Chapter 10 - Política

A entrada do Conselho de Feiticeiros erguia-se imponente, com colunas esculpidas em pedra arcana e tochas flutuantes que iluminavam o grande salão. Lya e Eren caminhavam lado a lado, ainda sentindo os efeitos do que haviam passado na cripta. As feridas estavam curadas, mas a tensão nos ombros de ambos denunciava que o verdadeiro desafio ainda estava por vir.

Arwen e Elric seguiam à frente, guiando-os através do corredor em direção à câmara principal. Arwen mantinha o rosto impassível, mas a forma como cerrava os punhos indicava que não gostava do que estava prestes a acontecer. O Conselho era um campo de batalha diferente — um onde palavras eram tão perigosas quanto feitiços.

Assim que entraram, os membros do Conselho já estavam posicionados. Magos e magas de distintas linhagens observavam-nos de cima, sentados em semicírculo. O grão-feiticeiro, um homem de idade avançada, mas de olhar afiado, ergueu uma sobrancelha ao vê-los.

— Arwen, foste tu quem os trouxe aqui? — A voz dele era serena, mas havia um peso na pergunta.

— Sim, Grão-Feiticeiro. Estes jovens passaram por uma provação e merecem ser ouvidos. — Arwen manteve a postura firme, sem revelar qualquer hesitação.

Um dos conselheiros, um homem de vestes escuras chamado Aldric, inclinou-se para a frente. — Encontrámo-los num local proibido. Exigimos saber o que faziam lá, existe regras! Não somos animais!

Eren trocou um olhar com Lya, mas antes que pudesse falar, Arwen deu um passo à frente. — E exigis porquê? Não há leis que impeçam dois jovens feiticeiros de explorarem os recantos esquecidos da nossa cidade.

— Não qualquer recanto. Uma cripta antiga, onde forças desconhecidas se agitam. Isto não é um mero incidente. — Aldric sorriu, frio. — Quem nos garante que não trouxeram algo perigoso para dentro das nossas muralhas?

— Não trouxeram nada além das suas vidas e cicatrizes. — Arwen cruzou os braços. — Interrogá-los como se fossem criminosos apenas demonstra medo. E medo não combina com aqueles que governam este Conselho. São dois jovens imaturos, Lya chegou tem poucos dias e Eren sempre foi impulsivo, não há nada melhor para o concelho fazer do que se importar com dois jovens inconsequentes?

— Isso é desculpa para ignorar os perigos que podiam nos ter trazido? Os Seres da escuridão estão a aproximar cada vez mais! Com certeza tem dedo deles! — Aldric gritou num tom acusatório sem tirar os olhos de Eren e Lya.

— Todos sabemos o que está a acontecer! Os astros estão a se alinhar, a última vez que houve o alinhamento foi quando a grande guerra começou! — respondeu Arwen firmemente. — Não são dois idiotas que receberão a culpa!

Um murmúrio espalhou-se entre os conselheiros. Alguns trocavam olhares cautelosos, enquanto outros, como Aldric, mantinham o olhar fixo nos jovens.

O Grão-Feiticeiro tamborilou os dedos sobre o braço da cadeira. — Arwen, tu sabes mais do que dizes. Mas, por ora, aceitaremos o teu julgamento. Estes jovens não serão punidos... ainda. Mas qualquer outro mero descuido todos serão responsabilizados, TODOS, estamos conversados Arwen?

O tom da última palavra fez com que Lya estremecesse. Eren apertou os punhos, mas permaneceu em silêncio.

Arwen inclinou a cabeça respeitosamente. — Um julgamento justo, Grão-Feiticeiro.

A audiência havia terminado, mas Arwen sabia que este era apenas o início de um jogo muito mais perigoso.

Assim que saíram da câmara principal, Arwen lançou um olhar para os lados antes de murmurar uma invocação em voz baixa. Uma brisa mágica os envolveu, e em um instante, a realidade ao redor se desfez, substituída por um salão menor, iluminado por um brilho suave e protegido por runas nas paredes.

— Estamos num lugar seguro agora — disse Arwen, relaxando pela primeira vez desde que haviam entrado no Conselho. — Aqui ninguém pode nos escutar.

Lya olhou ao redor, maravilhada com o ambiente. Eren, por outro lado, recostou-se contra uma mesa de madeira escura, cruzando os braços.

— Isto foi... intenso — murmurou ele.

Arwen suspirou. — Bem-vinda à política dos feiticeiros, Lya. O Conselho não é apenas um grupo de governantes. É uma arena onde cada palavra pode selar um destino. E onde nem todos que ali estão desejam o bem dos feiticeiros.

Lya franziu o cenho. — Mas então... por que governam?

— Poder. Ambição. Medo — Arwen respondeu simplesmente. — Há aqueles que acreditam que o equilíbrio deve ser mantido, mas há outros que desejam moldar o mundo à sua própria visão. Aldric é um desses. Ele não está interessado em justiça, apenas em controle. E hoje, vocês deram a ele um pretexto.

Eren soltou um suspiro irritado. — Como se tivéssemos escolhido sermos atacados por aquelas criaturas.

— Não importa o que realmente aconteceu. Importa o que eles podem usar contra vocês. E neste momento, há pessoas dentro do Conselho que querem encontrar uma fraqueza para justificar decisões futuras.

Lya engoliu em seco. — Então, o que devemos fazer?

Arwen olhou para ambos, seu olhar intenso. — Aprender a jogar o jogo. E, mais do que tudo, não confiar em ninguém além daqueles que realmente provarem sua lealdade.

Lya, ainda processando os eventos recentes, perguntou: — Arwen, durante a sessão, mencionaste o alinhamento dos planetas. O que isso significa?

Arwen assentiu, como se esperasse a pergunta. — Há muito tempo, feiticeiros e metamorfos viviam em harmonia, governados por duas monarquias que asseguravam a paz através de alianças matrimoniais. Cada união real resultava em dois filhos: um feiticeiro e um metamorfo, destinados a reinar em seus respectivos reinos. As famílias nobres participavam desse ciclo, garantindo que o poder fosse equilibrado entre as linhagens.

Eren franziu a testa. — Mas o que isso tem a ver com o alinhamento dos planetas?

Arwen suspirou. — Os alinhamentos planetários sempre foram vistos como presságios de mudanças significativas. Acredita-se que durante esses períodos, o véu entre os mundos se torna mais fino, permitindo que forças antigas influenciem o nosso destino. O último grande alinhamento coincidiu com a rutura entre feiticeiros e metamorfos, levando à guerra que devastou nossas terras.

Lya sentiu um calafrio. — Estás a dizer que outro alinhamento está iminente? E que isso pode significar...?

Arwen assentiu gravemente. — Sim. A história pode se repetir e cairmos em mais desgraça ou restaurar o que antes foi perdido. Não devia contar mas... — hesitou Arwen — Naquele tempo quem escolhia os noivos reais era a Deusa Elyndra, mas uma família de feiticeiros queria reinar e ofendeu a Deusa, isso desencadeou todas as desgraças e com isso o concelho foi formado e o culto a Deusa esquecido e proibido.

O silêncio que se seguiu foi pesado, cada um perdido em seus próprios pensamentos sobre o que o futuro poderia reservar.