O ar da vila estava pesado. A névoa se adensava, distorcendo silhuetas, tornando difícil distinguir amigo de inimigo. Os olhos vermelhos dos monstros brilhavam no escuro como brasas vivas, espalhados em diferentes pontos ao redor da praça central.
Dario firmou os pés no chão, segurando sua lâmina com as duas mãos. Seu olhar se movia de um lado para o outro, analisando cada sombra, cada detalhe.
Eles não vão atacar direto.
O primeiro monstro, aquele que já estava ferido, mantinha um sorriso distorcido no rosto. Seus movimentos eram sutis, quase relaxados, como se estivesse apenas esperando o momento certo.
Isso não é um ataque impulsivo...
Dario percebeu. Eles estavam testando. Eles sabiam lutar.
A vila estava cercada. Se alguém corresse, viraria presa. Se alguém ficasse parado, seria devorado.
Lina, ainda segurando Arthur, olhou para o marido.
— Dario...
— Fique com os outros e proteja as crianças — ele respondeu sem tirar os olhos dos inimigos. — Se eu cair, corram.
Lina não respondeu. Ela sabia que discutir não mudaria nada.
Arthur, mesmo sendo apenas um bebê, sentia a tensão. "Esses monstros não são apenas feras irracionais... eles são algo mais."
Foi então que o primeiro ataque aconteceu.
Uma das criaturas, escondida na névoa, saltou. Sua velocidade era impressionante, um borrão escuro indo direto para Dario.
Mas ele estava pronto.
CLANG!
Sua lâmina se moveu em um arco perfeito, interceptando a garra do monstro. O impacto fez faíscas voarem.
O inimigo recuou, mas outro já vinha logo atrás.
Dario girou a espada, deslizando para o lado e cortando o ar. O sangue negro da criatura espirrou no chão.
Dois caçadores da vila, vendo a luta começar, sacaram suas armas e avançaram.
— Não deixem eles dominarem o campo! — um deles gritou.
Tiros ecoaram na noite.
Mas os monstros eram rápidos.
Dois caçadores foram abatidos em segundos. As criaturas saltavam entre os telhados, evitando os disparos e atacando por ângulos imprevisíveis.
O ferido, o primeiro monstro que apareceu, começou a recuar lentamente. Seu sorriso nunca desapareceu.
Arthur percebeu. Ele está deixando os outros lutarem primeiro.
Ele não era o mais forte. Ele era o líder.
E estava esperando algo.
Foi então que Arthur sentiu.
Uma presença maior, mais densa. Algo que fazia o ar parecer pesado.
Ele não conseguia vê-lo, mas sabia que estava ali.
— ...Tem outro — Arthur tentou balbuciar, mas sua boca ainda não conseguia formar palavras.
Seus olhos se voltaram para Dario. Ele ainda não percebeu.
Arthur tentou mover seu pequeno corpo, tentou fazer algum som.
Mas foi tarde demais.
A escuridão se moveu.
Uma enorme figura emergiu da névoa.
Se os outros monstros eram caçadores, essa coisa era um predador supremo.
Seu corpo era mais musculoso, suas garras mais longas. Mas o que realmente se destacava era sua postura. Ele não era selvagem. Ele andava com controle absoluto, como um guerreiro experiente entrando no campo de batalha.
Os outros monstros se afastaram. Até o líder ferido inclinou a cabeça em respeito.
Arthur sentiu algo estranho. Uma pressão. Algo que lembrava... autoridade.
Dario, ao ver o novo inimigo, firmou a lâmina.
Seus olhos não demonstravam medo.
Mas ele percebeu o perigo.
— Lina... — sua voz era firme. — Agora.
Lina entendeu.
Sem hesitar, ela se virou e começou a correr com Arthur nos braços.
Mas os monstros não iam deixá-la escapar tão facilmente.
Dois deles se moveram em alta velocidade, bloqueando o caminho.
Arthur viu Lina apertar os dentes. Ela sabia que não conseguiria vencer todos sozinha.
Mas então, outra voz ecoou pela vila.
— NÃO TOQUEM NELA!
Arthur sentiu um impacto no ar.
Não físico.
Psicológico.
A voz de Dario não era um simples grito. Era uma ordem.
Por um segundo, os monstros hesitaram.
E foi nesse segundo que Dario se moveu.
Ele desapareceu.
Não de verdade, mas seu movimento foi tão rápido que parecia ter sumido.
E então, um clarão prateado.
Sua lâmina cortou o ar, atravessando a escuridão como um raio.
SLASH!
Um dos monstros que bloqueavam Lina foi partido ao meio antes mesmo de entender o que aconteceu.
O outro tentou reagir, mas Dario já estava sobre ele.
BANG!
Um tiro ecoou.
Dario havia sacado uma pistola no último segundo e disparado direto no olho da criatura.
Ela tombou no chão, morta.
Arthur ficou impressionado. Seu pai não era apenas forte. Ele era rápido, preciso, brutal.
Mas ele também percebeu outra coisa.
O predador supremo não se moveu.
Ele apenas observou.
Arthur viu seus olhos. Ele não estava surpreso.
Ele já esperava isso.
Foi então que o verdadeiro pesadelo começou.
O monstro desapareceu na névoa.
E um segundo depois, Dario foi arremessado para trás como um boneco de pano.
Arthur viu tudo em câmera lenta.
O golpe foi perfeito.
O monstro surgiu das sombras, desviando da lâmina de Dario com uma facilidade absurda.
Então, com um movimento limpo, o acertou no peito com um soco esmagador.
Dario voou vários metros, derrubando uma parede de madeira antes de parar.
A vila ficou em silêncio.
Arthur sentiu o desespero na respiração de Lina.
Dario tossiu sangue.
Ele tentou se levantar.
Mas o predador supremo já estava na frente dele.
Isso não era uma luta.
Era uma execução.
Arthur tentou gritar.
Mas sua boca não se movia.
A criatura ergueu uma garra.
O fim estava próximo.
Foi então que algo inesperado aconteceu.
Uma explosão de luz saiu do corpo de Arthur.
A vila inteira foi banhada por uma energia dourada.
O monstro hesitou por um segundo.
E esse segundo foi o suficiente.
Dario moveu a lâmina.
SLASH!
A garra do monstro foi cortada fora.
Ele rugiu de dor, recuando pela primeira vez.
Arthur não entendia completamente o que estava acontecendo. Mas sentia algo dentro dele.
Algo despertando.
Dario, percebendo a mudança, não hesitou.
Ele pegou Lina e Arthur, jogou-os nas costas e correu.
Os monstros não os perseguiram imediatamente.
Eles estavam chocados.
O líder ferido olhou para Arthur.
Seus olhos brilharam com algo novo.
Não raiva.
Não fúria.
Interesse.
Arthur percebeu naquele momento.
Ele havia se tornado um alvo.
E a caçada apenas começou.