destacava sua aparência nobre.
Outra, era preta e de gola alta, com alguns detalhes em branco nas mangas e na gola. Mas ao contrário das outras duas, essa o deixava adorável e era muito confortável. Os elogios feitos pela condessa e Brandon nessa era um pouco mais fortes para um tímido James.
"Eu me sinto traído." James afirmou quando eles terminaram e saíram da loja.
Sua mãe já havia pagado pelas roupas que decidiram comprar e foram ordenadas a ser enviadas para a mansão. E James olhava para Brandon ressentido. O ruivo somente deu um sorriso culpado, entendendo o que o garoto queria dizer. No entanto, Brandon não se arrependia. Ele teve certeza depois que viu, James era fofo, até em diferentes estilos.
"Não acredito que você me traiu, irmão." James reclamou.
"Quer que eu me desculpe? Eu faço. Mas saiba que não me arrependo."
Brandon riu do rosto contorcido de James ao ouvir suas palavras. Eles ficaram horas lá dentro, mas somente James foi quem teve que trocar de roupa, não ele. Além disso, a condessa comprou roupas para ela também, então não foi uma perda.
"Terminamos aqui, garotos. Que tal irmos para o almoço? Já está na hora."
A condessa apareceu, como se não tivesse feito nada para seu filho. Ela se divertiu muito, conversando com Paula e Brandon sobre como seu filho era adorável naquelas roupas. Ela vai se lembrar de fazê-lo se vestir ao menos uma vez.
"Eu concordo, senhora."
"Aceito se eu puder ter uma sobremesa depois." James disse, esperando que sua mãe aceitasse depois do que ela o fez fazer na loja de roupas.
"Ótimo, então vamos."
Ela sorriu para os olhos brilhantes de seu filho e caminhou para dentro da carruagem com eles dois.