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Chapter 6 - Fragmentos de Memória

Ainda na biblioteca, o ar denso de mistério e o suave aroma de pergaminhos antigos pairavam enquanto Lya e Eren continuavam a explorar os textos proibidos. O diário aberto diante deles parecia um eco distante das palavras que já tinham lido, mas agora, cada símbolo ganhava um peso diferente. Lya sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha, como se as palavras sussurrassem segredos antigos diretamente à sua mente. O papel parecia mais vívido, os traços das letras a pulsar com uma energia subtil, despertando nela uma sensação de déjà vu inquietante — como se já tivesse lido aquelas mesmas palavras noutro tempo, noutra vida. O silêncio era quebrado apenas pelo som das páginas a virar, até que Lya sentiu uma vertigem súbita.

O mundo à sua volta desvaneceu-se num piscar de olhos, acompanhado por um zumbido agudo nos ouvidos e uma sensação de frio repentino que lhe arrepiou a pele. O ar parecia ter-se tornado mais denso, pressionando-lhe o peito enquanto a luz à sua volta se desfazia em fragmentos cintilantes, como vidro partido flutuando no vazio.

Visão 1: Um campo de batalha estendia-se até onde a vista alcançava. Feiticeiros e metamorfos enfrentavam-se com fúria. Raios de energia mágica cruzavam o céu, enquanto rugidos de criaturas em transformação ecoavam. Entre a multidão, uma figura de olhos dourados destacava-se, o olhar fixo em algo — ou alguém — invisível para Lya.

De volta à biblioteca, Lya inspirou bruscamente, o coração a acelerar. Eren notou a sua expressão pálida.

— Estás bem? — perguntou, a preocupação mascarada por um tom casual.

Ela assentiu, relutante em partilhar o que acabara de ver.

Continuaram a leitura. O texto falava da origem da guerra: uma rutura antiga entre feiticeiros e metamorfos causada por um artefacto perdido — o Fragmento do Éter, um cristal iridescente com veios dourados que pareciam pulsar com uma luz própria. Diz-se que foi forjado na aurora do mundo, capaz de manipular as linhas invisíveis da magia, ampliando ou destruindo poderes à vontade de quem o controlasse. Lendas sussurram que o seu desaparecimento não foi um acidente, mas o resultado de uma traição que desencadeou a guerra, um segredo guardado por aqueles que temiam o seu verdadeiro potencial.

Visão 2: Lya viu um conselho de anciãos feiticeiros discutindo acaloradamente. Palavras como "traidores" e "poder absoluto" ecoavam. Num canto da sala, uma jovem mulher de olhos semelhantes aos de Lya observava em silêncio, com uma expressão carregada de tristeza e determinação.

— Lya? — A voz de Eren trouxe-a de volta. Ele estava mais próximo, os olhos cinzentos estudando o rosto dela com atenção.

— Estou a ter... visões. Não sei o que significam, mas parecem memórias de outra pessoa. Ou talvez... minhas. — A voz de Lya tremia levemente, os dedos crispados sobre o papel amarelado. Sentia um nó apertado na garganta, um misto de medo e fascínio, enquanto o eco das imagens ainda pulsava na sua mente. O coração batia descompassado, como se quisesse fugir do corpo, e uma sensação de vazio gelado crescia no estômago, arrastando memórias que não sabia se lhe pertenciam. O peso da incerteza fazia-a questionar quem realmente era e porque aquelas visões a dilaceravam com tanta intensidade.

Eren ficou em silêncio por um momento, depois falou suavemente:

— Talvez sejas mais do que uma tecelã de mundos. Talvez sejas uma chave para o passado e o futuro.

Continuaram a leitura, enquanto Lya tentava manter o foco, mas as visões tornavam-se mais intensas.

Visão 3: Um confronto final. A figura de olhos dourados segurava o Fragmento do Éter, rodeado por traidores e aliados caídos. O olhar encontrou o de Lya — não através da visão, mas como se a visse realmente. Um sussurro ecoou: "O destino repete-se, Lya."

De volta à realidade, ela estava a tremer. O peso do que vira parecia demasiado real.

