Chapter 2 - 1.2

James percebeu que seu pai e seu irmão não estavam mais perto. Também não tinha nenhum empregado próximo a eles, já que eles foram para a parte de trás da casa, onde um lindo jardim estava para eles aproveitarem. Apenas os dois, ele e Brandon, estavam ali. Ambos estavam em uma mesa no jardim que era usada para festas do chá e era protegida por uma pequena construção do sol. O garoto movimentava seus pés e olhava para o mais velho com curiosidade e um pouco de preocupação. Então, decidiu perguntar.

"Irmão, você está bem?"

James chamava Brandon de irmão a muito tempo, era algo sabido por todos na propriedade. Até a condessa e o conde gostavam da amizade dos dois. Devido ao longo tempo de Brandon na mansão, ele estava na maior parte da infância de James e cuidava dele quando outros não podiam, além de fazer-lhe companhia sempre que pudesse. Também, depois que a guerra começou e a falta de seus irmãos mais velhos ficou evidente, foi Brandon quem lhe ajudou em tudo e ficou ao seu lado.

Então, graças aos longos anos e o tempo gasto com ele, James podia ver por trás da fachada da expressão indiferente de Brandon e sabia que ele estava triste. Ele não demonstrava, dificilmente mostrava alguma emoção negativa na frente dos outros, mas James ainda conseguia reconhecer. Os olhos verdes, que geralmente brilhavam quando ele lhe olhava, estavam apagados e sua boca, embora aparentemente normal, estava um pouco firme e minimamente caída.

'Ele está noivo.'

Ele não estava focado em James, como sempre fazia. Parecia que ele pensava em outra coisa tão seriamente que não conseguia se concentrar. Brandon estava no mundo da lua para James.

"Estou bem." Brandon disse, colocando um sorriso no rosto para James, mas seus olhos não sorriam.

Ele mentiu e James sabia disso. Não havia como saber pelo quê Brandon estava triste se o mesmo não lhe dissesse. Mas como Brandon lhe diria o que estava passando pela sua cabeça quando ela era uma confusão?

O ruivo de olhos verdes estava com raiva do que acabou de acontecer e pela forma como foi traído. Depois do choque inicial de ver seu namorado, ou ex-namorado agora, chegando com uma garota de origem desconhecida que nem sabe como a conheceu, dizendo que ela era sua noiva e apresentando ela para sua família com um sorriso imenso e olhos afetuosos para ela, ele ficou com raiva.

Para onde foram todas as lembranças que fizeram? Os sentimentos que dizia sentir por ele? Ele não iria esperá-lo, como ele esperou? Seu tempo foi desperdiçado e ele foi humilhado com aquela peça que apareceu em frente aos seus olhos?

'Eu fui importante para ele, ao menos?'

Era horrível de se ver e parecia que havia mil facas entrando em seu peito a cada minuto que se passava e ele tinha que ver os dois juntos. Ele sentiu seus olhos pesarem e quase quis chorar ali mesmo. Porém, aguentou. Brandon não iria derramar lágrimas de tristeza ou de raiva por aquele homem.

Seu desejo ao ver aquilo fora correr para Phillip e exigir uma explicação, o porquê dele ter feito aquilo. Qual foi o motivo dele ter quebrado a promessa que ele mesmo começou, talvez fosse somente para magoá-lo? Ou ele só queria ver Brandon de forma patética?

Seja qual for a explicação, Brandon sabia que o melhor que fez foi ter agido como se aquilo não lhe incomodasse e ele fosse apenas um empregado alheio aos relacionamentos de seu mestre. Contudo, além da raiva, estava triste. Ele sentia seu coração bater rapidamente com o mero pensamento deles dois juntos e a água em seus olhos quando pensava na traição daquele por quem amava.

Era como se estivesse rodeado por água e a cada momento se afogasse ainda mais para o fundo, e a força era grande demais para deixá-lo subir. Ele queria que tudo fosse um pesadelo e que acordasse naquele mesmo dia pela manhã, somente para encontrar Phillip vindo sozinho em seu cavalo, sem nenhuma garota loira desconhecida. Era seu primeiro amor e durou quase sua adolescência inteira. Ele o amou durante cinco anos, mesmo sem ele ao seu lado. Era cruel fazê-lo se sentir assim.

Só que mesmo que quisesse ir até ele, Brandon não poderia. Seu relacionamento com Phillip era somente entre eles e não era de conhecimento público.

Os status de plebeu que ele tinha era algo que o impedia, já que ele era apenas um plebeu e os nobres não favoreciam muito bem relacionamentos entre nobres com plebeus, embora tivesse melhorado com o passar dos anos. Ainda mais entre dois homens. Se Brandon fosse mulher e sua noiva, poderia exigir compensação, explicação ou algo que pudesse apaziguá-lo de ter sofrido tamanha humilhação. Mas ele não era e nunca será, já que aquela mulher era era e estava sendo sua noiva aos olhos de todos.

