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Chapter 14 - O Revelar de Segredos (R-18)

O sol da manhã penetrava delicadamente pela janela da sala de jantar, lançando um brilho suave sobre a mesa onde repousavam xícaras de café e utensílios de porcelana finamente dispostos. Apesar do ambiente acolhedor, uma tensão silenciosa pairava no ar. Sentados à mesa, Eren e Lya – ainda marcados pelos vestígios da noite anterior – observavam Arwen, cuja postura serena e olhar penetrante prometiam a revelação de algo de extrema importância.

Arwen repousou as mãos sobre a superfície polida da mesa de carvalho e, com voz controlada, iniciou:

— Durante a era de esplendor da Deusa, foram forjados dois livros sagrados. Um deles foi destinado aos feiticeiros, para registrar o fluxo das magias e os destinos que elas traçavam; o outro, confiado aos metamorfos, tinha a função de preservar o equilíbrio entre nossos reinos. Esses livros eram acessíveis apenas àqueles cuja essência vibrava em perfeita sintonia com a magia.

Ela fez uma breve pausa, permitindo que o silêncio carregado de significado se instalasse.

— Com o passar dos tempos, a devoção à Deusa foi proibida. À medida que o fervor sagrado se esvaía e seus fiéis caçados e mortos, também se perdia a capacidade de decifrar os enigmas contidos nas páginas dos livros. Em suas inúmeras tentativas de recuperar o antigo conhecimento, o Conselho dos Feiticeiros encontrou apenas o eco de uma sabedoria que se dissipara. Não se sabe se os metamorfos ainda têm acesso ao seu livro ou se, como nós, ficaram à mercê do esquecimento.

Eren observava Arwen com uma mistura de curiosidade e apreensão, enquanto Lya franzia levemente a testa, tentando captar algum indício de uma verdade oculta nas entrelinhas. Percebendo o silêncio expectante, Arwen prosseguiu:

— O mundo mágico, contudo, vai muito além dos livros. As estruturas de poder foram reinventadas. O Conselho dos Feiticeiros de hoje é sustentado por antigas famílias – a Saedril, notória por sua profunda conexão com o Éter; a Volmar, guardiã das tradições das feitiçarias de guerra; e a Lysier, mestra na arte da cura – cada qual movida por interesses próprios e rivalidades enraizadas no tempo.

Ao pronunciar esses nomes, o semblante de Arwen se tornava ainda mais grave, como se evocasse lembranças de batalhas e alianças de eras passadas. Por um breve instante, seus olhos refletiram a melancolia de tempos findos. Eren perguntou — Arwen e qual é a sua agenda? Poderemos confiar assim tão cegamente?

Arwen já acostumada com os atrevimentos de Eren respondeu com sinceridade — Eu sou membro do Conselho, sim, mas o meu foco sempre foi a preservação da saúde mágica e a neutralidade nas disputas internas. No entanto, o que está prestes a acontecer pode forçar todos a escolher lados, inclusive eu. Eren...Lya...— suspirou —precisarão entender como lidar com essa política de poder se quiserem sobreviver. Além do que já salves as vossas vidas diversas vezes! Ingrato! — elevou a voz um pouco.

Arwen tem razão. — murmurou Eren, sem se desculpar.

Continuou Arwen — Quanto aos metamorfos, sua organização difere radicalmente. Eles se estruturam em forma de monarquia, preservando a memória de um pacto sagrado com a Deusa. Atualmente, o príncipe herdeiro, Kaen, simboliza não apenas a continuidade de sua linhagem, mas também remete a uma época em que os metamorfos lutavam ao lado da Deusa com honra e convicção, afinal foi uma família de feiticeiros que se rebelou e começou a revolta e o massacre.

Arwen suspirou suavemente, como se carregasse o peso de incontáveis eras.

— Kaen enfrenta intensos conflitos internos. Embora muitos o considerem o legítimo portador de uma glória ancestral, outros, imbuídos de ideais radicais, anseiam romper definitivamente os laços que outrora uniram os povos. Essa dualidade interna reflete a complexidade de um mundo onde os antigos ideais se dissipam e novas ambições emergem.

Por alguns instantes, o silêncio dominou o ambiente, apenas quebrado pelo tilintar sutil das xícaras e pelo murmúrio distante da cidade. Nem Eren nem Lya ousavam romper aquele clima, cientes de que cada palavra de Arwen carregava o legado de um passado turbulento e a incerteza de um futuro por se desvelar.

Sem aprofundar demais os detalhes dos desígnios, Arwen concluiu com voz baixa e resoluta:

— Conhecer a história e os mecanismos que a sustentam é o primeiro passo para compreender os tempos que se aproximam. Nem sempre os laços que outrora uniram os reinos se desvaneceram sem deixar vestígios. Em cada tradição e em cada instituição, ainda existem sinais de que a essência do que foi perdido pode, de alguma forma, ser resgatada.

Ela ergueu os olhos para os dois, sem prometer soluções nem impor responsabilidades, mas deixando claro que o conhecimento, por si só, era uma arma poderosa e indispensável.

Assim, enquanto o aroma do café se misturava à memória de histórias ancestrais, Eren e Lya encontravam-se imersos em um universo onde os segredos da Deusa, os livros esquecidos e as intrigas políticas formavam um emaranhado de passado e presente.

— Vão se vestir, temos de ir a praça.— Ordenou Arwen.

Lya entrou no quarto e, por um momento, parou junto à porta, sentindo o ar ainda impregnado com o calor da noite anterior. Os lençóis estavam ligeiramente desalinhados, um lembrete silencioso das horas em que os seus corpos se encontraram sem pressa, explorando cada toque, cada gemido sufocado contra a pele do outro. Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao recordar o modo como Eren segurara sua cintura, os lábios traçando um caminho lento e possessivo pelo seu corpo, o jeito como a puxara para si, murmurando seu nome com desejo contido.

Respirou fundo, tentando dissipar o calor que subia por sua pele, e avançou para o armário. A seda do robe escorregou por seus ombros, expondo sua nudez ao ar fresco do quarto. O espelho refletiu sua pele ainda marcada por beijos e carícias, testemunhas da intensidade com que haviam se entregado um ao outro.

Com dedos ligeiramente trêmulos, Lya pegou uma túnica leve e vestiu-a lentamente, sentindo o tecido deslizar contra sua pele ainda sensível.

Enquanto ajustava o cinto ao redor da cintura, sua mente ainda se prendia a memórias fugazes: o peso do corpo de Eren sobre o seu, os sussurros roucos ao seu ouvido, a forma como ele a olhava, como se fosse a única coisa no mundo.

Um suave rubor tomou-lhe as faces quando se virou para a porta, pronta para sair e enfrentar o dia. Mas antes de atravessá-la, olhou uma última vez para a cama desfeita, um sorriso discreto brincando em seus lábios. A lembrança da noite ainda pulsava dentro dela, como uma chama discreta que jamais se extinguiria.