Eren pousou uma mão no ombro dela, o toque quente contrastando com o frio que ainda lhe gelava a pele. O gesto simples carregava um conforto silencioso, uma âncora num mar de incertezas. Por um breve momento, Lya sentiu o tumulto das visões acalmar-se, substituído por uma estranha sensação de segurança. No entanto, sob o calor reconfortante, havia uma tensão subtil, um silêncio carregado de perguntas não ditas e emoções que nenhum dos dois ousava explorar completamente.

Lya olhou para Eren, os olhos a procurarem respostas que ele parecia relutante em partilhar. Finalmente, ele suspirou, afastando-se ligeiramente, mas sem romper o contacto visual.

— Há coisas sobre a guerra que não estão escritas nesses livros. Coisas que se perderam no tempo... ou foram escondidas. — A sua voz estava carregada de uma seriedade incomum, como se carregasse o peso de segredos antigos. — A guerra nunca foi apenas sobre poder. Foi sobre medo. Medo do que não compreendemos, medo do que não podemos controlar. E, no centro disso tudo, estava o Fragmento do Éter... e pessoas como tu.

Lya sentiu um arrepio. — Pessoas como eu?

Eren assentiu lentamente. — Tecelãs de mundos. Aqueles que têm o poder de ver além do véu do presente, de tocar o passado e o futuro. A tua presença aqui... não é um acaso.

Antes que pudessem aprofundar a conversa, um som abafado ecoou no corredor — passos apressados aproximando-se. O coração de Lya disparou.

— Alguém está a vir! — sussurrou Eren, o olhar afiado a percorrer a sala.

Rapidamente, ele fechou o pergaminho e puxou Lya para trás de uma estante alta, onde as sombras eram mais densas. O som dos passos aumentava, acompanhado por vozes distantes. Lya conteve a respiração, sentindo o peito apertado contra o de Eren, o calor dele contrastando com o frio da pedra sob os seus pés.

Uma figura vestida com as insígnias do Conselho entrou na sala, os olhos a percorrerem o espaço com desconfiança. O silêncio era opressor, cada batida do coração de Lya parecia um tambor a ecoar no vazio. Ela sentiu a mão de Eren apertar-lhe o pulso suavemente, um gesto de alerta e proteção ao mesmo tempo.

O guardião aproximou-se perigosamente da estante, o som das suas botas ecoando. Lya prendeu a respiração, o corpo rígido. Quando ele se virou para o lado oposto, Eren aproveitou a distração, puxando Lya silenciosamente para uma saída lateral oculta entre as prateleiras.

Correram pelos corredores estreitos e mal iluminados da biblioteca, o som dos seus passos abafado pelos tapetes antigos. Só pararam quando alcançaram uma porta escondida, que Eren abriu com um feitiço sussurrado. Ao saírem, a adrenalina ainda corria nas veias de Lya, o coração a martelar-lhe no peito.

— Isso foi por pouco. — murmurou Eren, com um sorriso malandro que não escondia completamente a tensão no seu olhar.

Lya assentiu, tentando acalmar a respiração.

— Temos de descobrir mais. — disse ela, com os olhos a brilhar , apesar do medo.

Eren assentiu lentamente. — Tecelãs de mundos. Aqueles que têm o poder de ver além do véu do presente, de tocar o passado e o futuro. A tua presença aqui... não é um acaso.

O silêncio que se seguiu estava carregado de uma tensão palpável, uma corrente invisível que parecia ligar os dois. O olhar de Eren suavizou-se por um momento, mas havia algo mais ali, algo que ele não dizia. Lya, apesar do turbilhão de emoções, sentiu uma ligação crescer entre eles, tão inexplicável quanto as visões que a assombravam.

Antes que pudesse responder, um estrondo surdo ecoou pela biblioteca, fazendo estremecer as estantes antigas. O chão tremeu ligeiramente, e um feixe de luz dourada brilhou por entre as fendas da parede, como se o próprio edifício respirasse com um segredo há muito enterrado.

Eren ergueu-se de um salto, o olhar agora endurecido.

— Eles encontraram-nos.

Lya fitou-o, o coração a bater descompassado, sentindo que, fosse quem fosse eles, a verdadeira batalha estava prestes a começar.