A noite se estendia, fria e implacável. Lina corria sem olhar para trás, com Arthur firmemente em seus braços. Seu coração batia descompassado, não pelo esforço, mas pelo medo. Dario estava lá atrás. Sozinho. Lutando contra algo que nem ela compreendia.
Mas Lina sabia.
Ele não voltaria.
A dor apertou seu peito, mas ela não podia parar. Não podia hesitar. Arthur era mais importante agora.
A floresta começou a se abrir à frente. O vilarejo estava próximo. A segurança estava a poucos metros de distância.
Mas então…
Um rugido cortou a noite.
Alto. Profundo. Desumano.
Lina sentiu o sangue gelar. O rugido veio de longe, mas ela o reconheceu.
Era Dario.
Não era um grito de dor.
Era um grito de luta.
De resistência.
Arthur, ainda pequeno, não entendia completamente. Mas dentro dele, algo reagiu.
Ele sentiu uma dor súbita no peito.
Como se seu corpo reconhecesse o peso daquela batalha.
Como se soubesse que era a última.
Mas não havia tempo para luto.
Lina apertou os olhos e continuou correndo.
Não era hora de se render à dor.
Ela cruzou os portões do vilarejo e caiu de joelhos, exausta.
— Lina!
Vozes surgiram ao redor. Moradores se aproximaram. Algumas pessoas seguraram seus braços, ajudando-a a se levantar.
Ela tentou falar.
Mas sua voz falhou.
As palavras não saíram.
Até que alguém segurou seu rosto.
— Onde está Dario?
Era um homem alto, de cabelos grisalhos e um olhar duro. Lorenzo, o líder do vilarejo.
Lina abriu a boca, mas o silêncio respondeu por ela.
Os olhos de Lorenzo se estreitaram. Ele entendeu.
— …Entendo.
A dor no olhar de Lina foi suficiente para confirmar tudo.
Lorenzo respirou fundo.
— Reúnam os caçadores. Vamos buscar o corpo.
Mas Lina segurou seu braço.
— …Não.
Lorenzo olhou para ela.
— Se voltarem agora, só terão mais mortes.
Aquelas palavras pairaram no ar.
Os caçadores hesitaram.
Eles sabiam que ela estava certa.
Se Dario não conseguiu vencer…
O que eles poderiam fazer?
O silêncio caiu sobre todos.
Até que uma voz infantil quebrou a tensão.
— Eu… eu ficarei forte.
Todos olharam para baixo.
Arthur.
Seus olhos não estavam cheios de lágrimas.
Não havia confusão.
Apenas determinação.
— Eu vou proteger a mamãe.
As palavras de um simples bebê deixaram todos sem fala.
Lina olhou para o filho e sentiu os olhos arderem.
Ela o segurou firme contra o peito.
E, ali, sob a luz da lua, Arthur Pascoal fez sua primeira promessa.
Uma promessa que ecoaria por toda sua vida.