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Chapter 9 - CHAPTER 9

R...

Estou chateada até agora com o diretor Coutinho. Absurdo ele me dar essa punição, só por que me atrasei pela primeira vez em três anos no Martin Couto.

Absurdoooooo... Ai que raiva.

Agora, além de ter como vizinho o espinhoso, tenho de suporta-lo o dia inteiro ensaiando com ele. E aquela fresca da Ingridy toda se insinuando para ele? Que papo louco de Fightertube? E fightboys.

E de repente o espinhoso ficou popular por causa disso.

Estou curiosa? ...?

Quando estávamos com o diretor Coutinho, na ficha dele constavam muitas licenças. Por que será?

Minha mãe comentou que a mãe dele não tava bem de saúde. Será por isso? Vou saber quando formos visita-la. E aquela estória dele ter cursado dança nos Estados Unidos? Que sorte a dele está no mesmo país do meu Papi. Como pode isso '' R''? Inveja... Inveja...

Meu estomago se remoeu hoje quando engoli toda aquela carne, salada com ovos, bacon no feijão e arroz branco. Acho que exagerei na gula. Mas por que aquele bife bem passado com gostinho de cebola tava tão bom. Merda... Vomitei tudo... São três anos sendo vegana, só alimento integral. Muita fruta, legumes e delicias que descobri com essa dieta. Entre outras coisas boas e muitas vantagens, como ter um corpinho perfeito que até a Barbie teria inveja. A dança também ajudou muito.

Agora como meu par na dança devo admitir que o espinhoso me conquistou com aqueles movimentos de street super irados.

Ele tem muita coisa para me contar... Não vou desistir até saber.

O atrevido me beijou de novo, me agarrou feito um tarado, eu nem pude me mexer, pois tava só de toalha. Ai R... Confesso que tremi com aquele abraço apertado dele. Seus músculos me deixam louca. Como ele conseguiu ficar com um corpo tão sexy e poderoso. Mesmo sendo um brigão, não consigo resistir a sua boca, seu olhar e seus beijos que parece que vão sugar minha alma, como se quisesse me pôr para dentro dele à força como um furacão que arrasta tudo.

Não sei o que fazer com essa relação... Se é que posso chamar isso de relação. Já que nem somos namorados ou ficantes. Ele sempre me pega de surpresa. E o pior é que acabo me rendendo e gostando.

Eu tenho de pará-lo...

Beijo R!

Lúcia colocou o diário na gaveta e trancou. Pegou o notebook e pesquisou o site Fightertube. Não pode se inscrever.

"Inscrição somente para os associados do clube Fighterboy''

- Absurdo! - Bateu nas teclas do notebook irritada. - Tenho que descobrir onde fica esse tal clube.

Insistiu por mais uns minutos. Cansada acabou dormindo.

Ás onze da noite a sombra de Marcos entrou pela janela do quarto de Lúcia. Ele a assistiu. Depois curioso procurou pelo diário dela. Acabou encontrando a chave da gaveta. Abriu e vasculhou as folhas. Seus olhos liam intensamente cada palavra que ela escrevera. Deliciou-se com os trechos que falava sobre ele. Sorriu quieto para não ser descoberto. Depois guardou no mesmo lugar.

Ficou a observar o rosto dela por um tempo, admirando suas nuances de menina-moça.

'' Escudeira, você é demais! Não sei quanto tempo vou resistir, não sei quanto tempo vou me segurar para não te pegar de vez'' - Sussurrou baixinho pouco distante do ouvido dela. Então saiu.

Já em casa na cama do seu quarto, não conseguia dormir. A imagem do rosto de Lúcia o atormentava. Entrou no Fightertube para ver os vídeos que postaram das suas performances de lutador para esquecer um pouco dela.

***

De manhã cedo acompanhou sua mãe Mayara até a consulta mensal numa clínica particular que ele mesmo pagava com o que ganhava nas lutas. Seu tio também ajudava, mas não o suficiente como gostaria. Escondia do tio que trabalhava clandestinamente utilizando muaythai nas lutas no clube de briga que só existia dentro da casa de cassino encoberto por um restaurante que funcionava de dia e a noite abria as portas dos fundos para receber os apostadores que se dividiam em grupos do seu gosto.