Havia também mais um motivo para ele não querer satisfação de Phillip. Ele não era tolo. Ele tinha vinte anos, era um adulto e era inteligente o suficiente para saber sobre o que devia ou não fazer e seus julgamentos. Desde o dia em que Phillip havia partido da mansão, Brandon havia se preparado para diversas situações, entre uma delas era que ele conheceu alguém que amava, um cavaleiro, soldado ou sobrevivente. Mas nunca pensou que realmente aconteceria.

Ver pessoalmente era doloroso, ainda mais quando se lembrava de todas as palavras doces que ele dizia para si. Talvez fossem vazias e apenas para apaziguá-lo, ele não saberia dizer.

James o encarou, como se não tivesse gostado da resposta. O garoto queria uma confissão, queria que seu irmão pudesse lhe contar seus problemas. Mesmo que ele fosse jovem e não soubesse muito, queria ajudá-lo a ficar alegre e animado de novo, como ele sempre fazia consigo. Ele não gostava de ver aquele rosto triste como estava agora. Parecia melancolia disfarçada de indiferença.

"Você está mentindo." James disse e cruzou seus braços.

Sua figura de braços cruzados e de suspensórios era fofa aos olhos de Brandon, era algo que melhorava seu humor, mesmo que ele estivesse no fundo do poço. Os cabelos roxos claros e os olhos castanhos de James eram uma graça para a criança que mal atingiu a puberdade. Brandon tinha certeza que ele seria o mais lindo dos três irmãos quando crescesse.

"Eu estou mesmo bem, não precisa se preocupar nem nada." Percebendo que sua figura zangada não lhe ajudava, James suspirou. Ele perdeu a postura e se apoiou na mesa, repousando a cabeça em seus braços.

O garoto de cabelos roxos sabia que Brandon não diria, mesmo que pedisse. Brandon só revelava suas emoções alegres e quando estava triste, guardava para si. Por mais que não gostasse desse fato e quisesse ouvi-lo, não queria chateá-lo ainda mais por fazê-lo pensar no que fosse que era.

Brandon o observou deitado ali, ele não o repreendeu. Brandon sabia que se a Sra. Nigrien, a tutora de etiqueta de James, estivesse vendo aquilo, ela teria reclamado e dito para se sentar direito. Mas ele não o fez, era bom que o outro se sentisse confortável consigo como criança.

Sua mão esguia se aproximou do garoto e fez um cafuné na cabeça roxa. O rosto de Brandon se tornou um pouco mais leve e um sorriso surgiu no de James, ele gostava do carinho de seu irmão.

"Você não vai me mostrar as novas magias que aprendeu na aula?"

"Mas acabou de começar..." Brandon perguntou e o garoto protestou, balançando a cabeça e empurrou a cabeça como se pedisse por mais carinho. O ruivo riu da resposta que lhe foi dada.

"Ah, sério? Eu queria tanto ver as magias…"

"Ok…"

James se deu por vencido e se levantou, encontrando os olhos de Brandon que agora estavam com mais vida do que antes. Ele ficou contente em ver isso, em como conseguiu melhorar seu humor. Ele também queria mostrar os frutos de seus estudos, algo que sempre fazia quando conseguia algo.

Se levantando da cadeira em que se sentava, estava próximo à mesa e ponderando em qual delas deveria começar a mostrar para Brandon. Ele aprendeu elas durante as aulas do Sr. Below, seu professor de magia, com o propósito de se divertir. O professor amante das artes e da magia lhe mostrou alguns truques de magia de salão, e ele queria mostrar ao seu irmão.

Decidindo-se por qual queria, ele começou a concentrar a mana em sua mão e se preparou para o feitiço. Brandon o olhava com a cabeça apoiada em seu queixo quando o jovem de suspensório moveu sua mão e bolas de água, do tamanho de uma bola de gude, mas planas, começaram a aparecer uma a uma ao redor dele.

Elas, anteriormente, estavam concentradas em James, depois, começaram a se afastar e rodear Brandon também.

Quando havia um número considerável delas em todas as direções, luzes pequenas surgiram em seus centros planos, tornando-o espelhados na superfície que estavam e as fazia parecer estrelas cristalizadas. Os raios solares que acertavam em alguns deles que fugiam das sombras da construção refletiam por causa da água que agia como um espelho, mas a luz dentro dele permanecia intacta, ganhando um novo brilho e elegância ao que atraía a atenção para quem olhasse.

Era uma magia bela.

Não adiantava de onde olhasse ou se movesse em qualquer direção, parecia que as estrelas suspensas seguiam se você estivesse no meio delas.

"Uau." Brandon exclamou, surpreso pela magia que James lhe mostrou.

