A floresta densa se estendia diante deles, a lua mal iluminando o caminho. Lina ajustou Arthur em seus braços, o coração ainda disparado após o combate contra o monstro. Dario, ferido e exausto, caminhava à frente, a espada ensanguentada pendendo em sua mão.
A clareira onde haviam lutado estava para trás, mas a sensação de perigo persistia. Arthur, mesmo ainda um bebê, podia sentir isso. Alguém ou algo estava observando.
Eles continuaram caminhando, mas o silêncio ao redor não era normal. Não havia sons de insetos, nem o farfalhar do vento nas folhas. Era um silêncio antinatural.
Lina parou.
— Dario… algo não está certo.
Dario já havia percebido. Sua experiência como caçador lhe dizia que, quando uma floresta ficava em silêncio, significava que predadores estavam por perto.
Ele apertou o punho da espada e olhou ao redor.
— Não pare de andar.
Lina assentiu e deu mais um passo.
CRACK.
O som de um galho quebrando soou atrás deles.
Lina se virou rapidamente, e Dario girou a lâmina em sua direção.
Nada.
Mas Arthur sentiu. Havia algo ali.
Ele não conseguia ver, mas podia sentir a presença. Algo enorme. Algo poderoso. Algo diferente de qualquer coisa que já haviam enfrentado.
Dario respirou fundo.
— Vamos correr.
Lina não hesitou.
Eles dispararam pela floresta.
Os galhos batiam contra seus corpos, os pés afundavam na terra macia, mas eles não paravam.
Dario sabia que lutar novamente era suicídio. Eles precisavam fugir.
Arthur sentiu o calor dentro dele se acender novamente.
O poder que ele havia usado antes… poderia usá-lo de novo?
Ele tentou.
Mas nada aconteceu.
Ele franziu a testa.
Por quê?
"Você já teve sua chance."
Aquela voz dentro dele ecoou em sua mente, mas dessa vez parecia mais clara. Mais real.
Arthur sentiu um arrepio.
Mas não havia tempo para pensar nisso.
O perseguidor estava se aproximando.
Dario olhou para trás por um segundo.
Olhos vermelhos brilharam na escuridão.
Seu corpo inteiro congelou por um instante.
Lina percebeu.
— O que foi?!
— ...Não é um monstro normal.
Arthur sentiu o peso das palavras de seu pai.
Não era um monstro normal.
Era algo pior.
Dario cerrou os dentes.
— Lina, vá na frente.
Lina arregalou os olhos.
— Não!
— Vá!
Dario se virou completamente, erguendo a lâmina.
Ele sabia que Lina não queria deixá-lo para trás.
Mas se ela hesitasse, todos morreriam.
Lina mordeu os lábios.
Ela olhou para Arthur, então para Dario.
Seu coração se partia, mas sabia que não tinha escolha.
— Eu voltarei por você.
E então, com um último olhar, ela correu.
Arthur quis gritar.
Ele quis estender os braços para o pai.
Mas algo dentro dele dizia que Dario não voltaria.
Lina correu o mais rápido que pôde.
A floresta se tornou um borrão.
Arthur, em seus braços, sentia o corpo da mãe tremer.
Ela estava com medo.
Ela sabia.
Assim como ele sabia.
Dario não voltaria.
Arthur fechou os olhos.
Seu pequeno corpo não podia fazer nada.
Mas, dentro dele, algo se remexia.
Uma força.
Um instinto.
Uma promessa.
Se ele quisesse sobreviver neste mundo, teria que se tornar forte.
Forte o bastante para nunca mais perder ninguém.
Forte o bastante para enfrentar as sombras.
A lua brilhava acima deles, testemunhando sua fuga.
E, atrás deles, Dario Pascoal preparava-se para sua última batalha.