Mayara também enganava o filho recebendo a pensão de dez mil que o pai biológico de Marcos enviava todo mês. Sempre dizia que era o seguro doença de uma firma que trabalhara tempos atrás. Mas ele desconfiava disso.

- Você devia usar suas economias para você - disse Mayara ao filho enquanto aguardavam na sala de espera.

- Quem disse que eu não as uso. Não vê as roupas de marca que uso? Boba. Sabe quanto foi esse tênis que tá nos meus pés, sabe?

- Oh não... Claro que não - Mayara riu.

- Custou o olho da cara, me arrebentei todo para pagar.

- Você se arrebentou todo? To vendo como você anda acabado. Os dois riram. - Ficamos tanto nos Estados Unidos que você fala como um americano malandrão.

- Vi você com filha da Clarice ontem à noite. O que andava fazendo?

- Ela só passou mal e eu como cavalheiro que sou, ajudei a trazê-la para casa.

- Mesmo? O que aconteceu?

- Nada demais, passou mal com a comida.

- Comida de restaurante é uma porcaria, eu sei bem. Por sinal a filha da Clarice está uma moça linda. Nunca pensei que aquela menina magrela ia se tornar uma mulherona.

- Ela ainda é uma menina magrela.

- Não reparei que ainda é uma menina. Com aquele colam bem preenchido que vi ontem com duas maçãs grandes, achei que fossem seios de mulher.

- Caraca, Maya dá para calar a boca.

- Não eram? - Ela gozou da cara do filho.

- Para po...

- Leva ela para jantar com a gente uma noite.

- Ela nossa vizinha não precisa de convite.

- Não? Pensei ter ouvido você dizer que era um cavalheiro.

- Não, não ela. Pode ser qualquer outra garota, menos ela.

- Mas eu quero que seja seu bobão.

O médico enfim chamou e sua mãe entrou no consultório.

'' Que droga, minha mãe é foda, tinha que me fazer lembrar aquela garota. Falando dela como uma mulher, eu quase fiquei duro aqui em baixo''.

***

Clarice acordou Lúcia dizendo que iam ao médico perto de casa. Mesmo resmungando dizendo que não precisava, sua mãe insistiu e a levou.

- Lembra-se do doutor Paulo que atende na Unidade de Saúde daqui do bairro. Então além de médico é nutricionista também, assim ele nos diz o que você tem.

- Ok. Mami.

Esperaram meia hora.

- Mãe, vamos para casa. Acho que o médico se suicidou.

- Não. Fica quieta, não fala besteira.

Finalmente o médico chamou por ela. Entrou com a mãe.

O médico a examinou e fez o diagnostico depois de várias perguntas.

- Você tem intolerância a proteína animal, gorduras e qualquer outro produto de alimento de origem. Talvez por você ser vegana por muito tempo desencadeou alergias. Como nutricionista, recomendo que continue a dieta vegana.

- Então não posso voltar à dieta anterior?

- Não mais. Apesar dos seres humanos terem o mesmo sistema de funcionamento de órgãos. Quando mudamos de habito seja alimentar ou físico, como dança. Corridas entre outras funções que exercemos no cotidiano. Quando mudamos nossa mentalidade sobre algum conceito que estávamos acostumados. Toda essa mudança influencia nosso corpo. Seu organismo se habituou a essa mudança alimentar. Estes vômitos após consumir alimentos de origem animal é a consequência disso. Seu corpo reage rejeitando o que é indigesto.

- E se eu quiser tentar.

- Você pode tentar. Mas se continuar com essa má indigestão toda vez que consumir carne, mesmo que tenha legumes e grãos que podem complementar as vitaminas que seu corpo precisa. Se continuar poderá desenvolver bulimia ou até mesmo anorexia.

- Que exagero? Sério?

- Já tratei de alguns casos, pode acontecer.

O médico receitou alguns comprimidos e providenciou exames para ela fazer. Despediram-se e voltaram para casa.

- Agora minha amiga, fique de repouso como médico pediu e mais tarde vamos visitar nossa vizinha Mayara.

- Por que eu tenho que ir?

- Você não quer?

- Não.

__ Prometo que faço algo bem gostoso, tenho umas receitas novas para executar, minha folhinha.

- Mãe. Folhinha?

Clarice deu piscadelas fazendo graça com a filha.