A visão à sua frente era incrível. Mesmo de dia, aquelas luzes não se ofuscaram e o fazia ter certeza que se fosse de noite elas estariam ainda mais lindas pelo ambiente. Um sorriso orgulhoso cresceu no jovem Miller. Ele tinha praticado isso para mostrar aos seus pais no próximo café da manhã fora que sua mãe decidisse. E ver como Brandon olhava maravilhado para o fruto de seu esforço era bom, ele se perguntava se seus pais estariam do mesmo jeito que ele quando vissem.

"Gostou? O professor Below me disse que aprendeu de um dos artistas que ele conheceu. Eu também me surpreendi quando vi."

"Isso é lindo, James. Você se esforçou muito."

"Isso não foi nada." James estufou o peito, com orgulho. "Mas ainda tem mais um, quer ver?"

"Claro, mostre-me."

Acenando com a cabeça, James desfez a magia que havia lançado. As superfícies planas de água, como cristais, desapareceram e a luz sumiu, como se nunca estivessem ali. Ele então fechou as duas mãos e concentrou mana nelas novamente. Ao abri-las, pássaros brilhantes voaram de sua mão um a um e se espalharam em várias direções.

Anéis começaram a se formar em volta e eram de vários elementos, como água e fogo. Os pássaros brilhantes, eram pequenos e passavam por eles rápidos, como se estivessem em uma pista de corrida, soltando pequenos rastros por onde passavam. Era divertido de se ver, incrível também, por causa dos elementos visuais que se formavam com a vista.

Antes que Brandon pudesse expressar alguma fala, palmas foram ouvidas em direção a eles. Os dois se viraram para onde vinha a origem do som e descobriram que era a condessa que vinha até eles aplaudindo a magia de seu filho. Levantando-se rapidamente, Brandon curvou-se em cumprimento a condessa. Ela simplesmente o olhou e acenou para que ele voltasse a se sentar.

"Mãe? Achei que estava com o irmão." James perguntou, pois ele achou que ela estava acompanhando seu segundo irmão e sua noiva.

"Acho que ele queria um momento com a noiva dele." Deu de ombros, respondendo a pergunta do garoto com os mesmos cabelos que ela. "Então, vim procurar minhas adoráveis crianças para um chá."

Empregados apareceram atrás dela e colocaram alguns lanches e bebidas em cima da mesa de forma rápida e silenciosa. Isso demonstrava o quão qualificados eram e que haviam feito diversas vezes antes. Ela se sentou no meio deles, estendendo a mão para o bule e colocando um pouco de chá para si. Os olhos dos dois estavam voltados para ela, um pouco surpresos que ela apareceu de repente, mas logo voltaram ao normal.

Para James era o comportamento usual de sua mãe e para Brandon era a condessa sendo a condessa.

"Que magia você estava mostrando agora a pouco?"

"É uma que aprendi com o Sr. Below. Ela foca no uso do atributo luz e cria uma forma, o passarinho, e o leva através dos diversos tipos de anéis." Ele explicou, como se estivesse quase reportando, mas a expressão feliz mostrava que era sincero e que só queria se exibir.

"Entendo. Você fez bem, foi uma boa mágica." Ela sorriu para ele.

James se sentiu bem com o elogio de sua mãe e se virou para Brandon, encarando-o à espera de um também.

"Foi incrível. Bom trabalho." James sorriu, voltando para o banco de frente a Brandon e ao lado de sua mãe.

"Brandon, você gostaria de me acompanhar na ida para a loja de roupas? Eu adoraria sua companhia."

Brandon repousou o biscoito que ia comer no prato e ponderou se iria ou não. Ele não queria ficar na mansão e encontrar a cara de Phillip ou da garota que ele trouxe. Antes de responder, a condessa continuou.

"Claro, é amanhã. Está muito tarde para ir à rua dos comércios e comprarmos roupas. Hoje também é o dia em que a família está reunida depois de tanto tempo, não quero estragar isso."

"Entendo…" Ele acenou, concordando com as palavras da condessa. Seria impróprio se eles saíssem no mesmo dia que seus filhos tivessem voltado depois de três anos. "Eu aceito, senhora."

"Isso é ótimo!"

"Eu posso ir também?" James pergunta, querendo ir junto com eles. Faz tempo que o menino não saia da mansão.

"Oh, é claro, querido." A condessa acaricia a bochecha de seu filho.

Ambos os adultos, a condessa e Brandon, se olharam. Uma conversa mútua foi feita através dos olhares um do outro. Isso só era possível com anos de conhecimento, bem como um interesse coincidente.

"Agora, querido, por que você não me conta mais sobre as magias que está aprendendo? Tenho certeza que você tem mais."

"Sim!" James exclama alto e começa a falar para sua mãe sobre os estudos com o professor Below.

O trio continuou ali, aproveitando o clima bom da tarde e os lanches tinham uma conversa boa para os três, por um tempo.