A vila estava silenciosa, mas não de um jeito natural. Era um silêncio opressor, o tipo que precede uma tragédia.
Arthur, nos braços de Lina, sentiu um calafrio percorrer seu pequeno corpo. Seus olhos recém-renascidos mal conseguiam captar tudo ao seu redor, mas seu instinto gritava que estavam em perigo.
No meio da vila, o corpo de um caçador jazia no chão. Sangue se espalhava lentamente pelo solo de pedra, formando um rastro escuro que sumia na névoa.
E ao lado dele...
Uma silhueta alta e esguia, seus olhos vermelhos brilhando no escuro.
A criatura não era como os monstros irracionais que Arthur havia lido sobre em sua vida passada. Não. Havia algo diferente nela. Inteligência.
Lina apertou Arthur contra o peito e deu um passo para trás, sem tirar os olhos do inimigo. Sua mão direita segurava a pistola com firmeza, mas ela não atirou.
O monstro inclinou a cabeça, analisando-a.
Arthur não piscou. "Ele está estudando o comportamento dela..."
De repente, a criatura se moveu. Não foi um ataque direto, mas sim um deslocamento lateral, quase como um caçador testando sua presa.
Lina franziu a testa.
— Você não é um monstro comum…
A resposta foi um rosnado grave, mas sutil, como se a criatura estivesse se divertindo.
Foi então que Arthur percebeu. Não era um monstro.
Ou, pelo menos, não como os outros.
Essa coisa era um predador.
O tempo parecia desacelerar. Lina controlou a respiração e ajustou a mira. Seu dedo tocou o gatilho.
A criatura avançou.
BANG!
O tiro ecoou pela vila.
Mas no instante em que o projétil deveria atingi-lo, o monstro simplesmente sumiu.
Lina arregalou os olhos.
Arthur sentiu o impacto antes mesmo de vê-lo. Aquela coisa era rápida. Rápida demais.
Um borrão negro surgiu ao lado deles.
Lina mal teve tempo de reagir. Instintivamente, ela se jogou para o lado, protegendo Arthur com o próprio corpo.
A garra do monstro passou a centímetros de seu rosto, cortando o ar com um assobio sinistro.
Lina caiu rolando no chão e disparou novamente.
BANG! BANG!
Os tiros cortaram a névoa, mas a criatura já não estava mais ali.
Arthur sentiu um tremor na vila. Não um terremoto, mas o impacto de algo enorme aterrissando no telhado de uma casa próxima.
Lina se levantou, ofegante. Seu olhar era frio, mas Arthur percebeu o suor escorrendo de sua testa.
Ela está nervosa.
A criatura estava no telhado agora, agachada, observando. Seus olhos brilhavam como brasas vivas, e um sorriso predador se formou em seu rosto deformado.
Arthur não sabia se aquilo era uma expressão real ou apenas uma ilusão criada pela forma da criatura, mas parecia zombaria.
Lina rangeu os dentes.
— Droga...
A situação estava ruim. Muito ruim.
Arthur não conseguia lutar, mas sua mente funcionava rápido. Se essa criatura é um predador, então ela tem um padrão.
Ele tentou analisar os movimentos dela. Ela não atacou direto. Testou. Jogou com o medo. Está caçando.
Mas caçadores também podem ser caçados.
Arthur olhou para Lina. Ela era rápida, mas não como aquela coisa. Em um confronto direto, não teria chance.
Mas se antecipasse o padrão...
A criatura flexionou os músculos.
Ela estava prestes a atacar de novo.
E dessa vez, Lina não conseguiria desviar.
Arthur abriu a boca. Ele era só um bebê, mas precisava avisá-la.
— ...da...
A palavra não saiu. Sua boca não o obedecia completamente ainda.
Ele cerrou os dentes.
Merda!
Foi então que algo inesperado aconteceu.
O chão vibrou.
Um som metálico ecoou pela vila.
E então, do nada, uma lâmina voou pelo ar.
A criatura percebeu tarde demais.
SLASH!
O corte foi rápido e preciso.
A criatura gritou.
Arthur viu uma silhueta surgir da névoa. Alguém alto, forte. Uma presença imponente.
E então, uma voz grave ecoou:
— Você pegou a presa errada.
O coração de Arthur acelerou. Ele reconhecia aquela voz.
Dario Pascoal havia chegado.
A criatura se contorceu, segurando o ombro onde a lâmina o atingiu. Sangue negro escorreu lentamente.
Dario girou sua espada, seus olhos afiados como lâminas.
— Lina, saia daqui. Agora.
Lina não hesitou. Segurando Arthur firme, ela correu para trás.
O monstro rugiu, lançando-se para frente em um borrão de velocidade.
Mas Dario já estava preparado.
CLANG!
O impacto da garra contra a lâmina fez faíscas voarem.
Dario não recuou. Ele empurrou a criatura para trás com um golpe bruto.
Arthur observava, fascinado. Ele não está apenas atacando... ele está controlando a luta.
Dario avançou, sua lâmina brilhando no escuro.
A criatura tentou desviar, mas Dario girou o corpo, prevendo seu movimento.
SLASH!
Outro corte. Outro grito.
Dessa vez, o monstro cambaleou.
Dario não parou. Sua postura era perfeita, seu ritmo calculado. Cada golpe empurrava a criatura mais para trás, forçando-a a reagir em vez de atacar.
Arthur percebeu naquele momento.
Esse era o verdadeiro poder de um caçador experiente.
Mas então, algo mudou.
A criatura, em vez de fugir ou continuar recuando, fez algo inesperado.
Ela sorriu.
Arthur sentiu um calafrio. "Não... Ele ainda não está acabado."
Dario percebeu tarde demais.
A criatura flexionou os músculos e saltou para trás. Mas não para fugir.
Seu corpo desapareceu na névoa.
Dario franziu a testa, ajustando a lâmina.
— Covarde...
Foi então que outros olhos vermelhos brilharam na escuridão.
Arthur arregalou os olhos. "Ele não estava sozinho."
Um segundo monstro saiu das sombras.
Depois um terceiro.
Depois um quarto.
Lina prendeu a respiração.
— Isso não é um ataque aleatório... é uma emboscada.
Dario cerrou os punhos.
— Merda...
Os caçadores da vila começaram a aparecer, mas Arthur sabia. Isso ia se transformar em uma luta brutal.
A criatura original olhou para Dario, seus olhos cheios de malícia.
Então, ela riu.
Não um rugido.
Não um rosnado.
Uma risada.
Arthur sentiu um arrepio.
Aquele monstro... não era apenas um predador.
Era algo muito pior.
A vila acabara de se tornar um campo de batalha.